terça-feira, 31 de março de 2020

31 de março - Santa Balbina de Roma


Apesar de poucas certezas sobre a vida de Santa Balbina, seu nome é venerado em uma antiquíssima igreja na via Ápia, nas proximidades de Roma. Também temos um cemitério que leva seu nome, supostamente o local onde Balbina foi enterrada.
É venerada como mártir, mas destaca-se sua consagração a Deus pela virgindade e sua perseverança de servir a Cristo.

Santa Balbina era filha do mártir Quirino. Este, por sua vez, tendo se convertido à fé cristã, fora batizado junto com sua filha pelo Papa Alexandre.
Segundo a história, Balbina teria contraído uma doença grave e havia sido levada pelo pai até o papa, que nesse momento estava na prisão. Em contato o sumo pontífice preso, Balbina miraculosamente recupera sua saúde.

Sua riqueza e nobreza a tornavam um partido extremamente cobiçado; por esse motivo muitos jovens a pediram em matrimônio, mas a todos ela disse não: Balbina estava apaixonada pelo divino Cristo Senhor.

Durante o reinado do imperador romano Adriano, foram dadas ordens de aprisionar os cristãos. Entre os que foram encarcerados, em 132, mais provavelmente no dia 31 de março, estavam Quirino e Balbina. Foram submetidos a torturas e após sofrer vários tormentos, santa Balbina testemunhou o grande amor que nutria pelo Cristo esposo, celebrando com ele suas núpcias místicas por meio da oferta de sua virgindade e de seu sangue: os soldados romanos, após as torturas, vendo que ela não esmorecia e não renunciava ao Cristo, a levaram para a pena capital. Como era o costume entre os romanos, após o processo e as torturas, santa Balbina foi sumariamente decapitada.


31 de março - Por isso, Jesus continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. Jo 8,28


Que a palavra de Deus nos ensine hoje este caminho: olhar para o crucifixo. Sobretudo no momento em que, como o povo de Deus, nos cansamos da viagem da vida.
O povo protestava contra Deus e Moisés: Por que nos fizestes sair do Egito, para nos deixar morrer no deserto? Pois não há pão nem água e estamos enjoados desta comida tão ligeira! Parece até que queriam um cozinheiro que lhes preparasse algo saboroso. E esta, não é uma ilusão: isto acontece com todos nós, quando queremos seguir o Senhor mas nos cansamos.
Em tudo isto, o que é pior? Que o povo falou mal de Deus. Moisés julgava que falassem mal só dele, mas Deus disse-lhes claramente: “Não erres: não é contra ti, mas contra mim!”. E aqui é introduzida a figura das serpentes, porque falar mal de Deus é envenenar a própria alma: “Este Deus deixou-me só”; talvez não o digamos, mas sentimo-lo: “não me ajuda... tantas provações... este caminho árido, tudo está errado...”. Assim chegam a desilusão do Deus que nos prometeu tanto e a falta de perseverança no caminho: “Paro aqui” — “Mas que farás aqui?” — “Não sei, se eu puder volto, caso contrário, fico...”. O coração deprimido, envenenado. Com efeito, as serpentes são precisamente o símbolo do envenenamento, da falta de constância no seguimento do caminho do Senhor».
Eis, então, que Moisés intercede: “Senhor, que fazemos com este povo?”. E o Senhor diz-lhe: “Faz uma serpente...”.

Dado que esta serpente curava todos aqueles que tinham sido mordidos, atacados pelas serpentes, por ter falado mal de Deus, ele era profético: era a figura de Cristo na cruz. O próprio Jesus diz isto no Evangelho: Quando elevardes o Filho do Homem, sabereis quem sou. Portanto, o crucifixo erguido com a serpente. Eis a chave da nossa salvação, a chave da nossa paciência no caminho da vida, a chave para superar os nossos desertos: olhar para o crucifixo. Fitar Cristo crucificado.

Papa Francisco – 20 de março de 2018

Hoje celebramos:



segunda-feira, 30 de março de 2020

30 de março - Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Jo 8,7


A liturgia nos apresenta o episódio da mulher adúltera. Nele contrapõem-se duas atitudes: por um lado, a dos escribas e dos fariseus e, por outro, a de Jesus. Os primeiros querem condenar a mulher, porque se sentem os tutores da Lei e da sua aplicação fiel. Ao contrário, Jesus quer salvá-la, porque Ele personaliza a misericórdia de Deus, que perdoando redime, e reconciliando renova.

Os escribas e os fariseus levam a Jesus uma mulher surpreendida em adultério; põem-na no meio e perguntam a Jesus se se deve lapidá-la, como prescreve a Lei de Moisés. Eles querem colocar Jesus à prova. Pode-se supor que o propósito deles era este: o “não” teria sido um motivo para acusar Jesus de desobediência à Lei; o “sim” para o denunciar à autoridade romana, que tinha reservado para si as sentenças, e não admitia o linchamento popular. E Jesus deve responder.
E como reage Jesus diante desta prova? Permanece por alguns instantes em silêncio, e inclina-se para escrever com o dedo na terra, como que recordando que o único Legislador e Juiz é Deus, que escreveu a Lei na pedra. E depois diz: Quem de vós estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra! Deste modo Jesus apela-se à consciência daqueles homens: da sua condição de homens pecadores, pela qual não podem arrogar-se o direito de vida ou de morte sobre um dos seus semelhantes.
Um após o outro, a começar pelos mais idosos — ou seja, aqueles que estão mais conscientes das próprias misérias — foram-se embora todos, renunciando a lapidar a mulher. Esta cena convida também cada um de nós a ter consciência de que somos pecadores, e a deixar cair das nossas mãos as pedras da difamação e da condenação, da bisbilhotice, que às vezes gostaríamos de atirar contra o próximo. Quando falamos mal dos outros, lançamos pedras, somos como eles.

No fim, lá no meio só permanecem Jesus e a mulher: A mísera e a misericórdia, diz Santo Agostinho. Jesus é o único sem culpa, o único que poderia lançar a pedra contra ela, mas não o faz, porque Deus “não deseja a morte do pecador, mas que ele se converta e viva”. E Jesus despede a mulher com estas palavras maravilhosas: Vai e de agora em diante não tornes a pecar. E assim Jesus abre diante dela um caminho novo, criado pela misericórdia, uma vereda que exige o seu compromisso de não voltar a pecar. Trata-se de um convite válido para cada um de nós: quando nos perdoa, Jesus abre-nos sempre um caminho novo para irmos em frente. 
Papa Francisco – 07 de abril de 2019

Hoje celebramos:

30 de março - São Pedro Regalado de Valladolid


Pedro Regalado nasceu em Valladolid, na Espanha em 1390, em uma nobre família judia. Aos nove anos seu pai morreu. A mãe o educou piedosamente. Muito jovem ingressou na Ordem dos Frades Menores e logo se distinguiu por sua piedade, mortificação e pobreza, bem como pelo amor de silêncio e solidão. Começava na Espanha a Reforma franciscana buscando o florescimento da primitiva austeridade de vida religiosa. Ele não tinha outra ambição senão a de levar uma vida de oração e penitência e considerava as visitas de sua mãe apenas uma distração desnecessária. Regalado foi conquistada pelos ideais de Pedro de Villacreces, que se empenhou na restauração da observância original do Regra franciscana, na Península Ibérica.

A partir de 1404 seguiu com Pedro de Villacreces para a ermida de Auguille, onde encontrou a tão desejada solidão, pobreza e clima de oração. A eles juntou-se também o jovem Lope de Salinas y Salazar, que, juntamente com Pedro empenhou-se na fundação de novas ermidas de modo a não exceder o limite de vinte e cinco monges em cada local, como recomendado pelo seu próprio mestre. Os dois eremitérios de Abrojo e de Aguilera logo adquiriram grande fama pelo zelo de seus fundadores e pelos estatutos contendo prescrições extremamente severas. Isso só fez aumentar as vocações na Espanha, florescendo a vida franciscana e de santidade.

Quando Villacreces morreu, ele o substitui, tomando a frente da reforma empreendida. Promoveu a observância da Regra e distinguiu-se por sua austeridade e altíssima contemplação. Gozou de extraordinários dons místicos e o foco principal de sua devoção foram a Eucaristia, a Santíssima Virgem e a Paixão do Senhor. Viveu em condições de penitência e pobreza extremas, mas seu cuidado por seus irmãos necessitados e seu amor pelos enfermos tornou-se proverbial. Com o dom das lágrimas, ele manifestava sua natureza afetuosa, e da mesma maneira externava seu amor ardente por Deus. 

São Francisco de Assis foi o padroeiro dos lobos e São Pedro Regalado o padroeiro dos toureiros. Dele se conta que indo um dia por um caminho, encontrou um enorme e bravo touro que havia escapado ferido de uma corrida em Valladolid, atacando e ferindo viajantes e todos aqueles que por ali passavam e se punham à sua frente, fazendo jus à sua herança natural.

Passava por ali São Pedro Regalado com um discípulo quando o touro bravo os atacou, correndo e investindo na sua direção, refugiando-se o seu acompanhante por de trás dele com enorme e natural receio.  São Pedro, olhando e implorando ao céu, mostrou-lhe o seu bastão e disse-lhe: “pare touro”.
O touro bravo e ferido, deteve-se e São Pedro acariciou-o e curou as suas feridas, depois benzeu-o e mandou de volta para o campo. 

Morreu em 30 de março de 1456, em La Aguilera. Não demorou muito para que numerosos milagres ocorressem em seu túmulo e trinta e seis anos depois, quando foi exumado para carregar seus restos mortais na igreja, seu corpo foi encontrado incorrupto.
O Papa Bento XIV em 1746 canonizou Pedro Regalado de Valladolid registrando-o no registro dos santos. 

domingo, 29 de março de 2020

29 de março - São Gwynlliyw


A breve história de São Gwynlliyw, pode ser apenas lendária; seria melhor se não fosse assim; mas, de fato, nada permanece registrado, exceto tais símbolos e símbolos da verdade simples, em honra de alguém cujo nome tenha continuado na Igreja, e para a glória daquele que a escreveu em seu catálogo.

São Gwynllyw era um rei ou chefe, cujo território ficava em Glamorganshire no País de Gales, e ele viveu por volta do ano 500. Ele foi o pai do grande São Cadoc, e sua esposa era Gladys, a mais velha das dez filhas do rei Brachan. Destas filhas, uma era Santa Almehda; outra, Santa Keyna; uma terceira, pouco digna de memória honrosa, era a mãe de São Davi.

Certa noite, uma voz sobrenatural invadiu os cochilos de São Gwynllyw e Gladys: “O Rei do Céu, o Governante da Terra, enviou-me para cá”; assim falou; “para que você possa voltar-se para o Seu ministério com todo o seu coração. Você Ele chama e convida, como Ele escolheu e redimiu você, quando Ele subiu na cruz. Eu vou lhe mostrar o caminho reto, que você deve manter, até a herança de Deus, levante as suas mentes, e para o que é perecível, não ofusque suas almas.
Na margem do rio há um solo em ascensão, e onde um corcel branco está em pé, há o lugar de tua habitação”.

O rei levantou-se pela manhã, desistiu de seu trono para seu filho Cadoc; saiu de casa, foi para a colina e encontrou o animal descrito. Lá, ele construiu uma Igreja e começou uma vida abstinente e santa; sua roupa um pano de cabelo; sua bebida, água; seu pão, de cevada misturado com cinzas de madeira. Ele se levantava à meia-noite e mergulhava na água fria; e de dia trabalhava para seu sustento.

O santo Cadoc, seu filho, que por fim se tornou abade de Carvan, um mosteiro vizinho, vinha com frequência a ele e o fazia de bom coração, lembrando-lhe que a coroa não é recompensa de principiantes, mas daqueles que perseveram em boas coisas.
Em uma época de seca, São Gwynllyw ofereceu suas orações a Deus e tocou o solo seco com seu cajado; uma fonte saiu clara e pura.

Quando seu fim se aproximava, ele enviou mensagem a São Dubrício, bispo de Llandaff, e a São Cadoc seu próprio filho. Das mãos deste último, ele recebeu sua última comunhão, e passou para o Senhor no dia 29 de março. Uma hoste angélica foi vista sobre seu túmulo e pessoas doentes, ao invocarem sua intercessão, foram curadas.

Sua Igreja, que se tornou seu santuário, estava perto do mar e exposta a saqueadores. Certa vez, quando os piratas dos Orkneys invadiram o local e levaram seu conteúdo, uma tempestade os alcançou no seu retorno e, arremessando suas embarcações uns contra os outros, afundou todos menos dois. Em outra ocasião, um ladrão, que havia fugido com um cálice sagrado e vestimentas, foi confrontado pelo mar aparentemente se levantando contra ele e dominando-o. Ele foi forçado a voltar para a Igreja, onde permaneceu até a manhã, quando foi preso.

Sabemos que ele é santo e que a Igreja o considera assim, e acredito que, embora esse relato não possa ser provado, é um símbolo do que ele fez e do que ele era, uma imagem de sua santidade e manifesta um pouco do poder de Deus.


29 de março - Tendo dito isso, exclamou com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” Jo 11,43


O Evangelho deste quinto domingo de Quaresma conta a ressurreição de Lázaro. É o ápice dos sinais prodigiosos realizados por Jesus: trata-se de um gesto muito, demasiado grande, claramente divino para ser tolerado pelos sumos sacerdotes, os quais, tendo sabido do fato, tomaram a decisão de matar Jesus.
Lázaro já estava morto há três dias; e às irmãs Marta e Maria Ele disse palavras que se gravaram para sempre na memória da comunidade cristã. Jesus diz assim: Eu sou a ressurreição e a vida; quem acredita em Mim, mesmo morrendo, viverá; todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá eternamente.
Sobre esta Palavra do Senhor nós acreditamos que a vida de quem crê em Jesus e segue os seus mandamentos, depois da morte será transformada numa vida nova, plena e imortal. Assim como Jesus ressuscitou com o próprio corpo, mas não voltou a uma vida terrena, também nós ressurgiremos com os nossos corpos que serão transfigurados em corpos gloriosos. Ele espera por nós junto do Pai, e a força do Espírito Santo, que O ressuscitou, ressuscitará também quem estiver unido a Ele.

Jesus bradou em voz alta: Lázaro, sai para fora! Este brado é dirigido a cada homem, porque todos estamos marcados pela morte, todos nós. Ele convida-nos, quase nos ordena, que saiamos do túmulo no qual os nossos pecados nos fizeram cair. Chama-nos insistentemente a sair da escuridão da prisão na qual nos fechamos, contentando-nos com uma vida falsa, egoísta, medíocre.

O gesto de Jesus que ressuscita Lázaro mostra até onde pode chegar a força da Graça de Deus, e portanto até onde pode chegar a nossa conversão, a nossa mudança. Mas reparai: não há limite algum à misericórdia divina oferecida a todos! Recordai-vos bem desta frase. O Senhor está sempre pronto a levantar a pedra do sepulcro dos nossos pecados, que nos separa d’Ele, a luz dos vivos.

Papa Francisco – 06 de abril de 2014

Hoje celebramos:

Querida Amazônia: A Mãe da Amazônia - nº 111



Depois de partilhar alguns sonhos, exorto todos a avançar por caminhos concretos que permitam transformar a realidade da Amazônia e libertá-la dos males que a afligem. Agora levantemos o olhar para Maria, a Mãe que Cristo nos deixou. E, embora seja a única Mãe de todos, manifesta-Se de distintas maneiras na Amazônia. Sabemos que os indígenas se encontram vitalmente com Jesus Cristo por muitos caminhos; mas o caminho mariano contribuiu mais que tudo para este encontro. Perante a beleza da Amazônia, que fomos descobrindo cada vez melhor durante a preparação e o desenrolar do Sínodo, penso que o melhor será concluir esta Exortação dirigindo-nos a Ela:

Mãe da vida,
no vosso seio materno formou-Se Jesus,
que é o Senhor de tudo o que existe.
Ressuscitado, Ele transformou-Vos com a sua luz
e fez-Vos Rainha de toda a criação.
Por isso Vos pedimos que reineis, Maria,
no coração palpitante da Amazônia.

Mostrai-Vos como mãe de todas as criaturas,
na beleza das flores, dos rios,
do grande rio que a atravessa
e de tudo o que vibra nas suas florestas.
Protegei, com o vosso carinho, aquela explosão de beleza.

Pedi a Jesus que derrame todo o seu amor
nos homens e mulheres que moram lá,
para que saibam admirá-la e cuidar dela.

Fazei nascer vosso Filho nos seus corações
para que Ele brilhe na Amazônia,
nos seus povos e nas suas culturas,
com a luz da sua Palavra, com o conforto do seu amor,
com a sua mensagem de fraternidade e justiça.

Que, em cada Eucaristia,
se eleve também tanta maravilha
para a glória do Pai.

Mãe, olhai para os pobres da Amazônia,
porque o seu lar está a ser destruído
por interesses mesquinhos.
Quanta dor e quanta miséria,
quanto abandono e quanto atropelo
nesta terra bendita,
transbordante de vida!

Tocai a sensibilidade dos poderosos
porque, apesar de sentirmos que já é tarde,
Vós nos chamais a salvar
o que ainda vive.

Mãe do coração trespassado,
que sofreis nos vossos filhos ultrajados
e na natureza ferida,
reinai Vós na Amazônia
juntamente com vosso Filho.
Reinai, de modo que ninguém mais se sinta dono
da obra de Deus.

Em Vós confiamos, Mãe da vida!
Não nos abandoneis
nesta hora escura.
Amém.

sábado, 28 de março de 2020

28 de março - Santo Estêvão Harding


O terceiro fundador e abade de Cister, o inglês Estevão Harding, viveu uma trajetória de vida muito intensa e foi também ele quem acolheu na comunidade monástica, o futuro são Bernardo, o fundador da abadia de Claraval.

Estêvão nasceu por volta do ano 1059 numa família de nobres. Ainda jovem entrou na abadia beneditina de Sherborne, onde fez sua profissão religiosa. Discorrer sobre sua vida é, também, falar sobre uma santa inquietação, a invasão dos normandos fez com que ele abandonasse a vida religiosa e partisse para a Escócia. Mais tarde foi para Paris, para se dedicar aos estudos e, em seguida, foi para Roma numa peregrinação penitencial, em busca do perdão em virtude de seu abandono da vida monástica.

Ao voltar, ia recitando o saltério ao longo da estrada. Passando por uma abadia na Borgonha, Estêvão se sentiu atraído pela vida pobre e austera dessa comunidade e, ao final, decidiu aí viver.
Mais tarde, seguindo o abade fundador, Roberto, com um pequeno grupo de monges, Estêvão se transferiu para a região de Cister, onde fundariam um novo mosteiro. Num primeiro momento Roberto foi o abade fundador, mas outros problemas fizeram com que ele tivesse que retornar para o antigo mosteiro. Em seu lugar assumir o monge Alberico, que conduziria a pequena comunidade por dez anos. Após sua morte, Estêvão foi eleito como seu sucessor.

Ao assumir como novo abade, ele se dedicou a reformar os livros litúrgicos e à fixação do texto bíblico usados no mosteiro. Aos poucos, santo Estêvão foi configurando o rosto da comunidade de Cister.
Seu longo abaciado foi de uma fecundidade excepcional. A semente plantada pelos seus sucessores deu fruto abundante, pois Estevão, por assim dizer, multiplicou a herança recebida. O pequeno rebanho, deixado em paz na nova observância por Alberico, crescerá de forma prodigiosa, sobretudo com o ingresso de Bernardo e seu grupo de 30 companheiros. Estevão os acolheu e formou. Principalmente deste grupo veio uma grande expansão para a Ordem, uma vez que, a partir de 1119, com a aprovação de suas normas fundamentais, o mosteiro de Cister tornou-se a cabeça de uma nova família monástica reconhecida pela Igreja, com diversos mosteiros, inclusive aqueles fundados pelas casas diretamente surgidas de Cister.

Sua vida foi constelada de trabalhos importantes: os papas de seu tempo o encarregaram várias vezes de resolver problemas nascidos entre as várias abadias.
Depois de 24 anos governando sua abadia, Estêvão, sentindo-se velho e cansado, tendo inclusive perdido a visão, pediu sua demissão no ano 1133. No dia 28 de março de 1134 cerrou seus olhos e entregou seu espírito. Por ocasião de sua morte, a ordem cisterciense contava já com mais de setenta mosteiros espalhados por toda a Europa.

28 de março - Vai estudar e verás que da Galileia não surge profeta Jo 7,52


Jesus deixou Nazaré, uma aldeia situada nos montes, e estabeleceu-se em Cafarnaum, importante centro nas margens do lago, habitado essencialmente por pagãos, ponto de cruzamento entre o Mediterrâneo e o interior da Mesopotâmia. Esta escolha indica que os destinatários da sua pregação não são apenas os seus conterrâneos, mas quantos desembarcam na cosmopolita Galileia das gentes: assim se chamava. Vista da capital Jerusalém, aquela terra é geograficamente periférica e religiosamente impura, porque estava cheia de pagãos, por causa da mistura com os que não pertenciam a Israel. Da Galileia não se esperavam certamente grandes coisas para a história da salvação. No entanto, precisamente dali — exatamente dali — se espalha a luz de Cristo. Difunde-se precisamente da periferia.

A mensagem de Jesus, anuncia o reino dos céus. Este reino não comporta a instauração de um novo poder político, mas o cumprimento da aliança entre Deus e o seu povo que inaugurará uma época de paz e de justiça. Para realizar este pacto de aliança com Deus, cada um está chamado a converter-se, transformando a sua maneira de pensar e de viver.

Isto é importante: converter-se não significa só mudar o modo de viver, mas também a forma de pensar. É uma transformação do pensamento. Não se trata de mudar de roupa, mas de costumes.

Jesus escolhe ser um profeta itinerante. Não fica à espera das pessoas, mas vai ao seu encontro. O Senhor revela-se a nós não de forma extraordinária ou sensacional, mas na simplicidade das nossas vidas. Ali devemos encontrar o Senhor; e ali Ele revela-se, faz sentir ao nosso coração o seu amor; e ali — com este diálogo com Ele no dia a dia da vida — muda o nosso coração.

Papa Francisco – 22 de janeiro de 2017

Hoje celebramos:

Querida Amazônia: A convivência ecumênica e inter-religiosa – nºs 106 a 110


Numa Amazônia plurirreligiosa, os crentes precisam de encontrar espaços para dialogar e atuar juntos pelo bem comum e a promoção dos mais pobres. Não se trata de nos tornarmos todos mais volúveis nem de escondermos as convicções próprias que nos apaixonam, para podermos encontrar-nos com outros que pensam de maneira diferente. Se uma pessoa acredita que o Espírito Santo pode agir no diverso, então procurará deixar-se enriquecer com essa luz, mas acolhê-la-á a partir de dentro das suas próprias convicções e da sua própria identidade. Com efeito, quanto mais profunda, sólida e rica for uma identidade, mais enriquecerá os outros com a sua contribuição específica.

Nós, católicos, possuímos um tesouro nas Escrituras Sagradas que outras religiões não aceitam, embora às vezes sejam capazes de as ler com interesse e inclusive apreciar alguns dos seus conteúdos. Algo semelhante, procuramos nós fazer face aos textos sagrados doutras religiões e comunidades religiosas, onde se encontram preceitos e doutrinas que (…) refletem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. Temos também uma grande riqueza nos sete Sacramentos, que algumas comunidades cristãs não aceitam na sua totalidade ou com idêntico sentido. Ao mesmo tempo que acreditamos firmemente em Jesus como único Redentor do mundo, cultivamos uma profunda devoção à sua Mãe. Embora saibamos que isto não se verifica em todas as confissões cristãs, sentimos o dever de comunicar à Amazônia a riqueza deste ardente amor materno, do qual nos sentimos depositários. De fato, terminarei esta Exortação com algumas palavras dirigidas a Maria.

Nada disto teria que nos tornar inimigos. Num verdadeiro espírito de diálogo, nutre-se a capacidade de entender o sentido daquilo que o outro diz e faz, embora não se possa assumi-lo como uma convicção própria. Deste modo torna-se possível ser sincero, sem dissimular o que acreditamos, nem deixar de dialogar, procurar pontos de contacto e sobretudo trabalhar e lutar juntos pelo bem da Amazônia. A força do que une a todos os cristãos tem um valor imenso. Prestamos tanta atenção ao que nos divide que, às vezes, já não apreciamos nem valorizamos o que nos une. E isto que nos une é o que nos permite estar no mundo sem sermos devorados pela imanência terrena, o vazio espiritual, o cómodo egocentrismo, o individualismo consumista e autodestrutivo.

Como cristãos, a todos nos une a fé em Deus, o Pai que nos dá a vida e tanto nos ama. Une-nos a fé em Jesus Cristo, o único Redentor, que nos libertou com o seu bendito sangue e a sua ressurreição gloriosa. Une-nos o desejo da sua Palavra, que guia os nossos passos. Une-nos o fogo do Espírito que nos impele para a missão. Une-nos o mandamento novo que Jesus nos deixou, a busca duma civilização do amor, a paixão pelo Reino que o Senhor nos chama a construir com Ele. Une-nos a luta pela paz e a justiça. Une-nos a convicção de que nem tudo acaba nesta vida, mas estamos chamados para a festa celeste, onde Deus enxugará as nossas lágrimas e recolherá o que tivermos feito pelos que sofrem.

Tudo isto nos une. Como não lutar juntos? Como não rezar juntos e trabalhar lado a lado para defender os pobres da Amazônia, mostrar o rosto santo do Senhor e cuidar da sua obra criadora?

sexta-feira, 27 de março de 2020

27 de março - Beato Francisco Faà de Bruno


No grande cenário dos santos sociais italianos, despontados na região da cidade de Turim, Francisco Faà de Bruno é uma das figuras mais complexas. Seguindo os conselhos de Dom Bosco, ingressou já maduro no seminário e foi ordenado sacerdote com apenas dez meses de preparação, aos cinquenta anos de idade, por intervenção direta do Papa Pio IX.

Era amigo pessoal de Dom Bosco que, em Turim, trabalhava para ajudar os meninos que chegavam à procura de um emprego urbano. Dom Bosco patrocinava aos jovens, instrução profissionalizante, religiosa, alojamento e recreação.
Faà de Bruno percebeu que deveria atuar na outra ponta, auxiliando as meninas, que ficavam expostas às armadilhas urbanas, enquanto buscavam a sobrevivência e um emprego.

Francesco da Paola Virginio Secondo Maria Faà di Bruno descende de uma família nobre do Piemonte. Foi o décimo segundo e último filho de Luigi, marquês di Bruno, e Carolina Sappa de' Milanesi.  Nasceu na cidade italiana de Alexandria, em 29 de março de 1825. Ele e seus 11 irmãos foram influenciados pelos pais a frequentarem a Igreja e a terem fé em Deus.

Aos dezesseis anos, ingressou na Real Academia Militar, com o objetivo de seguir uma carreira no exército. Porém, por ser um cristão convicto, entrou em conflito pessoal com relação à irreligiosidade do mundo político-militar. Por isto, doze anos depois trocou a carreira pelo estudo acadêmico das ciências exatas. Ele se mudou para Paris para completar seus estudos em matemática e em 1855 começou a trabalhar no Observatório Nacional francês sob a direção de Urbain Le Verrier. Na universidade de Sorbone, obteve o título de doutor com louvor.

Retornando à sua cidade foi trabalhar como professor de matemática. Em 1871, Faà de Bruno era um conceituado professor da universidade de Turim, sendo o titular da cadeira. Seus trabalhos matemáticos o tornaram famoso em todo o mundo, sendo publicados e traduzidos em vários países. Entretanto, simultaneamente à sua atividade intelectual, Faà de Bruno sempre se manteve em contato e atuando junto às comunidades religiosas. Era amigo pessoal do padre João Bosco.
Faà de Bruno percebeu que deveria atuar com as meninas, auxiliando as que ficavam expostas às armadilhas urbanas, enquanto buscavam a sobrevivência e um emprego. Criou para elas, com um grupo de senhoras, a Obra de Santa Zita que mantinha as jovens sob sua guarda no Conservatório do Sufrágio, uma casa similar às fundadas por Dom Bosco para os meninos. Não satisfeito, fundou a Tipografia do Sufrágio, que funcionava como escola tipográfica para as jovens. Ali ele imprimia a Revista de Matemática, que era vendida em vários países e cujas divisas eram revertidas para a Obra. Este trabalho tornou-se uma verdadeira cidade das mulheres, pois nela havia escola, laboratório e enfermaria, todos com as suas próprias regras e com uma clara perspectiva de fortalecimento da família.

Em 1867, no pequeno povoado de São Donato, iniciou-se a construção da igreja de Nossa Senhora do Sufrágio, cujo projeto foi feito por ele. Nove anos depois, ele escolheu esta igreja para celebrar a sua primeira Missa, aos cinquenta anos de idade. Depois, para dar estabilidade à Obra de Santa Zita, o padre fundou em 1881, a ordem religiosa das Irmãs Mínimas de Nossa Senhora do Sufrágio.

Seu bispo viu como conveniente que Francisco, que era dedicado em ensinar matemática, usasse essa habilidade para mostrar aos jovens que a fé era perfeitamente compatível com o estudo da ciência.
Ele ensinou na Universidade de Turim durante muitos anos, exibindo um trabalho acadêmico impressionante, como por exemplo, os quarenta artigos publicados nas principais revistas científicas da época. Para estes méritos, ele recebeu o grau de Doutor das Universidades de Paris e Turim.
Durante sua vida, Francisco se mostrou um homem de várias habilidades: foi militar, físico, astrônomo, matemático, engenheiro civil, fundador de várias instituições educacionais e sociais, músico, compositor.

Padre Francisco Faà de Bruno morreu serenamente em 27 de março de 1888. Exatamente um século depois, o Papa São João Paulo II o beatificou para ser reverenciado no dia de sua morte. Sua homilia:

Ao olhar para o Beato Francisco Faà de Bruno, é espontâneo repensar a exclamação de Moisés: "Todos eles foram profetas no povo do Senhor!" O novo abençoado foi verdadeiramente um profeta no meio do povo de Deus, a quem ele pertenceu como leigo durante a maior parte de sua vida.

Equipado com uma clara intuição prática e sensível às tensões e problemas do momento, soube encontrar respostas positivas às necessidades de seu tempo, resistindo às tentações da pressa, do simplismo cultural, dos interesses pessoais. Curvado sobre os livros, ocupado na cadeira ou com a intenção de aliviar o sofrimento dos pobres das mais diversas formas, o abençoado tinha como estrela polar de sua fervorosa atividade um grande amor a Deus, que ele nutria constantemente com o exercício da oração e da contemplação. Ele costumava dizer: “Dar-se a Deus equivale a dar-se a uma atividade mais alta, que nos arrasta como as águas inchadas e tumultuadas de uma torrente alagada. . .". Do amor a Deus veio esse amor ao "próximo", que levou Francisco Faà de Bruno no caminho dos pobres, humildes e indefesos, fazendo dele um gigante de fé e caridade. Assim nasceu toda uma série de obras e atividades de assistência, das quais não é fácil listar. Mesmo no campo científico, ele foi capaz de trazer seu testemunho coerente como crente, em um período em que a dedicação à ciência parecia incompatível com um sério compromisso de fé.

Entre as iniciativas sociais, a Obra de Santa Zita merece menção especial à promoção social e espiritual da mulher (empregada, desempregada, aprendiz, mãe solteira, doente, idosa): o beato promoveu o surgimento de uma verdadeira "cidade da mulher" Equipada com escolas, laboratórios, enfermaria, pensionistas, todos com regulamentos próprios. Nessa iniciativa corajosa e profética, ele esbanjou os bens da família, seus ganhos e tudo de si.

Cem anos após sua morte, a mensagem de luz e amor despertada pelo Beato Francisco Faà de Bruno, longe de ser exaurida, é revelada como sempre relevante, levando os que se preocupam com os valores do Evangelho ao coração.

As suas relíquias estão guardadas na igreja que ele projetou, em Turim, Itália. As irmãs continuaram a sua Obra e hoje estão presentes na Europa e América Latina.


27 de março - Alguns habitantes de Jerusalém disseram então: “Não é este a quem procuram matar? Jo 7,25


O Evangelho hoje nos fala que os doutores da Lei procuravam matar Jesus. Um dos motivos, são os ciúmes, pois o povo via Nele um Profeta que falava com autoridade. Os ciúmes são criminosos, procuram sempre matar. E para aqueles que dizem "sim, tenho inveja disso, mas não sou um assassino", recordemos: "Agora. Mas se você continuar, pode acabar mal". Porque se pode matar facilmente "com a língua, com a calúnia".
O invejoso murmura consigo mesmo, e não vê a realidade

Um ciúme que cresce falando consigo mesmo, interpretando as coisas com a chave do ciúme. Na murmuração consigo mesmo, o ciumento é incapaz de ver a realidade, e somente um fato muito forte pode abrir seus olhos. Foi assim na fantasia de Saul, o ciúme o levou a acreditar que Davi era um assassino, um inimigo.
Nós também, quando temos inveja, ciúmes, fazemos isto, eh! Cada um de nós pense: "Por que é que esta pessoa é insuportável para mim? Por que aquela outra nem sequer quero vê-la? Por que aquela outra..." Cada um de nós pense porquê. Muitas vezes procuramos o porquê e descobrimos que são fantasias nossas. Fantasias, que porém crescem naquela murmuração conosco mesmo.
E no final é uma graça de Deus quando o ciumento encontra uma realidade como ocorreu com Saul: o ciúme irrompe como uma bolha de sabão, porque o ciúme e a inveja não têm consistência.

Papa Francisco – 14 de março de 2013

Hoje celebramos:

Querida Amazônia: Ampliar horizontes para além dos conflitos – nºs 104 e 105


Frequentemente sucede que, num determinado lugar, os agentes pastorais vislumbram soluções muito diferentes para os problemas que enfrentam e, por isso, propõem formas aparentemente opostas de organização eclesial. Quando isto acontece, é provável que a verdadeira resposta aos desafios da evangelização esteja na superação de tais propostas, procurando outros caminhos melhores, talvez ainda não imaginados. O conflito supera-se num nível superior, onde cada uma das partes, sem deixar de ser fiel a si mesma, se integra com a outra numa nova realidade. Tudo se resolve num plano superior que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades em contraste. Caso contrário, o conflito fecha-nos, perdemos a perspectiva, os horizontes reduzem-se e a própria realidade fica fragmentada.

Isto não significa de maneira alguma relativizar os problemas, fugir deles ou deixar as coisas como estão. As verdadeiras soluções nunca se alcançam amortecendo a audácia, subtraindo-se às exigências concretas ou buscando culpas externas. Pelo contrário, a via de saída encontra-se por transbordamento, transcendendo a dialética que limita a visão para poder assim reconhecer um dom maior que Deus está a oferecer. Deste novo dom recebido com coragem e generosidade, deste dom inesperado que desperta uma nova e maior criatividade, brotarão, como que duma fonte generosa, as respostas que a dialética não nos deixava ver. Nos seus primórdios, a fé cristã difundiu-se admiravelmente seguindo esta lógica que lhe permitiu, a partir duma matriz judaica, encarnar-se nas culturas grega e romana e adquirir na sua passagem fisionomias diferentes. De forma análoga, neste momento histórico, a Amazônia desafia-nos a superar perspectivas limitadas, soluções pragmáticas que permanecem enclausuradas em aspetos parciais das grandes questões, para buscar caminhos mais amplos e ousados de inculturação.

quinta-feira, 26 de março de 2020

26 de março - As obras que eu faço dão testemunho de mim, mostrando que o Pai me enviou. Jo 5,36


O Evangelho nos convida a reconhecer Jesus como nosso Salvador. Podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Seremos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência. Quando não se confessa Jesus Cristo, faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: “Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo”. Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio.

Caminhar, edificar-construir, confessar. Mas a realidade não é tão fácil, porque às vezes, quando se caminha, constrói ou confessa, sentem-se abalos, há movimentos que não são os movimentos próprios do caminho, mas movimentos que nos puxam para trás.
Seguir Jesus implica a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor.

Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante.
Faço votos de que, pela intercessão de Maria, nossa Mãe, o Espírito Santo conceda a todos nós esta graça: caminhar, edificar, confessar Jesus Cristo Crucificado. Assim seja.

Papa Francisco – 14 de março de 2013

Hoje celebramos:

Querida Amazônia: A força e o dom das mulheres: nºs 99 a 103


Na Amazônia, há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, mesmo decénios, sem que algum sacerdote passasse por lá. Isto foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas, que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar, foram missionárias, certamente chamadas e impelidas pelo Espírito Santo. Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente. No Sínodo, elas mesmas nos comoveram a todos com o seu testemunho.

Isto convida-nos a alargar o horizonte para evitar reduzir a nossa compreensão da Igreja a meras estruturas funcionais. Este reducionismo levar-nos-ia a pensar que só se daria às mulheres um status e uma participação maior na Igreja se lhes fosse concedido acesso à Ordem sacra. Mas, na realidade, este horizonte limitaria as perspectivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e subtilmente causaria um empobrecimento da sua contribuição indispensável.

Jesus Cristo apresenta-Se como Esposo da comunidade que celebra a Eucaristia, através da figura de um varão que a ela preside como sinal do único Sacerdote. Este diálogo entre o Esposo e a esposa que se eleva na adoração e santifica a comunidade não deveria fechar-nos em concepções parciais sobre o poder na Igreja. Porque o Senhor quis manifestar o seu poder e o seu amor através de dois rostos humanos: o de seu divino Filho feito homem e o de uma criatura que é mulher, Maria. As mulheres prestam à Igreja a sua contribuição segundo o modo que lhes é próprio e prolongando a força e a ternura de Maria, a Mãe. Deste modo não nos limitamos a uma impostação funcional, mas entramos na estrutura íntima da Igreja. Assim compreendemos radicalmente por que, sem as mulheres, ela se desmorona, como teriam caído aos pedaços muitas comunidades da Amazónia se não estivessem lá as mulheres, sustentando-as, conservando-as e cuidando delas. Isto mostra qual é o seu poder caraterístico.

Não podemos deixar de incentivar os talentos populares que deram às mulheres tanto protagonismo na Amazônia, embora hoje as comunidades estejam sujeitas a novos riscos que outrora não existiam. A situação atual exige que estimulemos o aparecimento doutros serviços e carismas femininos que deem resposta às necessidades específicas dos povos amazónicos neste momento histórico.

Numa Igreja sinodal, as mulheres, que de fato realizam um papel central nas comunidades amazônicas, deveriam poder ter acesso a funções e inclusive serviços eclesiais que não requeiram a Ordem sacra e permitam expressar melhor o seu lugar próprio. Convém recordar que tais serviços implicam uma estabilidade, um reconhecimento público e um envio por parte do bispo. Daqui resulta também que as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na guia das comunidades, mas sem deixar de o fazer no estilo próprio do seu perfil feminino.

26 de março - São Pedro I de Sebaste


São Pedro pertencia a uma antiga e ilustre família. Três membros desta família foram santos e bispos: São Basílio, São Gregório de Nissa e São Pedro de Sebaste. Sua irmã mais velha, Santa Macrina, foi mãe espiritual de muitos santos e grandes doutores.
Seus pais, São Basílio, o Velho, e Santa Emélia foram desterrados por causa da fé no tempo do imperador Valério Maximiano, e fugiram ao deserto do Ponto. A avó de nosso santo foi a célebre Santa Macrina, a quem São Gregório instruiu na fé.

Pedro era o mais jovem dos dez filhos e perdeu seu pai antes ainda de começar a dar os primeiros passos. Assim, sua irmã, Macrina, teve de encarregar-se de sua educação. Macrina ocupou-se de instruí-lo, sobretudo, na religião. Os estudos profanos interessavam muito pouco a quem tinha os olhos fixos no céu. Pedro, que aspirava a vida monástica, nenhuma restrição viu nela.
Sua mãe havia fundado dois monastérios, um masculino e outro feminino. O primeiro tinha confiado a direção ao seu filho Basílio e o segundo à Macrina.

Pedro ingressou no monastério que era dirigido por seu irmão e que estava situado às margens do rio Íris. Quando São Basílio se viu obrigado a deixar seu cargo, no ano 362, nomeou Pedro como seu sucessor, que desempenhou por muitos anos o ofício de superior, com grande prudência e virtude.

Quando eclodiu a fome nas províncias do Ponto e da Capadócia, Pedro mostrou a sua grande caridade. A prudência humana o teria aconselhado a não exagerar nas esmolas aos pobres, antes de ter garantido o sustento aos seus monges. Pedro havia aprendido em outra escola a caridade cristã e dispunha com liberalidade do que possuía o monastério para ajudar os necessitados que vinham diariamente durante a carestia bater no monastério.
Ao ser nomeado bispo de Cesaréia, na Capadócia, São Basílio ordenou Pedro sacerdote. Basílio morreu em 1° de janeiro e 379, e Macrina em novembro daquele mesmo ano. Eustásio, bispo de Sebaste na Armênia, que tinha sido ariano e perseguido São Basílio, parece ter morrido logo depois, já que Pedro foi nomeado bispo desta diocese em 380, para erradicar a heresia ariana. O demônio tinha se apoderado tão profundamente dessa região, quer o céu precisava de um santo para arrojá-lo fora.

São Pedro é contado entre os eclesiásticos, graças a uma carta incluída nos livros de São Gregório de Nissa contra Eunomius, pela qual demonstra que, se bem que São Pedro havia se dedicado exclusivamente aos estudos eclesiásticos, a sua leitura e seu talento natural em eloquência não eram inferiores aos do seu irmão Basílio, nem as do seu colega, São Gregório Nazianzeno.

Em 381 Pedro participou do Concílio Ecumênico de Constantinopla. Não apenas seu irmão, São Gregório de Nissa, mas Teodoreto e toda a antiguidade testemunham a sua santidade, prudência e zelo.
Sua morte ocorreu por volta do ano 391, durante o verão. São Gregório de Nissa faz notar que Sebaste lhe honrou com uma solene celebração (provavelmente no ano seguinte ao de sua morte), juntamente com alguns outros mártires da mesma cidade.

quarta-feira, 25 de março de 2020

25 de março - O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Lc 1,28


A passagem do Evangelho de Lucas nos fala do momento decisivo da história, mais revolucionário. É uma situação convulsiva, tudo muda, a história fica de cabeça para baixo. É difícil pregar sobre essa passagem. E quando no Natal ou no dia da Anunciação professamos a fé para dizer este mistério, nos ajoelhamos.

É o momento em que tudo muda, tudo, da raiz. Liturgicamente hoje é o dia da raiz. Deus se abaixa, Deus entra na história e o faz com seu estilo original: uma surpresa. O Deus das surpresas nos surpreende (mais) uma vez.

Vamos refletir sobre o alcance desse Anúncio:

O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível”. Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se de junto dela.


Papa Francisco – 20 de dezembro de 2018

Hoje celebramos:

25 de março - Santa Maria Alfonsina Danil Ghattas


Depois do restabelecimento do patriarcado latino em Jerusalém em 1847, o novo bispo, Monsenhor Giuseppe Valerga pensou em criar o seminário e as escolas paroquiais de Jerusalém. De acordo com o costume da época, era necessário pensar em mulheres para a educação de meninas, então ele fez um apelo aos institutos missionários da Europa. O primeiro a responder foi o das Irmãs de São José da Aparição, que chegou a Jerusalém em 1848. Começaram a ingressar na instituição as vocações locais. Quando se apresentou uma adolescente de 17 anos, Sultaneh Danil Ghattas, o patriarca determinou que, durante sua formação, ela não poderia andar fora do ambiente religioso. As autoridades competentes obtiveram as devidas permissões. Com o hábito religioso e sob o santo Calvário, a jovem recebeu o nome de Irmã Maria Alfonsina.
Recebeu uma formação de noviça “fora dos padrões”, permanecendo em sua pátria. Também no Santo Sepulcro emitiu, algum tempo depois, seus votos perpétuos.

Nascida em 1843, em Jerusalém, Maria Alfonsina foi designada para ensinar religião. Os jovens estudantes se apegaram à freira, que tinha quase da mesma idade deles, e ela pensou em fundar com eles a Irmandade da Imaculada Conceição. Ela sugeriu então ao pastor que organizasse mães cristãs que oferecessem como assistentes para a Irmandade. Esta Irmandade ainda existe hoje em Jerusalém. A jovem freira era conhecida por seu zelo na escola e a Irmandade, mas permanecia humilde e tentava de todas as maneiras não aparecer muito. No entanto, ela tinha dons realmente “especiais”. Conhecemos os fenômenos sobrenaturais de sua vida interior graças ao seu diretor espiritual, o sacerdote Pe. Joseph Tannùs, que em 8 de novembro de 1879 ordenou que ela escrevesse um diário. Esse documento permaneceu desconhecido de todos, até quando, em seu leito de morte, a irmã Alfonsina entregou seus diários à sua irmã, Madre Giovanna.

A Virgem Santa apareceu à Irmã Alfonsina pela primeira vez em 6 de janeiro de 1874, festa da Epifania. Ela estava recitando o rosário no oratório das freiras, quando a Virgem apareceu de pé, em uma nuvem brilhante, de mãos abertas. No peito, uma cruz, dependurada num rosário aberto em círculo, que tocava suas mãos abertas e descia quase até os pés. A cabeça da Virgem era cercada por quinze estrelas. Sob seus pés havia duas nuvens, em cada uma das quais dois conjuntos de sete estrelas brilhavam.

Em 31 de maio desse ano, no mesmo oratório e sempre durante a oração do rosário, a freira teve uma segunda visão da Virgem. Nesta ocasião, ela teve pela primeira vez a inspiração interior que a levou à fundação das Irmãs do Rosário.

Uma série de visões, no ano seguinte, tornaram-na cada vez mais consciente do que a Virgem lhe pedia: fundar uma nova congregação dedicada ao Santo Rosário.
Ela foi então ao patriarca, que a ouviu graciosamente e indicou Dom Antônio Belloni para acompanhá-la como diretor espiritual. O missionário italiano fundou um instituto de assistência aos órfãos (hoje a Obra Salesiana), em Belém, em 1874, e foi popularmente chamado de “pai dos órfãos”.

No dia do terço do ano 1877, depois da comunhão, Irmã Maria Alfonsina teve uma nova visão: “Vi um convento disposto em forma de círculo como uma coroa. Nossa Senhora do Rosário estava no terraço, acima da entrada. Quinze janelas se abriram no perímetro do convento e todas as salas emolduravam uma Irmã do Rosário. Cada irmã escreveu seu nome e o nome do mistério [do rosário] que havia sido dado a ela acima da cabeça. Assim tivemos: Maria da Anunciação, Maria da Visitação, Maria da Natividade etc. Quanto a mim, me vi na décima janela, sob o nome de Maria da Cruz”. O nome era apropriado. Ela havia feito a vestição de seu hábito e emitira os votos sob o Calvário e no caminho começou a realizar um verdadeiro Calvário.

Administrar uma nova congregação não foi fácil. Antes de tudo era necessário abandonar a família religiosa a que pertencia. Depois de vinte anos de atividade e com resultados apostólicos unanimemente reconhecidos, não era previsível que os superiores, completamente alheios à sua experiência mística, concordassem com tal pedido. Um encontro decisivo foi com o Padre Joseph Tannus, que ao se tornar seu diretor espiritual e ficou pessoalmente interessado na fundação das Irmãs do Rosário. O padre há muito tempo conhecia o zelo da religiosa, mas queria ter certeza do caráter sobrenatural das visões. Uma vez convencido da autenticidade, pediu à irmã que elaborasse a narração completa dos pedidos da Santíssima Virgem sobre a congregação e pediu-lhe que elaborasse um esboço das Constituições. Era dia 8 de novembro de 1879.

Cinco moças apareceram e estavam disponíveis para levar adiante o projeto. Padre Tannus encontrou uma modesta casa de cinco cômodos na estrada entre o patriarcado e a paróquia de São Salvador, cujo aluguel perfazia a soma de 660 francos ao ano. A pequena família dos “cinco mistérios da alegria” se encontraria naquele pequeno convento em 24 de julho de 1880, às três da tarde.
Cada uma das moças teria falado sobre isso na família quinze dias antes, isto é, sábado, 10 de julho. Naquela manhã, o sacerdote as reuniu sob Calvário, no altar de Nossa Senhora das Dores e depois da missa, cada uma retornou para casa. Todas as famílias apresentaram dificuldades, mas ao final deixaram que as jovens seguissem o ideal delas. No sábado, 24 de julho, a pequena família religiosa se reuniu e entrou no convento temporário. A casa era pobre, típica de pobres e a primeira refeição foi de pão e zatar (pó de tomilho).

Depois de uma vida de oração, em 25 de março de 1927, enquanto recitava os quinze mistérios do rosário, pronunciando distintamente as palavras “Rogai por nós agora e na hora de nossa morte”, Maria Alfonsina entregou a alma a Deus. Foi sepultada em Jerusalém, na cripta do que em 1937 se tornou a igreja do Rosário. Após sua morte, seguindo as instruções de sua irmã, Madre Giovanna tirou o lacre dos dois cadernos que compunham o diário de Maria Alfonsina. Estavam bem selados, com cera vermelha, e continham as histórias das aparições. Ela entregou os escritos ao patriarca Luigi Barlassina, que, sem conhecer o árabe, os traduziu e os colocou nas mãos do superior geral.

Só então foi revelado o segredo de Madre Maria Alfonsina: foi a Santa Virgem que quis a Congregação do Rosário para a promoção das mulheres em sua pátria terrena.

O papa Bento XVI anunciou a cerimônia de beatificação da Irmã Maria Alfonsina para o dia 22 de novembro de 2009, na Basílica da Anunciação, em Nazaré, Israel. Segundo o pároco da cidade da Galileia, o franciscano Amjad Sabbara, foi a primeira beatificação realizada na Terra Santa, e por isso havia grande expectativa entre os católicos locais, sobretudo de Belém, Jerusalém e Ramallah. As autoridades israelenses concederam visto especiais aos convidados oriundos dos Territórios Palestinos. A cerimônia de beatificação foi presidida pelo Arcebispo Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e enviado especial do Papa para o evento.

No Sétimo Domingo de Páscoa, a 17 de maio de 2015, foi canonizada pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, Vaticano, suas palavras:

A docilidade ao Espírito Santo também o tornou um instrumento de encontro e comunhão com o mundo muçulmano. A Irmã Maria Alfonsina Danil Ghattas também entendeu o que significa irradiar o amor de Deus no apostolado, tornando-se testemunha de mansidão e unidade. Ela nos oferece um exemplo claro de quão importante é tornar um ao outro responsável, viver um a serviço do outro.