Hoje, Domingo de Ramos, ao entrar na igreja, todo nós,
exultantes, com os ramos de oliveira e as palmas, daremos um duplo testemunho
acerca do Senhor: pelos ramos de oliveira confessaremos o Messias, o Ungido, já
que é da oliveira que sai o azeite para a unção; e ao recebê-lo com as palmas
da vitória, daremos testemunho de seu triunfo sobre a morte, porque teremos
compreendido o significado de seu último sinal que foi o Despertar de Lázaro.
Através destas duas portas entraremos na Semana Santa e este
curto tempo que vamos viver estará marcado por acontecimentos misteriosos,
muitas vezes, aparentemente contraditórios, pouco claro para a nossa mente
“pragmática” e “realista”.
Olhando atentamente para o Senhor, veremos no Evangelho deste
Domingo de Ramos que o Senhor avança e entra triunfalmente em Jerusalém e é
recebido como um rei vitorioso. Não obstante, montado num jumento, se apresenta
como um soberano humilde, não-violento. E isto já nos adverte que seu reino não
é deste mundo (Jo 18,36).
Jesus recebe silencioso todas estas aclamações do povo e, ante a
curiosidade de alguns gregos que querem vê-lo, diz umas palavras que, até mesmo
para os discípulos mais próximos são, no mínimo, enigmáticas:
É chegada a hora em que o Filho do Homem será glorificado.
Amém! Amém!
Digo-vos: se o grão de trigo caído na terra não morre, fica só;
mas se morre, dá muito fruto. Jo 12, 23-24.
Digo-vos: se o grão de trigo caído na terra não morre, fica só;
mas se morre, dá muito fruto. Jo 12, 23-24.
Seus discípulos, certamente se perguntariam: Como pode ser que o
Senhor, que acaba de ressuscitar Lázaro, e que hoje é aclamada pela maioria do
povo de Israel, nos diga agora que sua glorificação consiste em que morrerá
como um grão de trigo?
É que neste curto espaço de tempo de uma semana, momento em que
vamos nos submergir no Mistério de nossa Salvação, tudo será renovado.
A morte vai adquirir um novo significado, será uma morte
frutífera; Deus será glorificado por sua morte porque irá transformá-la numa passagem
luminosa para a Ressurreição. Porém, esta transformação o Senhor a realizará
atravessando a dor, as trevas e a solidão que a morte contém em suas entranhas.
Todas as palavras que o Senhor dirige à multidão são pouco
compreensíveis. Como pode ser que um dos elementos mais repulsivos da época, o
elemento de tortura por excelência que utilizavam os romanos, a cruz, seja
transformado pelo Senhor, com sua presença, num pólo de atração para Ele?
Eu, quando for erguido no alto sobre a terra, atrairei todos
a Mim.Dizia isto para significar de que morte iria morrer. Jo 12, 32
Quem se recorda dos que mataram os profetas e o Cristo?
Então, com um novo olhar, estes acontecimentos nos podem ser
iluminados.
Nas palavras finais do Evangelho do Domingo de Ramos, o Senhor
vai se distanciando lentamente da multidão até ocultar-se dela. A sua vida
pública vai chegando ao seu fim. A hora da glória só será compartilhada na
intimidade por alguns poucos. Veremos que a maioria dos que hoje o recebem
como rei, pedirão que seja crucificado. O aparente êxito de hoje, será
transformado no aparente fracasso dos dias que virão.
Por isso, tudo pode ser novo nesta semana que começa se não
abandonamos o Senhor porque, é a partir de suas ações, e não de nossos
pensamentos, que cada coisa terá um novo olhar.
Seguir o Senhor para estar com Ele, para servi-Lo, fazer um
silêncio profundo sobre nossas necessidades, sobre nossos pensamentos, sobre
nossos sentimentos, sobre nossas opiniões. Estar atentos aos acontecimentos sem
a interferência de nosso eu, sequer para tentar compreender.
Quiçá então, ao final deste curto percurso, animemo-nos a
recorrer, algo se faça novo em nós, e comece nosso caminho rumo a verdadeira
conversão.
No Domingo de Ramos, o Senhor entra em Jerusalém e nos convida
para que O sigamos. Que as portas da igreja, que abrimos hoje solenemente na
liturgia, sejam simbolicamente as portas de nosso coração aberto e vulnerável,
orientado unicamente, neste tempo de uma semana, para a realização do Pai e do
Filho e do Espírito Santo.