domingo, 14 de novembro de 2021

Dia Mundial do Pobre: Somos chamados a nutrir a esperança de amanhã, curando a dor de hoje.

Dia Mundial do Pobre – 14 de outubro de 2021

Homilia do Papa Francisco:

As imagens utilizadas por Jesus, na primeira parte do Evangelho de hoje, deixam-nos apreensivos: o sol escurece, a lua deixa de dar claridade, as estrelas caem e as forças celestes são abaladas (cf. Mc 13, 24-25). Mas, pouco depois, o Senhor abre à esperança: será num momento assim, de total obscuridade, que há de vir o Filho do Homem (cf. Mc 13, 26); e agora já se podem contemplar os sinais da sua vinda, como quando deduzimos que o verão está próximo por ver que a figueira começa a cobrir-se de folhas (cf. Mc 13, 28).

Deste modo o Evangelho ajuda-nos a ler a história, captando dois aspectos dela: as dores de hoje e a esperança de amanhã. Por um lado, evocam-se todas as dolorosas contradições em que a realidade humana vive imersa em cada tempo; por outro, há o futuro de salvação que a espera, isto é, o encontro com o Senhor que vem para nos libertar de todo o mal. Vejamos estes dois aspectos, com o olhar de Jesus.

O primeiro aspecto: a dor de hoje. Vivemos numa história marcada por tribulações, violências, sofrimentos e injustiças, à espera duma libertação que parece nunca mais chegar. E os feridos, oprimidos e às vezes esmagados por tudo isso são sobretudo os pobres, os elos mais frágeis da cadeia. O Dia Mundial dos Pobres, que estamos a celebrar, pede-nos que não viremos a cara para o outro lado, não tenhamos medo de olhar de perto o sofrimento dos mais frágeis, para os quais aparece muito atual o Evangelho de hoje: o sol da sua vida é frequentemente obscurecido pela solidão, a lua das suas expetativas apaga-se; as estrelas dos seus sonhos caíram na resignação e acaba abalada a sua própria existência. Tudo isto por causa da pobreza a que muitas vezes se veem constrangidos, vítimas da injustiça e da desigualdade duma sociedade do descarte, que corre apressada sem os ver e, sem escrúpulos, os abandona ao seu destino.

Em contrapartida, existe o segundo aspecto: a esperança de amanhã. Jesus quer abrir-nos à esperança, arrancar-nos da angústia e do medo à vista da dor do mundo. Para isso assegura-nos: ao mesmo tempo que o sol se obscurece e tudo parece cair é precisamente quando Ele Se faz vizinho a nós. Nos gemidos da nossa dolorosa história, há um futuro de salvação que começa a germinar por entre os dramas da história. A esperança de amanhã floresce na dor de hoje. Sim, a salvação de Deus não é só uma promessa reservada para o Além, mas cresce já agora dentro da nossa história ferida – todos temos o coração enfermo –, abre caminho por entre as opressões e injustiças do mundo. Precisamente no meio do lamento dos pobres, o Reino de Deus desabrocha como as folhas tenras duma árvore e conduz a história para a meta, para o encontro final com o Senhor, o Rei do Universo que nos libertará definitivamente.

Chegados aqui, perguntemo-nos: Que nos é pedido, a nós cristãos, face a esta realidade? Nos é pedido para nutrir a esperança de amanhã, curando a dor de hoje. Estão interligados: se tu não caminhas curando as dores de hoje, dificilmente terás a esperança de amanhã. De fato, a esperança que nasce do Evangelho não consiste em esperar passivamente por um amanhã em que as coisas hão de correr melhor – isto não é possível –, mas em tornar concreta hoje a promessa de salvação de Deus: hoje, cada dia... De fato, a esperança cristã não é o ditoso otimismo, antes, diria o otimismo adolescente, de quem espera que as coisas mudem e, entretanto, continua a ocupar-se da vida própria, mas é construir dia a dia, com gestos concretos, o Reino do amor, da justiça e da fraternidade que Jesus inaugurou. Por exemplo, a esperança cristã não foi semeada pelo levita e o sacerdote que passaram ao lado daquele homem ferido pelos ladrões. Foi semeada por um estranho, por um samaritano que parou e realizou a ação (cf. Lc 10, 30-35). E hoje é como se a Igreja nos dissesse: «Para e semeia esperança na pobreza. Aproxima-te dos pobres e semeia esperança». A esperança daquela pessoa, a tua esperança e a esperança da Igreja. A nós, é pedido isto: ser, entre as ruínas quotidianas do mundo, construtores incansáveis de esperança; ser luz enquanto o sol se obscurece; ser testemunhas de compaixão enquanto ao redor reina a distração; ser amorosos e atentos, na indiferença generalizada.

Testemunhas de compaixão. Nunca poderemos fazer o bem, sem passar pela compaixão. Quando muito, faremos coisas boas, mas que não atingem a via cristã, porque não tocam o coração. Aquilo que nos faz tocar o coração, é a compaixão: aproximamo-nos, sentimos compaixão e realizamos atos de ternura. Tal é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. É isto que nos é pedido hoje.

Recentemente voltou-me à mente aquilo que costumava repetir D. Tonino Bello, um bispo próximo dos pobres e ele mesmo pobre em espírito: «Não podemos limitar-nos a esperar, devemos organizar a esperança». Se a nossa esperança não se traduzir em opções e gestos concretos de atenção, justiça, solidariedade, cuidado da casa comum, não poderão ser aliviados os sofrimentos dos pobres, não poderá ser modificada a economia do descarte que os obriga a viver à margem, não poderão florescer de novo os seus anseios. Compete-nos, especialmente a nós cristãos, organizar a esperança – é uma linda expressão, esta de Tonino Bello: organizar a esperança –, traduzi-la diariamente em vida concreta nas relações humanas, no compromisso sociopolítico. Isto faz-me pensar no trabalho que fazem tantos cristãos com as obras de caridade, no trabalho da Esmolaria Apostólica... Que é que se faz lá? Organiza-se a esperança. Não se dá uma moeda; organiza-se a esperança. Esta é uma dinâmica que hoje nos pede a Igreja.

Hoje Jesus oferece-nos uma imagem simples e ao mesmo tempo sugestiva da esperança: é a imagem das folhas da figueira, que desabrocham sem fazer ruído, assinalando que o verão está próximo. E estas folhas aparecem – sublinha Jesus –, quando o ramo se torna tenro (cf. Mc 13, 28).

Irmãos, irmãs, aqui está a palavra que faz germinar a esperança no mundo e alivia a dor dos pobres: a ternura. Compaixão que te leva à ternura. Depende de nós superar o fechamento, a rigidez interior, que é a tentação de hoje, dos «restauracionistas» que querem uma Igreja ordenada e rígida: isto não é do Espírito Santo. E devemos superar isto, e fazer germinar nesta rigidez a esperança. E depende de nós também vencer a tentação de nos ocuparmos apenas com os nossos problemas, para nos enternecermos à vista dos dramas do mundo, compadecendo-nos da dor. À semelhança das folhas tenras da árvore, somos chamados a absorver a poluição que nos rodeia e transformá-la em bem: não adianta falar dos problemas, polemizar, escandalizar-nos… (isto, todos o sabemos fazer!); o que adianta é imitar as folhas, que sem chamar a atenção todos os dias transformam o ar poluído em ar puro. Jesus quer-nos «conversores de bem»: pessoas que, imersas no ar pesado que todos respiram, respondem ao mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Pessoas que agem: partilham o pão com os famintos, trabalham pela justiça, elevam os pobres e devolvem-lhes a sua dignidade, como fez aquele samaritano.

É bela, é evangélica, é jovem uma Igreja que sai de si mesma e, como Jesus, anuncia a boa nova aos pobres (cf. Lc 4, 18). Repiso o último adjetivo: é jovem uma Igreja assim; a juventude de semear esperança. Esta é uma Igreja profética, que diz, com a sua presença, aos corações desanimados e aos descartados do mundo: «Coragem, o Senhor está próximo! Também para ti há um verão que desabrocha no coração do inverno. Mesmo da tua dor, pode ressurgir esperança». Irmãos e irmãs, levemos ao mundo este olhar de esperança. Levemo-lo com ternura aos pobres, aproximando-nos deles, com compaixão, sem os julgar – julgados, seremos nós –. Porque lá, junto deles, junto dos pobres, está Jesus; porque lá, neles, está Jesus, que nos espera.

 

14 de novembro - São Lourenço de O'Toole


 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

26 de outubro - Beato José Gregorio Hernández Cisneros

No dia 30 de abril de 2021 a Igreja da Venezuela se alegra pela beatificação do "Médico dos Pobres".

José Gregorio Hernández Cisneros nasceu em 26 de outubro de 1864 em Isnotú (Venezuela). Depois de se formar em filosofia, formou-se em medicina pela Universidade de Caracas. Foi um grande profissional médico, um cientista, um pensador e, sobretudo, um fervoroso fiel que acreditava em Deus, em quem colocou toda a sua sabedoria e sua atuação profissional e humana.

Em 1889 frequentou cursos de especialização em microbiologia e bacteriologia em Paris. Retornando a Caracas, iniciou sua carreira universitária, professando abertamente sua fé católica, em um ambiente basicamente materialista. 

Inscreveu-se na Ordem Terceira Regular de São Francisco e se comprometeu a ajudar os mais necessitados, sendo chamado de "o médico dos pobres". 

Sentindo a vocação para a vida consagrada contemplativa, em 1908 ingressou na Certosa di Farneta (Lucca) mas, por motivos de saúde, teve que abandoná-la após nove meses, voltando para Caracas. 

Em 1913 ele começou a se preparar para o sacerdócio, mas, enquanto estava no Colégio Pio Latino Americano, em Roma, ele teve uma pleurisia e um início de tuberculose. De volta à sua terra natal, dedicou-se definitivamente à profissão médica.

José Gregorio Hernández Cisneros foi um médico que viveu com generosidade a missão laical de consagrar o mundo a Cristo, trabalhando a serviço dos pobres e sofredores, com a gratuidade do amor. Existem fronteiras que resistem à evangelização, redutos quase inacessíveis onde a única página do Evangelho lida todos os dias pelo povo é o testemunho de bons cristãos. José Gregorio viveu o Evangelho tornando-o acessível a todos, mostrando-se como uma verdadeira e primorosa síntese de contemplação e ação. 

Em 29 de junho de 1919, o Dr. Hernandez entrou em uma farmácia de Caracas para comprar um remédio para um paciente idoso que ele havia visitado pouco antes. Assim que saiu, foi atropelado por um dos poucos carros em circulação na época. Transportado para o hospital, recebeu a Unção dos Enfermos e veio a falecer pouco depois.

O decreto sobre o caráter heroico das virtudes foi promulgado em 16 de janeiro de 1986.

O milagre para sua beatificação foi a cura de uma criança que levou um tiro na cabeça. O evento aconteceu no dia 15 de março de 2017 na Venezuela. A menina, nascida em 2006, na tarde de 10 de março de 2017, enquanto estava com o pai em uma motocicleta, foi vítima de um assalto à mão armada. Ela foi atingida na cabeça por alguns tiros de um rifle de caça, a uma distância de 2 metros, resultando em uma lesão cranioencefálica. Resgatada pela mãe, ela foi transportada em um pequeno barco a motor para o hospital, aonde chegou cerca de quatro horas após o ferimento. Ela foi diagnosticada com uma fratura do parietal direito com vários fragmentos de osso e metal dentro do tecido cerebral. 

Posteriormente, houve um claro agravamento das condições neurológicas. Devido a várias dificuldades, o neurocirurgião pôde visitá-la apenas 48 horas após o trauma, observando "vazamento de material cerebral pelas feridas cranianas causadas por múltiplas feridas de armas de fogo". No mesmo dia decidiu-se mudar para uma clínica particular, onde a menina foi submetida a uma delicada operação neurocirúrgica. Os médicos informaram à mãe que se a criança resistisse à operação, ficaria com distúrbios neurológicos e deficiências. Em 15 de março de 2017, no entanto, houve uma melhora repentina e inesperada. Em 30 de março, ela recebeu alta com boa saúde e sem déficits neurológicos e cognitivos. Sua mãe testemunho que rezou e pediu a intercessão de José Gregorio Hernández Cisneros. Depois de saber do estado muito sério de sua filha, ela começou a invocá-lo para interceder pela cura. Sua família e outras pessoas se juntaram a suas invocações.

 

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

18 de outubro - São Lucas: Padroeiro dos Médicos

Neste dia 18 de outubro, a Igreja celebra a memória litúrgica de São Lucas Evangelista, o autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos e o que mais fala sobre a Virgem Maria. Médico, tornou-se também padroeiro desses profissionais.

São Lucas, cujo nome significa “portador de luz”, foi introduzido na fé por volta do ano 40. Ele nunca conheceu Jesus, mas conheceu São Paulo, de quem foi discípulo. Foi educado na literatura e na medicina. É o único escritor do Novo Testamento que não é israelense e dirigiu sua mensagem aos cristãos gentios.

No prólogo de seu Evangelho, diz que o escreveu para que os cristãos conhecessem melhor as verdades nas quais tinham sido instruídos. Era, acima de tudo, um historiador e escrevia principalmente para os gregos.

São Lucas traça a biografia da Virgem e fala da infância de Jesus. Ele traz os segredos da Anunciação, da Visitação e do Natal, fazendo entender que tenha conhecido pessoalmente Maria.

Em seu Evangelho, destaca o cuidado especial para com os pobres, os pecadores arrependidos e a oração.

A tradição diz que ele morreu como um mártir pendurado em uma árvore na Acaia. É representado com um livro ou como um touro alado, pois inicia o Evangelho falando do templo, onde eram imolados os bois, e começa com o sacrifício do sacerdote Zacarias.

Além dos médicos, São Lucas é padroeiro dos cirurgiões, solteiros, açougueiros, encadernadores, escultores, artistas notários e, segundo uma antiga tradição, pintou um retrato da Virgem Maria.

Queridos médicos:

Nunca se esqueçam que, por detrás de um prontuário médico e dos resultados dos exames, há sempre uma pessoa humana; muitas vezes, um gesto afetuoso, um sorriso ou uma palavra de esperança de vocês podem ser os melhores remédios para um paciente. Jamais permitam que a técnica e os recursos substituam o contato humano.

Há algum tempo, os cientistas tentam fazer um tipo de computador que 'pensa'..., mas, infelizmente, ninguém pensou, até agora, em encontrar um computador que 'ame', que se comova, que vá ao encontro do homem em nível afetivo, proporcionando seu maior amor, do mesmo modo como tenta calcular a distância entre as estrelas, o movimento dos átomos. Infelizmente, o aumento da inteligência e das possibilidades cognitivas do homem não caminha no mesmo passo que o aumento da sua capacidade de amar. Pelo contrário, parece que esta última capacidade nada conta, embora estejamos cientes de que a felicidade ou a infelicidade não dependem tanto do saber ou do não saber, mas de amar ou de não amar, de ser amado ou de não ser amado.

Não tenham pressa de aumentar seus conhecimentos, mas sim a capacidade de amar, porque o conhecimento se traduz, automaticamente, em poder, mas o amor em serviço. Só o amor redime e salva, enquanto a ciência e a sede de saber só levam à condenação. 

Cardeal Raniero Cantalamessa – 17 de junho de 2021

“Os médicos devem possuir, junto com a devida competência técnica e profissional, um código de valores e significados com o qual dar sentido à doença e ao próprio trabalho e fazer de cada caso clínico um encontro humano.”

Papa Francisco – 20 de setembro de 2019 

“Todos os livros do mundo não têm o mesmo valor de um carinho!”. Ermanno Olmi

domingo, 25 de julho de 2021

Indulgência Plenária no Primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

Em vista do Primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, a Igreja está concedendo a Indulgência Plenária, "sob as habituais condições, confissão sacramental, comunhão eucarística e oração nas intenções do Sumo Pontífice, aos avós, aos idosos e a todos os fiéis que, motivados por um autêntico espírito de penitência e caridade, participarem no dia 25 de julho de 2021, Primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, da solene celebração que o Papa Francisco presidirá na Basílica de São Pedro ou então das diversas funções que ocorrerão em todo o mundo".

A Indulgência Plenária será concedida também "nesse mesmo dia aos fiéis que dedicarem tempo para visitar em presença ou virtualmente os irmãos idosos necessitados ou em dificuldade, como os doentes, os abandonados, os deficientes e outros".

Poderão também obter a Indulgência Plenária, os idosos doentes e todos os que, impossibilitados de saírem de casa por grave motivo, unirem-se espiritualmente às funções sagradas do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, através dos meios televisivos e radiofônicos, mas também pelos novos meios de comunicação social.

Para que se torne mais fácil o acesso ao perdão divino, em nome da caridade pastoral, a Penitenciaria Apostólica pede aos sacerdotes para ouvirem as confissões e mostrarem-se disponíveis, com espírito pronto e generoso, para a celebração da Penitência.

25 de julho - Mensagem do Papa Francisco para o Primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos


 Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

(4º domingo de julho – 25 de julho de 2021)

«Eu estou contigo todos os dias»

Queridos avôs, queridas avós!

«Eu estou contigo todos os dias» (cf. Mt 28, 20) é a promessa que o Senhor fez aos discípulos antes de subir ao Céu; e hoje repete-a também a ti, querido avô e querida avó. Sim, a ti! «Eu estou contigo todos os dias» são também as palavras que eu, Bispo de Roma e idoso como tu, gostaria de te dirigir por ocasião deste primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: toda a Igreja está solidária contigo – ou melhor, conosco –, preocupa-se contigo, ama-te e não quer deixar-te abandonado.

Bem sei que esta mensagem te chega num tempo difícil: a pandemia foi uma tempestade inesperada e furiosa, uma dura provação que se abateu sobre a vida de cada um, mas, a nós idosos, reservou-nos um tratamento especial, um tratamento mais duro. Muitíssimos de nós adoeceram – e muitos partiram –, viram apagar-se a vida do seu cônjuge ou dos próprios entes queridos, e tantos – demasiados – viram-se forçados à solidão por um tempo muito longo, isolados.

O Senhor conhece cada uma das nossas tribulações deste tempo. Ele está junto de quantos vivem a dolorosa experiência de ter sido afastado; a nossa solidão – agravada pela pandemia – não O deixa indiferente. Segundo uma tradição, também São Joaquim, o avô de Jesus, foi afastado da sua comunidade, porque não tinha filhos; a sua vida – como a de Ana, sua esposa – era considerada inútil. Mas o Senhor enviou-lhe um anjo para o consolar. Estava ele, triste, fora das portas da cidade, quando lhe apareceu um Enviado do Senhor e lhe disse: «Joaquim, Joaquim! O Senhor atendeu a tua oração insistente». Giotto dá a impressão, num afresco famoso, de colocar a cena de noite, uma daquelas inúmeras noites de insônia a que muitos de nós se habituaram, povoadas por lembranças, inquietações e anseios.

Ora, mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão repetindo-nos: «Eu estou contigo todos os dias». Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebrado pela primeira vez precisamente neste ano, depois dum longo isolamento e com uma retomada ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo!

Este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos netos; outras vezes, dos familiares, dos amigos de longa data ou conhecidos precisamente neste momento difícil. Neste período, aprendemos a entender como são importantes, para cada um de nós, os abraços e as visitas, e muito me entristece o facto de as mesmas não serem ainda possíveis em alguns lugares.

Mas o Senhor envia-nos os seus mensageiros também através da Palavra divina, que Ele nunca deixa faltar na nossa vida. Cada dia, leiamos uma página do Evangelho, rezemos com os Salmos, leiamos os Profetas! Ficaremos comovidos com a fidelidade do Senhor. A Sagrada Escritura ajudar-nos-á também a entender aquilo que o Senhor nos pede hoje na vida. De facto, Ele manda os operários para a sua vinha a todas as horas do dia (cf. Mt 20, 1-16), em cada estação da vida. Eu mesmo posso dar testemunho de que recebi a chamada para me tornar Bispo de Roma quando tinha chegado, por assim dizer, à idade da aposentação e imaginava que já não podia fazer muito de novo. O Senhor está sempre junto de nós – sempre – com novos convites, com novas palavras, com a sua consolação, mas está sempre junto de nós. Como sabeis, o Senhor é eterno e nunca vai para a reforma. Nunca.

No Evangelho de Mateus, Jesus diz aos Apóstolos: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (28, 19-20). Estas palavras são dirigidas também a nós, hoje, e ajudam-nos a entender melhor que a nossa vocação é salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Atenção! Qual é a nossa vocação hoje, na nossa idade? Salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Não vos esqueçais disto.

Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente jovem ou já avançado nos anos, se ainda és autónomo ou precisas de ser assistido, porque não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo.

Portanto existe uma renovada vocação, também para ti, num momento crucial da história. Perguntar-te-ás: Mas, como é possível? As minhas energias vão-se exaurindo e não creio que possa ainda fazer muito. Como posso começar a comportar-me de maneira diferente, quando o hábito se tornou a regra da minha existência? Como posso dedicar-me a quem é mais pobre, se já tenho tantas preocupações com a minha família? Como posso alongar o meu olhar, se não me é permitido sequer sair da residência onde vivo? Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão? Quantos de vós se interrogam: Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão? O próprio Jesus ouviu Nicodemos dirigir-Lhe uma pergunta deste tipo: «Como pode um homem nascer, sendo velho?» (Jo 3, 4). Isso é possível – responde o Senhor –, abrindo o próprio coração à obra do Espírito Santo, que sopra onde quer. Com a liberdade que tem, o Espírito Santo move-Se por toda a parte e faz aquilo que quer.

Como afirmei já mais de uma vez, da crise que o mundo atravessa, não sairemos iguais: sairemos melhores ou piores. E «oxalá não seja mais um grave episódio da história, cuja lição não fomos capazes de aprender [somos de cabeça dura!]. Oxalá não nos esqueçamos dos idosos que morreram por falta de respiradores (...). Oxalá não seja inútil tanto sofrimento, mas tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos, enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a humanidade renasça» (Papa Francisco, Enc. Fratelli tutti, 35). Ninguém se salva sozinho. Devedores uns dos outros. Todos irmãos.

Nesta perspectiva, quero dizer que há necessidade de ti para se construir, na fraternidade e na amizade social, o mundo de amanhã: aquele em que viveremos – nós com os nossos filhos e netos –, quando se aplacar a tempestade. Todos devemos ser «parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas» (Ibid., 77). Entre os vários pilares que deverão sustentar esta nova construção, há três que tu – melhor que outros – podes ajudar a colocar. Três pilares: os sonhos, a memória e a oração. A proximidade do Senhor dará – mesmo aos mais frágeis de nós – a força para empreender um novo caminho pelas estradas do sonho, da memória e da oração.

Uma vez o profeta Joel pronunciou esta promessa: «Os vossos anciãos terão sonhos e os jovens terão visões» (3, 1). O futuro do mundo está nesta aliança entre os jovens e os idosos. Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los por diante? Mas, para isso, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro. É preciso que testemunhes, também tu, a possibilidade de se sair renovado duma experiência dolorosa. E tenho a certeza de que não será a única, pois, na tua vida, terás tido tantas e sempre conseguiste triunfar delas. E, dessa experiência que tens, aprende como sair da provação atual.

Nisto se vê como os sonhos estão entrelaçados com a memória. Penso como pode ser de grande valor a memória dolorosa da guerra, e quanto podem as novas gerações aprender dela a respeito do valor da paz. E, a transmitir isto, és tu que viveste a tribulação das guerras. Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros. Segundo Edith Bruck que sobreviveu à tragédia do Holocausto, «mesmo que seja para iluminar uma só consciência, vale a pena a fadiga de manter viva a recordação do que foi… e continua. Para mim, a memória é viver». Penso também nos meus avós e naqueles de vós que tiveram de emigrar e sabem quanto custa deixar a própria casa, como fazem muitos ainda hoje à procura dum futuro. Talvez tenhamos algum deles ao nosso lado a cuidar de nós. Esta memória pode ajudar a construir um mundo mais humano, mais acolhedor. Mas, sem a memória, não se pode construir; sem alicerces, tu nunca construirás uma casa. Nunca. E os alicerces da vida estão na memória.

Por fim, a oração. Como disse o meu predecessor, Papa Bento (um idoso santo, que continua a rezar e trabalhar pela Igreja), «a oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que a fadiga de tantos». Disse-o quase no fim do seu pontificado, em 2012. É belo! A tua oração é um recurso preciosíssimo: é um pulmão de que não se podem privar a Igreja e o mundo (cf. Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 262). Sobretudo neste tempo tão difícil para a humanidade em que estamos – todos na mesma barca – a atravessar o mar tempestuoso da pandemia, a tua intercessão pelo mundo e pela Igreja não é vã, mas indica a todos a serena confiança de um porto seguro.

Querida avó, querido avô! Ao concluir esta minha mensagem, gostaria de indicar, também a ti, o exemplo do Beato (e proximamente Santo) Carlos de Foucauld. Viveu como eremita na Argélia e lá, naquele contexto periférico, testemunhou «os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão» (Enc. Fratelli tutti, 287). A sua história mostra como é possível, mesmo na solidão do próprio deserto, interceder pelos pobres do mundo inteiro e tornar-se verdadeiramente um irmão e uma irmã universal.

Peço ao Senhor que cada um de nós, graças também ao seu exemplo, alargue o próprio coração e o torne sensível aos sofrimentos dos últimos e capaz de interceder por eles. Oxalá cada um de nós aprenda a repetir a todos, e em particular aos mais jovens, estas palavras de consolação que ouvimos hoje dirigidas a nós: «Eu estou contigo todos os dias». Avante e coragem! Que o Senhor vos abençoe.

Roma, São João de Latrão, na Festa da Visitação da Virgem Santa Maria, 31 de maio de 2021.

                                                                                                                                     FRANCISCO

 

 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

São Luis Gonzaga

 


Os Queridos Santos Juninos


Na tradição religiosa popular, no mês de junho, celebramos os santos: Antônio de Pádua (ou de Lisboa), no dia 13, João Batista, dia 24, e Pedro, Apóstolo, dia 29. Embora não tenha tradição junina, mas celebramos no mesmo dia 29, dia São Paulo. O costume popular de acender fogueiras nesses dias (o que não podemos fazer, enquanto durar a pandemia), especialmente na véspera dos dias festivos, dia 12, dia 23 e dia 28, como também as comidas de milho, canjica, pamonha, milho cozido, milho assado, faz do mês de junho um mês bastante rico culturalmente. Esses santos são chamados popularmente, de “os santos juninos”.

Esses três santos católicos, lembram a todos nós que o caminho da santidade envolve a vida e a cultura dos povos. Ao celebrar a vida deles tomamos consciência de que “trazemos” a sua história para junto de nós. De fato, quando a Igreja venera ou nos apresenta esses personagens da história, que se destacaram por uma vida exemplar, de seguimento a Jesus Cristo e de vivência da fé, lembra que esse é o caminho para todos os batizados e batizadas. E ainda, o caminho da santidade é um caminho de alegria, de vivência do bom humor.

Santo Antônio, franciscano, nascido em Lisboa, Portugal, no ano de 1195, e morto em 1231, em Pádua, na Itália, daí a variedade do seu nome, é um dos santos mais populares da Igreja. Além de elementos populares que cercam sua biografia, por causa da clareza de seu ensinamento e profundidade de seus sermões, foi declarado “Doutor da Igreja”. Sua vida é marcada pela dedicação às pessoas, as quais atendia com simplicidade, especialmente os mais necessitados e doentes. Sua fama de santidade logo percorreu o mundo. Ele foi canonizado em 1232, um ano após a sua morte. Na cultura popular Santo Antônio é conhecido como “santo casamenteiro”, protetor e intercessor de quem procura casamento.

Já São João Batista e São Pedro, apresentados no Novo Testamento, gozam de uma veneração toda particular. O primeiro, considerado o último dos profetas, elo entre o antigo e o novo, dele a Liturgia da Igreja afirma: Ainda no seio materno, ele exultou com a chegada do Salvador da humanidade e seu nascimento trouxe grande alegria (MISSAL ROMANO. Prefácio da Natividade de São João Batista). De São Pedro, o primeiro dos apóstolos, celebrado juntamente com São Paulo, no dia 29 de junho, a Igreja reconhece o martírio que, segundo a tradição teria sido crucificado de cabeça para baixo. Assim declara a Igreja: “[Pedro], o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel” (MISSAL ROMANO. Prefácio de São Pedro e São Paulo, Apóstolos). Embora não seja tão popular como “santo junino”, a Igreja celebra também, no dia 29 de junho, São Paulo. E de São Paulo a Igreja tem uma consideração grande devido à sua importância para a missão como difusão do caminho da fé, vivido pelos Doze e pelos demais discípulas e discípulas, com suas viagens missionária e com o seu grande ensinamento, exposto em suas cartas, textos que figuram como Sagradas Escrituras para os cristãos e cristãs.

Celebremos esses santos neste mês tão cheio de encontros, de alegria, de festas. E procuremos viver essa santidade tão próxima de nós, com mais esperança e confiança. Que eles intercedam pelo nosso povo, um povo de fé, de coragem e de muita alegria.

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

 

 


domingo, 2 de maio de 2021

Rezemos com o Papa Francisco pelo fim da pandemia!


“Sob vossa proteção buscamos refúgio, Santa Mãe de Deus”

Na dramática situação atual, carregada de sofrimentos e angústias que oprimem o mundo inteiro, recorremos a Vós, Mãe de Deus e nossa Mãe, refugiando-nos sob a vossa proteção.

Ó Virgem Maria, volvei para nós os vossos olhos misericordiosos nesta pandemia do coronavírus e confortai a quantos se sentem perdidos e choram pelos seus familiares mortos e, por vezes, sepultados de uma maneira que fere a alma.

Sustentai aqueles que estão angustiados por terem pessoas enfermas de quem não se podem aproximar, para impedir o contágio. Infundi confiança em quem vive ansioso com o futuro incerto e com as consequências sobre a economia e o trabalho.

Mãe de Deus e nossa Mãe, alcançai-nos de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e que volte um horizonte de esperança e de paz. Como em Caná, intervinde junto do vosso Divino Filho, pedindo-Lhe que conforte as famílias dos doentes e das vítimas e abra os seus corações à confiança.

Protegei os médicos, os enfermeiros, os agentes de saúde, os voluntários que, neste período de emergência, estão na vanguarda arriscando a própria vida para salvar outras vidas. Acompanhai a sua fadiga heroica e dai-lhes força, bondade e saúde.

Permanecei junto daqueles que assistem noite e dia os doentes, e dos sacerdotes que procuram ajudar e apoiar a todos, com solicitude pastoral e dedicação evangélica.

Virgem Santa, iluminai as mentes dos homens e mulheres da ciência, a fim de que possam encontrar as soluções justas para vencer este vírus.

Assisti os Responsáveis das nações, para que atuem com sabedoria, solicitude e generosidade, socorrendo aqueles que não têm o necessário para viver, programando soluções sociais e econômicas com clarividência e espírito de solidariedade

Maria Santíssima, tocai as consciências para que as somas enormes usadas para aumentar e aperfeiçoar os armamentos sejam, antes, destinadas a promover estudos adequados para prevenir catástrofes do gênero no futuro.

Mãe amadíssima, fazei crescer no mundo o sentido de pertença a uma única grande família, na certeza do vínculo que une a todos, para acudirmos, com espírito fraterno e solidário, à tanta pobreza e às inúmeras situações de miséria. Encorajai a firmeza na fé, a perseverança no serviço, a constância na oração.

Ó Maria, consoladora dos aflitos, abraçai todos os vossos filhos atribulados e alcançai-nos a graça de que Deus intervenha com a Sua mão onipotente para nos libertar desta terrível pandemia, de modo que a vida possa retomar com serenidade ao seu curso normal.

Confiamo-nos a Vós, que resplandeceis sobre o nosso caminho como sinal de salvação e de esperança, ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Amém.

Papa Francisco – 01 de maio de 2021

 

Vídeo - Nossa Senhora das Mercês



sábado, 1 de maio de 2021

Vídeo - Mês de Maria

 


01 de maio - São José Operário

Hoje, 1º de maio, celebramos São José Operário e iniciamos o mês tradicionalmente dedicado a Nossa Senhora. Aparentemente não há muito que se falar sobre São José, mas isso não é verdade. Há muito que se falar desse homem que foi o Pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Patriarca da Sagrada Família, o Protetor da Igreja e que recebeu tantos outros títulos.

No Evangelho de São Mateus, em um dos momentos em que Jesus retorna à sua região, a Nazaré, e fala na sinagoga, destaca-se o espanto de seus compatriotas por sua sabedoria. Eles se perguntam: “Não é este o filho do carpinteiro?” (13,55). Jesus entra em nossa história, está entre nós, nascido de Maria pelo poder de Deus, mas com a presença de São José, o pai legal, de direito, que cuida d’Ele e também lhe ensina seu trabalho. Jesus nasce e vive em uma família, na Sagrada Família, aprendendo com São José o ofício de carpinteiro, na carpintaria em Nazaré, dividindo com ele seus compromissos, esforços, satisfação e as dificuldades do dia a dia.

Isso nos lembra a dignidade e a importância do trabalho. O livro de Gênesis nos diz que Deus criou o homem e a mulher dando-lhes a missão de encher a terra e sujeitá-la, o que não significa desfrutá-la, mas cultivá-la e protegê-la, cuidar dela com o seu trabalho (Gn 1:28; 2 15).

O trabalho faz parte do plano de amor de Deus, somos chamados a cultivar e cuidar de todos os bens da criação, deste modo participamos da obra da criação! O trabalho é fundamental para a dignidade de uma pessoa. O trabalho, para usar uma imagem concreta, nos “unge” de dignidade, nos plenifica de dignidade, nos torna semelhantes a Deus, que trabalhou e trabalha, age sempre (Jo 5,17), dá a capacidade de nos manter, manter nossa família, contribuir para o crescimento da nação.

Por tudo isso, no dia 1° de maio de 1955, o Papa Pio XII instituiu a festa litúrgica de São José Operário. Na ocasião ele disse: “O artesão humilde de Nazaré não apenas personifica com Deus e a Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas também é sempre guardião da providência do trabalhador e de suas famílias.”

São José é o modelo ideal do operário. Sustentou sua família durante toda a vida com o trabalho de suas próprias mãos, cumpriu sempre seus deveres para com a comunidade, ensinou ao Filho de Deus a profissão de carpinteiro e, dessa maneira suada e laboriosa, permitiu que as profecias se cumprissem e seu povo fosse salvo, assim como toda a humanidade.

Proclamando são José protetor dos trabalhadores, a Igreja quis demonstrar que está ao lado deles, os mais oprimidos, dando-lhes como patrono o mais exemplar dos seres humanos, aquele que aceitou ser o pai adotivo de Deus feito homem, mesmo sabendo o que poderia acontecer à sua família. José lutou pelos direitos da vida do ser humano e, agora, coloca-se ombro a ombro na luta pelos direitos humanos dos trabalhadores do mundo, por meio dos membros da Igreja que aumentam as fileiras dos que defendem os operários e seu direito a uma vida digna.

“Então, se você quer estar perto de Cristo, também hoje repito: "Ite ad Ioseph” – Ide a José!” (Gn 41, 55). Papa Pio XII

Muitos papas já afirmaram que, depois da Virgem Maria, São José é o maior de todos os santos.

O Papa Leão XIII em15 de agosto de 1889, lembro que José cumpriu com responsabilidade a obrigação que a natureza impõe aos chefes das famílias, foi o guardião legítimo e natural, chefe e defensor da Sagrada Família, durante todo o curso de sua vida. Dedicou-se com grande amor e preocupação diária a proteger sua esposa e o Filho Divino; regularmente, através de seu trabalho, recebia o necessário para a comida e as roupas de ambos. Ele cuidou da segurança da criança quando ameaçada pelo ciúme de um monarca e encontrou um refúgio para eles; nas misérias da jornada e na amargura do exílio, ele sempre foi a companhia, ajuda e apoio da Virgem e de Jesus. 

O Papa Pio XI, na encíclica em que trata do comunismo, Divini Redemptoris, de 19 de março de 1937, propõe São José como modelo para os trabalhadores, para os operários.

Palavras do Papa Bento XVI em março de 2006: O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. 

Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. 

Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. 

Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação.

Oremos:

Glorioso São José, modelo de todos os que se dedicam ao trabalho, obtende-me a graça de trabalhar com espírito de penitência;
De trabalhar com consciência, pondo o culto do dever acima de minhas inclinações;
De trabalhar com recolhimento e alegria, olhando como uma honra empregar e desenvolver pelo trabalho os dons recebidos de Deus;
De trabalhar com ordem, paz, moderação e paciência, sem nunca recuar perante o cansaço e as dificuldades;
De trabalhar, sobretudo com pureza de intenção e com desapego de mim mesmo, tendo sempre diante dos olhos a morte e a conta que deverei dar do tempo perdido, dos talentos inutilizados, do bem omitido e da vã complacência nos sucessos, tão funesta à obra de Deus! Amém.

São José Operário, rogai por nós!

 

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Video - São Pio V - Papa


 

Mês de Maria


Tradicionalmente a Igreja celebra o mês de Maio como Mês de Maria, prestando homenagem a Mãe do Senhor e nossa Mãe.

Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai. Da mediação única de Cristo adquirem significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção, em primeiro lugar à Virgem Maria, Mãe de Jesus. Ela ocupa um lugar privilegiado na vida e, portanto, também na oração do cristão, porque é a Mãe de Jesus.

Maria está totalmente voltada para Jesus. A tal ponto que podemos afirmar que é mais discípula do que Mãe. Aquela indicação, nas bodas de Caná, Maria diz: “Fazei o que Ele vos disser!”. Indica sempre Cristo; é a sua primeira discípula.

Este foi o papel que Maria desempenhou ao longo de toda a sua vida terrena e que conserva para sempre: ser a humilde serva do Senhor. Numa certa altura, nos Evangelhos, Ela parece quase desaparecer; mas volta nos momentos cruciais, como em Caná, quando o Filho, graças à sua intervenção solícita, fez o primeiro “sinal”, e depois no Gólgota, ao pé da Cruz.

“Ao ver Sua Mãe e junto d’Ela o discípulo que Ele amava, Jesus disse à Sua mãe:” ‘Mulher, eis aí o teu filho’. Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí a tua Mãe’ (Jo 19, 26-27).

Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto. Estas palavras de Jesus, que recomendam Maria ao discípulo como sua Mãe, e o discípulo a Maria como deu filho, formam uma espécie de documento de origem da Igreja, a partir do sofrimento que gera a Igreja.

Maria está sempre presente à cabeceira dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e abandonado, Ela é Mãe, está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho quando todos o tinham abandonado.

As orações a Ela dirigidas não são vãs. Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no coração, que não têm a força para sair mas que Deus conhece melhor do que nós mesmos. Ouve-as como Mãe. Como e mais do que todas as mães bondosas, Maria defende-nos nos perigos, preocupa-se conosco, até quando estamos ocupados com os nossos afazeres e perdemos o sentido do caminho, colocando em perigo não só a nossa saúde, mas a nossa salvação. Maria está presente reza por nós, reza por quem não ora. Reza conosco. Por quê? Porque Ela é a nossa Mãe!

É verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor.

Para conhecer melhor um pouco as diversas devoções, que ao longo dos séculos, nasceram no coração da Igreja, a cada dia do mês de maio vamos falar de um título que damos a Maria.


segunda-feira, 26 de abril de 2021

Mártires de Quiché

Os 'mártires de Quiché' foram beatificados na sexta-feira, 23, na Guatemala: três sacerdotes espanhóis, missionários do Sagrado Coração de Jesus; José María Gran, Faustino Villanueva e Juan Alonso, junto com sete catequistas leigos; Rosalío Benito, Reyes Us, Domingo del Barrio, Nicolás Castro, Tomás Ramírez, Miguel Tiú e Juan Barrera Méndez, assassinados, este último aos 12 anos, em 'ódio à fé' no contexto da guerra civil que assolou o país entre 1980 e 1991. A cerimônia de beatificação teve lugar na Catedral de Santa Cruz del Quiché e foi presidida pelo cardeal guatemalteco Álvaro Leonel Ramazzini.

Décadas depois do martírio, o sangue derramado por estes "homens de fé", dedicados totalmente ao serviço do Evangelho e da Igreja, continua a dar frutos em abundância, afirmou Dom Rosolino Bianchetti Boffelli, bispo da diocese de Quiché.

Os mártires eram realmente missionários em movimento. Iam de casa em casa, mantendo viva a fé, rezando com os irmãos, evangelizando, implorando ao Deus da vida. Eram homens de grande fé, de grande confiança em Deus, mas ao mesmo tempo de muita dedicação para que houvesse uma mudança, uma Guatemala diferente.

Movidos pelo desejo de contribuir para a missão apostólica da Igreja em suas terras, esses homens corajosos não se detiveram diante de nenhum tipo de ameaça e "abraçaram sua cruz", sendo perseguidos, torturados e mortos por aqueles que consideravam os ensinos do Evangelho como "um perigo" para os interesses dos poderosos.

Eram homens de grande estatura, e com a Palavra de Deus e o Rosário nas mãos, visitavam as suas comunidades para ajudar os mais necessitados: os sacerdotes apoiavam os fiéis, enquanto os leigos, depois de terminarem os seus trabalhos, iam visitar os enfermos, anunciavam a Boa Nova, serviam na Igreja e ajudavam os camponeses a recuperar a terra que lhes havia sido roubada injustamente.

 

-  Padre José María Gran Cirera nasceu em Barcelona (Espanha) em 27 de abril de 1945, emitiu a primeira profissão na Congregação dos Missionários do Sagrado Coração em 8 de setembro de 1966 e a profissão perpétua em 8 de setembro de 1969. Foi ordenado sacerdote em 9 de junho, 1972 em Valladolid. Depois de um período de serviço pastoral em Valência, em 1975 foi enviado para a Guatemala, onde exerceu o ministério em S. Cruz del Quiché, até 1978. Posteriormente foi destinado à paróquia de S. Gaspar di Chajul (Guatemala). Ele fez seu o programa da comunidade religiosa e da diocese ao lado dos mais pobres e indígenas, massacrados pelo genocídio silencioso das autoridades militares. Foi assassinado em 4 de junho de 1980 junto com o sacristão, Domingo del Barrio Batz, quando retornavam a Chajul (Guatemala), depois de uma visita pastoral às aldeias da freguesia. Ele tinha 35 anos.


-  Domingo del Barrio Batz nasceu em Ilom (Guatemala) em 26 de janeiro de 1951, casado com um leigo, engajado na Ação Católica e sacristão na paróquia de S. Gaspar di Chajul. Foi assassinado junto com o Padre José María Gran Cirera em 4 de junho de 1980. Ele tinha 29 anos.


-  Padre Faustino Villanueva Villanueva nasceu em Yesa (Espanha) em 15 de fevereiro de 1931, emitiu a primeira profissão religiosa na Congregação dos Missionários do Sagrado Coração em 8 de setembro de 1949 e a profissão perpétua em 1952. Foi ordenado sacerdote em 25 de fevereiro de 1956. Foi mestre de noviços e professor de seminário. Em 1959, ele foi enviado para a Guatemala. Exerceu funções pastorais em várias paróquias da diocese de Quiché, especialmente na paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Joyabaj (Guatemala), onde foi assassinado a 10 de julho de 1980. Tinha 49 anos.


-  Padre Juan Alonso Fernández nasceu em Cuerigo (Espanha) em 28 de novembro de 1933. Emitiu os primeiros votos na Congregação dos Missionários do Sagrado Coração em 8 de setembro de 1953 e os votos perpétuos em 8 de setembro de 1958. Foi ordenado sacerdote em 11 de junho de 1958. 1960 e no mesmo ano foi enviado para a Guatemala. De 1963 a 1965 foi missionário na Indonésia. De volta à Guatemala, fundou a paróquia de S. Maria Regina em Lancetillo. Ele foi torturado e assassinado em 15 de fevereiro de 1981, em La Barranca (Guatemala). Ele tinha 47 anos.


-  Tomás Ramírez Caba nasceu em Chajul (Guatemala) em 30 de dezembro de 1934, casado, leigo, foi sacristão-mor de Chajul. Foi assassinado na paróquia de S. Gaspar em Chajul (Guatemala) em 6 de setembro de 1980. Tinha 45 anos.


-  Reyes Us Hernández nasceu em Macalajau (Guatemala) em 1939, leigo casado, exercia a atividade pastoral da paróquia natal. Ele foi assassinado em Macalajau em 21 de novembro de 1980. Ele tinha 45 anos.


-  Rosalío Benito, o local exato e a data de nascimento não são conhecidos. Ele era um catequista e muito empenhado pastoralmente. Ele foi assassinado em La Puerta (Chinique, Guatemala) em 22 de julho de 1980.


-  Nicolás Castro nascido em Cholá (Guatemala), foi catequista e ministro extraordinário da Eucaristia. Ele foi assassinado em Los Platanos (Chicamán, Guatemala) em 29 de setembro de 1980.


-  Miguel Tiu Imul nasceu em Cantón la Montaña (Guatemala) em 5 de setembro de 1941, leigo casado, foi diretor da Ação Católica e catequista. Ele foi assassinado em Parraxtut (Guatemala) em 31 de outubro de 1991. Ele tinha 50 anos.


-  Juan Barrera Méndez nascido em Potrero Viejo (Guatemala) em 4 de agosto de 1967, era um menino da Ação Católica. O mais jovem dos mártires, era conhecido como "Juanito", aos 12 anos demonstrou uma profunda maturidade espiritual como catequista de crianças que se preparavam para receber a Primeira Comunhão e até mesmo recebeu o Sacramento da Confirmação. Segundo os testemunhos que temos, ele carregava no coração aquela chama, aquela paixão em seguir Jesus. Queria até construir uma igreja perto de sua casa para que seu pai, que a princípio se recusava frequentar a igreja, pudesse ali participar.

Em 1980 foi capturado em um ataque do exército em sua comunidade, torturado, teve as solas de seus pés  cortadas. Em seguida, eles o fizeram caminhar ao longo da margem do rio. Ele foi pendurado em uma árvore e atiraram nele.