segunda-feira, 30 de abril de 2018

O culto que agrada a Deus - Gaudete et Exsultate 104 a 109


Podemos pensar que damos glória a Deus só com o culto e a oração, ou apenas observando algumas normas éticas (é verdade que o primado pertence à relação com Deus), mas esquecemos que o critério de avaliação da nossa vida é, antes de mais nada, o que fizemos pelos outros. A oração é preciosa, se alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos irmãos.

O melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai transformando à luz da misericórdia. “A misericórdia é a chave do Céu”.

São Tomás de Aquino ao interrogar-se quais são as nossas ações maiores, quais são as obras exteriores que manifestam melhor o nosso amor a Deus. Responde sem hesitar que, mais do que os atos de culto, são as obras de misericórdia para com o próximo: “não praticamos o culto a Deus com sacrifícios e com ofertas exteriores para proveito d’Ele, mas para benefício nosso e do próximo: de fato Ele não precisa dos nossos sacrifícios, mas quer que o ofereçamos para nossa devoção e para utilidade do próximo. Por isso a misericórdia, pela qual socorremos as carências alheias, ao favorecer mais diretamente a utilidade do próximo, é o sacrifício que mais Lhe agrada”.

Quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia.

O consumismo hedonista pode-nos enganar, porque, na obsessão de divertir-nos, acabamos por estar excessivamente concentrados em nós mesmos, nos nossos direitos e na exacerbação de ter tempo livre para gozar a vida. Será difícil que nos comprometamos e dediquemos energias a dar uma mão a quem está mal, se não cultivarmos uma certa austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo nos impõe para nos vender coisas, acabando por nos transformar em pobres insatisfeitos que tudo querem ter e provar.

A força do testemunho dos santos consiste em viver as bem-aventuranças e a regra de comportamento do juízo final. São poucas palavras, simples, mas práticas e válidas para todos, porque o cristianismo está feito principalmente para ser praticado e, se é também objeto de reflexão, isso só tem valor quando nos ajuda a viver o Evangelho na vida diária. Recomendo vivamente que se leia, com frequência, estes grandes textos bíblicos, que sejam recordados, que se reze com eles, que se procure encarná-los. Far-nos-ão bem, tornar-nos-ão genuinamente felizes.



30 de abril - Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito. Jo 14,26

Quem nos faz reconhecer que Jesus é a Verdadeira Palavra, o Filho unigênito de Deus Pai? São Paulo ensina que “ninguém pode dizer ‘Jesus é o Senhor!’ senão pelo Espírito Santo. É Ele, o dom de Cristo ressuscitado, que nos faz reconhecer a verdade. Jesus o define como o Paráclito, que significa “aquele que vem em nosso auxílio”, que está do nosso lado para nos apoiar neste caminho de conhecimento, Na Última Ceia, Jesus assegura aos discípulos que o Espírito Santo os ensinará todas as coisas, recordando-os de Suas palavras.

Qual é a ação do Espírito Santo em nossas vidas e na vida da Igreja para nos guiar à verdade? Antes de tudo, Ele recorda e marca, no coração dos que creem, as palavras que Jesus disse e, por meio destas, a lei de Deus – como haviam anunciado os profetas do Antigo Testamento. Está inscrito, em nosso coração e em nós; torna-se um princípio de avaliação nas escolhas e orientação nas ações do dia a dia; torna-se um princípio de vida. Realiza-se a grande profecia de Ezequiel: “Eu vos purificarei de todas as vossas imundícies e de todos os vossos ídolos, vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo… Porei o meu espírito dentro de vós e vos farei viver de acordo com as minhas leias, vos farei observar e colocar em prática os meus preceitos” (36:25-27). De fato, é do nosso interior que nascem nossas ações: é o coração que precisa se converter a Deus e o Espírito Santo o transforma se nós nos abrimos a Ele.

O Espírito Santo, então, como Jesus promete, guia-nos “a toda a verdade”, leva-nos não somente a encontrar Jesus, a plenitude da Verdade, mas também nos guia para “dentro” dela, faz-nos entrar em comunhão mais profunda com Jesus, dando-nos a inteligência das coisas de Deus. E isso não podemos conseguir por conta própria. Se Deus não nos ilumina interiormente, o nosso ser cristão será superficial.

A Tradição da Igreja afirma que o Espírito da verdade age em nossos corações suscitando o “sentido da fé” (sensus fidei), por meio do qual, como afirma o Concílio Vaticano II, o povo de Deus, guiado pelo Magistério, infalivelmente adere à fé transmitida, aprofunda-se nela com um julgamento correto e a aplica mais plenamente na vida.

Perguntemo-nos: “Estou aberto à ação do Espírito Santo? Peço para que Ele me traga luz, faça-me mais sensível às coisas de Deus? Esta é uma oração que devemos fazer todos os dias: “Espírito Santo, faça com que meu coração seja aberto à Palavra de Deus, que meu coração esteja aberto ao bem, à beleza de Deus todos os dias”. 

Gostaria de fazer uma pergunta a todos: “Quantos de vocês rezam todos os dias ao Espírito Santo?” Serão poucos, mas devemos cumprir esse desejo de Jesus e orar, todos os dias, ao Espírito de Deus para que Ele nos abra o coração a Jesus.

Papa Francisco – 15 de maio de 2013

Hoje celebramos:

30 de abril - Beata Paulina Von Mallinckrodt


Podemos resumir a mensagem espiritual da nova Beata Paulina von Mallinckrodt em um programa de vida muito atual e concreto: seguir a Cristo sem reservas e com uma fé inabalável; amor de Deus e dedicação amorosa aos mais infelizes e aos mais pobres, pelo amor de Cristo.

Madre Paulina von Mallinckrodt era rica em dons naturais: caráter simples, bondade, confiança no próximo, tenacidade na realização de seus propósitos; fidelidade constante às decisões fundamentais de sua vida - mesmo em provações e dificuldades - e espírito de sacrifício, com o qual se entregou livre e generosamente a todos.

Esses preciosos dons, que Deus lhe havia confiado tão generosamente, foram levados à plenitude por um profundo e forte espírito de fé. Este dom da graça, que ela recebeu no Batismo, desenvolveu-se admiravelmente sob a orientação de sua mãe e de seus professores. Cresceu no ambiente sereno de uma família em que reinava o amor e a estima mútuos, num clima que não estava inteiramente livre de dores secretas por causa das diferentes confissões dos pais: a mãe, uma católica devota; o pai, um protestante convicto. Com a ajuda da graça, consolidou-se a fidelidade de Paulina ao Senhor, refletindo sobre esta situação.

Houve, contudo, em sua juventude, um período crítico, um período de grande tormento, de muitos escrúpulos, medos e inseguranças, que ela só conseguiu superar confiando plenamente em Deus numa oração profunda e contínua. E Deus estava perto dela e iluminou sua alma com uma luz de fé tão clara que se poderia chamar de uma "graça da fé".

Em virtude dessa nova visão dada por Deus, ela poderia exclamar: “A fé me invadiu tão clara e decisivamente que eu teria acreditado mais nela do que nos meus olhos.”

Foi uma fé consciente e forte com a qual ela foi capaz de suportar dor, amargura e várias provações e que se mostrou em seu amor total e incondicional a Jesus Cristo e a Maria, sua mãe, a quem ela confiantemente se entregou. Na busca de Deus e de sua maior glória, ela cresceu em graça, fortalecendo-se cada vez mais às fontes da oração em uma profunda vida eucarística.

Do seu amor a Deus veio naturalmente e espontaneamente amor aos outros. Com grande ternura, dedicou-se a crianças cegas, a quem desejava dar luz interior, raio de luz divina. Por este serviço realizado pelo amor de Cristo, ela fundou sua congregação das Irmãs da Caridade Cristã. Juntamente com essas crianças, acolheu outras pessoas que precisavam de ajuda; todos encontravam nela e em seu grande trabalho ajuda, conforto e acima de tudo amor. Este amor levou-a a assumir a educação dos jovens para a sua congregação: ela considerou uma missão real que as exigências do tempo exigiam de uma maneira especial.

Os planos da beata eram audaciosos; mas ela sabia esperar a hora de Deus em uma reserva silenciosa e humilde. Seu trabalho cresceu com sucesso, mesmo em lutas contínuas e com muitas dificuldades. Durante o período de seu melhor desenvolvimento, chegou a hora da devastadora tempestade: a dura perseguição sob as leis do "Kulturkampf". Mas mesmo aqui, a Madre Paulina demonstrou sua lealdade interior à vontade de Deus e estava pronta para receber refugiados e seguir sua Via-Sacra.

Madre Paulina é um modelo de vida. Hoje, a inquietude ansiosa dos homens modernos indica o caminho para a paz interior: buscar corajosamente e com confiança Deus no irmão sofredor. Portanto, sua mensagem é atual, como sempre a busca por Deus é atual.

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 14 de abril de 1985

Paulina von Mallinckrodt nasceu no dia 3 de junho de 1817 em Minden, Vestefália. Era a filha mais velha de Detmar von Mallinckrodt, de religião protestante e alto funcionário do governo da Prússia, e de sua esposa, a Baronesa Bernardine von Hartmann, de religião católica, nascida em Paderborn.
Desde pequena absorvia com avidez a formação dada por sua mãe com amor. Dela herdou uma fé profunda, um grande amor a Deus e aos pobres, e uma férrea adesão à Igreja Católica e a seus pastores. Herança paterna: a firmeza de caráter, os sólidos princípios, o respeito aos demais e o cumprimento da palavra empenhada.

Paulina passou parte de sua infância e de sua juventude em Aquisgrán, para onde seu pai fora trasladado. Quando contava 17 anos sua mãe faleceu e ela tomou a direção da casa e da educação de seus irmãos menores, Jorge e Hermann, e da pequena Berta. Cumprida sua tarefa, encontrava tempo e meios para se colocar ao serviço de tantos pobres que sofriam as consequências causadas pelas mudanças sociais, econômicas e técnicas de seu século. Em Aquisgrán, com suas amigas, cuidava dos doentes, das crianças e dos jovens. 

Aos 18 anos recebeu o sacramento da Confirmação e passou a assistir à Missa diariamente. Um pouco mais tarde, seu confessor lhe permitiu a comunhão diária, algo não frequente naquela época. Fruto da Crisma foi também a decisão de consagrar sua vida inteira ao serviço de Deus.
Quando seu pai se retirou do serviço estatal e se instalou com sua família em Paderborn, Paulina continuou sua atividade caritativa. Convidava e entusiasmava senhoras e jovens a colaborar no cuidado de doentes pobres, mas acima de tudo lhe parecia mais necessária a educação e instrução das crianças pobres.
Fundou um acolhimento para crianças cegas com o intuito de cuidar delas e de instrui-las. Sob o impulso da graça, organizou a Liga Feminina para o cuidado dos doentes pobres. Fundou um jardim da infância para atender às crianças das mães que trabalhavam fora de seu lar para ganhar o sustento da família. A fundação deste jardim da infância em 1840 foi uma ideia inovadora.

Paulina ia até os casebres dos pobres para aliviar suas misérias; os ajuda, consola, exorta e reza com os enfermos, sem temer a sujeira ou os contágios: "Nunca encontrei uma pessoa como ela. É difícil descrever a imagem tão atraente e emotiva de seu viver em Deus", escreve em uma carta sua prima Berta von Hartmann.
Em 1842, pouco depois da morte do Senhor von Mallinckrodt, confiaram a Paulina o cuidado de umas crianças cegas muito pobres. Ela as atendeu com a afabilidade que a caracterizava. E como Deus sabe guiar tudo segundo seus planos, foram as crianças cegas que deram origem a Congregação, porque diversas congregações religiosas admitiriam Paulina, mas não aos cegos.

Monsenhor Antônio Claessen, após escutá-la com atenção e de rezar muito, fez Paulina compreender que era chamada por Deus para fundar uma Congregação. Em 21 de agosto de 1849, obtida a aprovação do Bispo de Paderborn, Monsenhor Francisco Drepper, Paulina com três companheiras funda a Congregação das Irmãs da Caridade Cristã, Filhas da Bem-aventurada Virgem Maria da Imaculada Conceição. Logo outros campos de atividade lhe são abertos: lares para crianças e escolas.
Abençoada pela Igreja, a Congregação floresceu e se estendeu rapidamente na Alemanha; mas, como toda obra grata a Deus, teve que ser provada pelo sofrimento, a prova não tardou a chegar. Em 1871, o Chanceler von Bismark empreendeu uma dura luta contra a Igreja Católica. Uma após outra, Madre Paulina vê serem fechadas e expropriadas as casas da Congregação na Alemanha.

Com seu profundo espírito de fé, ela vê a mão de Deus nesta perseguição religiosa. As casas da jovem Congregação foram confiscadas, as Irmãs expulsas, a fundação parecia chegar ao seu fim. Mas, justamente então produziu frutos.
Na mesma época das perseguições na Alemanha chegaram muitos pedidos vindos dos Estados Unidos e da América do Sul para que as Irmãs fossem àquelas regiões ensinar as crianças alemãs. Paulina respondeu enviando pequenos grupos de Irmãs a Nova Orleans em 1873.

Nos meses seguintes mais grupos de religiosas foram enviadas aos Estados Unidos e ela mesma fez duas longas viagens à América para constatar pessoalmente as necessidades do Novo Mundo, onde fundou em pouco tempo uma Casa Mãe em Wilkesbarre, Pensilvânia. As Irmãs abriram também casas nas arquidioceses de Baltimore, Chicago, Cincinnati, Nova York, Filadélfia, St. Louis e St. Paul, e na diocese de Albany, Belleville, Brooklyn, Detroit, Harrisburg, Newark, Sioux City e Syracuse.

Em novembro de 1874, as primeiras religiosas chegaram à diocese de Ancud, no Chile, solicitadas por Monsenhor Francisco de Paula Solar. Uns anos mais tarde, dali partiriam para o Rio da Prata: em 1883, para Melo, Uruguai, e em 1905, para Buenos Aires, Argentina.
Pelo fim da década de 1870, a perseguição religiosa na Alemanha terminou e as Irmãs puderam voltar da Bélgica para sua pátria, onde continuaram sua obra. A Congregação tinha crescido em número e em missões durante os anos de perseguição. Madre Paulina voltou a Paderborn depois de sua viagem à América em 1880.

Poucos meses depois, Madre Paulina adoeceu gravemente e, para grande sofrimento das Irmãs, faleceu no dia 30 de abril de 1881. Ela foi beatificada em 14 de abril de 1985. 

domingo, 29 de abril de 2018

Somos cristãos: fugir das ideologias - Gaudete et Exsultate n.ºs 100 a 103


Às vezes, infelizmente, as ideologias levam-nos a dois erros nocivos. Por um lado, o erro dos cristãos que separam as exigências do Evangelho do seu relacionamento pessoal com o Senhor, da união interior com Ele, da graça. Assim transforma-se o cristianismo numa espécie de ONG, privando-o daquela espiritualidade irradiante que, tão bem, viveram e manifestaram São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Calcutá e muitos outros. A estes grandes santos, nem a oração, nem o amor de Deus, nem a leitura do Evangelho diminuíram a paixão e a eficácia da sua dedicação ao próximo; antes pelo contrário...

Mas é nocivo e ideológico também o erro das pessoas que vivem suspeitando do compromisso social dos outros, considerando-o algo de superficial, mundano, secularizado, comunista, populista; ou então relativizam-no como se houvesse outras coisas mais importantes, como se interessasse apenas uma determinada ética ou um arrazoado que eles defendem. A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte. Não podemos propor-nos um ideal de santidade que ignore a injustiça deste mundo, onde alguns festejam, gastam folgadamente e reduzem a sua vida às novidades do consumo, ao mesmo tempo que outros se limitam a olhar de fora enquanto a sua vida passa e termina miseravelmente.

Muitas vezes ouve-se dizer que, face ao relativismo e aos limites do mundo atual, seria um tema marginal, por exemplo, a situação dos migrantes. Alguns católicos afirmam que é um tema secundário relativamente aos temas “sérios” da bioética. Um cristão, deve colocar-se na pele do irmão que arrisca a vida para dar um futuro aos seus filhos. Poderemos reconhecer que é precisamente isto o que nos exige Jesus quando diz que a Ele mesmo recebemos em cada forasteiro (cf. Mt 25, 35)? São Bento assumira-o sem reservas e, embora isto pudesse “complicar” a vida dos monges, estabeleceu que todos os hóspedes que se apresentassem no mosteiro fossem acolhidos “como Cristo”, manifestando-o mesmo com gestos de adoração, e que os pobres e peregrinos fossem tratados “com o máximo cuidado e solicitude”.

Algo de semelhante propõe o Antigo Testamento, quando diz: “não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egito” (Ex 22, 20). Por isso, não se trata da invenção de um Papa nem dum delírio passageiro. Também nós, no contexto atual, somos chamados a viver o caminho de iluminação espiritual que nos apresentava o profeta Isaías quando, interrogando-se sobre o que agrada a Deus, respondia: é “repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora”.



29 de abril - Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Jo 15,5


A vinha verdadeira de Deus, a videira verdadeira é Jesus que, com o seu sacrifício de amor, nos oferece a salvação, nos abre o caminho para fazermos parte desta vinha. E do mesmo modo como Cristo permanece no amor de Deus Pai, assim também os discípulos, sabiamente podados pela Palavra do Mestre, se estiveram unidos de modo profundo a Ele, tornam-se ramos fecundos, que produzem uma colheita abundante.

São Francisco de Sales escreve: “O ramo unido e vinculado ao tronco produz fruto não pela sua própria virtude, mas em virtude do cepo: pois bem, nós fomos unidos pela caridade ao nosso Redentor, como os membros à cabeça; eis por que motivo... as boas obras, haurindo o seu valor d’Ele, merecem a vida eterna”.

No dia do nosso Batismo, a Igreja enxerta-nos como ramos no Mistério Pascal de Jesus, na sua própria Pessoa. Desta raiz nós recebemos a linfa preciosa para participar na vida divina. Como discípulos, também nós, com a ajuda dos Pastores da Igreja, crescemos na vinha do Senhor, vinculados pelo seu amor. Se o fruto que devemos produzir é o amor, o seu pressuposto consiste precisamente neste “permanecer”, que tem profundamente a ver com aquela fé que não deixa o Senhor.

É indispensável permanecermos sempre unidos a Jesus, dependermos d’Ele, porque sem Ele nada podemos fazer. Numa carta escrita a João, o Profeta, que viveu no deserto de Gaza no século v, um fiel formula a seguinte pergunta: como é possível manter unidos a liberdade do homem e o fato de nada podemos fazer sem Deus? E o monge responde: se o homem inclina o seu coração para o bem, e pede ajuda a Deus, recebe a força necessária para realizar a própria obra. Por isso, a liberdade do homem e o poder de Deus procedem juntos. Isto é possível, porque o bem provém do Senhor, mas ele é levado a cabo graças aos seus fiéis.

O verdadeiro permanecer em Cristo garante a eficácia da oração, como diz o beato cisterciense Guerrico d’Igny: Ó Senhor Jesus... sem ti nada podemos fazer. Com efeito, Tu és o verdadeiro jardineiro, criador, cultivador e guardião do seu jardim, que plantas com a tua palavra, irrigas com o teu espírito e fazes crescer com o teu poder.

Estimados amigos, cada um de nós é um ramo, que só vive se fizer crescer cada dia na oração, na participação nos Sacramentos e na caridade a sua união com o Senhor. E quem ama Jesus, videira verdadeira, produz frutos de fé para uma abundante espiritual. Supliquemos à Mãe de Deus, a fim de permanecermos solidamente enxertados em Jesus, e para que cada uma das nossas obras tenha n’Ele o seu início e o seu cumprimento.

Papa Bento XVI – 06 de maio de 2012

Hoje celebramos:

29 de abril - Beata Hanna Helena Chrzanowska


Hanna Helena Chrzanowska foi uma polonesa  professa dos Oblatos Beneditinos, que serviu como enfermeira durante a Segunda Guerra Mundial, quando o regime nazista visava os poloneses, cuidou dos feridos e doentes durante todo o conflito e procurou minimizar o sofrimento em sua própria paróquia. Chrzanowska foi premiada com dois prestigiosos prêmios poloneses por suas boas obras e morreu em 1973, depois de quase uma década de luta contra o câncer.

Ela nasceu em 7 de outubro de 1902 em Varsóvia, filha de Ignacy Chrzanowski e Wanda Szlenkier. Sua família possuía uma indústria (lado materno) e terras (lado paterno) que mantinham uma longa tradição de obras de caridade; seus pais eram bem conhecidos por isso em sua Polônia natal. As circunstâncias religiosas de sua casa também eram únicas, uma vez que metade era católica romana e a outra metade era protestante. Hanna era parente do Prêmio Nobel Henryk Sienkiewicz (do lado de seu pai) que era mais conhecido por escrever o romance Quo Vadis . 

Seu avô materno, Karol, montou uma escola técnica para aspirantes a artesãos, enquanto sua esposa, Maria, montou um centro de saúde para crianças pobres em Varsóvia. Sua tia materna Zofia Szlenkier era conhecida por seus esforços filantrópicos e em 1913 fundou um hospital infantil chamado Maria e Karol. 

Desde a infância, ela sofria de deficiências respiratórias e do sistema imunológico e passava muito tempo em hospitais e sanatórios para se recuperar de tais doenças. Quando criança, ela notou um menino ao lado dela no hospital cujas roupas estavam tão desgastadas que foram jogadas fora. Mas isso significava que o garoto não tinha roupas que ele pudesse usar para voltar para casa. Então ela organizou uma campanha para presenteá-lo com um novo conjunto de roupas.  

Em 1910, a família mudou-se de Varsóvia para Cracóvia.
Ela era uma pessoa curiosa e exuberante - frequentou uma escola secundária das Irmãs Ursulinas em sua adolescência e se formou com honras. Durante a Revolução Bolchevique, ela cuidou dos soldados feridos e mais tarde iniciou seus estudos na Escola de Enfermagem de Varsóvia, em 1920.

Em algum momento da década de 1920, ela sofreu uma lesão no braço e foi obrigada a fazer uma operação. Foi também nessa fase que ela trabalhou com a Serva de Deus Magdalena Maria Epstein. Antes de ser admitida na escola de enfermagem, ela prestou serviços voluntários em uma clínica por seis meses, mas foi designada para funções de contabilidade que não lhe agradavam, pois queria estar com as pessoas.  Ela ganhou uma bolsa de estudos para uma escola de enfermagem na França em 1925, e mais tarde passou a trabalhar com os membros da Cruz Vermelha dos EUA como enfermeira em uma época em que a profissão não era tão bem respeitada. 

Hanna Helena Chrzanowska também viajou para a Bélgica para observar a profissão de enfermagem lá como parte de sua educação, a fim de ganhar uma maior experiência e conhecimento mais amplo do campo. Durante seu tempo como enfermeira, ela se tornou uma líder no campo em sua região e tornou-se um rosto bem conhecido em sua área local, devido à sua temperança e suas boas obras entre as pessoas que ela se dedicou a servir. 

Tornou-se Oblata Beneditina por ter sido atraída por São Benedito de Nursia e aspirante a seguir seu exemplo e a mensagem do Evangelho em um esforço de aproximar-se de Deus; ela também queria fundir sua fé com seu trabalho como obra misericordiosa e caridosa.

Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, ela perdeu o pai que morreu no campo de concentração de Sachsenhausen e seu irmão Bogden morreu nas mãos de soldados soviéticos sob as ordens de Joseph Stalin no massacre de Katyn. Com o prosseguimento da guerra, ela organizou enfermeiras para atendimento domiciliar em Varsóvia e ajudou a alimentar e reassentar refugiados. 

No final da guerra, ela se tornou a chefe de uma casa de repouso, onde atendia a tarefas administrativas e cuidava dos residentes enquanto trabalhava com estudantes de enfermagem. Chrzanowska também serviu como diretor da Escola de Enfermagem Psiquiátrica em Kobierzyn até que os comunistas a fecharam. Depois de algum tempo, passou a cuidar dos pobres e negligenciados em sua própria área paroquial. 

Em 1966, ela foi diagnosticada com câncer e, apesar de várias operações (sendo uma em 13 de dezembro de 1966), a doença se espalhou. O então Padre Franciszek Macharski visitou-a em 12 de abril de 1973 e deu-lhe a Unção dos Enfermos enquanto mais tarde ela perdeu a consciência em 28 de abril. Chrzanowska sucumbiu à doença em 29 de abril de 1973 em seu apartamento às 4:00 da manhã e o Cardeal Arcebispo de Cracóvia Karol Józef Wojtyła - o futuro papa João Paulo II - celebrou seu funeral. 

Em 6 de abril de 2016, seus restos mortais foram exumados para exame e foram enterrados no dia 7 de abril, em uma celebração que o Cardeal Macharski presidiu. Foi beatificada no dia 28 de abril de 2018. 

sábado, 28 de abril de 2018

O coração de Cristo - Gaudete et Exsultate n.ºs 95 a 99


No capítulo 25 do Evangelho de Mateus, Jesus volta a deter-se numa destas bem-aventuranças: a que declara felizes os misericordiosos. Se andamos à procura da santidade que agrada a Deus, neste texto encontramos precisamente uma regra de comportamento com base na qual seremos julgados: “Tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo” (25, 35-36).

Deste modo, ser santo não significa revirar os olhos num suposto êxtase. O texto de Mateus não é um mero convite à caridade, mas uma página de cristologia que projeta um feixe de luz sobre o mistério de Cristo. Neste apelo a reconhecê-Lo nos pobres e atribulados, revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos e as suas opções mais profundas, com os quais se procura configurar todo o santo.

O Senhor deixou-nos bem claro que a santidade não se pode compreender nem viver prescindindo destas suas exigências, porque a misericórdia é o coração pulsante do Evangelho.

Quando encontro uma pessoa a dormir ao relento, numa noite fria, posso sentir que este vulto seja um imprevisto que me detém, um delinquente ocioso, um obstáculo no meu caminho, um aguilhão molesto para a minha consciência, um problema que os políticos devem resolver e talvez até um monte de lixo que suja o espaço público. Ou então posso reagir a partir da fé e da caridade e reconhecer nele um ser humano com a mesma dignidade que eu, uma criatura infinitamente amada pelo Pai, uma imagem de Deus, um irmão redimido por Jesus Cristo. Isto é ser cristão! Ou poder-se-á porventura entender a santidade prescindindo deste reconhecimento vivo da dignidade de todo o ser humano?

Para os cristãos, isto supõe uma saudável e permanente insatisfação. Embora dar alívio a uma única pessoa já justificasse todos os nossos esforços, para nós isso não é suficiente. Com clareza o afirmaram os Bispos do Canadá ao mostrar como nos ensinamentos bíblicos sobre o Jubileu, por exemplo, não se trata apenas de fazer algumas ações boas, mas de procurar uma mudança social: para que fossem libertadas também as gerações futuras, o objetivo proposto era claramente o restabelecimento de sistemas sociais e económicos justos, a fim de que não pudesse haver mais exclusão.

28 de abril - Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei. Jo 14,14


Jesus diz: “Se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, Ele vos dará”. Há algo de novo, aí, há algo que muda: é uma novidade na oração. O Pai nos dará tudo, mas sempre no nome de Jesus.

O Senhor sobe ao Pai, entra no Santuário do céu, abre as portas e as deixa abertas porque “Ele mesmo é a porta” e intercede por nós, até o fim do mundo, como um sacerdote.

Ele intercede por nós diante do Pai. Isso sempre me agradou. Jesus, na sua ressurreição, teve um corpo belíssimo: as chagas da flagelação, dos espinhos, desapareceram, todas. Desapareceram as marcas dos açoites. Mas Ele quis manter sempre essas chagas, e as chagas são precisamente a sua oração de intercessão ao Pai: ‘Mas… olhe… peça isso em meu nome, olhe!’ Essa é a novidade que Jesus nos diz. Diz-nos esta novidade: confiar em sua paixão, confiar em sua vitória sobre a morte, confiar em suas chagas. Ele é o sacerdote e este é o sacrifício: as suas chagas. E isso nos dá confiança, hein! Nos dá a coragem de rezar.

Muitas vezes nos entediamos na oração, observou o Pontífice, que acrescentou: a oração não é pedir isso ou aquilo, mas é a intercessão de Jesus, que diante do Pai lhe mostra as suas chagas.

A oração ao Pai em nome de Jesus faz-nos sair de nós mesmos; a oração que nos entedia está sempre dentro de nós mesmos, como um pensamento que vai e vem. Mas a verdadeira oração é sair de nós mesmos rumo ao Pai em nome de Jesus, é um êxodo de nós mesmos.

Mas como podemos reconhecer as chagas de Jesus no céu? Onde está a escola onde se aprende a conhecer as chagas de Jesus, essas chagas sacerdotais, de intercessão? Há outro êxodo de nós mesmos em direção às chagas dos nossos irmãos e das nossas irmãs necessitados.

Se não conseguirmos sair de nós mesmos rumo ao irmão necessitado, rumo ao doente, ao ignorante, ao pobre, ao explorado, se não conseguirmos sair de nós mesmos rumo àquelas chagas, jamais aprenderemos a liberdade que nos leva à outra saída de nós mesmos, rumo às chagas de Jesus. Existem duas saídas de nós mesmos: uma em direção às chagas de Jesus, a outra em direção às chagas dos nossos irmãos e irmãs. E esse é o caminho que Jesus quer em nossa oração.

Este é o novo modo de rezar: com a confiança, a coragem que nos dá saber que Jesus está diante do Pai mostrando-lhe as suas chagas, mas também com a humildade daqueles que vão conhecer, encontrar as chagas de Jesus em seus irmãos necessitados que ainda carregam a Cruz e ainda não venceram, como Jesus venceu.

Papa Francisco – 11 de maio de 2013

Hoje celebramos:

28 de abril - São Pedro Chanel


Pedro Chanel nasceu na França, em Cuet, a 12 de julho de 1803. Aos doze anos, seguindo os conselhos do seu pároco, Trompier, iniciou os estudos no seminário. Foi-lhe concedido entrar, em 1824, no seminário maior de Bourg, onde recebeu, três anos depois, a ordenação sacerdotal. Gostaria de ter partido logo para as terras de missão, mas o seu bispo estava com muita carência de padres. Foi vigário de Amberieu e de Gex, unindo-se a um grupo de sacerdotes diocesanos, os Maristas, que traduziam no próprio âmbito paroquial o ideal missionário, sob a guia de Padre Colin.

A Sociedade de Maria, aprovada pelo papa em 1836, teve entre os primeiros membros Pedro Chanel, que no mesmo ano embarcou de Le Havre, perto de Valparaíso, com destino à Oceania. Quando o navio tocou Futuna, Pedro Chanel foi convidado a descer em terra e ficar, em companhia do irmão leigo, Nicézio, de 20 anos.

Foi uma lenta e paciente penetração no pequeno mundo daquela gente tão diferente em costume e mentalidade. O anúncio do Evangelho começou, porém, a repercutir na geração jovem. Mas este sucesso fez com que se aguçassem as hostilidades dos mais velhos.

Ao perceber que vários membros de sua família haviam aderido ao cristianismo, Musumuso, o genro do cacique, matou Pedro Chanel a bordoadas de tacape. Era o dia 28 de abril de 1841.

O tributo de sangue de são Pedro Chanel foi o preço para abrir, enfim, as portas de toda a ilha à evangelização. O novo mártir cristão, beatificado a 17 de novembro de 1889, foi canonizado a 16 de junho de 1954 e declarado padroeiro da Oceania.

Quando o missionário Pedro Chanel desembarcou na minúscula ilha de Futuna, um fragmento das ilhas Fiji entre o Equador e o Trópico de Capricórnio, não se pode dizer que o lugar fosse um paraíso.

A pequena ilha é dividida em duas por uma montanha central, e cada lado era habitado por uma tribo, que vivia em guerra permanente, uma contra a outra. Hoje o local é, sim, um paraíso para os milhares de turistas que a visitam anualmente e para a população, que é totalmente católica e vive na paz no Senhor.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Gaudete et Exsultate – nºs 90 a 94


O próprio Jesus sublinha que este caminho vai contra a corrente, a ponto de nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a sua vida, pessoas que incomodam. Jesus lembra as inúmeras pessoas que foram, e são, perseguidas simplesmente por ter lutado pela justiça, ter vivido os seus compromissos com Deus e com os outros. Se não queremos afundar numa obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cómoda, porque, “quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la”.

Para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e os interesses mundanos jogam contra nós.
A cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e santificação. Lembremo-nos disto: quando o Novo Testamento fala dos sofrimentos que é preciso suportar pelo Evangelho, refere-se precisamente às perseguições.

Fala-se, porém, das perseguições inevitáveis, não daquelas que nós próprios podemos provocar com um modo errado de tratar os outros. Um santo não é uma pessoa excêntrica, distante, que se torna insuportável pela sua vaidade, negativismo e ressentimento. Não eram assim os Apóstolos de Cristo. O livro dos Atos refere, com insistência, que eles gozavam da simpatia de todo o povo, enquanto algumas autoridades os assediavam e perseguiam.

As perseguições não são uma realidade do passado, porque hoje também as sofremos quer de forma cruenta, como tantos mártires contemporâneos, quer duma maneira mais subtil, através de calúnias e falsidades. Jesus diz que haverá felicidade, quando, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Outras vezes, trata-se de zombarias que tentam desfigurar a nossa fé e fazer-nos passar por pessoas ridículas.

Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade.

27 de abril - “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Jo 14,5



Esta expressão de Jesus, faz-nos pensar na vida cristã, que é um caminho: começamos com o batismo a empreender este caminho e caminhamos, caminhamos, caminhamos. Pode-se dizer que a vida cristã é uma estrada e a estrada justa é Jesus. Tanto que ele mesmo disse: Eu sou o caminho. Por conseguinte, para caminhar bem na vida cristã a estrada é Jesus.

Mas, há muitos modos de caminhar. Antes de tudo, há aquele que não caminha. Um cristão que não caminha, que não avança na estrada, é um cristão “não cristão”, por assim dizer: é um cristão um pouco paganizado, está ali, parado, imóvel, não vai em frente na vida cristã, não faz florescer as bem-aventuranças na sua vida, nem pratica obras de misericórdia, está parado. E mais, perdoai-me a palavra, mas é como se fosse uma “múmia”, ali, uma “múmia espiritual”. E há cristãos que são “múmias espirituais”, parados: nem praticam o mal nem o bem. Este modo de ser não produz fruto: não é um cristão fecundo porque não caminha.

Depois, há alguns que caminham mas erram a estrada. Porém, também nós muitas vezes erramos a estrada. É o próprio Senhor quem vem e nos ajuda, não é uma tragédia errar a estrada. Com efeito a tragédia é ser teimoso e afirmar: “esta é a estrada” e não deixar que a voz do Senhor nos diga: “Esta não é a estrada, volta para trás e retoma a estrada verdadeira”. É preciso retomar a estrada quando nos damos conta dos erros que cometemos e não ser teimosos e ir sempre pela estrada errada, porque isto nos afasta de Jesus, pois ele é a estrada e não a estrada errada.

Depois, há outros que caminham mas não sabem para onde vão: são errantes na vida cristã, vagabundos. A ponto que a sua vida é rodar para lá e para cá e deste modo perdem a beleza de se aproximar de Jesus na vida de Jesus. Resumindo, perdem a estrada porque vagueiam e muitas vezes este vaguear, errante, os leva a uma vida sem saída: o rodar demasiado transforma-se num labirinto e depois não sabem como sair. Assim, no final perdem a chamada de Jesus, não têm uma bússola para sair e rodam, rodam, procuram.

E, há outros que no caminho são seduzidos por uma beleza, por algo, e param no meio da estrada, fascinados pelo que veem, por uma ideia, uma proposta, uma paisagem, e param. Mas a vida cristã não é um fascínio: é uma verdade. É Jesus Cristo. E santa Teresa de Ávila dizia, falando sobre este caminho: “Nós caminhamos para chegar ao encontro com Jesus”: precisamente como uma pessoa que caminha para chegar a um lugar, não para porque lhe agrada aquele hotel, ou a paisagem, mas prossegue em frente, em frente. Mas na vida cristã faz bem parar, olhando para o que nos agrada, para as belezas — há belezas e é preciso olhar para elas porque foram criadas por Deus — mas sem permanecer ali. Devemos continuar a vida cristã. Por isso, é preciso fazer de modo que algo bonito, tranquilo, uma vida tranquila não nos fascine a ponto de parar. E assim, há muitas modalidades para não fazer o caminho justo, porque o caminho justo, a justa via é Jesus.

Façamos um exame de consciência. Cada um de nós hoje pode perguntar: o meu caminho cristão, que teve início com o batismo, como está? Parado? Errei a estrada? Estou a vaguear continuamente e não sei para onde ir espiritualmente? Paro diante do que me agrada: mundanidade, vaidade — muitas coisas, não? — ou vou sempre em frente, realizando as bem-aventuranças e as obras de misericórdia? Faz bem questionar-nos: é um verdadeiro exame de consciência! Substancialmente: De que modo caminho? Sigo Jesus?

Papa Francisco – 03 de maio de 2016




27 de abril - Beata Maria Antônia Bandrés Elósegui


Madre Cândida disse um dia a uma aluna de seu colégio de Toulouse: "você será filha de Jesus". A jovem foi Maria Antônia Bandrés Elósegui, hoje elevada com a Fundadora às honras dos altares. Apaixonada por Jesus, ela se certificou de que os outros também o amassem. Como catequista, obreira-operária, missionária no desejo, sendo já religiosa, consumava sua curta vida compartilhando, amando e servindo aos outros. Em sua doença, unida a Cristo, ela nos deixou um exemplo eloquente de participação na obra salvífica da cruz.
O testemunho da vida destas duas novas Beatas enche de alegria a Igreja e deve trazer a sua Congregação, presente em muitos países da Europa, da América e da Ásia, para seguir os seus ricos ensinamentos, o modelo do seu dom de si e perseverança em sua fidelidade ao carisma recebido do Espírito.

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 12 de maio de 1996

Antônia nasceu em 6 de março de 1898, em um lar rico em Tolosa, Espanha.  Seu pai Raimundo Bandrés era um renomado jurista que formou uma grande família com Teresa Elósogui, ela foi a segunda de quinze irmãos. Nasceu frágil e recebeu cuidados e ternura em abundância que imprimiram seu jeito de ser. Tanta atenção e cuidados afetaram sua personalidade de tal maneira que durante os primeiros anos ela era uma pessoa imatura em quem havia uma hipersensibilidade preocupante.

Sua mãe cuidou de incutir muitos valores que, junto com sua grande devoção a Maria, abriram seu caminho. Mas no curso de sua adolescência, esta mãe generosa e cheia de piedade, não escondeu sua ansiedade: "Que menina irritante! Quanto você vai sofrer com essa personalidade!" 

No entanto, o germe de um bom exemplo já estava latente no coração da jovem que começou uma obra de caridade com os pobres e necessitados que viviam nos subúrbios, acompanhando sua mãe de quem aprendeu a contemplar a face de Cristo neles. Ela também tinha a direção de uma empregada doméstica que a seguia com solicitude nessa ação de solidariedade que realizava e que deixou uma marca indelével na sua vida, movida por seu espírito humilde, simples e generoso. O bom tratamento e o tato que veio de sua caridade permitiram-lhe suavizar as bordas que encontrou em pessoas difíceis e de hábitos violentos.

Estudou na escola de São José, em Tolosa, erigida por Madre Cândida, fundadora das Filhas de Jesus, que, conhecendo-a, a seduziu por sua virtude, vislumbrando nela uma futura vocação. A espiritualidade mariana do centro, que tinha como objeto direto de devoção a Virgem do Belo Amor, fez com que Antônia revivesse o amor de Maria que sua boa mãe infundiu.

Em 1915, aos 17 anos, mesmo com sua saúde frágil surgiu a força que vem da graça divina, não hesitou em se consagrar. Cumpriria a previsão que a fundadora fez quando era adolescente: "Você será a Filha de Jesus". 

Antônia vislumbrou o chamado no meio da oração quando realizou os exercícios espirituais em Loyola. O afeto profundo e legítimo que a ligava à sua família não era uma pedra de tropeço. E embora ela tenha experimentado a dor da separação, continuou a seguir a Cristo. 
Reconheceu com simplicidade no noviciado: "Só por Deus os deixei". Seu tio, Anton, um agnóstico declarado, não aprovou essa decisão, um sentimento que não passou despercebido pela Beata.

Em 1918 professou em Salamanca e, quase ao mesmo tempo, sua saúde foi irremediavelmente arruinada. O sorriso em meio ao sofrimento era uma constante em seu rosto, assim como a conformidade e a paz que apareciam em todos os momentos, deixando o médico, o notório dr. Filiberto Villalobos, comovido. Ele comentou com amigos, o impacto que o levou a ver tanta conformidade e fé inabalável de sua paciente, que caminhou alegremente até o fim, porque sabia que os braços do Pai celeste a esperavam. “Como a nossa vida é errada! - exclamou -  É isso que é morrer!” Uma reflexão que caiu nas mentes de seus interlocutores. 

O fato é que Antônia ofereceu sua vida a Deus pela conversão de seu tio Antón, uma graça que foi concedida e que se concretizou quando ele percebeu a grandeza de sua sobrinha, encontrando paz no perdão e misericórdia divina ante a imagem da Virgem de Aránzazu.

Quem teria pensado que a frágil adolescente que mostrava a fragilidade de seus sentimentos no primeiro momento de mudança, impulsionada por uma sensibilidade doentia, iria agir com tanta integridade! Que ela havia se proposto com essa firmeza: "É necessário chegar ao topo" , corajosamente enfrentando uma morte inevitável que assumiu ao se juntar a Cristo sabendo que Ele nunca a deixava, acreditando que o pedido que  fez seria concedido, para o seu amado padrinho. Se Cristo tivesse sofrido, por que ela não iria? Resoluta, clara, inabalável nesta determinação de morrer para ser uma doadora de vida com Ele, ficou claro que este desejo de oferecer tinha que cumpri-lo desta maneira: "fazer, tornar tudo".

No meio de seus sofrimentos, Deus não queria deixá-la órfã de consolo, e ele veio a se manifestar: "Isso é estar morrendo? Quão doce é morrer na vida religiosa! Sinto que a Virgem está ao meu lado, que Jesus me ama e eu o amo ...” 

Em 27 de abril de 1919, na festa de Nossa Senhora de Montserrat culminou sua provação e entrou na glória. Ela acabava de completar 21 anos. Ela foi beatificada por João Paulo II em 12 de maio de 1996 junto com sua fundadora, Madre Cândida Maria de Jesus.


quinta-feira, 26 de abril de 2018

Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Gaudete et Exsultate – nºs 87 a 89

Esta bem-aventurança faz-nos pensar nas numerosas situações de guerra que perduram. Da nossa parte, é muito comum sermos causa de conflitos ou, pelo menos, de incompreensões. Por exemplo, quando ouço qualquer coisa sobre alguém e vou ter com outro e lhe digo; e até faço uma segunda versão um pouco mais ampla e espalho-a. E, se o dano que consigo fazer é maior, até parece que me causa maior satisfação. O mundo das murmurações, feito por pessoas que se dedicam a criticar e destruir, não constrói a paz. Pelo contrário, tais pessoas são inimigas da paz e, de modo nenhum, bem-aventuradas.

Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa: “serão chamados filhos de Deus”. Aos discípulos, pedia-lhes que, ao chegar a uma casa, dissessem: a paz esteja nesta casa! A Palavra de Deus exorta cada crente a procurar, juntamente com todos, a paz, pois é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz. E na nossa comunidade, se alguma vez tivermos dúvidas acerca do que se deve fazer, procuremos aquilo que leva à paz, porque a unidade é superior ao conflito.

Não é fácil construir esta paz evangélica que não exclui ninguém; antes, integra mesmo aqueles que são um pouco estranhos, as pessoas difíceis e complicadas, os que reclamam atenção, aqueles que são diferentes, aqueles que são muito fustigados pela vida, aqueles que cultivam outros interesses. É difícil, requerendo uma grande abertura da mente e do coração, uma vez que não se trata de um consenso de escritório ou uma paz efémera para uma minoria feliz nem de um projeto de poucos para poucos. Também não pretende ignorar ou dissimular os conflitos, mas aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo. Trata-se de ser artesãos da paz, porque construir a paz é uma arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza.

Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade.

26 de abril - Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus lhes disse:“Em verdade, em verdade vos digo: o servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o enviou. Jo 13,16


Jesus realizou um gesto que ficou gravado na memória dos discípulos: o lava-pés. Um gesto inesperado e perturbador, a ponto que Pedro não queria aceitá-lo. Gostaria de analisar as palavras finais de Jesus: Entendeis o que vos tenho feito? Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Deste modo Jesus indica aos seus discípulos o serviço como o caminho a percorrer para viver a fé n’Ele e dar testemunho do seu amor. O próprio Jesus aplicou a si a imagem do Servo de Deus usada pelo profeta Isaías. Ele, que é o Senhor, faz-se servo!

Lavando os pés aos apóstolos, Jesus quis revelar o modo de agir de Deus em relação a nós, e dar o exemplo do seu mandamento novo de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, ou seja, dando a vida por nós. O próprio João o escreve na sua Primeira Carta: Nisto, conhecemos a caridade: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.

Por conseguinte, o amor é o serviço concreto que prestamos uns aos outros. O amor não são palavras, são obras e serviço; um serviço humilde, feito no silêncio e no escondimento, como o próprio Jesus disse: não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita. Ele significa pôr à disposição os dons que o Espírito Santo nos dispensou, para que a comunidade possa crescer. Além disso, expressa-se na partilha dos bens materiais, para que ninguém esteja em necessidade. A partilha e a dedicação a quem está em necessidade é um estilo de vida que Deus sugere também a muitos não cristãos, como caminho de humanidade autêntica.

Por fim, não esqueçamos que lavando os pés aos discípulos e pedindo-lhes para fazerem o mesmo, Jesus nos convidou também a confessar reciprocamente as nossas faltas e a rezar uns pelos outros a fim de nos sabermos perdoar de coração. Neste sentido, recordamos as palavras do santo bispo Agostinho quando escrevia: Que o cristão não desdenhe de fazer o que Cristo fez. Porque quando o corpo se inclina até aos pés do irmão, também no coração se acende, ou se já existia alimenta-se, o sentimento de humildade. Perdoemo-nos reciprocamente as nossas faltas e rezemos pelas culpas uns dos outros, de modo que de alguma maneira nos lavaremos os pés mutuamente. O amor, a caridade é o serviço, ajudar os outros, servir os outros. 

Papa Francisco – 12 de março de 2016

Hoje celebramos: