terça-feira, 30 de setembro de 2014

São Jerônimo e o Leão

Numa certa tarde, como faziam todos os dias nas horas canônicas, os monges estavam reunidos ouvindo as lições do dia durante.
São Jerônimo estava entre eles e ouvia atento. De repente, todos perceberam que um leão se aproximava. Foi uma correria geral. São Jerônimo manteve a calma: foi o único. Ele levantou-se e foi encontrar-se com aquele hospede não convidado...

Era um animal enorme que usava somente três patas para caminhar. A quarta pata ele a trazia levantada. Claro que o leão não poderia falar, mas dava a impressão de querer comunicar alguma coisa e ofereceu a Jerônimo a pata que trazia levantada. O monge a examinou e percebeu que o animal estava gravemente ferido.

Jerônimo chamou o menos medroso dos monges para ajudá-lo a limpar e cuidar do ferimento que estava em carne viva, infeccionado e ainda cheio de espinhos. Jerônimo tratou do animal, retirou-lhe os espinhos e o medicou com ungüentos. O animal sarou.
Os cuidados oferecidos ao animal amansaram a "besta fera". O leão passou, então a caminhar pacificamente pelo mosteiro. Onde estivesse São Jerônimo, junto estava o animal que se comportava como um animal doméstico.


Jerônimo mostrou aos monges uma primeira lição do episódio: "Pensem sobre isto e vocês poderão encontrar lições de vida. Eu creio que não foi tanto para a cura de sua pata que Deus o enviou até nós, pois, o leão se curaria sem a nossa ajuda. Deus nos enviou esse leão para mostrar quanto a Providencia estava ansiosa para nos prover do que necessitamos para nosso bem."

São Jerônimo e Santo Agostinho

Houve um princípio de polêmica entre os dois grandes Doutores da Igreja, Santo Agostinho e São Jerônimo. Tudo porém foi explicado: tratava-se de um mal-entendido entre esses dois luminares do cristianismo. Tudo foi explicado, as coisas se puseram em seu devido lugar e uma amizade que nunca havia se rompido, continuou cheia de respeito. Eles continuaram unidos até a morte, melhor seria dizer até no Céu.

São Jerônimo dizia que Santo Agostinho era "seu filho em idade, e seu pai em dignidade", uma vez que era Bispo.
Por seu lado, o Bispo de Hipona escreveu-lhe: "Li dois escritos vossos que me caíram nas mãos, e achei-os tão ricos e plenos que não quereria, para aproveitar em meus estudos, senão poder estar sempre a vosso lado".

No dia 30 do mês de setembro do ano 420, falece São Jerônimo. Estava avançado em idade (cerca de 80 anos) e crescido em virtude faleceu. No mesmo dia, em visão, ele aparecia a Santo Agostinho e descrevia como era o estado das almas bem-aventuradas no Céu...


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Oração a São Rafael Arcanjo

Guardião da saúde e da cura
peço que vossos raios curativos desçam sobre mim,
dando-me saúde e cura.
Guardai meus corpos físico e mental,
livrando-me de todas as doenças.
Expandi Vossa beleza curativa em meu lar,
meus filhos e familiares, no trabalho que executo,
para as pessoas com quem convivo diariamente.
Afastai a discórdia e ajuda-me a superar conflitos.
Arcanjo Rafael, transformai a minha alma e o meu ser,
para que eu possa sempre refletir a vossa Luz.
Amém.

Oração a São Gabriel Arcanjo

Anjo da Encarnação, fiel mensageiro de Deus, 
abri nossos ouvidos, até para as mais leves admoestações e toques da graça, 
do Coração de nosso Senhor. 
Permanecei sempre conosco, 
nos vo-lo suplicamos, para que compreendamos devidamente a Palavra de Deus, sigamos suas inspirações e, docilmente, cumpramos aquilo que Deus quer de nós. 
Fazei que nós estejamos sempre prontos e vigilantes, para que o Senhor, quando ele chegar, não nos encontre dormindo.

Amém.

Oração a São Miguel Arcanjo

São Miguel Arcanjo,
defendei-nos no combate.
Cobri-nos com o vosso escudo
contra os embustes
e ciladas do demônio.
Ordene-lhes Deus!
Instantemente o pedimos.
E vós, Príncipe da milícia celeste,
pela força divina,
precipitai no inferno o Satanás
e aos outros espíritos malignos
que andam pelo mundo
para perder as almas.

Amém.

domingo, 28 de setembro de 2014

São Venceslau

O santo que nos ensina com sua opção pelo Reino de Deus e de vida constante na luta para a santidade, é o príncipe Venceslau. Sua história se entrelaça com a vida e fé da família real. Nasceu em 907. Seu pai, Vratislau, era duque da Boêmia. 

O pai e sua avó eram cristãos fervorosos, ao passo que sua mãe era uma pagã ambiciosa e inimiga da religião. Em 921, quando Venceslau tinha treze anos, seu pai morreu e ele foi criado por sua avó, Santa Ludmila , que o educou como um cristão, por isso cresceu religioso e muito caridoso para com os pobres, enquanto seu irmão (Boleslau)  educado pela mãeDrahomíra, tornou-se violento e ambicioso.

Com a morte do pai e pouca idade do santo herdeiro, a mãe má intencionada assumiu o governo. Drahomíra, que estava tentando angariar apoio da nobreza, furiosa com a perda da influência sobre seu filho, arranjou para que Ludmila fosse estrangulada.
Venceslau é geralmente descrito como excepcionalmente piedoso e humilde, e um homem muito educado e um jovem inteligente de seu tempo.
De acordo com algumas lendas, após recuperar o controle sobre seu filho, Drahomíra tentou convertê-lo para a antiga religião pagã.
Sendo assim tratou de expulsar os missionários católicos. O povo revoltado, juntamente com os nobres pressionaram o príncipe para assumir o governo e com o golpe de estado Venceslau assumiu em 925 e sua mãe foi exilada.

Nos oito anos de reinado, Venceslau honrou a fama de "O príncipe santo". Logo que assumiu o trono, tratou de construir igrejas, mandou regressar os sacerdotes exilados, abriu as fronteiras aos missionários da Suábia e da Baviera.
Venceslau governou com tanta justiça e brandura que com pouco tempo conquistou o coração do povo que o amava e por ele era concretamente amado: protetor dos pobres, dos doentes, dos encarcerados, dos órfãos e viúvas. Verdadeiro pai.

O jovem Venceslau e sua avó Santa Ludmila
Este homem que muito se preocupou com a evangelização do povo a fim de introduzir todos no "sistema de Deus", era de profunda vida espiritual mas, infelizmente, odiado pelo irmão Boleslau e pela mãe, que além de matar a piedosa sogra - educadora do santo -, concordou com a trama contra o filho.

Quando nasceu o primogênito de Boleslau, São Venceslau foi convidado para um solene banquete onde foi pensando na reconciliação de sua família. Tendo saído para estar em oração, na capela real, foi apunhalado pelo irmão e pelos capangas dele. Ele conseguiu aparar o golpe com sua espada, mas ao perceber que seu atacante era o irmão, embainhou a espada e murmurou: 
Poderia matá-lo, mas a mão de um servo de Deus não pode manchar-se com o fratricídio”. Novamente atacado, sem resistir, antes de cair morto, pronunciou: "Em tuas mãos, ó Senhor, entrego o meu espírito". Isto ocorreu em 935.

sábado, 27 de setembro de 2014

Frases de São Vicente de Paulo

"Amemos a Deus, meus irmãos, amemos a Deus, mas que isto seja a custa dos nossos braços, que isto seja com o suor dos nossos rostos".

"A perfeição não consiste na multiplicidade das coisas feitas, mas no fato de serem bem feitas".

"É preciso que vós e eu tomemos a resolução de jamais faltar à oração diária. Digo: diária, minhas Filhas, mas se pudesse, diria: não a deixemos nunca".


"Se procurardes a Deus, encontra-Lo-eis por toda a parte..."


"Não me basta amar a Deus, se o meu próximo também não o ama."


"Nunca se tem Deus como Pai, se não tem Maria como Mãe."


"Não sei quem é mais carente: se o pobre que pede pão ou o rico que pede amor."

"Como ser cristão e ver o seu irmão aflito, sem chorar com ele! É permanecer sem caridade, é ser cristão de pintura, é não possuir nada de humanidade, é ser pior que os animais."

"Não sou daqui nem dali, mas de qualquer lugar onde Deus quer que esteja."

"Dez vezes irão aos pobres, dez vezes encontrarão a Deus."



"Convém amar os pobres com um afeto especial, vendo neles a pessoa do próprio Cristo, e dando-lhes a importância que Ele mesmo dava."

"É preciso dar o seu coração, para obter em troca o dos outros".



"Os pobres abrem-nos a porta para a eternidade".

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Cosme e Damião na Umbanda

Aqui no Brasil, a devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto aos orixás-meninos (Ibejis ou Erês) da tradição africana yorubá. Cosme e Damião, os santos mabaças ou gêmeos, são tão populares quanto Santo Antônio e São João. São amplamente festejados na Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa acontece no dia 27 de setembro, quando crianças saem aos bandos, pedindo doces e esmolas em nome dos santos.
Os devotos e simpatizantes têm o costume de fazer caruru (uma comida típica da tradição afro-brasileira), chamado também de “Caruru dos Santos” e “Caruru dos sete meninos” que representam os sete irmãos (Cosme, Damião, Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi), e dar para as crianças.

Cosme Damião e Doúm
Uma característica marcante na Umbanda e no Candomblé, em relação às representações de Cosme e Damião, é que junto aos dois santos católicos aparece uma criancinha vestida igual a eles. Essa criança é chamada de Doúm ou Idowu, que personifica as crianças com idade de até sete (7) anos de idade, sendo ele o protetor das crianças nessa faixa de idade. Na festa da tradições afro, enquanto as crianças se deliciam com a iguaria consagrada, os adultos ficam em volta entoando cânticos (oríns) aos orixás.

Assim, o costume de dar balas às crianças no dia 27 de setembro não é uma tradição cristã.

O Primeiro Transplante

O guardião da Igreja de São Cosme e Damião foi atingido pela gangrena na perna esquerda, o que lhe proporcionava dores fortíssimas e colocava em risco a sua vida.
Em sonho, teve a visão de que os dois santos haviam vindo e cortado seu membro ruim e, em seu lugar, haviam transplantado a perna de um africano morto, que acabara de ser enterrado no cemitério próximo à igreja.


Quando acordou, o sacristão surpreende-se ao não sentir mais nenhuma dor na perna. Acendeu uma vela para olhar a própria perna e descobriu que tinha uma perna negra saudável, e descobriu-se que no corpo do africano agora estava a perna do sacristão.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Qual é o dia do seu Onomástico?

Santo Onomástico é o Santo que tem o nosso nome.

Assim, o santo onomástico de uma pessoa que se chama José é São José, celebrando no dia 19 de março.
Em muitos países é tradição as pessoas  serem saudadas no dia do santo que tem o seu nome. 

A Igreja pede que os católicos batizem seus filhos com um nome cristão ou de um santo, assim eles possuem intercessores seguros no céu, como diz o Catecismo da Igreja:

" §2165 No Batismo, o cristão recebe seu nome na Igreja.  Os pais, os padrinhos e o pároco cuidarão para que lhe seja dado um nome cristão.  O patrocínio de um santo oferece um modelo de caridade e um intercessor seguro. "

É importante não colocar nomes inventados, mirabolantes, pois nosso nome exprime nossa missão, um mistério:
“§2156 O nome cristão O sacramento do Batismo é conferido "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19). No Batismo, o nome do Senhor santifica o homem, e o cristão recebe seu próprio nome na Igreja."

Este pode ser o de um santo, isto é, de um discípulo que viveu uma vida de fidelidade exemplar a seu Senhor. O "nome de Batismo" pode também exprimir um mistério cristão ou uma virtude cristã. "Cuidem os pais, os padrinhos e o pároco para que não se imponham nomes alheios ao senso cristão."

Milagres de São Sérgio

Deus realiza milagres através dos Seus eleitos:

- Devido à falta de água perto do mosteiro, a fraternidade sofria grande desconforto, que se tornou mais grave com o paulatino aumentou do número de monges, sendo necessário buscar água de fontes mais distantes.  
Alguns monges se queixavam ao abade, inquirindo-o a respeito da razão de não ter observado quando da escolha do local para construção do monastério, a falta de recursos naturais. 
Muitas vezes faziam esses questionamentos, e em algumas oportunidades o faziam com irritação. 
O santo lhes dizia: "Estava destinado ao culto e a oração neste lugar isolado. Mas Deus quis que um mosteiro como este, dedicado à Santíssima Trindade surgisse neste local." 
Saindo do mosteiro acompanhado por um dos irmãos, encontrou em um barranco próximo do mosteiro, uma pequena piscina de água de chuva. Ele se ajoelhou e rezou. 
No dia anterior tal reserva de água limpa não existia!
O bendito Sergio fez o sinal da cruz sobre o lago, e este borbulhou e voltou a se pacificar, e desde então permaneceu como uma fonte continua de água potável, e existe ate os dias de hoje, suprindo as necessidades do mosteiro.


- O bispo Estevão, um temente a Deus e homem devoto, desenvolveu uma profunda afeição espiritual por São Sergio. 
Um dia ele estava viajando desde o seu episcopado em Perm, até a capital, Moscou.
Na estrada,foram percorrido cerca sete quilômetros ate as proximidades do mosteiro de São Sergio.
Quando o piedoso bispo chegou a parte externa do mosteiro, o bispo parou e disse, fazendo uma reverencia na direção do edifício e disse " Que a Paz esteja convosco, irmão em Deus!" 
O santo, nesta hora estava sentado à mesa  com seus irmãos. 
Percebendo  em espírito o que o bispo Estevão estava fazendo, ele ficou de pé e por um instante em oração e em seguida, disse em voz alta:
"Seja feliz, você pastor do rebanho de Cristo, a paz de Deus esteja sempre convosco." 
No final do jantar  seus discípulos perguntou-lhe o que ele quis dizer naquele momento. 
Ele disse-lhes abertamente, "Naquela hora o bispo Estevão estava  a caminho de Moscou, fez reverência à Santíssima Trindade, e abençoou o nosso humilde povo". 

São Sérgio e o Ícone da Trindade

São Sérgio uniu toda a Rússia do século XIV ao redor da Igreja dedicada à Trindade, ou seja: ao redor de Deus.
Após sua morte não deixou nenhuma pesquisa ou escrito teológico, porém toda sua vida fora dedicada à Santíssima Trindade, base de suas incessantes meditações.
Dedicou sua vida anunciando a união e o amor entre os que o rodeavam, ensinando-os a meditar na Trindade para superar o ódio que divide o mundo. Na memória do povo Russo, permaneceu Sérgio como pessoa que fora enviada do céu para proteger seu país e que também indicou de forma concreta o mistério da Trindade e sua Unidade. Essa luz que foi entornada nele o transformou numa imagem transparente, radiante e resplandecente na pureza e na Luz.

Enquanto Sérgio era abade, Rublev se tornou um monge no mosteiro da Trindade. Aí se dedicou e se aperfeiçoou na pintura, nos ateliês do mosteiro, os quais eram os mais importantes ateliês de arte sacra daquela época. Porém Rublev deixou o mosteiro por um determinado período para ir a Moscou trabalhar como artista e ao retornar ao mosteiro, o seu superior já tinha falecido no ano de 1392.

Após ter passado alguns anos da morte de seu superior, um dos alunos pediu ao monge Rublev, que tinha se tornado um dos mais famosos pintores, que pintasse um ícone da Trindade em memória de seu falecido mestre.
Rublev que era um eremita fiel e de fama digna, de caráter incomparável e pureza de coração, e de profunda vida espiritual, atendeu ao pedido que lhe foi feito, dando início à pintura.
Dizem que Rublev, nos seus momentos de descanso, sentava-se junto ao seu amigo e aluno de frente ao ícone celeste admirando-o e elevando sempre seus pensamentos à Luz Divina, tentando efetivar o objetivo do Santo Sérgio nas cores e na iluminação. Sempre meditava o versículo do Santo Evangelho que diz: “para que sejam um como nós o somos...” (Jo 17,11b); a unidade e o amor eram a sua única fixação.

Não há dúvidas que a humildade era uma das características básicas para esse monge; era como se nele tivesse sido aberto um vazio total que permitiu a Deus fazer escorrer a Luz da Trindade para o seu interior, iluminando o seu coração, seu ser e sua mente, até tornar todo toque de seu pincel num clamor de glorificação e incenso de louvor ao céu, propagando o aroma da Trindade e expandindo como um perfume no mundo dos fiéis na comunhão dos Santos. Era como se o próprio Espírito Santo o conduzisse e orientasse seu pincel para ajudar aquele artista a apresentar essa contemplação celeste nesse patamar de beleza.


Essa obra magnífica lhe custou muitos esforços, cansaço e oração; porém, vendo o resultado, teve a recompensa. Sua obra, entre os ícones, é uma benção que paira sobre a humanidade e um ponto de meditação e fonte de profunda iluminação espiritual.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Oração à Nossa Senhora das Mercês

                               

















Nossa Senhora das Mercês, nossa Padroeira, Mãe da Libertação, livra-me das correntes que amarram e bloqueiam minha vida, minha família e meus negócios.
Peça por mim a Jesus que envie seus Anjos para libertar de tantos males.
Interceda a Deus, para que eu obtenha as luzes do Espírito Santo, para viver na paz, alegria e prosperidade.
Ensina-me a ter um coração confiante em Deus. Amém.

São Pacífico e Frei Humilde

Na província da Marca, depois da morte de São Francisco, entraram dois irmãos na Ordem; um teve por nome Frei Humilde e o outro Frei Pacífico, os quais foram homens de grandíssima santidade e perfeição.

E um, isto é, Frei Humilde, estava no convento de Soffiano e ali morreu; o outro estava em um convento bem afastado dele. 

Como prouve a Deus, Frei Pacífico, estando um dia em oração num lugar solitário, foi arrebatado em êxtase e viu a alma do seu irmão Frei Humilde subir diretamente ao céu, sem demora nem impedimento, na mesma hora em que deixava o corpo - Sucedeu que, depois de muitos anos, este Frei Pacífico foi enviado para o mesmo convento de Soffiano, onde seu irmão tinha morrido.

Nesse tempo os frades mudaram o convento para um outro lugar; pelo que, entre outras coisas trasladaram as relíquias dos santos frades que haviam morrido naquele convento. 

E chegando à sepultura de Frei Humilde, o seu irmão Frei Pacífico retirou-lhe os ossos e lavou-os com bom vinho e depois os envolveu numa toalha branca, e com grande reverência e devoção os beijava e chorava.

Por isso os outros frades se maravilharam e não achavam bom exemplo: porque, sendo ele homem de grande santidade, parecia que, por amor secular, chorava seu irmão, e que maior devoção mostrava por estas relíquias, do que pelas dos outros frades que tinham sido de não menos santidade do que Frei Humilde, e eram dignas de reverência como as dele.

E conhecendo Frei Pacífico a sinistra imaginação dos frades, os satisfez humildemente e lhes disse: 

“Irmãos meus caríssimos, não vos admireis de que tivesse feito com os ossos do meu irmão o que não fiz com os dos outros; porque, bendito seja Deus, não se trata, como credes, de amor carnal, mas isso fiz porque, quando meu irmão passou desta vida, orando eu em um lugar deserto e afastado, vi sua alma pelo caminho certo subir ao céu; e portanto estou certo de que seus ossos são santos e ele deve estar no paraíso. E se Deus me tivesse concedido tanta certeza dos outros frades, a mesma reverência renderia aos ossos deles”.

Pela qual coisa os frades, vendo-lhe a santa e devota intenção, ficaram bem edificados com ele e louvaram a Deus, o qual faz assim coisas maravilhosas aos santos frades seus. 

São Pacífico

Pacífico nasceu em São Severino, Marcas, em 1º de março de 1653, filho de Antonio Maria Divini e Maria Angela Bruni, último de 13 filhos. Seu nome de batismo era Carlos Antonio, adotando Pacífico na profissão religiosa.
Após a morte de seus pais, foi recebido pelo tio materno Luzizo Bruni, prior da catedral de São Severino das Marcas, culto e bom padre, mas muito austero. Aos 17 anos, ele abraçou a vida religiosa entre os Frades Menores e em 28 de dezembro de 1671 foi admitido à profissão religiosa, em seguida, estudou filosofia e teologia e em 4 de junho de 1678 foi ordenado sacerdote em Fossombrone.

No convento do Crucifixo de Treia trabalhou duro para se preparar para o ministério e ensino. Em 25 de setembro de 1681, foi nomeado pregador e leitor. Durante três anos, ele ensinou filosofia e exerceu a pregação.

Por 10 anos, ele viajou muitas vezes às estradas das verdes Marcas, passando repetidamente por cidades e povoados; pregou em igrejas, praças, santuários, como um incansável difusor da verdade. Suas palavras sacudiram aos fiéis; seu zelo comoveu os tíbios; sua humildade mortificou os soberbos.  Durante muito tempo ele foi lembrado nas Marcas por sua pregação elevada e persuasiva, inclusive quando as fadigas de sua vida de pregador volante o forçaram a retirar-se ao convento de  Forano, com os joelhos enfermos. Ele tinha 45 anos e viveu até os 68, sempre doente e sempre mais severo com ele mesmo, afligido por engano, e ferido pela calúnia. Em face de acusações injustas, Pacífico não se defendeu. Ele manteve a paz silenciosa da mente que laboriosamente conquistado com uma vida de labuta e sofrimento.

Sua saúde piorou cada vez mais. A ferida em sua perna direita, foram adicionados surdez e cegueira progressiva, enquanto que nos últimos anos de sua vida tornou-se impossível para celebrar a missa, ouvir confissões dos fiéis e participar na vida da comunidade. Calvi Alexandre, bispo de San Severino em 11 de junho, 1721 veio visitar e com espanto ouviu: “Excelência, o Paraíso, o Paraíso, você vai primeiro e vou seguir logo depois.”


Naquela noite, o bispo ficou doente e morreu em 25 de julho. Pouco depois Pacífico o seguiria, aos 68 anos, no dia  24 de setembro de 1721.  

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Os Perfumes de Padre Pio

A osmogenesia, é um carisma possuído por alguns Santos. Tal carisma, em algumas circunstâncias, permitiu percebe-se à distância perfumes particulares. Tais perfumes são definidos como odores de santidade. O Padre Pío chegou a manifestar tal carisma e estes fenômenos foram tão freqüentes  que as pessoas comuns ficaram admiradas e definiram este fenômeno como “Os Perfumes de Padre Pio”. O perfume emanava de seu corpo e também dos objetos que ele tocava e também de suas vestes. Em outras ocasiões, o perfume fora percebido nos lugares onde ele passava. 

O Frade Modestino contou em certa ocasião: 
"Uma vez,  em que me encontrei de férias em San Giovanni Rotondo. Na manhã, me apresentei na Sacristia, a fim de celebrar a Missa com Padre Pío, e outros frades discutiam a fim de ter este privilégio. O Padre Pio interrompeu aquela discussão e disse – “Na Missa, que servirá comigo é ele” – e terminou por me indicar. Ninguém disse mais nada. Acompanhei o Padre até o altar de São Francisco, e o ajudei a prepara-lo para a Santa Missa em absoluta concentração. No momento do "Santo" tive um repentino desejo de sentir aquele indescritível perfume que senti muitas vezes, quando beijei a mão do Padre Pio. O desejo foi concedido logo em seguida. O cheiro do perfume me envolveu e aumentou o odor em demasiado. Não conseguia respirar normalmente. Tive que me apoiar no balaústre, com a mão para não cair. Estando a ponto de desmaiar, quando pedi ao Padre Pio, para me socorrer e evitar esta cena na frente de tantas pessoas. Naquele preciso instante o perfume desapareceu. Ao fim da tarde, acompanhei o Padre ao seu quarto, e pedi ao Padre explicações sobre o ocorrido, este me disse o seguinte: “Meu filho, não sou eu ou você. É Deus que atua. Ele deixa sentir este perfume, quando ele quer e a quem ele quizer. Tudo ocorre segundo o gosto dele próprio."

Padre Pio e o "Companheiro de sua infância"

Aquilo que Padre Pio falou, ele mesmo também o viveu e de fato vemos nele uma convivência muito íntima e admirável com seu Anjo da Guarda. Esta relação íntima já começou na sua infância.

Na infância de Padre Pio o seu Anjo assumiu a aparência de uma criança e estava visivelmente ao seu lado. Se diz que durante a infância o Anjo até brincou com ele. Por isso o Padre Pio, mesmo idoso, chamou o seu Anjo "o companheiro da minha infância"
Esta palavra "companheiro" indica uma profunda amizade e convivência. Aqui começou o amor de Padre Pio a seu Anjo que continuará por toda a vida. Este Anjo nunca abandonará o Santo: ele ajudará a deixar o mundo e a entregar-se totalmente a Deus.
Ajudará no ano de noviciado, nos anos de estudo e de preparação para o sacerdócio. Ele cuidará que Padre Pio se torne um digno ministro de Jesus Cristo. Ele estará ao seu lado quando seu protegido experimenta os ataques do diabo e em todas suas lutas.
Por isso o Padre Pio tinha uma profunda amizade com seu Anjo, a mais terna e confidencial devoção que excluiu qualquer diferença entre os dois e fez de Padre Pio um Anjo ou fez de seu Anjo uma criatura humana. Padre Pio e seu Anjo da Guarda são tão intimamente ligados um com o outro, que é impossível separá-los.

Um dos conselhos que Padre Pio deu sempre aos seus filhos e suas filhas espirituais foi que invocassem sempre seus Anjos da Guarda: 

"Lembra-te do Anjo da Guarda, sempre tão perto de ti, quer estejas ou não na graça do Senhor; que maior amigo poderás ter do que o Anjo da Guarda? Pede-lhe que te ajude a te conservares na caridade, na humildade e na paciência" 

Ou na despedida muitas vezes ele dizia: 
"Que o Anjo de Deus seja tua luz, o teu auxílio, a tua força, o teu conforto, o teu guia" ou: "Que o Anjo de Deus te acompanhe!"

"Invoque o seu Anjo da guarda, pois ele te iluminará e te guiará no caminho de Deus. Deus o deu a você. Então o use."


"Para todas as pessoas que vivem há um Anjo da guarda. Por isso ninguém se encontra sozinho."

Padre Pio e Karol Wojtyla

Quando ainda jovem sacerdote polonês, Karol Wojtyla (o futuro Papa João Paulo II) estudava na Itália, e sempre que podia, visitava a San Giovanni Rotondo para confessar-se com o Padre Pio. Em uma dessas ocasiões, o Padre Pio pareceu entrar em um breve êxtase e lhe disse:   “Tu serás Papa, mas vejo sobre ti sangue e violência”. 

Alguns anos depois, Karol Wojtyla já era Bispo e sua amiga Wanda Póltawska teve um câncer. Wojtyla era um jovem bispo e encontrava-se em Roma para o Concílio. Wanda estava prestes a fazer uma cirurgia muito delicada para a retirada do câncer, e os médicos não lhe davam muita esperança.
Ao saber dessa notícia, Dom Wojtyla lembrou de como Deus atendia as orações do humilde sacerdote italiano Pio de Pietrelcina e lhe escreveu rapidamente. Padre Pio recebeu a carta, pelas mãos de  Angelo Battisti, administrador do hospital que ele fundou, a carta tinha vindo da Polônia. O Padre Pio pediu a Battisti que a lesse para ele, dizia o seguinte:

17 de novembro de 1962

“Reverendíssimo Padre Pio,
Peço uma oração na intenção de uma senhora de quarenta anos e mãe de quatro filhas de Cracóvia, na Polônia (durante a última guerra passou cinco anos num campo de concentração na Alemanha), atualmente doente de modo grave de câncer e correndo o risco de perder a vida: para que Deus, pela intercessão da Santíssima Virgem, manifeste a sua misericórdia a ela e à sua família.
Em Cristo, mui grato + Karol Wojtyla, Bispo titular de Ombi, Vigário do Capítulo de Cracóvia – Polônia”

Ao acabar, Padre Pio disse: Angelo, a isso não se pode dizer que não”.

Onze dias depois, o seu Angelo chegou com outra carta do Bispo Wojtyla:

“28 de novembro de 1962
Reverendíssimo Padre,
A senhora de Cracóvia, Polônia, mãe de quatro filhas, no dia 21 de novembro, antes mesmo do procedimento cirúrgico, inesperadamente recobrou a saúde. Demos graças a Deus. De coração agradeço também a ti, Reverendíssimo Padre, em nome dela, do seu marido e de toda a sua família.
Em Cristo, mui grato + Karol Wojtyla, Bispo titular de Ombi, Vigário do Capítulo de Cracóvia – Polônia”

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

São Maurício e Companheiros

São Maurício foi um capitão na Legião Tebaica, uma unidade lendária do exército romano que fora recrutada no Alto Egito, na cidade de Tebas, e era composta inteiramente de cristãos. Foi o primeiro santo negro do Cristianismo. O nome Maurício quer dizer "mouro negro" em grego.

Durante a insurreição da Gália, principalmente contra os Bagaudes, por volta do ano 286, o imperador Diocleciano encarregou o general Maximiano de marchar contra os rebeldes,  com a Legião Tebaica sendo uma parte do seu exército.

Depois da revolta ter sido suprimida, e no seu retorno para Agauno (agora Saint-Maurice-en-Valais) na Suíça, Maximiano deu ordem para que todo exército fizesse sacrifícios aos deuses romanos em agradecimento ao sucesso da campanha. Como parte da celebração, o imperador também ordenou a execução de vários prisioneiros cristãos. A Legião Tebaica recusou-se a obedecer a ordem e se retirou dos ritos, deixando o acampamento e se distanciando bem longe do resto do exército para não ser impelida ao que eles viam como terrorismo contra suas crenças.

Maximiano repetidamente ordenou que a Legião Tebaica obedecesse suas ordens, e quando eles continuaram recusando, ele ordenou que a unidade fosse "dizimada", uma prática na qual um de cada dez homens era morto.

A Legião, contudo, não se abalou, apesar das ameaças de uma segunda dizimação, que foi executada. O imperador disse aos remanescentes que seriam todos mortos, mas seu capitão, Maurício, juntamente com Exupério, Cândido, Vital e Alexandre, seus oficiais, inspiraram neles o exemplo dos soldados já martirizados, e lhes falaram que a todos eles estava assegurado um lugar no Céu.
Diante das ameaças Maurício respondeu firmemente:
“ Somos teus soldados e não menos servidores de Deus. Sabemos perfeitamente a nossa obrigação como militares, mas não nos é lícito trair o nosso Deus e Senhor. Estamos prontos a obedecer a tudo que não contrarie a lei de Jesus Cristo Nosso Salvador. Fomos testemunhas da morte de nossos companheiros e não nos queixamos; antes, com eles nos congratulamos. Tuas ameaças não provocam sentimento ou plano de rebelião de nossa parte. Estamos com as armas nas mãos, mas delas não faremos uso para nos defender. Pelo contrário, queremos morrer inocentes do que viver culpados.”

Todos foram decapitados por outros soldados, sem resistência. Maximiano chegou a ponto de levar as execuções até mesmo contra os membros da Legião Tebaica estacionada em outro lugar no Império da Gália, incluindo a própria Roma.
  
Martírio de São Maurício - El Greco
São Maurício é um dos santos mais populares da Europa ocidental. Há mais de 650 lugares sagrados que levam seu nome na França. Mais de setenta cidades levam o nome dele.
Na Idade Média são Maurício foi o santo protetor de várias dinastias da Europa e depois dos santos imperadores romanos, muitos dos quais foram ungidos diante do altar de São Maurício na Basílica de São Pedro, em Roma.

O rei Sigismundo da Borgonha doou terra para um monastério em honra dele, em 515.

Henrique I da Germânia (919-936) cedeu a província suíça de Aargau em troca da Lança dos Santos; e a relíquia sagrada, a Espada de São Maurício, foi usada pela última vez na coroação do Imperador Carlos da Áustria como rei da Hungria, em 1916.

domingo, 21 de setembro de 2014

O que a Tradição nos diz sobre São Mateus

Martírio de São Mateus - Caravaggio
Quando os Apóstolos se espalharam por todo o mundo, São Mateus dirigiu-se para a Arábia e Pérsia, onde sofreu cruéis perseguições pelos sacerdotes indígenas. São Clemente de Alexandria diz que São Mateus era homem de mortificação e penitência, e alimentava-se só de ervas, raízes e frutas. Sofreu maus tratos na cidade de Mirmene.
                                                                      
Os pagãos arrancaram-lhe os olhos e, preso com algemas, esperou no cárcere o dia em que devia ser sacrificado aos deuses, por ocasião da grande festa idólatra. Deus, porém,  não abandonou seu servo;  mandou-lhe um Anjo que lhe curou a vista e o libertou da prisão. São Mateus seguiu então para a Etiópia. Também lá o demônio quis tolher-lhe os passos.  Dois feiticeiros de grande fama opuseram-se-lhe,  mas São Mateus venceu-os pela força esmagadora dos argumentos e pelos milagres que fazia, em nome de Jesus Cristo.  Removido este obstáculo,  o povo aceitou a religião de Deus humanado.
                                                                      
Foi por intermédio do eunuco da rainha Candace, o mesmo a quem São Felipe batizou, que São Mateus obteve entrada no palácio real. Lá havia grande luto pela morte do jovem príncipe herdeiro Eufranon.  São Mateus, tendo sido chamado ao palácio, fez o defunto ressurgir, milagre este que encheu a todos de admiração.  O rei, em sinal de alegria e gratidão, mandou arautos por todo o país deitarem pregão da seguinte ordem: "Súditos! Vinde todos à capital ver um Deus, que apareceu entre nós, em forma humana!".
                                                                      
Afluíram aos milhares os súditos de todas as partes do reino, trazendo perfumes e incenso, para serem oferecidos ao Deus que tinha aparecido.  Mateus, porém,  esclareceu-os dizendo:  "Eu não sou Deus, como julgais que seja, mas servo de Jesus Cristo, Filho de Deus vivo;  foi em seu nome que fiz o filho de vosso rei ressuscitar; foi Ele que me enviou a vós, para vos pregar sua doutrina e vos trazer sua graça e salvação".  Essas palavras tiveram bom acolhimento e a maior parte do povo converteu-se à religião de Jesus Cristo.  A Igreja da Etiópia chegou a ser uma das mais florescentes dos tempos apostólicos. O rei Egipo e família eram cristãos fervorosíssimos, tanto que Efigênia, a filha mais velha, fez voto de castidade perpétua e a seu exemplo, muitas filhas das famílias mais ilustres consagraram-se a Deus, numa vida de perfeição cristã.
                                                                      
Pela morte do rei subiu ao trono seu sobrinho Hírtaco, o qual, para estabelecer o governo sobre bases mais sólidas, pediu a Efigênia em casamento. Esta recusou, alegando o voto feito a Deus. Hírtaco, não se conformando com esta resposta, exigiu que São Mateus fizesse valer a autoridade de Bispo, para que se realizasse o enlace desejado. São Mateus declarou ao príncipe não ter competência para envolver-se no caso. 
                                                                      
Vendo-se assim, profundamente contrariado nos seus planos, Hírtaco deu ordem aos soldados de fazer desaparecer o Apóstolo. Esta ordem foi executada na igreja onde São Mateus celebrava a Missa. Pondo de lado o respeito devido ao lugar e à pessoa do santo Apóstolo, os sicários do rei mataram-no no próprio altar. 
                                                                      
O corpo do Santo Mártir foi por muito tempo objeto de grata veneração do povo cristão da capital. No ano de 930, foi transportado para Salerno, na Itália, onde São Mateus até hoje é festejado como padroeiro da cidade e do bispado. relíquias para a cidade. 

São Mateus - Apóstolo


"Na verdade, apresentar completamente a figura de São Mateus é quase impossível, porque as notícias que lhe dizem respeito são poucas e fragmentadas. Mas o que podemos fazer, não é tanto um esboço da sua biografia, mas ao contrário o perfil que o Evangelho transmite.

Entretanto, ele está sempre presente nos elencos dos Doze escolhidos por Jesus. O seu nome hebraico significa "dom de Deus". O primeiro Evangelho canónico, que tem o seu nome, apresentando-o no elenco dos Doze com uma qualificação bem clara: "o publicano". Desta forma ele é identificado com o homem sentado no banco dos impostos, que Jesus chama ao seu seguimento:  "Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe:  "Segue-me!". Ele levantou-se e seguiu-o".  Também Marcos e Lucas narram a chamada do homem sentado no posto de cobrança, mas chamam-no "Levi". Para imaginar o cenário descrito em Mt 9, 9 é suficiente recordar a magnífica tela de Caravaggio, conservada aqui em Roma na Igreja de São Luís dos Franceses. Dos Evangelhos sobressai um ulterior pormenor biográfico:  no trecho que precede imediatamente a narração da chamada é referido um milagre realizado por Jesus em e é mencionada a proximidade do Mar da Galileia, isto é do Lago de Tiberíades. Disto pode deduzir-se que Mateus desempenhasse a função de cobrador em Cafarnaum, situada precisamente "à beira-mar", onde Jesus era hóspede fixo na casa de Pedro.

Com base nestas simples constatações que resultam do Evangelho podemos fazer algumas reflexões. A primeira é que Jesus acolhe no grupo dos seus íntimos um homem que, segundo as concepções em vigor na Israel daquele tempo, era considerado um público pecador. De fato, Mateus não só administrava dinheiro considerado impuro devido à sua proveniência de pessoas estranhas ao povo de Deus, mas colaborava também com uma autoridade estrangeira odiosamente ávida, cujos tributos podiam ser determinados também de modo arbitrário. Por estes motivos, mais de uma vez os Evangelhos falam unitariamente de "publicanos e pecadores", de "publicanos e prostitutas". Além disso eles veem nos publicanos um exemplo de mesquinhez:  amam os que os amam) e mencionam um deles, Zaqueu, como "chefe dos publicanos e rico", enquanto a opinião popular os associava a "ladrões, injustos, adúlteros". É ressaltado um primeiro dado com base nestes elementos: Jesus não exclui ninguém da própria amizade. Ao contrário, precisamente porque se encontra à mesa em casa de Mateus-Levi, em resposta a quem falava de escândalo pelo facto de ele frequentar companhias pouco recomendáveis, pronuncia a importante declaração:  "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores".

O bom anúncio do Evangelho consiste precisamente nisto: na oferenda da graça de Deus ao pecador! Noutro texto, com a célebre parábola do fariseu e do publicano que foram ao Templo para rezar, Jesus indica inclusivamente um anônimo publicano como exemplo apreciável de confiança humilde na misericórdia divina:  enquanto o fariseu se vangloria da própria perfeição moral, "o cobrador de impostos... nem sequer ousava levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: "Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador". E Jesus comenta: "Digo-vos: Este voltou justificado para sua casa, e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado". 

Na figura de Mateus, portanto, os Evangelhos propõem-nos um verdadeiro e próprio paradoxo:  quem aparentemente está afastado da santidade pode até tornar-se um modelo de acolhimento da misericórdia de Deus e deixar entrever os seus maravilhosos efeitos na própria existência. Em relação a isto, São João Crisóstomo faz uma significativa anotação:  ele observa que só na narração de algumas chamadas se menciona o trabalho que as pessoas em questão desempenhavam. Pedro, André, Tiago e João são chamados quando estão a pescar, Mateus precisamente quando cobra os impostos. Trata-se de trabalhos de pouca importância — comenta Crisóstomo — "porque não há nada mais detestável do que um cobrador de impostos e nada de mais comum do que a pesca". A chamada de Jesus chega portanto também a pessoas de baixo nível social, enquanto desempenham o trabalho quotidiano.

Outra reflexão, que provém da narração evangélica, é que à chamada de Jesus, Mateus responde imediatamente: "ele levantou-se e seguiu-o". A condensação da frase ressalta claramente a prontidão de Mateus ao responder à chamada. Isto significava para ele o abandono de todas as coisas, sobretudo do que lhe garantia uma fonte de lucro seguro, mesmo se muitas vezes injusto e desonesto. Evidentemente Mateus compreendeu que a familiaridade com Jesus não lhe permitia perseverar em atividades desaprovadas por Deus. Intuiu-se facilmente a aplicação ao presente:  também hoje não é admissível o apego a coisas incompatíveis com o seguimento de Jesus, como é o caso das riquezas desonestas. Certa vez Ele disse sem meios-termos:  "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me". Foi precisamente isto que Mateus fez: levantou-se e seguiu-o! Neste "levantar-se" é legítimo ver o abandono de uma situação de pecado e ao mesmo tempo a adesão consciente a uma existência nova, reta, na comunhão com Jesus.

Por fim, recordamos que a tradição da Igreja antiga concorda na atribuição a Mateus da paternidade do primeiro Evangelho. Isto acontece já a partir de Papias, Bispo de Hierápoles na Frígia por volta do ano 130. Ele escreve: "Mateus reuniu as palavras (do Senhor) em língua hebraica, e cada um as interpretou como podia”.

O historiador Eusébio acrescenta esta notícia: "Mateus, que primeiro tinha pregado aos hebreus, quando decidiu ir também a outros povos escreveu na sua língua materna o Evangelho por ele anunciado; assim, procurou substituir com a escrita, junto daqueles dos quais se separava, aquilo que eles perdiam com a sua partida" (ibid., III, 24, 6). Já não temos o Evangelho escrito por Mateus em hebraico ou em aramaico, mas no Evangelho grego que ainda continuamos a ouvir, de certa forma, a voz persuasiva do publicano Mateus que, tendo-se tornado Apóstolo, continua a anunciar-nos a misericórdia salvadora de Deus e ouvimos esta mensagem de São Mateus, meditamo-la sempre de novo para aprender também nós a levantar-nos e a seguir Jesus com determinação."

Papa Bento XVI 30/08/2006


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Milagre da liquefação do sangue de São Januário

As datas da liquefação do sangue de São Januário são celebradas com grande pompa e esplendor.

As relíquias são expostas ao público, e se a liquefação não se verifica imediatamente, iniciam-se preces coletivas. Se o milagre tarda, os fiéis compenetram-se de que a demora se deve a seus pecados. Rezam então orações penitenciais, como o salmo “Miserere", composto pelo Santo Rei Davi.

Quando o milagre ocorre, o Clero entoa solene Te Deum, a multidão prorrompe em vivas, os sinos repicam e toda a cidade se rejubila.

Entretanto, sempre que nas datas costumeiras o sangue não se liquefaz, Isso significa o aviso de tristes acontecimentos vindouros, segundo uma antiga tradição nunca desmentida.

O sangue de São Januário está recolhido em duas ampolas de vidro, hermeticamente fechadas, protegido por duas lâminas de cristal transparente. A ampola maior possui 60 cm cúbicos de volume; a menor tem capacidade de 25 cm cúbicos. Em geral, o sangue endurecido ocupa até a metade da ampola maior; na menor, encontra-se disperso em fragmentos.

A liquefação do sangue produz-se espontaneamente, sob as mais variadas circunstâncias, independentemente da temperatura ou do movimento, o sangue passa do estado pastoso ao fluido e, até, fluidíssimo. A liquefação ocorre da periferia para o centro e vice-versa. Algumas vezes, o sangue liquefaz-se instantânea e inteiramente, ou, por vezes, permanece um denso coágulo em meio ao resto liquefeito. Alterar-se o colorido: desde o vermelho mais escuro até o rubro mais vivo. Não poucas vezes surgem bolhas e sangue fresco e espumante sobe rapidamente até o topo da ampola maior.

Trata-se verdadeiramente de sangue humano, comprovado por análises espectroscópicas.

Há algumas peculiaridades, que constituem outros milagres dentro do milagre liquefação, há uma variação do volume: algumas vezes diminui e outras vezes aumenta até o dobro. Varia também quanto à massa e quanto ao peso. Em janeiro de 1991, o prof. G. Sperindeo utilizando-se, com o máximo cuidado, de aparelhos de alta precisão, encontrou uma variação de cerca de 25 gramas. O peso aumentava enquanto o volume diminuía. Esse acréscimo de peso contraria frontalmente o princípio da conservação da massa (uma das leis fundamentais da Física) e é absolutamente inexplicável, pois as ampolas encontram-se hermeticamente fechadas, sem possibilidade de receber acréscimo de substâncias do exterior.

A notícia escrita mais antiga e segura do milagre consta de uma crônica do século XIV. Desde 1659, estão rigorosamente anotadas todas as liquefações, que já perfazem mais de dez mil!

A relíquia de São Januário tem protegido Nápoles eficazmente contra a peste e as erupções do Vesúvio, distante da cidade apenas duas léguas e meia. Por ocasião de uma erupção em 1707, que ameaçava destruir Nápoles, o povo levou as ampolas em solene procissão até o sopé do vulcão; imediatamente a erupção cessou!

Em 1944, o Vesúvio expeliu lavas, cinzas, pedras e uma poeira arenosa, que alcançou grande altura. Foi sua última erupção. O vento levou essa poeira através do Mediterrâneo, a qual chegou a atingir a Grécia, a Turquia, a Espanha e o Marrocos. Nápoles permaneceu imune.

Na  quinta-feira, 19 de agosto de 2013, ocorreu um mais uma vez um dos eventos mais interessantes da Igreja Católica: o milagre da liquefação do sangue de São Januário ou San Gennaro. O fenômeno acontece na Arquidiocese de Nápoles (Itália), na Basílica de Santa Chiara, sob a custódia do Cardeal Crescenzio Sepe.


São Januário (San Gennaro)

São Januário nasceu em Nápoles, no ano 270. Nada se sabe ao certo sobre os primeiros anos de sua vida. Em 302 foi ordenado sacerdote, e por sua piedade e virtude foi escolhido, pouco depois, para Bispo de Benevento. Sua caridade, infatigável zelo e solicitude pastoral desterraram de sua diocese a indigência, tendo ele socorrido a todos os necessitados e aflitos.

Quando em 304, o imperador romano Diocleciano desencadeou em todo o Império cruel perseguição contra o Cristianismo, obrigando os fiéis a oferecer sacrifícios às divindades pagãs, nosso santo teve muitas ocasiões de manifestar o valor de seu zelo, socorrendo os cristãos, não só nos limites de sua diocese, mas em todas as cidades circunvizinhas. Penetrava nos cárceres, estimulando seus irmãos na fé e perseverança final, alcançando também, naquela ocasião grande número de conversões. O êxito de seu apostolado não tardou a despertar atenção de Dracônio, governador da Campânia, que o mandou prender.

Diante do tribunal, São Januário foi reprovado pelo pró-consul Timóteo, que lhe apresentou a seguinte alternativa: "Ou ofereces incenso aos deuses, ou renuncias à vida".

— "Não posso imolar aos demônios, pois tenho a honra de sacrificar todos os dias ao verdadeiro Deus" - respondeu com firmeza o santo Prelado, referindo-se à celebração eucarística.

Irado, o pró-consul ordenou que o santo Bispo fosse lançado imediatamente numa fornalha ardente. Mas Deus quis renovar em favor de seu fiel servo o milagre dos três jovens israelitas, atirados também nas chamas, de que fala o Antigo Testamento. São Januário saiu desta prova do fogo ileso, para grande surpresa dos pagãos.

O tirano, atribuindo o prodígio a artes mágicas, ordenou que São Januário e mais seis outros cristãos fossem conduzidos a Puzzoles, onde seriam lançados às feras na arena.

No dia marcado para o suplicio, o povo lotou o anfiteatro da cidade. No centro da arena. São Januário encorajava os companheiros: "Ânimo, irmãos, este é o dia do nosso triunfo, combatamos com valor nosso sangue por Aquele Senhor, a quem devemos a vida".

Mal terminara de falar foram libertados leões, tigres e leopardos famintos, que correram em direção às vítimas. Mas, em lugar de despedaçá-las, prostraram-se diante do Bispo de Benevento e começaram a lamber-lhes os pés. Ouviu-se então um grande murmúrio no anfiteatro, que reconhecia não existir outro verdadeiro Deus senão o dos cristãos. Muitos pediram clemência. Mas o pró-consul, cego de ódio, mandou decapitar aqueles cristãos, sendo executada a ordem na praça Vulcânia, no dia 19 de setembro de 305.

Os corpos dos mártires foram conduzidos pelos fiéis às suas respectivas cidades. Segundo relataram as crônicas, uma piedosa mulher recolheu em duas ampolas o sangue que escorria do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benevento. 



Os restos mortais do Bispo mártir foram transladados para sua cidade natal — Nápoles — em 432. No ano 820 voltaram para Benevento. Em 1497 retornaram definitivamente para Nápoles, onde repousam até hoje, em majestosa Catedral gótica. Aí se realiza a liquefação do sangue, que se dá duas vezes por ano, no sábado que antecede o primeiro domingo de maio aniversário da primeira transladação, e a 19 de setembro, festa do martírio do santo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

São José de Cupertino - Padroeiro dos Estudantes no tempo das provas

O desejo de ser sacerdote era muito grande, mas infelizmente ele tinha grande dificuldade para aprender as lições.
Atravessou os anos de filosofia a duras penas. Nas horas de exame, ficava tão inseguro que, muitas vezes, era incapaz de responder. Mas a Providência não o desamparava. Quando seu mestre começava a impacientar-se, o nosso santo lhe dizia: "Tenha paciência, assim será mais meritório".

Em uma das provas mais importantes, o examinador lhe disse: "Vou abrir a esmo o Evangelho, e a primeira frase que me cair sob os olhos, essa terás de me explicar". Em seguida, abriu o livro santo na página da visita a Santa Isabel, e mandou Frei José dissertar sobre a frase: "Bendito é o fruto de teu ventre". Era justamente este o único ponto que ele sabia explanar.

Chegou, por fim, o dia do exame definitivo, no qual se decidiria quem seria ordenado. José recomendou-se à sua Santa Mãe, Nossa Senhora de Grottella. Apresentou-se o grupo de seminaristas diante do bispo, e este logo começou o exame oral. Os dez primeiros a serem interrogados saíram-se tão bem que o prelado, muito satisfeito com o nível de preparação daquele conjunto, dispensou da prova os demais. Frei José era o 11º da lista... Assim, com razão, Frei José de Cupertino viria a ser declarado padroeiro dos estudantes, especialmente daqueles que se encontram no período de exames.