Meditemos sobre o
tema da salvação. Lucas narra que Jesus está em viagem rumo a Jerusalém, e
durante o percurso aproxima-se uma pessoa que lhe faz a seguinte pergunta: “Senhor,
são poucos os homens que se salvam?” Jesus não dá uma resposta direta, mas
desvia o debate para outro plano, com uma linguagem sugestiva, que no início os
discípulos talvez não tenham entendido: “Procurai entrar pela porta estreita;
porque, digo-vos, muitos procurarão entrar e não conseguirão”. Mediante a
imagem da porta, Ele quer levar os seus ouvintes a entender que não se trata de
uma questão de número — quantos se salvarão — não importa saber quantos, mas é
importante que todos saibam qual é o caminho que leva à salvação.
Este percurso prevê
que atravessemos uma porta. Mas onde está a porta? Como é a porta? Quem é a
porta? O próprio Jesus é a porta, como Ele mesmo diz no Evangelho de João: “Eu
sou a porta”. Ele guia-nos para a comunhão com o Pai, onde encontramos amor,
compreensão e amparo. Mas podemos interrogar-nos por que motivo esta porta é
estreita? Por que diz Ele que ela é estreita? Trata-se de uma porta estreita,
não porque é opressiva, mas porque exige que limitemos e contenhamos o nosso
orgulho e o nosso medo, para nos abrirmos a Ele com coração humilde e
confiante, reconhecendo-nos pecadores, necessitados do seu perdão. Por isso é
estreita: para conter o nosso orgulho, que nos incha. A porta da misericórdia
de Deus é estreita, mas permanece sempre escancarada para todos! Deus não tem
preferências, mas acolhe sempre todos, sem distinções. Uma porta estreita para
restringir o nosso orgulho e o nosso medo, uma porta aberta de par em par,
porque Deus nos recebe sem distinções. E a salvação que Ele nos concede é um
fluxo incessante de misericórdia, que derruba qualquer barreira e abre
surpreendentes perspectivas de luz e de paz. Porta estreita, mas sempre
escancarada: não vos esqueçais disto!
Hoje Jesus
dirige-nos, mais uma vez, um convite urgente a ir ao seu encontro, a passar
pela porta da vida plena, reconciliada e feliz. Ele espera cada um de nós,
independentemente de qualquer pecado que tenhamos cometido, para nos abraçar e
para nos conceder o seu perdão. Só Ele pode transformar o nosso coração,
somente Ele pode dar sentido pleno à nossa existência, oferecendo-nos a
verdadeira alegria. Entrando pela porta de Jesus, pela porta da fé e do
Evangelho, podemos sair das atitudes mundanas, dos maus hábitos, dos egoísmos e
dos fechamentos. Quando existe o contato com o amor e a misericórdia de Deus,
verifica-se a mudança autêntica. E a nossa vida é iluminada pela luz do
Espírito Santo: uma luz inextinguível!
Gostaria de vos
fazer uma proposta. Pensemos agora, em silêncio por um instante, naquilo que
temos dentro de nós e que nos impede de atravessar a porta: o meu orgulho, a
minha soberba, os meus pecados. E depois pensemos na outra porta, naquela porta
aberta de par em par, da misericórdia de Deus, que do outro lado nos espera
para nos conceder o perdão.
O Senhor
oferece-nos muitas ocasiões para nos salvar e nos fazer passar pela porta da
salvação. Esta porta é uma ocasião que não deve ser desperdiçada: não podemos
proferir discursos acadêmicos sobre a salvação, como aquela pessoa que se
dirigiu a Jesus, mas devemos aproveitar as ocasiões de salvação. Porque num
determinado momento “o Senhor entrará e fechará a porta”, como nos recordou o
Evangelho. Mas se Deus é bom e nos ama, por que razão numa certa altura fechará
a porta? Porque a nossa vida não é um videojogo, nem uma telenovela; a nossa
vida é séria, e o objetivo a alcançar é importante: a salvação eterna.
Papa
Francisco – 21 de agosto de 2016
Hoje celebramos:
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