Não ardia o nosso coração, quando Ele
nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" (Lc 24, 32).
Esta surpreendente confissão daqueles discípulos que foram os primeiros a ir a
Emaús teve lugar também na vocação da Madre Maria do Trânsito de Jesus
Sacramentado Cabanillas, fundadora das Irmãs Terciárias Missionárias
Franciscanas e a primeira argentina a alcançar a honra dos altares.
A chama que ardia no seu coração levou
Maria do Trânsito a buscar a intimidade com Cristo na vida contemplativa. A sua
chama não se extinguiu quando, por enfermidade, ela teve de abandonar os
Mosteiros em que vivia, mas perseverou com confiança e abandono à vontade de
Deus, que continuou a procurar incessantemente. Então, o ideal franciscano
manifestou-se como o verdadeiro caminho que Deus queria para ela e, com a ajuda
de diretores sábios, empreendeu uma vida de pobreza, humildade, paciência e
caridade, dando vida a uma nova Família religiosa.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 14 de abril de 2002
Maria do Trânsito Eugenia das Dores Cabanillas
nasceu em 15 de agosto de 1821 em Santa Leocádia, Córdoba, Argentina. Seu pai,
Felipe Cabanillas Toranzo, descendente de uma família de Valência (Espanha)
emigrou para a Argentina durante a segunda metade do século XVII e conseguiu
reunir uma certa fortuna econômica no seu novo ambiente, mas se notabilizou
principalmente pela sua profunda religiosidade católica
Em 1816, o Sr. Felipe Cabanillas se uniu em
casamento com a jovem Francisca Antônia Luján Sánchez, de quem teve onze
filhos. Três morreram prematuramente, quatro se casaram e os outros se
consagraram a Deus: um como sacerdote secular e três como religiosos em vários
Institutos, continuando assim uma longa e gloriosa tradição familiar.
A Beata foi a terceira nascida na família.
Batizada em 10 de janeiro de 1822 na capela de São Roque, impuseram-lhe os
nomes de Trânsito, ou seja, Maria do Trânsito ou Maria Assunção e Eugênia das
Dores. Ela recebeu o sacramento da confirmação com algum atraso, em 4 de abril
de 1936, dada a distância do centro diocesano.
Após a primeira educação familiar, Maria do
Trânsito foi enviada para Córdoba, e continuando seus estudos, cuidou de seu
irmão mais novo, que se preparava para o sacerdócio no seminário de Nossa
Senhora de Loreto, na citada cidade de Córdoba.
Em 1850, após a morte do Sr. Felipe Cabanillas,
toda a família se mudou permanentemente para Córdoba, então a Beata se instalou
com sua mãe, seu irmão, que foi ordenado em 1853, suas irmãs e cinco primas
órfãs em uma pequena casa perto da igreja de São Roque. Maria do Trânsito se
distinguiu por sua piedade, especialmente em relação à Eucaristia, realizou uma
intensa atividade como catequista e fez muitas obras de misericórdia, visitava
frequentemente os pobres e doentes na companhia de sua prima Rosário.
Após a morte de sua mãe (13 de abril de 1858),
a Beata entrou na Ordem Terceira Franciscana e intensificou a sua vida de
oração e penitência, dirigida espiritualmente pelo Pe. Buenaventura Rizo
Patrón, franciscano que foi ordenado bispo de Salta em 1862. Mas ela desejava
se consagrar inteiramente a Deus. Assim, em 1859, por ocasião da sua profissão
na Ordem Terceira Franciscana, ela emitiu o voto de virgindade perpétua e
começou a pensar na fundação de um Instituto para a educação cristã da infância
pobre e abandonada.
Em 1871 ela entrou em contato com a Sra.
Isidora Ponce de León, que estava profundamente interessada na construção de um
mosteiro carmelita em Buenos Aires. No ano seguinte, Maria do Trânsito foi a
Buenos Aires e ingressou no mosteiro em 19 de março de 1873, no mesmo dia em
que foi inaugurado. Mas seu compromisso ascético mostrou ser maior do que a sua
força física, caiu doente e, por motivos de saúde, teve que deixar a clausura
em abril de 1874. Em setembro do mesmo ano, acreditando-se suficientemente
recuperada, ela ingressou no convento das religiosas da Visitação de
Montevidéu, mas também adoeceu alguns meses depois.
A Beata aceitou tudo com resignação admirável,
abandonando-se cada vez com mais confiança nas mãos da Divina Providência. Ao
mesmo tempo, sua ideia de uma fundação educacional e assistencial a serviço da
infância reaparece. Vários franciscanos a incentivam a isto e D. Agustín Garzón
oferece uma casa e sua colaboração e contatos com o Pe. Ciríaco Porreca.
Em 8 de dezembro de 1878, obteve a aprovação
eclesiástica de seu projeto de fundação e das constituições, e depois de uns
exercícios espirituais, Maria do Trânsito Cabanillas, acompanhada de suas duas
companheiras: Teresa Fronteras e Brígida Moyano, inicia a Congregação das
Irmãs Missionárias Franciscanas Terciárias da Argentina. A pedido da
Fundadora, o Pe. Ciríaco Porreca, OFM, é nomeado diretor do Instituto. Em 2 de
fevereiro de 1879 Maria do Trânsito Cabanillas e suas primeiras companheiras
emitem a profissão religiosa e no dia 27 do mesmo mês e ano escrevem ao Pe.
Bernardino de Portogruaro, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, pedindo
a agregação seu Instituto à Ordem Franciscana. O padre Bernardino de Portogruaro
respondeu afirmativamente em 28 de janeiro de 1880.
A nova Congregação teve um florescimento
imediato de vocações, de modo que ainda em vida da Fundadora foram inaugurados
o colégio de Sta. Margarida de Cortona, em San Vicente, bem como os colégios de
Carmen em Rio Cuarto e da Imaculada Conceição, em Villa Nueva.
A Beata dirigia o florescente Instituto com
admirável sabedoria, mas suas forças físicas iam cedendo gradualmente diante do
cansaço diário e dos rigores ascéticos. Em 25 de agosto de 1885 morreu
santamente como tinha vivido durante toda a sua vida, deixando exemplos
heroicos de humildade e de caridade especialmente no serviço às crianças, aos
pobres, aos doentes e às suas irmãs. Em seu currículo espiritual deve ser
salientado acima de tudo a prudência, a paciência, a coragem para enfrentar as
muitas provações da vida, sua assídua atividade na catequese e atendendo
crianças abandonadas, o seu amor à pureza e a confiança na Providência Divina,
que lhe respondia frequentemente com sinais surpreendentes.
Como Fundadora, Madre Maria do Trânsito soube
incutir em suas filhas o espírito sobrenatural, a generosidade, o amor à
infância, o espírito de penitência e de mortificação.
Em 1974 foi aberto o processo para reconhecer
as virtudes heroicas da Madre Cabanillas. No dia 28 de junho de 1999, ela foi
declarada Venerável, e Beata em 14 de abril de 2002, graças à cura milagrosa do
sacerdote argentino Pe. José Roque Chielli, missionário franciscano que sofria
um aneurisma cerebral incurável, do qual se recuperou inexplicavelmente depois
de rezar uma oração para pedir a intercessão da Madre Cabanillas.