Aristides de
Atenas, filósofo apologista grego e patrístico do período anterior ao Concílio
de Niceia, faleceu por volta do ano 134 e é autor do mais antigo escrito
apologético cujo texto se conserva.
A literatura
apologética visa defender a religião cristã dos escritos do paganismo e das
heresias.
Os dados sobre sua
vida e obra são escassos. Segundo Eusébio de Cesaréia o filósofo
ateniense teria entregue ao Imperador Romano Adriano (76-138) livros
compostos em defesa da religião cristã, aproveitando-se da admiração do
imperador pela escola de Alexandria e os filosofia ateniense.
A primeira apologia
do cristianismo, teria sido escrita na época do reinado (117-138) de Adriano,
e só conhecida dos contemporâneos após sua descoberta no século XIX e publicada
pelos Mequitaristas de S. Lázaro, de Veneza (1878) com o título Ao
imperador Adriano César de parte do filósofo ateniense Aristides. Poucos anos
depois (1891) R. Harris descobriu no monastério de Santa Catarina do
Monte Sinai, uma tradução síria dessa apologia.
A apologia de
Aristides visa a mostrar que os cristãos são os únicos detentores da verdadeira
noção de Deus, demonstrando as inconsistências das concepções dos deuses Caldeus, Gregos e Egípcios.
Demonstra, ainda, o
carácter elevado da vida moral cristã em profundo contraste com as corruptas
práticas pagãs. O tom é nobre e calmo e procura testemunhar a razoabilidade do
cristianismo mais por um apelo aos factos do que por subtis argumentações.
Na Apologia,
composta de 17 capítulos, sendo o capítulo 1 uma introdução, os capítulos 2 ao
16 exames de diversas religiões e uma conclusão (cap. 17), afirmava
corajosamente que os cristãos vagando e buscando, acharam a verdade e estavam
mais próximos que os outros povos da verdade e do conhecimento certo, pois
acreditavam no Deus criador do céu e da terra, e do qual eles mesmos
receberam os preceitos que guardavam no coração, com a esperança e expectativa
do futuro.
Trecho de sua
Apologia:
Os que creem que a
terra é Deus se enganam, pois a vemos incomodada e dominada pelos homens,
cavada e emporcalhada, tornando-se inútil, porque se não a aduba, converte-se
em infértil como uma telha, onde nada nasce. Só que, se for regada em demasia,
corrompe-se ela mesma bem como os seus frutos. Ela também é pisada pelos homens
e pelos animais; se mancha com os sangues dos assassinatos; é cavada para
receber os cadáveres e, assim, se converte em depósito de mortos. Sendo assim,
não é possível que a terra seja deusa, mas obra de Deus, para utilidade dos
homens.
Os que pensam que a
água é Deus erram, pois também ela foi feita para a utilidade dos homens e por
eles é dominada; fica suja e se corrompe; se altera quando é servida, muda de
cor e congela com o frio; é levada para lavar todas as imundícies... Por isso,
é impossível que a água seja Deus, mas é obra de Deus.
Os que creem que o
fogo é Deus estão equivocados, pois o fogo foi feito para a utilidade dos
homens e por eles é dominado; é levado de um lugar para outros para cozer e
assar toda espécie de carnes e até mesmo para cremar cadáveres. Além disso, se
corrompe de várias maneiras ao ser apagado pelos homens. Por isso, não é
possível que o fogo seja Deus, mas obra de Deus.
Os que creem que o
sopro dos ventos é Deus se equivocam, pois é óbvio que está a serviço de outro
e que foi preparado por Deus, em graça aos homens, para mover os navios,
transportando os alimentos, e atender às suas demais necessidades; fora isso,
aumenta ou cessa pela ordem de Deus. Portanto, não é possível pensar que o
vento seja Deus, mas obra de Deus.
Os que creem que o
sol é Deus se equivocam, pois vemos que ele se move por necessidade, muda e
altera de signo, pondo-se e nascendo para desenvolver as plantas e ervas em
utilidade aos homens; vemos também que possui divisões com os demais astros,
que é muito menor que o céu, que sofre eclipses em sua luz e não goza de
qualquer autonomia. Por isso, não é possível pensar que o sol seja Deus, mas
obra de Deus.
Os que pensam que a
lua é Deus se equivocam, pois vemos que ela se move por necessidade e muda de
fase, pondo-se e nascendo para a utilidade dos homens; ela é menor que o sol,
cresce, reduz e sofre eclipses. Por isso, não é possível pensar que a lua seja
deusa, mas obra de Deus.
Os que creem que o
homem é Deus erram, pois vemos que ele é concebido por necessidade, se alimenta
e envelhece ainda contra a sua vontade; às vezes está alegre, outras vezes está
triste, e precisa de comida, bebida e roupas; vemos, ainda, que ele guarda
raiva, inveja e ambição, muda seus propósitos e tem mil defeitos; corrompe-se
também de muitos modos em razão dos elementos, dos animais e da morte que lhe é
imposta. Não é, portanto, admissível que o homem seja Deus, mas obra de Deus.