domingo, 31 de dezembro de 2017

Como receber o Ano Novo?

“Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.” 
Papa  Bento XVI 

A passagem de um ano para o outro é marcada pelas confraternizações em famílias, as festas em praias e a queima de fogos de artifício, celebrando a chegada do novo ano civil. Mas outra marca deste momento são as diversas superstições que cercam o imaginário popular brasileiro visando realizações e conquistas. O sucesso será alcançado, de acordo com esses costumes, caso sejam ingeridos determinados alimentos, dependendo da cor da roupa ou de gestos que devem ser repetidos após a meia noite. Para os cristãos, o que significa esta prática?

O Catecismo da Igreja Católica alerta para as superstições e a idolatria. O parágrafo 2111 afirma “A superstição é o desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Pode afetar também o culto que prestamos ao verdadeiro Deus, por exemplo: quando atribuímos uma importância de alguma maneira mágica a certas práticas, em si mesma legítimas ou necessárias. Atribuir eficácia exclusivamente à materialidade das orações ou dos sinais sacramentais, sem levar em conta as disposições interiores que exigem, é cair na superstição”.

Dom Odilo Pedro Scherer nos adverte:

Pode haver cristãos, que vivem como se o Batismo nada tivesse modificado em suas vidas: vivem como se não fossem cristãos. Ou pode haver aqueles que procuram praticar a religião apenas de forma exterior e ritual, sem que a orientação de sua vida e seu comportamento sejam impregnados por Cristo e pelo seu Evangelho.

Ser cristão manifesta-se na vida “conforme Cristo” ou “segundo o Espírito de Cristo”, citando expressões de São Paulo. O apóstolo, na carta aos Gálatas, exortou os fiéis que eram tentados a tornar novamente às práticas da Lei Mosaica, como se nelas, em vez de Cristo, estivessem a sua segurança e salvação.

A liberdade dos cristãos está em viver livres do temor, “confiantes em Deus”. Paulo vai logo às consequências: ‘não se deixem escravizar novamente!’.

Não abandonar a graça imensa da fé em Cristo, para submeter-se de novo a práticas que escravizam e tiram a soberana liberdade de filhos de Deus, mediante uma religião do temor, ou uma religião feita apenas de práticas humanas, sem contar com a graça de Deus e a ação do Espírito de Cristo; ou então, deixar-se escravizar pelas paixões humanas desordenadas e pelos vícios.

As práticas e paixões humanas que escravizam um considerável número de católicos que recorrem a tais costumes, às vezes até com sincretismo religioso, dão força de solução e de poder, a energias desconhecidas, poderes misteriosos e, no caso a maus acontecimentos, a espíritos malfazejos.

O ser cristão, portanto, aparece numa forma nova de viver que, de um lado, é graça de Deus e, de outro, fruto do esforço coerente para orientar a vida para Deus, conforme o exemplo e o ensinamento de Cristo. O viver cristão é “uma proposta de ‘vida nova’, orientada pelo Espírito de Cristo”. Isso requer a superação dos vícios e das práticas contrárias a Deus e ao próximo, ou contra a própria dignidade; ao mesmo tempo, a vida cristã floresce em todo tipo de belas virtudes, que tornam o viver nobre e santo.


31 de dezembro - Sagrada Família de Jesus Maria e José

Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.

Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.

Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido.

Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo.

Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas.

Mas estamos apenas de passagem. Temos de abandonar este desejo de continuar aqui o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. Não partiremos, porém, antes de colher às pressas e quase furtivamente algumas breves lições de Nazaré.

Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo.

Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social.

Uma lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim.

Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.

Papa Paulo VI – 05 de janeiro de 1964

sábado, 30 de dezembro de 2017

30 de dezembro - Beato João Maria Boccardo

O Padre João Maria Boccardo foi um homem de profunda espiritualidade e, simultaneamente, apóstolo dinâmico, promotor da vida religiosa e do laicado, sempre atento a discernir os sinais dos tempos. Na escuta orante da palavra de Deus, maturou uma fé vivíssima e profunda. Escrevia: «Sim, meu Deus, aquilo que Tu queres, também eu o quero». 

E que dizer do seu incansável zelo pelos mais pobres? Soube inclinar-se sobre toda a miséria humana com o espírito de São Caetano de Thiene, espírito que transmitiu à Congregação feminina por ele fundada para a assistência aos idosos, aos que sofrem e para a educação da juventude. Tornou sua a máxima evangélica: «em primeiro lugar buscai o Reino de Deus e a sua justiça» (Mt 6, 33). 

Como o Santo Cura de Ars, do qual era devoto, indicou aos seus paroquianos, com a palavra e sobretudo com o exemplo, a estrada do Céu. No dia da sua chegada como Pároco a Pancalieri, falou da seguinte maneira aos fiéis:Venho entre vós, queridos, para viver como um de vós, vosso pai, irmão e amigo, e para dividir convosco as alegrias e os sofrimentos da vida... Venho entre vós como servo de todos e cada um poderá dispor de mim, e considerar-me-ei sempre afortunado e feliz por vos poder servir, não procurando outra coisa que não seja fazer o bem a todos».

Proclamava-se sempre filho devoto de Nossa Senhora e recorria a ela com constante confiança. A quem lhe perguntava: «É muito difícil merecer o Paraíso?”», respondia: «Sê devoto a Maria, que é a sua "Porta", e entrarás nele». O seu exemplo ainda está vivo na memória do povo, que a partir de hoje o pode invocar como intercessor no Céu. 

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 24 de maio de 1998

Em 1848, no dia 20 de Novembro nasce o pequeno João Maria Boccardo, em Testona, na Itália.
Família pobre com 8 irmãos mas muito religiosa, sentiu o chamado, entra no seminário e é ordenado sacerdote em 3 de Junho de 1871. Trabalha no seminário como assistente e depois como reitor por vários anos.

No dia 10 de Setembro de 1882 aos 34 anos de idade, recebe a proposta de assumir uma paróquia, no momento sem pastor. Cidade pequena, 3000 habitantes: Pancalieri.
Em junho de 1884 os seus paroquianos são atingidos por uma epidemia: A cólera. As providências sanitárias são tomadas. Padre João Maria Boccardo e o grupo das Filhas de Maria redobram sua dedicação. Ninguém fica sem os sacramentos. E a epidemia desapareceu, tudo volta a normalidade. Mas o Pároco continua afligido por que tem muitas famílias enlutadas, dizimadas, atingidas pela miséria.

Ele sente que a paróquia precisa continuar fazendo alguma coisa com campo da caridade. Ele fixou sua atenção nos pobres, enfermos e idosos que se faziam presentes em maior numero.
Aluga uma velha tecelagem em péssimo estado, que tinha sido utilizado para criação de coelhos. Fazem-se alguns reparos mais urgentes e com o mínimo necessário se inaugura a casa com os três primeiros hospedes no dia 6 de Novembro de 1884.

As pessoas assistidas aumentaram, e o grupo das moças da Pia União, Filhas de Maria, grupo voluntario, voltavam na suas casas pela tarde.
O Padre sentiu que a boa vontade dessas moças não era suficiente. Pensou então que era necessário pessoas que antes de todo se consagrassem a Deus para depois se consagrarem ao serviço do próximo.
Padre João rezou, rezou, pediu conselhos a seus colegas sacerdotes, como Dom Bosco. De todos eles recebeu apoio e, encorajado para levar à frente o seu plano, iniciou o projeto de Deus e veio a luz a congregação.

Começou com três jovens entre as quais Carlota Fontana, que se tornou Irmã Maria Caetana, primeira superiora geral da Congregação.
A congregação foi crescendo, de todas localidades pediam o serviço das Irmãs, vivenciando o Amor de Deus, ao próximo, e entre si, no clima de pobreza e simplicidade evangélicas.


Depois de três meses de doença Padre João faleceu no dia 30 de Dezembro de 1913. No seu testamento deixou a congregação aos cuidados de seu irmão, também Sacerdote, o Padre Luis Boccardo.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

29 de dezembro - São Davi, Rei e Profeta

O Rei Davi marcou a História, não só por ter matado Golias, vencido muitas guerras, e sofrido terríveis perseguições de Saul e de seu próprio filho, Absalão. Como uma estrela fulgurante, ele brilha - e brilhará até o fim do mundo - pelos Salmos de sua autoria. Em todas as Santas Missas e na Liturgia das Horas, os Salmos são rezados.

Além de grande rei, Davi foi profeta. Em seus admiráveis Salmos, ele descreve, com aproximadamente mil anos de antecedência, o Messias esperado. Entre outras profecias, ele previu que Jesus Cristo:
- nasceria da tribo de Judá (cf. Sl 78, 68);
- incutirá pavor nos seus inimigos (cf. Sl 2, 5); E, quanto à Paixão, Davi profetizou que o Redentor:
- seria traído por um "que comia do meu pão" (Sl 41, 10), isto é, Judas Iscariotes;
- sofreria terrores mortais, ou seja, a Agonia do Horto das Oliveiras (cf. Sl 55, 5);
- seria zombado pelos seus algozes (cf. Sl 22, 8);
- suas mãos e seus pés seriam transpassados (cf. Sl 22, 17);
- seria desnudado e sobre sua túnica lançariam sorte (cf. Sl 22, 19);
- no alto da Cruz, sofreria ardente sede e Lhe dariam vinagre para beber (cf. Sl 69, 22);
- e daria o brado: "Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?" (Sl 22, 2); Até mesmo a Ressurreição de Cristo ele profetizou (cf. Sl 16, 9-10).

Davi não somente profetizou o Messias, mas foi sua prefigura: "Como o Salvador, ele nasce em Belém; ele é predestinado, escolhido, consagrado para ser rei e libertador. Ele acalma os furores de Saul: Jesus aniquilará todo o ódio dos demônios. Davi, armado de uma funda, vence Golias; com sua Cruz, o Salvador dominará satanás."

Perseguido, Davi venceu todos seus inimigos. "Assim Nosso Senhor terminou por triunfar, e enquanto que seu ancestral não recebeu homenagem senão de seus súditos, Ele, vencedor da morte, recolhe as adorações do mundo inteiro."

No meio de suas guerras e vitórias, Davi deu sempre o primeiro lugar à Religião e ao culto a Deus. Proporcionou mais pompa às cerimônias religiosas. Dotado de dons musicais, ele fez da poesia e da música a alma do serviço divino. Quatro mil levitas, divididos por ele em classes e coros diferentes, cantavam as orações nacionais, e, sobretudo os Salmos compostos por ele mesmo. Outros acompanhavam esses cantos com a harpa.

Davi queria construir um suntuoso Templo para abrigar a Arca da Aliança, e ser lugar onde se oferecesse sacrifícios em honra do Altíssimo. Entretanto, o próprio Deus, através do Profeta Natã, disse a Davi que a construção do Templo seria realizada não por ele, mas por seu filho Salomão.

Homem cheio de Fé, Davi fez tudo quanto lhe era possível para que Salomão logo o construísse. Acumulou "3.000 toneladas de ouro, umas 30.000 toneladas de prata" (I Cr 22, 14), muito bronze, e "toda espécie de pedras preciosas e grande quantidade de mármore" (I Cr 29, 2).

Ele elaborou, com detalhes, o projeto do Templo: o pórtico, os edifícios, os pátios, os candelabros, o altar de incenso, "o carro dos querubins de ouro, que com as asas estendidas cobrem a Arca da Aliança do Senhor" (I Cr 28, 18).
E pouco antes de morrer entregou tudo a Salomão, dizendo-lhe: "Avante, mãos à obra, e o Senhor esteja contigo!" (I Cr 22, 16).

A Igreja coloca-o no catálogo dos santos, e sua festa é comemorada em 29 de dezembro.


São Davi, rogai pela Igreja e para que todos os fiéis tenham o ardente amor de Deus, a fortaleza e a humildade de que fosseis exemplo.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

28 de dezembro - Santos Inocentes

Um genocídio. A matança dos inocentes. A Igreja os recorda no dia 28 de dezembro, unidos ao Natal, porque eles não morreram por Cristo, mas no lugar de Cristo.

Herodes disse aos Magos do Oriente que ele estava muito interessado no rei que tinha acabado de nascer e pediu-lhes para informá-lo sobre este rei em seu retorno para também ir adorá-lo. A estrela guiou os Magos até a criança e, cumprida sua missão, voltaram para seus países de origem por outros caminhos, pois um anjo lhes avisou em sonhos que Herodes queria matar Jesus.

Desapontado com os Magos, Herodes mandou matar todas as crianças menores de dois anos com o desejo de acabar com aquele Rei nascido em Belém, que colocava em perigo seu próprio reinado.
Quantos foram? Hoje, sabe-se que Belém não devia ter mais de mil habitantes e que a este número, provavelmente, corresponderia uma população de 20 meninos.

Ain Karen é uma cidade perto de Jerusalém. Segundo a tradição, é o lugar da “Visitação” e do nascimento de João Batista. Este era mais velho do que Jesus apenas seis meses e existe a lenda de que também ao ser vítima de Herodes. Perseguida por soldados assassinos, sua mãe Isabel buscou uma rocha no monte atrás da qual ocultou seu pequeno João antes que os soldados a alcançassem.
Quando os soldados a alcançaram, procuraram até atrás da rocha, mas não viram nada. Quando saíram, Isabel correu para buscar seu menino e descobriu que a rocha tinha aberto um espaço para dar lugar em seu interior ao pequeno perseguido e, assim, salvou João Batista. Na Basílica da Visitação, sobre o monte, guarda-se uma estranha rocha que recorda esta história.

A celebração litúrgica deve nos recordar não apenas o fato histórico daquelas crianças assassinadas no lugar de Cristo, mas também o acontecimento diário de todos aqueles inocentes perseguidos e assassinados entre nós. Os humanos somos capazes de monstruosidades que nos envergonham.


Seguimos assassinando por motivos religiosos, políticos, econômicos e, cada vez que denunciamos um desses crimes, clamamos indignados “Nunca mais!”, para, em seguida, repetir a história. Não permaneçamos indiferentes ante esses genocídios, despertemos em nós a solidariedade e unamos nossas vozes e nossas ações às desses inocentes que seguem morrendo no lugar de Cristo.

28 de dezembro - Santa Catarina Volpicelli

Testemunha do amor divino foi também Santa Catarina Volpicelli, que se esforçou por "ser de Cristo, para conduzir a Cristo" quantos teve a ventura de encontrar na Nápoles nos finais do séc. XIX, num tempo de crise espiritual e social. Também para ela o segredo foi a Eucaristia. Recomendava às suas primeiras colaboradoras que cultivassem uma intensa vida espiritual na oração e, sobretudo, o contacto vital com Jesus eucarístico. Esta é também hoje a condição para prosseguir a obra e a missão por ela iniciada e deixada em herança às "Servas do Sagrado Coração". Para serem autênticas educadoras da fé, desejosas de transmitir às novas gerações os valores da cultura cristã, é indispensável, como gostava de repetir, libertar Deus das prisões nas quais os homens o colocaram. De fato, só no Coração de Cristo a humanidade pode encontrar a sua "morada permanente".

Santa Catarina mostra às suas filhas espirituais e a todos nós, o caminho exigente de uma conversão que mude radicalmente o coração, e se transforme em ações coerentes com o Evangelho. Assim é possível lançar as bases para construir uma sociedade aberta à justiça e à solidariedade, superando aquele desequilíbrio econômico e cultural que continua a subsistir em grande parte do nosso planeta.

Papa João Paulo II – Homilia de Canonização – 26 de abril de 2009

Catarina Volpicelli, fundadora das Servas do Sagrado Coração, pertence à classe dos «apóstolos, dos pobres e marginalizados», que no século XIX para Nápoles foram um luminoso sinal da presença de Cristo «Bom Samaritano», que se aproxima de cada homem que sofre no corpo e no espírito, para derramar sobre suas feridas, o óleo da consolação e o vinho da esperança.
Nascida em Nápoles, no dia 21 de janeiro de 1839, Catarina recebeu no seio de sua família de alta burguesia, uma sólida formação humana e religiosa. No colégio educandário San Marcelino, sob a guia sábia de Margarida Salatino, aprendeu letras, línguas e música, o que não era frequente para as mulheres do seu tempo.

Guiada então pelo Espírito do Senhor, que lhe revelava o projeto de Deus através da voz dos sábios e santos diretores espirituais, Catarina renunciou com prontidão os efêmeros valores de uma vida elegante e despreocupada, para aderir com generosa decisão a uma vocação de perfeita santidade.
O encontro ocasional com o Beato Ludovico da Casoria em 19 de setembro de 1854, em «La Palma» em Nápoles, foi como afirmou a mesma Bem Aventurada: «um momento singular de graça providencial, de caridade e de predileção do S. Coração, enamorado pelas misérias de sua humilde serva». O Bem Aventurado a associou à Ordem Franciscana Secular e indicou como único objetivo de sua vida, o culto ao Sagrado Coração de Jesus, convidando-a para permanecer em meio à sociedade, na qual deveria «ser pescadora de almas».

Guiada, então pelo seu confessor, o barnabita Padre Leonardo Matera, em 28 de maio de 1859, Catarina entrou entre as Adoradoras Perpétuas de Jesus Sacramentado, saindo porém com pouco tempo, por graves motivos de saúde.
O desígnio de Deus sobre Catarina era outro, havia bem entendido o Beato Ludovico da Casoria que muitas vezes dizia: «O Coração de Jesus é a tua obra, Catarina! ».
Sob a indicação do seu Confessor, Catarina conhece o bilhete mensal do Apostolado da Oração da França, recebendo através dele noticias detalhadas da nascente associação com o diploma de Zeladora, sendo o primeiro que chegou na Itália. Em julho de 1867, Padre Ramière visita o Palácio de Largo Petrone em Nápoles, onde Catarina pensava estabelecer a sede de suas atividades apostólicas, para «fazer renascer nos corações, nas famílias e na sociedade o amor por Jesus Cristo».

O Apostolado da Oração será o ponto central da espiritualidade de Catarina, que a impulsionará a cultivar o seu ardente amor pela Eucaristia, através do qual será instrumento de Ação Pastoral sob as dimensões do Coração de Cristo, abrindo-se a cada homem, sempre a serviço da Igreja, dos últimos e dos sofredores.
Com as primeiras Zeladoras, no dia 1° de julho de 1874, Catarina funda o novo Instituto das Servas do Sagrado Coração, aprovado antes pelo Cardeal Arcebispo de Nápoles, o Servo de Deus, Sisto Riario Sforza, e em seguida aos 13 de junho de 1890, pelo Papa Leão XIII, que concede à nova família religiosa o «Decreto de louvor ».
Preocupada pela sorte da juventude, abriu o orfanato das «Margherite», fundou uma biblioteca circulante e instituiu a Associação das Filhas de Maria, com a sábia guia da venerável Maria Rosa Carafa Traetto.

Em breve tempo abriu outras casas: em Nápoles, no Palácio San Severo e depois na Sapienza, em Ponticelli, onde as Servas distinguiram-se na assistência às vítimas da cólera em 1884, em Minturno, em Meta di Sorrento e em Roma.
Aos 14 de maio de 1884 o novo Arcebispo de Nápoles, o Cardeal Guglielmo Sanfelice, OSB, consagrou o Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, que a Volpicelli havia construído ao lado da Casa Madre, destinando-o particularmente à adoração reparadora pedida pelo Papa, para sustentar a Igreja, num período difícil para a liberdade religiosa e para o anúncio evangélico.

A participação de Catarina no primeiro Congresso Eucarístico Nacional, celebrado em Nápoles em 1891 (19-22 de novembro) foi um ato culminante do Apostolado da Fundadora e das Servas do Sagrado Coração. Naquela ocasião, realizou uma rica exposição de paramentos sacros destinados às igrejas necessitadas, organizou a Adoração Eucarística na Catedral e foi a animadora daquele movimento, levando muitas pessoas à confissão e «Comunhão geral ».

Catarina Volpicelli, morreu em Nápoles no dia 28 de dezembro de 1894, oferecendo a sua vida pela Igreja e o Santo Padre.

No dia 29 de abril de 2001 Sua Santidade Papa João Paulo II a proclamou Beata e a canonizou em 26 de abril de 2009.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

27 de dezembro - Beato Odoardo Focherini

Esposo, pai e família e mártir, Odoardo Focherini nasceu na Itália, em Carpi (Modena), em 6 de junho de 1907. Ele perde sua mãe com dois anos, seu pai se casou novamente e sua mãe adotiva o amará como filho, dirigindo-o para o contexto paroquial onde Odoardo é formado graças a generosos padres e verdadeiros amigos como Zeno Saltini.

Ele é de natureza sociável e amigável, tem muitos interesses (teatro, jornalismo em periódicos diocesanos, adora músicas de montanha, toca a harmônica, dança e esquia) e sempre consegue envolver os jovens, se aproxima deles e os leva ao oratório e, portanto, levando-os a uma formação espiritual. 

Ele cresce na Ação Católica, da qual também se tornará presidente diocesano e, ao mesmo tempo, promove Carpi dos Escoteiros Católicos, da Confraria de São Vicente (que cuida dos pobres) e Unitalsi (que cuida dos doentes), testemunhando atenção aos mais jovens e aos necessitados, amor concreto e solidário para os outros.
Em 1930, ele se casou com Maria Marchesi , e entre 1931 e 1943, nasceram sete crianças. Em 1934, foi contratado pela Società Assicurazione Cattolica de Verona como agente na agência de Modena; tornou-se inspetor nas áreas de Modena, Bolonha, Verona, até Pordenone. 

Em 1939, depois de ter sido colunista, assumiu o papel de diretor executivo, sem receber nenhuma compensação, do mais importante diário católico no norte da Itália "L'Avvenire d'Italia", com sede em Bolonha. Ele também escreve para "L'Osservatore Romano". 
Toda a vida de Odoardo é vivida como uma dedicação aos outros, para dar a conhecer a todos, através da caridade, a beleza e alegria de seguir a Cristo. Os ensinamentos de Jesus, obviamente, também encontram adversários ferozes, mas não para assustar Odoardo. Quando o "próximo" que sempre ajudou vem na forma de famílias judaicas que fogem da deportação, o "samaritano" Odoardo não hesita em abrir seu coração, apesar dos grandes riscos.

Sua esposa Maria compartilha e apoia seu marido: "Nós e nossos filhos estamos seguros, os judeus não estão: vá ajudá-los", afirmou a parceira da vida de Focherini ante da ideia de ajudar os judeus perseguidos pelo nazismo-fascismo. 

Juntamente com um sacerdote, Don Dante Sala, criou uma rede clandestina de ajuda organizacional para esconder os fugitivos, obter cartões de identidade falsos - que o próprio Focherini compila com dados falsos - e levá-los para a fronteira na Suíça. Os judeus - homens, mulheres e crianças - que o conheceram naquele momento sempre se lembravam dele sereno e sorridente, confiando na Providência e convencido de fazer o bem.

Mas Odoardo Focherini também é oficialmente envolvido como presidente da Ação Católica e como administrador de um jornal católico que não se adapta às ordens do regime fascista e à imposição de ocupantes nazistas: ele até contrata jornalistas judeus, antifascistas e, entre eles, um famoso futuro jornalista como Enzo Biagi. É por isso que ele é considerado um personagem desconfortável que, com base em seus ideais evangélicos de justiça, paz e igualdade, não se presta a ser manipulado pela propaganda nazista e fascista. 

Focherini foi preso em março de 1944 e sem qualquer julgamento e condenação e depois foi transferido para os campos de concentração italianos de Fossoli  e Bolzano, depois nos campos de concentração alemães de Flossenburg e Hersbruck. 
Uma ferida na perna causa septicemia severa. Na enfermaria do campo, ele não é curado porque o objetivo dos carcereiros é matar e não viver: Odoardo morre aos 37 anos em 27 de dezembro de 1944, confirmando a fidelidade à esposa e a oferta de sua vida como holocausto para a Igreja, para o jornal e para o retorno da paz no mundo.

A cerimônia de beatificação aconteceu no dia 15 de junho de 2013 na Piazza dei Martiri, em Carpi. Na celebração havia mais de 5000 pessoas provenientes de várias partes da Itália e Europa. Para os filhos de Odoardo, foi um momento de grande emoção, um momento aguardado por anos e capaz de dar crédito também à esposa de Odoardo, Maria Marchesi, uma mulher comparável ao marido na fé e generosidade.

Além dos filhos estavam presentes os 15 netos e 21 bisnetos de Focherini. Na família, muitas vezes usava a comparação da vida com a cerimônia de casamento, que é um selo e um evento único, em que não só parentes próximos são encontrados, mas também os de longe, e também representantes de tantas realidades que Odoardo cruzou e vivificou. De fato, junto com os judeus salvos, os seus filhos, os companheiros dos campos de concentração, havia os membros da Ação Católica Nacional, os representantes da imprensa como o diretor de Avvenire, os muitos amigos do Trentino e do Piemonte, os jovem pároco de Hersbruck e representantes do Museu Flossenburg.

Todos agradeciam pelo dom de Odoardo, assim como os representantes das comunidades judaicas italianas que expressaram "deferência e emoção" pela beatificação de Focherini, que para Israel é "Justo entre as Nações" .

Odoardo Focherini mostra-nos, através de sua existência, suas obras e suas palavras - os artigos e especialmente as cartas escritas para sua esposa e amigos do cativeiro - que o único meio de viver plenamente a vida é o serviço alegre e atento aos outros, sem distinção de credo ou afiliação política e sem medo das consequências de suas boas ações. 

Odoardo não é um "cristão para a sala de estar", mas um cristão na rua, que faz o seu caminho com os outros, em conjunto com os pequeninos e os últimos . Ele era um trabalhador, um pai, um esposo exemplar. Ele estava envolvido na Igreja e na sociedade contra a injustiça e pela verdade, resistindo a tentação de "poder", permanece ao lado do mais fraco, pagando o preço pessoalmente. 

Seu lema era: "Eu faço o que posso, onde não chego, venho a Deus. Porque trabalho para ele, ele está ocupado ajudando-me".

A relíquia oficial do Beato Focherini é seu anel de casamento - seu corpo nunca foi encontrado e provavelmente acabou nos crematórios de Hersbruck. Esta é a fé original que Odoardo e Maria trocaram no dia do casamento em 1930. No dia da sua prisão pelos Nazistas e Fascistas, em março de 1944, Focherini estava com a aliança de casamento em seu dedo, mas conseguiu tirá-la na prisão e entregar a sua esposa. Hoje e para sempre será o relicário de Beato Focherini.



27 de dezembro - São João, Evangelista

Pelo tempo do bispo da Igreja Romana, Evaristo, vivia ainda na Ásia aquele a quem Jesus amou, o apóstolo e evangelista João, e ali continuava a orientar as Igrejas depois de regressar do desterro na ilha, após a morte de Domiciano...

Escuta uma historieta, que não é uma historieta, mas uma tradição existente acerca do apóstolo João, transmitida e guardada de memória. Depois do tirano (Domiciano) morrer, João mudou-se da ilha de Patmos para Éfeso. Daqui costumava partir, quando o chamavam, para as regiões pagãs vizinhas, a fim de nuns lugares estabelecer bispos, noutros erigir igrejas, e noutros ainda ordenar alguns dos que o Espírito tinha designado.

Veio a uma cidade...e, depois de fortalecer os irmãos, tendo visto um jovem de grande estatura, de aspecto elegante e de alma generosa, fixou o seu olhar no rosto do bispo instituído na comunidade e disse: “Confio-te este jovem com muito interesse, na presença da Igreja e com Cristo como testemunha.” O bispo aceitou o jovem, prometendo-lhe tudo, mas João continuava a insistir no mesmo e a apelar para as mesmas testemunhas.

Depois regressou a Éfeso, e o bispo levou para casa o jovem que lhe fora confiado e ali o manteve, o rodeou de afeto e, por fim, o batizou. Depois disto abrandou um pouco na sua solicitude e vigilância, pensando que lhe dera a salvaguarda perfeita: o selo do Senhor.

Relato sobre João - Eusébio de Cesárea – Século IV

Já ouvistes muitas coisas do Evangelho segundo João, que vedes nas minhas mãos. Por graça de Deus temo-las explicado, consoante as nossas forças, salientando-se perante vós principalmente o fato de ter este Evangelista preferido falar da divindade do Senhor, segundo a qual é igual ao Pai e é o Filho único de Deus. Por isso, João foi comparado à águia. Nenhuma ave se apresenta a voar mais alto.

Tratado XL - Santo Agostinho de Hipona – Século V

É consolador para vós dizer-vos que o evangelista João voa alto à semelhança da águia.

Tratado XV - Santo Agostinho de Hipona – Século V

Depois, João, o discípulo do Senhor, aquele que se reclinou sobre seu peito, também ele editou o evangelho, enquanto residia em Éfeso da Ásia.

Adversus Haereses, III – Ireneu de Lião – Século II

João, o último de todos, vendo que nos evangelhos se mostra o corporal, incentivado pelos amigos, divinamente levado pelo Espírito, compôs o evangelho espiritual.

Das Hipotiposes – Clemente de Alexandria – Século III


São João, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos da Igreja, merecendo o título de “o discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz, recebeu do Redentor Nossa Senhora como Mãe, e com Ela - como Fonte da Sabedoria - a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de "o Teólogo" por excelência.
Sabemos pelos Evangelhos que São João era filho de Zebedeu e de Maria Salomé. Com seu irmão Tiago, auxiliava o pai na pesca no lago de Genezaré. Pelos Evangelhos sabemos também que seu pai possuía alguns barcos e empregados que trabalhavam para ele.
Como seus outros dois irmãos Simão e André, também pescadores, era discípulo de São João Batista, o Precursor. Deste haviam recebido o batismo, zelosos que eram, preparando-se para a vinda do Messias prometido.

Certa vez, estavam João e André com o Precursor, quando passou Jesus a alguma distância. O Batista exclama: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". No dia seguinte repetiu-se a mesma cena, e desta vez os dois discípulos seguiram Jesus e permaneceram com Ele aquele dia (Jo, 1, 35 a 39).

Algumas semanas depois estavam Simão e André lançando as redes às águas, quando passou Jesus e lhes disse: "Vinde após mim. Eu vos farei pescadores de homens". Mais adiante estavam Tiago e João numa barca, consertando as redes. "E chamou-os logo. E eles deixaram na barca seu pai Zebedeu, com os empregados, e O seguiram" (Mc 1, 16 a 20).

A partir de então passaram a acompanhar o Messias em sua missão pública. Logo se lhes juntaram outros, que perfariam o número de doze, completando assim o Colégio Apostólico.
Uma das maiores provas de afeição de Nosso Senhor a São João deu-se na Última Ceia, quando, permitiu-lhe a familiaridade de recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que nesse momento, estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja.

Acompanhou Maria no caminho do Calvário e com Ela permaneceu ao pé da cruz. Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado que criatura humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: "João, que era virgem, ao crer em Cristo permaneceu sempre virgem. Por isso foi o discípulo amado e reclinou sua cabeça sobre o coração de Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio de João, ou melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor virgem pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem". 
Ensinam os Padres da Igreja que esse grande Apóstolo representava naquele momento todos os fiéis. E que, por meio de São João, Maria nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o primeiro em tal adoção.

Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer o drama do Gólgota, servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu Filho compartilhava a terrível Paixão.


Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio dizer aos Apóstolos que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a correr, seguido de Pedro, para o local. E depois, estando no Mar de Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o primeiro a reconhecê-Lo.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

26 de dezembro - Beato Secondo Pollo

É o Céu a nossa morada definitiva, e somos chamados já a construí-la sobre a terra, como sugere o apóstolo Paulo: «Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima e não às da Terra» (Cl 3, 1-3). 

Assim fez o Padre Secondo Pollo, que nesta tarde tenho a alegria de elevar à glória dos altares. Ele constitui uma das inúmeras testemunhas da presença e da ação de Jesus ressuscitado na história do mundo. 

O Padre Secondo é um exemplo de presbítero corajoso que, no arco duma breve existência, soube atingir o cume da santidade. Na vigília da sua Ordenação sacerdotal, o novo Beato já manifestava com lúcida determinação o propósito de acolher, sem reservas, na própria vida o programa exigente do Evangelho: «Fazei-me santo», este tornou-se o seu ideal, este o seu empenho quotidiano. Guiado por este propósito, viveu de maneira intensa o próprio ministério sacerdotal, procurando e seguindo assiduamente a vontade de Deus. 

A Providência chamou-o a muitas e empenhativas tarefas no âmbito da Igreja de Vercelli. Foi educador de requintada intuição pedagógica nos seminários diocesanos, onde exerceu a função de professor e de padre espiritual. Fez-se antes discípulo e servo diligente da palavra de Deus através do estudo assíduo das disciplinas sagradas e da intensa atividade de pregador. Foi generoso dispensador da misericórdia divina na administração do sacramento do perdão. Trabalhou com entusiasmo entre os jovens, como assistente da Ação Católica, seguindo-os na tormenta da guerra como capelão dos alpinos. E precisamente no exercício heroico da caridade, o jovem sacerdote de Vercelli entregou a sua alma a Deus, deixando aos capelães militares do mundo inteiro um exemplo de como os próprios irmãos de armas devem ser amados e servidos, e aos alpinos um modelo e um protetor no Céu. 

Dois foram os segredos da subida do Padre Secondo aos cumes da santidade: a radicação constante em Deus, através da oração e da terníssima devoção à Mãe celeste, Maria. Do assíduo diálogo com Deus e do amor filial para com Nossa Senhora hauriu vigor aquela sua particular caridade pastoral, que se mostra como a síntese mais elevada e qualificante do seu ministério sacerdotal. Viveu inteiramente para os irmãos, concluindo a sua aventura terrena no dia de Santo Estevão, quase à imitação da ardorosa testemunha «cheia do Espírito Santo», de que fala o livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 7, 55). Demos graças ao Senhor pelo dom deste Beato e por todos os Santos e Beatos que, em Cristo único Mediador de salvação, lançam uma «ponte» entre Deus e o mundo, refletindo e irradiando a luminosidade do Céu sobre a humanidade peregrina pelas estradas da terra. 

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 23 de maio de 1998

Nascido em Caresanablot (pequena aldeia na província de Vercelli), em 02 de janeiro de 1908, quando criança foi aluno dos Irmãos das Escolas Cristãs, ou Lassalistas, que muito contribuíram com sua sólida formação cristã. Talvez aí tenha nascido sua vocação. Apoiado por seu pároco, ingressou em 1919, com apenas 11 anos, no seminário. Logo passou para Roma, para o seminário lombardo, doutorando-se em Teologia e em Filosofia. Foi ordenado sacerdote em 1931, aos 23 anos de idade.

Foi destinado ao seminário menor de Monerivello, ao mesmo tempo em que exercia o serviço de capelão de duas aldeias. Em pouco tempo foi designado professor do seminário maior e consiliário diocesano da Ação Católica de Jovens.

Em 1940, e antes de sua incorporação ao Exército como capelão, foi cura encarregado das paróquias de Caresanablot e Larizzate. Foi também confessor de vários colégios, reitor diocesano da União Apostólica dos Sacerdotes, capelão do cárcere das mulheres e exerceu amplo apostolado auxiliando sacerdotes que o chamavam para pregar em suas paróquias.

Compreendendo o bem espiritual que podia fazer aos jovens soldados, aceitou à nomeação de capelão militar, sendo lotado na terceira legião dos Alpinos, chamada “Val Chisone”. Dedicou-se totalmente ao bem e ao serviço dos soldados, dos quais se tornou rapidamente o bom pastor, amigo e companheiro de suas almas.   

Sua morte foi no cumprimento de seu ministério. Depois de celebrar com os soldados o Natal, em um ataque inimigo, foi atender a um soldado moribundo e, enquanto o consolava e administrava os sacramentos, uma bala atingiu a artéria femoral, sangrando até morte. Como homenagem póstuma, foi-lhe concedida a cruz de prata de valor militar.


A Santa Igreja também reconheceu seus méritos: seu amor à vocação sacerdotal e sua dedicação ao serviço e pastoreio das almas.

26 de dezembro - Santo Estêvão

Depois do Pentecostes, os apóstolos dirigiam o anúncio da mensagem cristã aos mais próximos, aos hebreus, aguçando o conflito apenas acalmado da parte das autoridades religiosas do judaísmo.

Como Cristo, os apóstolos conheceram logo as humilhações dos flagelos e da prisão, mas apenas libertados das correntes retomam a pregação do Evangelho. A primeira comunidade cristã, para viver integralmente o preceito da caridade fraterna, colocou tudo em comum, repartindo diariamente o que era suficiente para o seu sustento.

Com o crescimento da comunidade, os apóstolos confiaram o serviço da assistência diária a sete ministros da caridade, chamados diáconos.

Entre eles sobressaía o jovem Estêvão, que em grego quer dizer “coroa”, em hebraico “regra”. Ele foi a coroa, isto é, o líder dos mártires do novo testamento, assim como Abel foi do Antigo.

Segundo os Atos dos Apóstolos, Estêvão foi um dos sete primeiros diáconos da igreja nascente (At 6, 2-5), logo após a morte e Ressurreição de Jesus, pregando os ensinamentos de Cristo e convertendo tanto judeus como gentios. Segundo Étienne Trocmé, Estêvão pertencia a um grupo de cristãos que pregavam uma mensagem mais radical, um grupo que ficou conhecido como os helenistas, já que os seus membros tinham nomes gregos e eram educados na cultura grega. Também eram conhecidos como o grupo dos 7.

Estêvão, além de exercer as funções de administrador dos bens comuns, não renunciava ao anúncio da Boa Nova, e o fez com tanto sucesso que os judeus “apareceram de surpresa, agarraram Estêvão e levaram-no ao tribunal. Apresentaram falsas testemunhas, que declararam:  “Este homem não faz outra coisa senão falar contra o nosso santo templo e contra a Lei de Moisés.  Nós até o ouvimos afirmar que esse Jesus de Nazaré vai destruir o templo e mudar as tradições que Moisés nos deixou”.

Estêvão, como se lê nos Atos dos Apóstolos, cheio de graça e de força, como pretexto de sua autodefesa, aproveitou para iluminar as mentes de seus adversários. Primeiro, resumiu a história hebraica de Abraão até Salomão, em seguida afirmou não ter falado contra Deus, nem contra Moisés, nem contra a Lei, nem fora do Templo. Demonstrou, de fato, que Deus se revelava também fora do Templo e se propunha a revelar a doutrina universal de Jesus como última manifestação de Deus, mas os seus adversários não o deixaram prosseguir no discurso, “taparam os ouvidos e atiraram-se todos contra ele, em altos gritos. Expulsaram-no da cidade e apedrejaram-no.” Entre os presentes na execução, estaria Saulo de Tarso, o futuro São Paulo, ainda durante os seus dias de perseguidor de cristãos.


Dobrando os joelhos debaixo de uma tremenda chuva de pedra, o primeiro mártir cristão repetiu as mesmas palavras de perdão pronunciadas por Cristo sobre a Cruz: “Senhor, não os condenes por causa deste pecado.”

Estêvão foi lapidado no ano da ascensão do Senhor, no começo do mês de agosto, na manhã do terceiro dia. Os santos Gamaliel e Nicodemos, que defendiam os cristãos em todos os conselhos dos judeus, sepultaram-no num terreno pertencente a Gamaliel e realizaram seus funerais com grande reverência.

O bem-aventurado Estêvão era um dos principais cristãos de Jerusalém, e após sua morte começou uma onda de perseguição a eles que, excetuados os apóstolos, que eram os mais corajosos, os cristãos dispersaram-se por toda a província da Judeia, conforme o Senhor havia recomendado: “Se forem perseguidos numa cidade, fujam para outra”.

Em 415 a descoberta das suas relíquias suscitou grande emoção na cristandade. A festa do primeiro mártir foi sempre celebrada imediatamente após a festividade do Natal.