sábado, 30 de abril de 2016

Mês de Maio - Mês de Maria


Durante esse mês vamos louvar à nossa Mãe Maria, 
a cada dia recordando um de seus títulos.

Oração

“Maria, mulher da escuta, abri nossos ouvidos; fazei com que saibamos ouvir a Palavra do vosso Filho Jesus entre as tantas palavras deste mundo; fazei que saibamos perceber a realidade em que vivemos; ouvir as pessoas que encontramos, especialmente aquelas pobres, necessitadas, em dificuldades.
Maria, mulher da decisão, iluminai as nossas mentes e os nossos corações, para que saibamos obedecer a Palavra do vosso Filho Jesus, sem hesitação; dai-nos a coragem de decidir, de não nos deixar arrastar pelos que tentam orientar a nossa vida.
Maria, mulher da ação, fazei que as nossas mãos e os nossos pés se movam “depressa” em direção aos outros, para que possamos levar-lhes a caridade e o amor do vosso Filho Jesus; para levarmos, como vós, ao mundo a luz do Evangelho. Amém
Papa Francisco


São José Benedito Cottolengo

“Tereis sempre pobres entre vós” (Mt 26, 11)... São José Cottolengo abraçou avidamente essa preciosa herança deixada por Jesus à sua Igreja e a eles dedicou toda a sua existência.
José Cottolengo sentiu-se atraído pela bondade e compaixão de Jesus em relação aos pequeninos, aos pobres e doentes. Compreendeu, em profundidade, as riquezas de amor do Coração de um Deus por aqueles a quem denominou como os “menores de meus irmãos” (Mt 25, 40).

José Benedito Cottolengo nasceu em Bra, no Piemonte, em maio de 1786. Desde a infância deu provas de sua vocação, sendo encontrado um dia medindo um dos quartos de sua casa com o objetivo de saber quantas camas caberiam ali para receber doentes.
Terminados os estudos, dos quais saiu-se brilhantemente graças à intercessão de São Tomás de Aquino, foi ordenado sacerdote e mais tarde, em 1818, eleito cônego do cabido de Corpus Domini em Turim.

Em 1827 deu início à sua obra, fundando a “Pequena Casa da Divina Providência”, onde acolheu inúmeros enfermos e abandonados. Para o cuidado destes, criou primeiro um instituto de religiosas chamado “Filhas de São Vicente” e, alguns anos depois, outro, denominado “Irmãos de São Vicente de Paulo”.
As dificuldades para a realização de seus desígnios não foram pequenas. Muitos outros dotados de uma fé robusta, mas não cega como a sua, teriam desanimado na metade do caminho. Continuamente achava-se sem recursos e acossado por credores incompreensivos exigindo o pagamento das dívidas. Por outro lado, via crescer todo dia o número de seus protegidos que acorriam à “Pequena Casa”, atraídos, não só pelas necessidades de saúde, mas, sobretudo, pela fama de sua bondade sem limites.

São José Benedito era um homem essencialmente contemplativo e desapegado das coisas terrenas. A característica preponderante de sua santidade e de sua missão era a inteira confiança na Divina Providência. Poder-se-ia dizer que toda a sua espiritualidade sintetizava-se nesta frase do Evangelho: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33).
Com frequência costumava dizer aos seus: “Estai certos de que a Divina Providência nunca falta; poderão faltar as famílias, os homens, mas a Providência não nos faltará. Isso é de fé. Portanto, se em alguma ocasião faltar algo, isso só poderá ser atribuído à nossa falta de confiança. É necessário confiar sempre em Deus; e, se Deus responde com sua Divina Providência à confiança ordinária, proverá extraordinariamente a quem extraordinariamente confiar”.

Uma fé assim levada a grau tão heroico só poderia obter resultados miraculosos, e estes foram abundantes ao longo da existência de nosso santo. Em certa ocasião, a religiosa encarregada da cozinha veio anunciar-lhe:
— Nada resta de farinha na casa… Amanhã não haverá pão para alimentar os indigentes!
— Por que vos inquietais por tão pouco? Bem vedes como a chuva cai às torrentes e é impossível mandar alguém sair neste momento — respondeu ele.
A boa irmã, que não atingira na perfeição aquele santo abandono de seu Fundador, retirou-se muito descontente com a resposta. Alguns instantes depois, Cottolengo entrou no refeitório e — imaginando-se só, sem desconfiar que outra irmã o espiava pelo buraco da fechadura — ajoelhou-se diante da imagem da Santíssima Virgem e orou fervorosamente com os braços em cruz.
Passaram-se apenas alguns minutos e um homem, conduzindo uma carroça, apresentou-se à porta do estabelecimento. Sem querer informar de onde vinha nem por quem fora enviado, declarou ter o encargo de depositar na “Pequena Casa” toda a farinha que trazia em seu veículo. As freiras logo acorreram, alvoroçadas, para contar tudo ao santo cônego. Este acolheu a notícia sem manifestar a menor surpresa e tranquilamente lhes deu ordem de fazer o pão.

Em outra ocasião, São José Benedito viu-se diante de uma situação ainda mais apertada. Um de seus credores chegou a ameaçá-lo de morte caso não lhe pagasse a dívida naquele mesmo instante. Ele desculpou-se, pediu-lhe para ter um pouco mais de paciência, prometendo fazê-lo tão logo fosse possível. Mas o homem mostrou-se inflexível e, sem mais, tirou de dentro de sua vestimenta uma arma com a qual se dispunha a acabar com a vida do santo. Num gesto maquinal, este levou a mão ao bolso e, para sua grande surpresa, encontrou um rolo contendo exatamente a soma reclamada. Entregou-a logo ao credor e este partiu dali confuso por sua atitude violenta, e impressionado diante do milagre e do exemplo de serena confiança que acabava de presenciar.

Seu desejo de fazer o bem a todos quantos dele se aproximavam não conhecia restrições nem obstáculos: chegava ao extremo de prodigalizar os cuidados mais humildes aos doentes e de entrar nos jogos dos débeis mentais, com o intuito de distraí-los. Não considerava isto uma humilhação, pois analisava tudo com vistas sobrenaturais, sabendo que o importante não está em fazer grandes obras ou realizar prodígios estupendos, mas sim em ser aos olhos de Deus aquilo que Ele quer de nós. Dessa elevada concepção da vida, que impregnava todos os seus atos, decorria o alegre desprendimento com o qual se abandonava à vontade de Deus, repetindo sempre: “Por que ficais angustiados pelo dia de amanhã? A Providência não pensará nisso, pois já pensastes vós. Não arruineis, portanto a sua obra e deixai-a agir. Embora nos seja permitido pedir um bem temporal determinado, entretanto, quanto ao que a mim se refere, temeria cometer uma falta se pedisse algo nesse sentido”.

Em 1842 faleceu José Benedito Cottolengo. Durante sua permanência neste mundo, os anseios de seu coração e a vida de sua alma estiveram voltados unicamente para a glória de Deus. Por isso deixou atrás de si uma obra monumental de Caridade para com próximo, que hoje está presente em quatro continentes, como prova irrefutável da veracidade da promessa de Jesus Cristo. Ele só procurara o Reino de Deus e sua justiça, Nosso Senhor lhe concedera tudo por acréscimo.


quinta-feira, 28 de abril de 2016

São Luís-Maria Grignion de Montfort

“São Luís-Maria Grignion de Montfort, santo missionário, cujo apostolado foi nutrido por uma profunda vida de oração, uma inabalável fé em Deus Trindade e uma intensa devoção à Santíssima Virgem Maria, Mãe do Redentor, pobre entre os pobres, profundamente integrado na Igreja apesar das incompreensões que encontrou, São Luís-Maria tomou por lema estas simples palavras: «Só Deus». Ele cantava: «Só Deus é a minha ternura, só Deus é o meu sustentáculo, só Deus é todo o meu bem, a minha vida e a minha riqueza» (Ct 55, 11).

Nele, o amor por Deus era total. Era com Deus e por Deus que ia ao encontro dos outros e percorria os caminhos da missão. Continuamente consciente da presença de Jesus e de Maria, era em todo o seu ser uma testemunha da caridade teologal, que ele desejava fazer partilhar. A sua ação e a sua palavra não tinham por finalidade senão chamar à conversão e fazer viver de Deus. Os seus escritos são de igual modo testemunhos e louvores ao Verbo encarnado, e também a Maria, «obra-prima do Altíssimo, milagre da Sabedoria eterna».

Antes de tudo, São Luís-Maria impressiona pela sua espiritualidade teocêntrica. Ele tem «o gosto de Deus e da Sua verdade»  e sabe comunicar a sua fé em Deus, do Qual exprime ao mesmo tempo a majestade e a doçura, pois Deus é fonte transbordante de amor. O Padre de Montfort não hesita em abrir aos mais humildes o mistério da Trindade, que inspira a sua oração e a sua reflexão sobre a Encarnação redentora, obra das Pessoas divinas. Quer fazer compreender a atualidade da presença divina no tempo da Igreja; escreve sobretudo: («A conduta que as três Pessoas da Santíssima Trindade tiveram na Encarnação e a primeira vinda de Jesus Cristo, Elas conservam-na todos os dias, duma maneira invisível, na santa Igreja, e a conservá-la-ão até à consumação dos séculos, na última vinda de Jesus Cristo ». Na nossa época, o seu testemunho pode ajudar a fundar com vigor a existência cristã sobre a fé no Deus vivo, sobre uma relação calorosa com Ele e sobre uma sólida experiência eclesial, graças ao Espírito do Pai e do Filho, cujo reino continua no presente.

A pessoa de Cristo domina o pensamento de Grignion de Montfort: «Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas outras devoções ». A Encarnação do Verbo é para ele realidade absolutamente central: «Ó Sabedoria eterna [...] adoro-Vos [...] no seio do vosso Pai durante a eternidade, e no seio virginal de Maria, vossa digna Mãe, no tempo da vossa Encarnação». A ardente celebração da pessoa do Filho de Deus encarnado, que se encontra em todo o ensinamento do Padre de Montfort, conserva hoje o seu inestimável valor, porque depende duma concepção equilibrada do ponto de vista da doutrina e leva à adesão de todo o ser Àquele que revela à humanidade a sua verdadeira vocação. Possam os fiéis escutar esta exortação: «Jesus Cristo, a Sabedoria eterna, é tudo o que podeis e deveis desejar. Desejai-O, procurai- O [...] como única e preciosa pérola »!

A contemplação das grandezas do mistério de Jesus caminha passo a  passo com a da Cruz, da qual Montfort fazia o maior sinal das suas missões. Muitas vezes provado de maneira árdua, conheceu pessoalmente o seu peso, como o testemunha uma carta à sua irmã, a quem pede que reze por ele «a fim de obter de Jesus crucificado a força para carregar as cruzes mais rudes e mais pesadas ».

Para conhecer a Sabedoria eterna, incriada e encarnada, Grignion de Montfort convidou constantemente a confiar na Santíssima Virgem Maria, tão inseparável de Jesus que «antes se separaria a luz do sol». Ele continua a ser um incomparável cantor e discípulo da Mãe do Salvador, na qual celebra aquela que conduz de maneira segura a Cristo: «Se estabelecemos a sólida devoção da Santíssima Virgem, é só para estabelecer de modo mais perfeito a de Jesus Cristo e para obter um meio fácil e seguro para encontrar Jesus Cristo». Pois Maria é a criatura escolhida pelo Pai e totalmente consagrada à sua missão materna. Tendo entrado em união com o Verbo mediante o seu livre consentimento, encontra-se associada de maneira privilegiada à Encarnação e à Redenção, de Nazaré até ao Gólgota e ao Cenáculo, absolutamente fiel à presença do Espírito Santo. Ela «encontrou graça diante de Deus para todo o mundo em geral e para cada um em particular ».

Deste modo Luís-Maria chama a consagrar- se totalmente a Maria, para acolher a sua presença no mais íntimo da alma. «Maria torna-se tudo para esta alma junto de Jesus Cristo: esclarece o seu espírito pela sua fé pura. Aprofunda o seu coração mediante a sua humildade, amplia-a e abraça-a pela sua caridade, purifica-a com a sua pureza, enobrece e engradece-a pela sua maternidade». O recurso a Maria leva sempre a dar a Jesus um lugar mais importante na vida; é significativo, por exemplo, que Montfort convida o fiel a voltar-se para Maria antes da comunhão: «Suplicareis a esta boa Mãe que vos prepare o próprio coração, a fim de receber nele o seu Filho com as suas mesmas disposições».

No nosso tempo, em que a devoção mariana é viva mas nem sempre suficientemente esclarecida, seria bom reencontrar o fervor e o justo estilo do Padre de Montfort, para atribuir à Virgem o seu verdadeiro lugar e aprender a orar: «Ó Mãe de misericórdia, dai-me a graça de obter a verdadeira sabedoria de Deus e de me colocar por isso no número daqueles que amais, ensinais e conduzis [...] Ó Virgem fiel, tornai-me em todas as coisas um perfeito discípulo, imitador e escravo da Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho.
Depois da sua ordenação, ele escrevia: «Sinto um grande desejo de fazer amar a nosso Senhor e à sua Santa Mãe, de ir, duma maneira pobre e simples, ensinar o catecismo aos pobres». Ele viveu em plena fidelidade a esta vocação, a qual será compartilhada com os sacerdotes que a ele se unirão. Nas Regras dos Sacerdotes missionários da Companhia de Maria, ele convida o missionário apostólico a pregar com simplicidade e verdade, sem temor e com caridade, «e com santidade, não tendo em vista senão Deus, sem interesse a não ser o da Sua glória, e praticando em primeiro lugar o que ensina aos outros».

Como andarilho do Evangelho, inflamado pelo amor de Jesus e da Sua santa Mãe, ele soube comover as multidões e fazer com que amassem o Cristo Redentor, contemplado na Cruz. Oxalá ele sustente os esforços dos evangelizadores do nosso tempo!”
Carta do Papa João Paulo II à Família Monfortina - 21 de junho de 1997

São Luís Maria Grignion de Montfort nasceu em 31 de Janeiro de 1673, em Montfort, na Bretanha francesa. Ele era o filho mais velho de uma família numerosa. Teve ao todo 17 irmãos, dos quais um padre, um irmão dominicano, uma irmã beneditina e uma irmã sacramentina. O Santo foi batizado logo depois do seu nascimento, recebendo o nome de Luís. Ao receber o Crisma, acrescentou o nome de Maria. Algum tempo depois, abandonou o nome da família e passou a se chamar Luís Maria Montfort.

Com 11 anos entrou no colégio jesuíta de Rennes e nele recebeu sólida formação humana e espiritual. No mesmo colégio, concluiu o curso de filosofia em 1692 e, sentindo-se chamado ao sacerdócio, vai no ano seguinte para Paris, afim de entrar no Seminário de São Sulpício e estudar teologia na Universidade de Sorbonne. Recebeu excelente formação teológica, que foi a base do seu trabalho missionário. Foi ordenado sacerdote em 5 de Junho de 1700. Decidiu ser padre para dedicar-se à evangelização dos povos estrangeiros, socorrer os pobres e proclamar o Reino de Jesus Cristo por Maria.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Santa Zita


Natural de  Montesegradi (Itália), filha de  pais pobres, honestos e piedosos, nasceu Zita em 1212 e, graças à sólida educação que recebeu na casa paterna, bem cedo seguiu o caminho da  virtude e da  perfeição cristã. Zita era uma menina,  por sua mansidão e modéstia de  todos querida.  Educada no santo temor de Deus, pouco falava, tanto mais trabalhando  e conservando sua alma em constante recolhimento.

Tendo doze anos, se empregou na casa  de  um nobre, Era a única forma de uma moça não se tornar um peso para a família, pobre e numerosa. Ela não ganharia salário, trabalharia praticamente como uma escrava, mas teria comida, roupa e, quem sabe, até um dote para conseguir um bom casamento, se a família que lhe desse acolhida se afeiçoasse a ela e tivesse interesse em vê-la casada.
Bem cedo, antes dos outros levantarem-se, ia à igreja assistir à missa. À hora marcada infalivelmente se  achava  no seu trabalho. Durante 48 anos serviu Zita àquela família, sempre com a  mesma pontualidade e dedicação. 
"Quatro são as principais qualidades, que uma  empregada deve ter - costumava ela dizer : temor de Deus, obediência, fidelidade e amor ao trabalho". 
Zita possuía  todos estes predicados no mais alto grau. 

Ela sofreu muito, principalmente nos primeiros tempos. Era maltratada pelos patrões e pelos demais empregados. Porém aguentou tudo com humildade e fé, rezando muito e praticando muita caridade. Aliás, foi o que tornou Zita famosa entre os pobres: a caridade cristã. Tudo que ganhava dos patrões, um pouco de dinheiro, alimentos extras e roupas, dava aos necessitados. A conseqüência disso foi que, em pouco tempo, Zita dirigia a casa e comandava toda a criadagem. Conquistou a simpatia e a confiança dos patrões e a inveja de outros criados.

Certa vez, Zita foi acusada de estar dando pertences da despensa da casa para os mendigos, por uma das criadas que invejavam sua posição junto aos donos da mansão. Talvez não fosse verdade, mas dificilmente a moça poderia provar isso aos patrões. Assim, quando o patriarca da casa perguntou o que levava escondido no avental, ela respondeu: "são flores", e soltando o avental uma chuva delas cobriu os seus pés. Esta é uma de suas tradições mais antigas citadas pelos seus fervorosos devotos.

Fatos admiráveis e  extraordinários em grande número provam com quanto agrado Deus olhava para as  obras  de sua serva Zita.
Certa vez, um mendigo pediu um copo de vinho. Zita, não dispondo de  nenhuma  gota desta bebida para servir ao pobre, foi com o cântaro à fonte, e cheio deu-o ao mendigo. Este não pouco se admirou quando, levando-o à boca, provou um vinho delicioso.  
As frutas  no celeiro, a farinha na  dispensa multiplicavam-se nas mãos de Zita todas as vezes que, com licença  dos patrões, tirava um tanto para seus pobres.

Certa ocasião, quando todos  iam assistir  à missa do galo na noite de Natal, fazendo um frio intensíssimo, o patrão de Zita ofereceu-lhe  sua pelúcia. Zita aceitou-a, mas  para dá-la a  um pobre que tiritava de frio.  Disse-lhe, porém, que  no fim da missa, devia restituir. Terminada a missa o pobre não apareceu e Zita teve de voltar para casa sem a pelúcia  e que lhe importou forte censura do patrão.  Pelo meio dia à hora do jantar, veio o  pobre, e com muitos agradecimentos entregou a  pelúcia retirando-se. O patrão ao ver isto, começou a  formar conceito mais  elevado de sua empregada. 

Em uma determinada noite do ano de 1250, quando voltava atrasada para casa, veio a seu encontro, para fazer-lhe companhia, uma senhora, até então “desconhecida”. Como na época as cidades em sua zona urbana eram muito pequenas e concentradas em prédios geminados, por medida de segurança eram cercados por muralhas e acessadas por um grande portão principal. Em conseqüência do avançado da hora, Zita e sua “acompanhante”, encontraram o portão já trancado. Qual não foi a surpresa da humilde trabalhadora, o portão abriu-se sem ninguém tocá-lo. Assim as duas conseguiram chegar até a casa de Zita.
Nesse momento a humilde doméstica recebeu a graça de uma iluminação divina e reconheceu em sua companheira de caminhada a Virgem Santíssima. Quase que instantaneamente a este discernimento Nossa Senhora desapareceu.

Após essa riquíssima experiência junto a Mãe de Deus, Santa Zita recebeu  inúmeras graças especiais em sua vida e para as pessoas de sua convivência.

Quanto Zita chegou a completar sessenta anos, quiseram seus amos aliviá-la em seu trabalho, a que  a santa empregada  se  opôs. 
Deus, porém,  mandou-lhe sinais indubitáveis de sua próxima  morte.  Zita preparou-se então santamente para a última recepção dos santos sacramentos.

No dia  27 de  abril de 1272, sua alma voou  para o Céu.   Neste  dia, apareceu sobre sua morada uma estrela de brilho extraordinário. As crianças do lugar,vendo-a, exclamaram: "De certo morreu a  Santa Zita, vamos vê-la".  Seu corpo foi depositado na igreja de São Frediano. 

No ano de  1580 foi aberto o  túmulo e o corpo encontrado intacto. Muitos  milagres foram  registrados  no lugar de sua sepultura. Santa Zita foi canonizada pelo Papa Inocêncio XII, ela é padroeira das Empregadas Domésticas.   



terça-feira, 26 de abril de 2016

São Rafael Arnáiz Barón



"E, à medida que nos vamos desprendendo de tanto amor desordenado às criaturas, e a nós mesmos, me parece que nos vamos acercando mais e mais ao único amor, ao único desejo, ao único anelo desta vida, à verdadeira santidade que é Deus."

Sua alma atingia aquela indiferença recomendada por Santo Inácio, pela qual o homem nada deseja para si e deixa-se levar pelo beneplácito divino. Uma única paixão dominava-lhe o coração: Deus! 

Rafael Arnáiz Barón nasceu em Burgos, Espanha, no dia 9 de abril de 1911, no seio de uma família burguesa profundamente católica. Desde a infância manifestava um caráter contemplativo, que se expressava sobretudo, através da pintura. Aos 10 anos, vendo-se impossibilitado de acompanhar seus colegas à Missa de domingo, por estar enfermo, suplicou a um sacerdote que lhe levasse o Santíssimo Sacramento. Impressionado com a piedade daquela criança, o padre acedeu e, a partir daí, Rafael nunca mais abandonou a comunhão dominical.

Aos 19 anos, ingressa na Faculdade de Arquitetura de Madrid, curso que não chegará a concluir.
Em 15 de janeiro de 1934 ingressa no Mosteiro Trapista de San Isidro de Dueñas, próximo de Valencia. Seu coração estava cheio de bons propósitos, que ele resumiu com estas palavras escritas poucos dias antes: "Quero ser santo, diante de Deus, e não dos homens; uma santidade que se desenvolva no coro, no trabalho, sobretudo, no silêncio; uma santidade conhecida somente de Deus e da qual nem mesmo eu me dê conta, pois, então, já não seria verdadeira santidade.

Após quatro meses, apresenta um quadro sério de diabete sacarina, que prejudica sua vida comum na comunidade a tal ponto que os superiores lhe pedem para retornar para casa.
Nove meses depois, ele reingressa ao mosteiro, onde é admitido como oblato, isto é, sem emitir os votos monásticos e dispensado de certas atividades comunitárias. Lá o esperavam novas tribulações: isolado na enfermaria, sujeito a um regime alimentício que provocava críticas dos companheiros, sofrendo incompreensões de alguns de seus superiores, Rafael sentia-se inteiramente só. Dada sua debilidade física, proibiram-lhe até de participar do cântico do Ofício na igreja. A esses sofrimentos juntavam-se terríveis tentações que lhe sugeriam a ideia de ter errado de vocação. Ele tudo enfrentava com vigor de espírito e um inalterável sorriso nos lábios.

Sairá novamente seis meses depois, em setembro, convocado pela Guerra Civil Espanhola. Comprovado seu estado de saúde frágil, é dispensado do serviço militar e retorna ao mosteiro em dezembro do mesmo ano.


Em fevereiro de 1937, com o agravamento da enfermidade, é enviado outra vez para a casa dos pais. Em dezembro, não obstante sua saúde precária, retorna pela última vez ao mosteiro. Os derradeiros meses da vida de Rafael foram os últimos passos até o cimo do calvário que se propusera galgar, como o refletem os escritos dessa época, embebidos de intensa espiritualidade e amor à perfeição.

"Tudo o que faço, é por Deus. As alegrias, Ele as manda; as lágrimas, Ele as dá; o alimento, tomo-o por Ele; e quando durmo, faço-o por Ele. Minha regra é Sua vontade, e Seu desejo é minha lei; vivo porque a Ele apraz, morrerei quando Ele quiser. Nada desejo fora de Deus. [...] Quisera que o universo inteiro - com todos os planetas, os astros todos, e os inúmeros sistemas siderais - fosse uma imensa superfície lisa onde eu pudesse escrever o nome de Deus. Quisera que minha voz fosse mais potente que mil trovões, e mais forte que o ímpeto do mar, e mais terrível que o fragor dos vulcões para só dizer ‘Deus'. Quisera que meu coração fosse tão grande quanto o Céu, puro como o dos Anjos, simples como a pomba para nele ter a Deus.

No mosteiro morrerá em odor de santidade no dia 26 de abril de 1938.
Em 1983 ele foi declarado “modelo para a juventude” pelo Papa João Paulo II e beatificado pelo mesmo Papa em 27 de setembro de 1992. Foi canonizado pelo Papa Bento XVI no dia 11 de outubro de 2009.








domingo, 24 de abril de 2016

São Fidelis de Sigmaringa


O Capuchinho São Fidelis de Sigmaringa é o primeiro mártir da «Propaganda Fide» Congregação fundada por Gregório XV, em 1622, na festa da Epifania. Ele é sobre­tudo o protetor e modelo dos nossos missionários.

Nasceu em Sigmaringa (Sudoeste da Alemanha), em 1577. Após uma infância feliz, parte com seu irmão, que mais tarde seria também seu companheiro de vocação, para Friburgo (Baden), a fim de frequentar os cursos da Universidade. Diante dele abria-se um horizonte cheio de esperança. Para completar a sua cultura, acompanha ao estrangeiro os filhos de uma família rica, visitando a Itália e a França. Aquela longa viagem serviu-lhe não só para aprender melhor o italiano e o francês, como também lhe deu a oportunidade de visitar os mais famosos santuários. 

Aprofunda ainda mais a sua  vasta formação religiosa; inscreve o seu nome em várias Irmandades; dedica-se a obras de apostolado e de beneficência; sentindo o desejo de se mortificar e de fazer penitência. Regressado à pátria, forma-se em Direito e, inscreve o seu nome no quadro dos advogados.
A sua honestidade moral e a sua valentia abrem-lhe as portas de uma carreira brilhante no mundo. É admirado, estimado e solicitado. Especialmente em Ensihein (Alsacia), obtém retumbantes e lisonjeiros sucessos. Mas não se deixa seduzir pela glória. É uma personalidade que trabalha e reflete; é um jovem profundamente apaixonado pelo Direito, mas preocupado, acima de tudo, em preservar a sua integridade moral.
Bem depressa, no entanto, se dá conta dos riscos da sua carreira e da vida forense. O mundo é perverso, os seus aplausos e triunfos não lhe enchem o coração! Iluminado pela graça de Deus, abre os olhos para outros horizontes: os horizontes da bondade e da glória de Deus.

Decide, como Francisco de Assis, deixar a glória e as riquezas mundanas, para seguir os passos de Cristo. Pede para entrar no convento: era o ano 1611. Angustiante dúvida o atormenta:
«Poderá ele, advogado já célebre e homem maduro, preparar-se, adaptar-se, humilhar-se às exigências do convento e de uma vida em Fraternidade»?

Os superiores também duvidam e, para não lhe tirar a esperança, adiam a sua entrada. Mas a sua vocação era autêntica, e quando o Senhor chama não há obstáculos intransponíveis. Resignar-se-á com aquele contratempo, mas, sempre confiante, aproveitará a demora para pensar no sacerdócio. Ei-lo de novo a bater e a pedir para entrar:
«Acabaram-se todas as dúvidas; custe o que custar, a minha meta é ser sacerdote de Cristo».

Os seus colegas noviços andam pelos 15 anos; ele vai já nos 34. Contudo, não se sentirá desorientado. Assim procurará trilhar melhor o caminho da bondade, do amor fraterno, da disponibilidade e da obediência. O padre Ângelo de Milão, ao dar-lhe o nome de Frei Fidelis, dirige-lhe calorosa exortação: «Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida» (Apocalipse).
E na capa do Breviário, e no seu quarto, escreve: «Lembra-te do  dia em que saíste do Egito».
Durante o noviciado escreve um livrinho de «Exercícios» sobre este tema dominante: ser todo de Deus, não viver senão para Ele, nenhuma outra preocupação senão a de lhe agradar; na procura e no reencontro com o Sumo Bem está a felicidade perfeita.

Ordenado sacerdote, entrega-se de alma e coração ao ministério pastoral. Era dotado de invulgares qualidades: vida íntegra, competência e dons de grande orador. Por isso, em pouco tempo, obtém inesperados êxitos. É um trabalhador incansável, sempre em permanentes viagens apostólicas. Não havia tempo a perder: os protestantes semeavam por toda a parte as suas doutrina e intrigas. 

Infelizmente, Feldkirch (Voralberg) cidade austríaca fronteiriça e seus arredores eram verdadeira terra de missão: a corrupção moral alastrava em todos os estratos sociais. Duro e árduo apostolado, mas o padre Fidelis não teme. Depois de ter fala­do dos Novíssimos, de ter apelado à conversão e ao arrependimento, investe um dia contra o luxo e a imoralidade; outro, contra as injustiças, a vingança, o ódio, a violação das leis.
Esbarra com oposições, presente intenções de ameaça, mas as autoridades vão-no deixando andar livre­mente. Chegam a condená-lo em público, recriminando-o de imprudente. Até as damas de alta sociedade o chamam de retrógrado.
Por outro lado, o seu coração ardente de missionário colhia exuberantes e consoladoras compensações: as conversões eram sempre numerosas; os pobres saudavam-no como seu defensor; e todos os que eram honestos o pro­clamavam como o anjo da paz, conselheiro do povo, pai da pátria.
Tempos difíceis aqueles: quantos crimes cometidos em nome da liberdade, desejada por uns só para si, mas nega­da para os outros! Os protestantes, bem protegidos pelos poderosos, encontrando clima favorável na corrupção em voga, difundiam rapidamente as suas doutrinas. Infiltraram-se também em Prattigau (temível e encantador vale de Rezia, próximo e paralelo a Volberg), tendo per­vertido aqueles rudes e obstinados montanheses.

O padre Fidelis irá lá vencê-los com força da Palavra de Deus. E obtém os primeiros frutos reconfortantes: certo calvinista faz, nas suas mãos, a renúncia à heresia, regressando à Fé Católica. Com ardorosas palavras, mas, sobretudo com a autoridade, o testemunho de vida e incríveis sacrifícios, conseguia opor-se à torrente devastadora.
Mas, até quando o deixariam em paz?

Eis que um dia decidem matá-lo. Aquele capuchinho, e intrépido missionário tinha os dias contados. Dentro em pouco não o encontrariam mais no seu caminho e, finalmente, reduziriam ao silêncio aquela voz incômoda.
Após uma reunião, maquinadas as formas de o liquidar, separam-se aos gritos: «Morte! Morte ao padre Fidelis. Tem de morrer».
Apunhalaram um gentil homem, que se tinha aproximado do missionário para abjurar da heresia, e encontraram no seu bolso este folhe­to: «Atenção! Avisai o padre Fidelis e os outros Capuchi­nhos de que se trama contra eles uma sanguinária conjura».

Era o primeiro mês de 1622. Entretanto, a recém criada Congregação da Propaganda da Fé, nomeia o intrépido missionário como chefe da missão na região dos Grijões. Ali lhe estará reservada a palma do martírio.
Ele confidenciara a um amigo da infância: «Nos Grijões encontrarei a morte certa». 
Em seguida acrescentou: «A obediência envia-me aos Grijões: eu estou preparado. Tal­vez já não nos vejamos mais neste mundo, mas não importa. Com a graça de Deus nos veremos ainda e para sempre no Céu».

A 24 de Abril, logo de manhã, confessa-se. Celebra a Missa com tal fé e piedade, que surpreende os assistentes. E, após a habitual ação de graças, sobe ao púlpito e dirige um inflamado sermão aos soldados.
De repente para, empalidece, e fica como que meditando. Poucos instantes depois, os seus olhos vivíssimos voltam-se para o Céu. A igreja estava apinhada de gente. São 9 horas. Sem demora sobe ao púlpito para anunciar a Palavra de Deus. Permanece por uns momentos em silêncio, pensativo; depois se saberá porquê. No púlpito, diante dele, um bilhete com as palavras: «Esta é a tua última pregação».
Estala a rebelião no país. Num dado momento, as munições, secretamente preparadas, explodem. Entra um sol­dado e grita: «Fogo! Fogo»!
O pânico é geral, mas o padre Fidelis, imperturbável, continua a pregação:
«Um só Senhor, uma só fé, um só batismo».
Mas a emboscada estava bem urdida. Chovem balas, pedradas e assobios. Intimam o pregador a descer. Caem massacrados os sol­dados que o defendem. Uma bala, disparada contra ele, trespassa o púlpito. Os fiéis fogem em pânico. O padre Fidelis desce e ajoelha diante do altar. «Não adianta, padre — segreda-lhe o sacristão cheio de medo — a morte é certa. —«Não tenho medo, amigo: estou nas mãos de Deus e da Sua divina Mãe».
Mas, momentos depois, acompanhado por um capitão austríaco, sai pela porta da sacristia e, graças a um sinuoso carreiro, parece estar a salvo. Tinha-se já afastado da igreja, à distância um tiro de espingarda, quando torce um pé e é forçado a parar. É a hora das trevas: surgem sicários calvinistas, armados de espadas, forquilhas e maçanetas de ferro. Ao capitão não lhe fazem mal e até lhe prestam auxílio; só querem ajustar contas com o padre Fidelis. Gritam-lhe: «Apostasia ou a morte»!
O missionário, com a calma dos santos, responde: «Não vim aqui, irmãos, para me fazer herege, mas para extirpar a heresia e dar-vos a conhecer que a única religião verdadeira é a católica; e tenho grande esperança que depressa regressareis à Fé dos vossos pais».
Nos rebeldes há um momento de indecisão; mas recobram de novo a sua habitual fúria e insultam-no! «Frade maldito, como te atreves a falar de uma religião estrangeira e de a implantar no nosso país?»
Um sicário, de aspecto sinistro, aproxima-se e sacode-o com violência: «Quereis sim ou não abraçar a nossa Reforma»?
E, sem esperar resposta, desembainha a espada e fere-lhe a cabeça. O padre Fidelis, a escorrer sangue, cai de joelhos e pronuncia as suas últimas palavras: «Senhor Jesus, perdoai aos meus inimigos; cegos pelo ódio e pela paixão, não sabem o que fazem. Meu Jesus, tende piedade de mim! Santa Maria, assisti-me».
Dois golpes de maçaneta acabam com ele. Não são homens, mas feras: trespassam-lhe as costelas, amputam-lhe as pernas e o pé direito. Tranquilo e sereno, o mártir de Cristo recebe a palma do martírio.

Eram 11 horas da manhã. Tinha 45 anos. Na terra, ensopada pelo seu sangue, desabrochou uma flor de deslumbrante beleza e exótico perfume. Beatificado em 1729, Bento XIV proclamou-o Santo a 29 de Junho de 1746. 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

São Caio - Papa

Papa Caio nasceu na Dalmácia, de família cristã da nobreza romana, parente distante do Imperador Diocleciano, foi eleito no dia 17 de dezembro de 283. Foi o vigésimo oitavo papa e governou a Igreja durante treze anos, num período de trégua nas perseguições.

Antes de sua eleição, o Papa Caio transformou sua casa em igreja. Lá, ouvia os aflitos, os pecadores; auxiliava os pobres e doentes; celebrava as missas, distribuía a eucaristia e ministrava os sacramentos do batismo e do casamento. 

O grande contratempo enfrentado pelo Papa Caio se deu no âmbito interno do próprio clero, devido a crescente multiplicação de heresias, criando uma grande confusão entre os devotos cristãos.
Estabeleceu que ninguém poderia ser sagrado bispo sem antes passar pelos graus de leitor, acólito, exorcista, subdiácono, diácono e sacerdote. São Caio proporcionou paz aos cristãos e construiu amplas igrejas, por toda Roma.

Nós sabemos, pelos escritos da Igreja, que apesar do seu parentesco com o imperador, o Papa se recusou a ajudar Diocleciano, que pretendia receber a sobrinha dele como sua futura nora. Contrariado e cheia de ira, o soberano mandou matar todos os cristãos, começando pelo seu parente Caio. 


Papa Caio morreu decapitado em 22 de abril de 296. A Igreja confirmou a sua santificação e o seu martírio. As suas relíquias foram depositadas primeiro no cemitério de São Calixto. Depois foram trasladadas para a igreja que foi erguida no local da casa onde ele viveu em Roma.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Santo Anselmo da Cantuária

"Fazei, ó Senhor, que eu sinta com o coração aquilo que alcanço com a inteligência"

Deus, rogo-vos, desejo conhecer-vos, quero amar-vos e poder regozijar-me em Vós. E se nesta vida não sou capaz disto na medida plena, que eu possa pelo menos progredir cada dia, até alcançar a plenitude”

“O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página”.

“Não tento, Senhor, penetrar a vossa profundidade, porque não posso sequer de longe comparar com ela o meu intelecto; mas desejo entender, pelo menos até um certo ponto, a vossa verdade, em que o meu coração crê e ama. Com efeito, não procuro compreender para crer, mas creio para compreender”.

 “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser”.

 “O’ Virgem, que privilégio pode ser tido em maior consideração do que esse pelo qual és a mãe daqueles para os quais Cristo se digna de ser pai e irmão?”


Anselmo nasceu na Itália, filho de nobres. Entregou-se cedo à virtude, tendo muito sucesso nos estudos. Aos 15 anos já se preocupava com altas questões metafísicas e teológicas, e quis entrar num mosteiro. Mas os monges negaram-lhe a entrada, por medo de desagradar seu pai.


Não podendo ingressar na vida religiosa, Anselmo entregou-se gradualmente aos prazeres mundanos. Com o falecimento de sua mãe, seu pai tornou-se mal-humorado e violento. Anselmo fugiu de casa. Vagou pela Itália e pela França, conheceu a fome e a fadiga, e chegou ao mosteiro de Bec, na França, onde havia a escola mais afamada do século XI, dirigida por seu famoso conterrâneo, Lanfranco.
Anselmo entregou-se então vorazmente ao estudo, esquecendo-se às vezes até das refeições e recreação. “Seus progressos eram tão admiráveis quanto sua amabilidade, e logo foi tido como um prodígio de saber e seus condiscípulos creram que fazia milagres, por sua piedade e virtude”.
Apesar de todos seus sucessos, Anselmo tinha uma grande perplexidade: “Estou resolvido a fazer-me monge; mas, onde? Pois bem, far-me-ei monge onde possa pisotear minhas ambições, onde seja estimado menos que os demais, onde seja pisoteado por todos”.

Em Bec foi ordenado sacerdote em 1060. Em 1066 foi eleito Abade. Seu primeiro biógrafo, Eadmer, conta comovente cena ocorrida nessa ocasião, típica da Idade Média: o eleito abade prosterna-se diante de seus irmãos, pedindo-lhes com lágrimas que não o onerassem com aquele fardo, enquanto os irmãos, também prosternados, insistem com ele para que aceite o ofício.



Em Bec, “escreveu vários de seus livros, que abrem um novo caminho para o estudo da Teologia e se distinguem pela profundidade de pensamento, delicadeza de investigação, ousado vôo metafísico que, não obstante, nunca se separa do terreno da fé tradicional”.

Anselmo teve que viajar várias vezes para a Inglaterra, por interesses de seu convento. Lá encontrou novamente Lanfranco, então Arcebispo de Cantuária. O rei “Guilherme, o Conquistador, ele próprio tão temível e inacessível aos ingleses, se humanizava com o Abade de Bec e parecia tornar-se todo outro em sua presença”.

Em 1087, Guilherme II, o Ruivo, sucedeu seu pai no trono da Inglaterra. Príncipe “que temia a Deus muito pouco, e nada aos homens”, ele se apoderava das rendas das sés vacantes e não queria nomear novos bispos para as preencherem.

Ora, Anselmo foi escolhido pelo povo para suceder Lanfranco na sé de Cantuária. Porém o rei, por prepotência não permitia que ocupasse a sé dizendo: “o Arcebispo de Cantuária sou eu!”.

A Providência resolveu o caso. Atacado por estranha doença, o rei temeu por sua alma. Os prelados e barões então pressionaram-no para que não deixasse mais vacante a Sé de Cantuária; e ele nomeou Anselmo.

Sucedeu então outra cena que só acontecia nos tempos medievais: “Ele [Anselmo] foi arrastado à força até o lado do leito do Rei, um báculo foi enfiado em sua mão fechada, e o Te Deum foi cantado”.

Entretanto, o arrependimento do rei foi-se com a doença. Apenas restabelecido, tentou dobrar o Arcebispo. Começou uma verdadeira batalha entre altar e trono, e Anselmo preferiu exilar-se no continente a ceder nos princípios.


Em Roma, Anselmo foi recebido por Urbano II, que o convenceu a voltar para sua diocese. Mas antes participou do Concílio de Bari, em 1098, do qual foi um dos luminares, desfazendo o sofisma dos gregos, que negavam que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.

Regressou à Inglaterra em 1100, a pedido de Henrique, que sucedera no trono a seu pai, Guilherme, morto durante uma caçada.

Anselmo havia pedido ao Papa que lhe desse alguém a quem ele pudesse se submeter em todas as ações, como um monge ao seu superior. O Papa designou o monge Eadmer, que se tornou amigo íntimo, discípulo e biógrafo do Santo.

Henrique II, querendo assegurar para si o trono em detrimento de seu irmão mais velho, Roberto, que voltava da Cruzada na Terra Santa, restituiu à Igreja todos seus antigos direitos. Por uma série de medidas assim também no campo civil, obteve a simpatia do clero e povo em seu favor.

Quando Roberto chegou à frente de um exército, para reivindicar seus direitos, o Arcebispo Anselmo obteve que os ingleses permanecessem na fidelidade a Henrique II. Porém, para mostrar que não era melhor que seu pai, na primeira oportunidade Henrique atacou Roberto de surpresa, derrotou-o, e fez prisioneiro até o fim da vida.

A aliança entre Henrique II e Anselmo se rompeu devido à contínua questão das investiduras.

Para resolver a questão, Santo Anselmo foi mais uma vez a Roma. Mas ao voltar foi impedido de entrar no país. Permaneceu três anos no desterro. Sob pena de excomunhão lançada pelo Papa, Henrique II chegou a um acordo com o Arcebispo, que pôde voltar assim à sua Sé.

Os últimos anos da vida de Anselmo transcorreram em atividades para a reforma de sua diocese e em trabalhos literários.

Na véspera de sua morte, lamentava que não tivesse tido tempo para escrever um tratado sobre a origem da alma, tema sobre o qual meditava constantemente.



Faleceu no dia 21 de abril de 1109, sendo canonizado pelo Papa Alexandre III e em 1720 foi declarado Doutor da Igreja.

Foi uma das mais lúcidas mentes da filosofia escolástica, é o elo entre Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.






quarta-feira, 20 de abril de 2016

Beato Anastasio Pankiewicz

No lugar de Hartheim, perto de Linz, na Áustria, quando era conduzido ao campo de concentração de Dachau, beato Anastasio Pankiewicz, presbítero da Ordem dos Irmãos Menores e mártir, que até à morte deu testemunho de sua fé contra um regime que oprimia a dignidade cristã (1942).

Durante a II Guerra Mundial, na Polônia foram numerosas as vítimas da encarniçada perseguição nazista contra a Igreja. Também muitos outros cidadãos foram perseguidos e assassinados naquelas terríveis circunstâncias. Mas os 108 beatificados pelo Papa foram todos eles assassinados por ódio à fé cristã em diversas circunstâncias ou lugares, ou morreram como consequência dos sofrimentos infligidos pelo mesmo motivo nas cadeias e campos de concentração.

A maioria dos sacerdotes morreram por não deixar de exercer seu ministério, apesar das ameaças; muitos destes mártires perderam a vida por defender os judeus; as religiosas, por seu lado, em seu serviço amoroso e silencioso, aceitaram com espírito de fé os sofrimentos e à morte. Todos foram em sentido estrito testemunhos da fé de Cristo. 

O Beato Anastasio Pankiewicz (1882-1942). Sacerdote professo, que havia ingressado na Ordem aos 17 anos de idade. Heroico pastor de almas, organizou o centro pastoral e escolar do Bairro Doly em Lódz, e foi fundador das Irmãs Antonianas de Cristo Rei. Preso em 10 de outubro de 1941 e deportado ao campo de Dachau, permaneceu ali até sua morte; assassinado ao «reparto de inválidos», morreu na câmara de gás em 20 de abril de 1942.


Consciente da iminência de sua morte, confessou-se e logo disse a um amigo: «Estou tranquilo e pronto para morrer». 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Beata Savina Petrilli

Tudo é pouco por Jesus” é o lema de Madre Savina. O amor por Jesus a conduz rumo a horizontes sem limites, com um dom que se renova no dia-a-dia, em profundidade e beleza. Sente-se profundamente amada por Jesus, tanto que acolhe como seu o sonho de anunciar o Reino de Deus em todo o mundo. Com o mesmo ardor de Catarina de Sena, decide dedicar-se, especialmente, aos pobres para ajudá-los, amando-os sem medida e sem recompensa.

Savina Petrilli nasceu em Sena, na Itália, no dia 29 de agosto de 1851, em uma família simples e autenticamente cristã. Era a segunda filha de Celso Petrilli e Matilde Venturini.
Sua grande capacidade de amar teve origem na relação afetuosa e serena com seus pais. Aos 12 anos recebeu pela primeira vez a Santa Comunhão; já então revelava muito amadurecimento e grande força de vontade capaz de enfrentar os problemas, bem como muita intimidade com Nosso Senhor Jesus Cristo. Na belíssima Catedral de Sena, Savina sempre permanecia horas rezando diante do Santíssimo Sacramento.
Frequentou a escola e o catecismo na igreja de São Jerônimo, com as Irmãs de São Vicente de Paulo. Aos 13 anos de idade deixou a escola para ajudar a mãe a cuidar dos irmãos.
Em virtude de sua grande veneração pela Virgem Imaculada, aos 15 anos passou a fazer parte da Pia União das Filhas de Maria e é rapidamente eleita presidente. Dentro de um ano vez o seu primeiro voto de virgindade.
Vivaz e dinâmica, Savina ensinava catecismo e sempre reunia em sua casa um grupo de amigas com as quais rezava, trabalhava e  sonhava com o futuro.
Em 1869 foi recebida pelo Papa Pio IX que a exortou a seguir a norma de Santa Catarina de Siena, o que a inspirou a fundar um instituto.

Em 15 de agosto de 1873, na capelinha de sua casa, com outras cinco companheiras ela emitiu os votos de castidade, obediência e pobreza na presença do confessor e com a aprovação do Arcebispo Mons. Enrico Bindi, que concede a primeira licença para iniciar uma obra em beneficio dos pobres.
No dia 7 de setembro de 1874, dia da vigília da festa da Natividade de Maria Santíssima, a comunidade nascente transferiu-se para a nova sede na via Baroncelli. Sena torna-se então o berço de uma nova Congregação.

A nova família religiosa recebeu o nome de Congregação das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Siena. Em 1881 Madre Savina iniciou a fundação do Convento em Viterbo e em 1903 a primeira missão em Belém, no Brasil.

Com o mesmo ardor de Santa Catarina de Sena, Madre Savina decide dedicar-se especialmente aos pobres para ajudá-los, amando-os sem medida e sem recompensa.
A Providência vai ao encontro de Savina através de alguns personagens eminentes, como o Cardeal Ricci Paracciani, o Marquês Bichi Ruspoli e a nobre senhora Anna Saracini. Estas pessoas foram para Savina o coração e as mãos de Deus.

Sucessivamente Madre Savina toma o voto de “não negar nada voluntariamente ao Senhor”, o voto de “perfeita obediência” e ao  Diretor Espiritual o voto de “não lamentar-se deliberadamente de nenhum sofrimento externo e interno” e o voto de “completo abandono ao vontade do Senhor”. 

As Constituições da Congregação, que se converteu de direito pontifício, foram finalmente aprovadas em 17 de junho de 1906. Inicialmente a obra se dedicou aos órfãos, depois abraçou outros apostolados de alívio à pobreza e ao sofrimento.
Nos últimos 30 anos de sua vida Madre Savina sofreu uma grave enfermidade degenerativa. Ela faleceu no dia 18 de abril de 1923 às 17:20 horas, aos 72 anos de idade, oferecendo-se serenamente a Jesus, deixando-nos um exemplo luminoso de mulher sábia, contemplativa, operosa, um estilo de vida simples, vivido à luz da fé e da obediência.
Além das 25 casas da Itália, a Congregação conta com obras no Brasil, Argentina, Índia, Estados Unidos, Filipinas e Paraguai.
O Papa João Paulo II a proclamou Beata  na Praça de São Pedro em 24 de abril de 1988.


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Beato Rolando Rivi

A Igreja concedeu ao seminarista Rolando Rivi - morto aos 14 anos pelos partiggiani, grupo comunista italiano - a glória dos altares. A cerimônia de beatificação, celebrada dia 05 de outubro de 2013, na cidade de Modena, Itália, foi presidida pelo Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para causa dos santos.

Rolando Rivi teve de enfrentar o ódio da ideologia marxista logo após o término da II Guerra Mundial. Devido à ocupação alemã do seminário em que estudava.
Em 1944, Rivi e os demais seminaristas foram obrigados a abandoná-lo. Em casa, não só deu continuidade aos estudos, como também ao uso da batina, mesmo sendo recomendado pelos pais a não usá-la, por causa da hostilidade à religião que pairava naquela época. "Estou estudando para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus", dizia o jovem.

A Itália enfrentava uma forte onda de terrorismo. O governo fascista amedrontava o país ao mesmo tempo em que brigadas vermelhas tinham a intenção de substituir o autoritarismo de Mussolini pelo totalitarismo de Stalin. No fogo cruzado, várias vidas foram ceifadas, dentre elas a de Rolando Rivi e mais 130 padres e seminaristas.

O martírio do rapaz deu-se a 10 de abril de 1945. Trajando a veste talar, Rolando foi alvo fácil da facção partiggiani. Acabou sequestrado assim que saiu da igreja, onde acabara de assistir à Santa Missa. Permanecendo três dias sob o domínio dos torturadores, de cujas mãos recebeu maus-tratos físicos e morais, Revi alcançou a coroa do martírio, de joelhos, com dois tiros à queima roupa.

A propósito da beatificação, o bispo de San Marino, declarou que "nesta causa está em jogo não só o reconhecimento da santidade de vida e do martírio de Rolando, mas muito do destino da Igreja, não só na Itália". Para Dom Luigi Negri, o testemunho do mártir beato dá à Igreja "novo sangue". "Se no corpo da Igreja circular também o sangue de Rolando Rivi, mártir simples e puríssimo assassinado por ódio à Fé com apenas 14 anos pela violência da ideologia marxista, se circular o sangue do seu testemunho de vida e do seu amor total a Jesus, nós daremos à Igreja nova energia para voltar a ser uma Igreja fiel a Cristo e apaixonada pelo homem".

A partir de agora, o jovem beato pode ser venerado publicamente em toda a Itália, especialmente na Arquidiocese de Modena, onde foi assassinado, e na Diocese de Reggio Emilia, na qual estudou o seminário. Nos demais países, a não ser que haja autorização de Roma, os fiéis podem venerá-lo somente em culto privado, enquanto ele não for declarado santo.

Nestes tempos de laicização do clero, em que tanto se prega a desobediência e a intolerância às coisas santas, o martírio de Rolando Rivi lembra as belíssimas palavras de Dom Francisco de Aquino Correa: "Oh! Como o bravo envolto na bandeira, contigo hei de morrer, minha batina! Ó minha heroica e santa companheira."