“São
Luís-Maria Grignion de Montfort, santo missionário, cujo apostolado foi
nutrido por uma profunda vida de oração, uma inabalável fé em Deus Trindade e
uma intensa devoção à Santíssima Virgem Maria, Mãe do Redentor, pobre entre os
pobres, profundamente integrado na Igreja apesar das incompreensões que
encontrou, São Luís-Maria tomou por lema estas simples palavras: «Só
Deus». Ele cantava: «Só Deus é a minha ternura, só Deus é o
meu sustentáculo, só Deus é todo o meu bem, a minha vida e a minha riqueza»
(Ct 55, 11).
Nele,
o amor por Deus era total. Era com Deus
e por Deus que ia ao encontro dos outros e percorria os caminhos da missão.
Continuamente consciente da presença de Jesus e de Maria, era em todo o seu ser
uma testemunha da caridade teologal, que ele desejava fazer partilhar. A sua ação e a sua palavra não tinham por
finalidade senão chamar à conversão e fazer viver de Deus. Os seus escritos
são de igual modo testemunhos e louvores ao Verbo encarnado, e também a Maria, «obra-prima
do Altíssimo, milagre da Sabedoria eterna».
Antes
de tudo, São Luís-Maria impressiona pela sua espiritualidade teocêntrica. Ele
tem «o
gosto de Deus e da Sua verdade» e sabe comunicar a sua fé em Deus, do Qual
exprime ao mesmo tempo a majestade e a doçura, pois Deus é fonte transbordante
de amor. O Padre de Montfort não hesita em abrir aos mais humildes o mistério
da Trindade, que inspira a sua oração e a sua reflexão sobre a Encarnação
redentora, obra das Pessoas divinas. Quer fazer compreender a atualidade da
presença divina no tempo da Igreja; escreve sobretudo: («A conduta que as três Pessoas da
Santíssima Trindade tiveram na Encarnação e a primeira vinda de Jesus Cristo,
Elas conservam-na todos os dias, duma maneira invisível, na santa Igreja, e a
conservá-la-ão até à consumação dos séculos, na última vinda de Jesus Cristo ».
Na nossa época, o seu testemunho pode ajudar a fundar com vigor a existência
cristã sobre a fé no Deus vivo, sobre uma relação calorosa com Ele e sobre uma sólida
experiência eclesial, graças ao Espírito do Pai e do Filho, cujo reino continua
no presente.
A
pessoa de Cristo domina o pensamento de Grignion de Montfort: «Jesus
Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim
último de todas as nossas outras devoções ». A Encarnação do Verbo é
para ele realidade absolutamente central: «Ó Sabedoria eterna [...] adoro-Vos [...]
no seio do vosso Pai durante a eternidade, e no seio virginal de Maria, vossa
digna Mãe, no tempo da vossa Encarnação». A ardente celebração da
pessoa do Filho de Deus encarnado, que se encontra em todo o ensinamento do
Padre de Montfort, conserva hoje o seu inestimável valor, porque depende duma
concepção equilibrada do ponto de vista da doutrina e leva à adesão de todo o
ser Àquele que revela à humanidade a sua verdadeira vocação. Possam os fiéis
escutar esta exortação: «Jesus Cristo, a Sabedoria eterna, é tudo o
que podeis e deveis desejar. Desejai-O, procurai- O [...] como única e preciosa
pérola »!
A
contemplação das grandezas do mistério de Jesus caminha passo a passo com a da Cruz, da qual Montfort fazia o
maior sinal das suas missões. Muitas vezes provado de maneira árdua, conheceu
pessoalmente o seu peso, como o testemunha uma carta à sua irmã, a quem pede
que reze por ele «a fim de obter de Jesus crucificado a força para carregar as cruzes
mais rudes e mais pesadas ».
Para
conhecer a Sabedoria eterna, incriada e encarnada, Grignion de Montfort convidou
constantemente a confiar na Santíssima Virgem Maria, tão inseparável de Jesus
que «antes
se separaria a luz do sol». Ele continua a ser um incomparável cantor e
discípulo da Mãe do Salvador, na qual celebra aquela que conduz de maneira
segura a Cristo: «Se estabelecemos a sólida devoção da Santíssima Virgem, é só para
estabelecer de modo mais perfeito a de Jesus Cristo e para obter um meio fácil
e seguro para encontrar Jesus Cristo». Pois Maria é a criatura escolhida
pelo Pai e totalmente consagrada à sua missão materna. Tendo entrado em união
com o Verbo mediante o seu livre consentimento, encontra-se associada de
maneira privilegiada à Encarnação e à Redenção, de Nazaré até ao Gólgota e ao
Cenáculo, absolutamente fiel à presença do Espírito Santo. Ela «encontrou
graça diante de Deus para todo o mundo em geral e para cada um em particular ».
Deste
modo Luís-Maria chama a consagrar- se totalmente a Maria, para acolher a sua
presença no mais íntimo da alma. «Maria torna-se tudo para esta alma junto de
Jesus Cristo: esclarece o seu espírito pela sua fé pura. Aprofunda o seu
coração mediante a sua humildade, amplia-a e abraça-a pela sua caridade,
purifica-a com a sua pureza, enobrece e engradece-a pela sua maternidade».
O recurso a Maria leva sempre a dar a Jesus um lugar mais importante na vida; é
significativo, por exemplo, que Montfort convida o fiel a voltar-se para Maria
antes da comunhão: «Suplicareis a esta boa Mãe que vos prepare o próprio coração, a fim de
receber nele o seu Filho com as suas mesmas disposições».
No
nosso tempo, em que a devoção mariana é viva mas nem sempre suficientemente
esclarecida, seria bom reencontrar o fervor e o justo estilo do Padre de
Montfort, para atribuir à Virgem o seu verdadeiro lugar e aprender a orar: «Ó
Mãe de misericórdia, dai-me a graça de obter a verdadeira sabedoria de Deus e
de me colocar por isso no número daqueles que amais, ensinais e conduzis [...]
Ó Virgem fiel, tornai-me em todas as coisas um perfeito discípulo, imitador e
escravo da Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho.
Depois
da sua ordenação, ele escrevia: «Sinto um grande desejo de fazer amar a
nosso Senhor e à sua Santa Mãe, de ir, duma maneira pobre e simples, ensinar o
catecismo aos pobres». Ele viveu em plena fidelidade a esta vocação, a
qual será compartilhada com os sacerdotes que a ele se unirão. Nas Regras dos
Sacerdotes missionários da Companhia de Maria, ele convida o missionário
apostólico a pregar com simplicidade e verdade, sem temor e com caridade, «e
com santidade, não tendo em vista senão Deus, sem interesse a não ser o da Sua
glória, e praticando em primeiro lugar o que ensina aos outros».
Como
andarilho do Evangelho, inflamado pelo amor de Jesus e da Sua santa Mãe, ele
soube comover as multidões e fazer com que amassem o Cristo Redentor,
contemplado na Cruz. Oxalá ele sustente os esforços dos evangelizadores do
nosso tempo!”
Carta
do Papa João Paulo II à Família Monfortina - 21
de junho de 1997
São
Luís Maria Grignion de Montfort nasceu em 31 de Janeiro de 1673, em Montfort,
na Bretanha francesa. Ele era o filho mais velho de uma família numerosa. Teve
ao todo 17 irmãos, dos quais um padre, um irmão dominicano, uma irmã beneditina
e uma irmã sacramentina. O Santo foi batizado logo depois do seu nascimento,
recebendo o nome de Luís. Ao receber o Crisma, acrescentou o nome de Maria.
Algum tempo depois, abandonou o nome da família e passou a se chamar Luís Maria
Montfort.
Com
11 anos entrou no colégio jesuíta de Rennes e nele recebeu sólida formação
humana e espiritual. No mesmo colégio, concluiu o curso de filosofia em 1692 e,
sentindo-se chamado ao sacerdócio, vai no ano seguinte para Paris, afim de
entrar no Seminário de São Sulpício e estudar teologia na Universidade de
Sorbonne. Recebeu excelente formação teológica, que foi a base do seu trabalho
missionário. Foi ordenado sacerdote em 5 de Junho de 1700. Decidiu ser padre
para dedicar-se à evangelização dos povos estrangeiros, socorrer os pobres e
proclamar o Reino de Jesus Cristo por Maria.