No Canadá,
encontramos outra figura muito apostólica na Beata Maria Rosa Durocher, que nasceu numa família
numerosa e fértil em almas consagradas. Procurando a sua própria vocação na
Igreja e não podendo entrar, devido à sua falta de saúde, nas duas únicas
congregações femininas então existentes em Quebec, serve durante 13 anos no
presbitério do seu irmão — dir-se-ia hoje como "auxiliar do
sacerdote" —, preocupando-se não só com o arranjo da casa, mas em acolher
os sacerdotes e seminaristas doentes, em dirigir as obras de caridade da
paróquia e estimular a piedade mariana das jovens. É então, a pedido do Bispo
de Monreal, com o encorajamento dos Padres Oblatos de Maria Imaculada e
seguindo o exemplo dos Irmãos das Escolas cristãs, que ela funda uma nova
congregação para responder às necessidades da instrução e da educação religiosa das jovens,
de modo especial nos meios pobres das localidades vizinhas a Monreal: as Irmãs
dos Santos Nomes de Jesus e Maria. Durante os últimos seis anos da sua breve
existência, lançou suficientemente a sua obra que floresce hoje em seis países.
Que espírito
presidiu então a tal apostolado, tão bem conjugado com as necessidades da
Igreja no momento do "renascimento católico" no Canadá, no início do
século passado? Sobretudo a
disponibilidade total a seguir os compromissos que lhe pedia a
sua fé em Jesus, o seu amor pela Igreja, o cuidado dos mais desamparados. São,
por outro lado, os responsáveis da Igreja a descobrir as suas capacidades e a
confiar-lhe a sua missão: o apostolado autêntico, hoje como ontem, não é só questão
de carisma pessoal, mas de apelo da Igreja e de inserção na sua pastoral.
Marie-Rose Durocher agiu com simplicidade, com prudência, com humildade, com
serenidade. Não se deixou esmorecer com os seus problemas pessoais de saúde nem
com as primeiras dificuldades da obra nascente. O seu segredo residia na oração
e no esquecimento de si
mesma que alcançava, segundo o parecer do seu Bispo, uma
verdadeira santidade.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 23 de maio de 1982
Eulália Melânia
Durocher nasceu em Saint-Antoine-sur-Richelieu, pequena aldeia de Quebec
(Canadá), no dia 6 de outubro de 1811, de uma família muito religiosa. Era a
última de dez filhos, três dos quais se tornaram sacerdotes e duas religiosas.
Os pais, agricultores, também na juventude tinham pensado em consagrar-se a
Deus.
Eulália cresceu em
um ambiente sadio, tranquilo e profundamente católico. Aprendeu com a mãe a
rezar e a socorrer os pobres e doentes. O avô paterno a ensinou ler e escrever.
Na idade de 10 anos
foi mandada para o Colégio das Irmãs de Nossa Senhora em St. Denis, onde
permaneceu por dois anos e recebeu a Primeira Comunhão. Retornou para casa por
problemas de saúde, até que em 1827, amadurecendo a vocação religiosa, entrou
na comunidade de Montreal daquela Congregação. Nos três anos seguintes, teve
que voltar para casa várias vezes, sempre devido a saúde precária, e,
finalmente, renunciou ao seu desejo de tornar-se religiosa.
Com a idade de 19
anos, quando da morte de sua mãe, teve que assumir a responsabilidade do
governo da casa. Pouco depois, o seu irmão Teófilo, pároco de Beloeil, chamou-a
para tomar conta da residência paroquial, onde se alojavam padres e
seminaristas doentes. Transferiu-se então com o pai para junto do irmão
sacerdote.
Não lhe faltaram
sofrimentos da parte das empregadas mais antigas, que suportou com paciência,
sem se queixar. Além do trabalho da casa, ocupou-se em dirigir as obras de
caridade da paróquia e estimular a piedade mariana das jovens.
No ano seguinte,
algumas jovens começaram a ajudá-la e formaram a associação das Filhas de
Maria, a primeira do Canadá. Eulália foi eleita diretora da associação, mas o
seu desejo de consagrar-se toda a Deus permanecia forte e, em 1841, pronunciou,
nas mãos do confessor, os votos privados de pobreza, castidade e obediência.
O trabalho na
paróquia a fazia compreender quão necessária era a instrução dos pobres, que
naquele tempo estavam quase privados dela.
A situação
sócio-política do Canadá era complicada. No século anterior, depois da
guerra entre a França e a Inglaterra (1763), o país havia passado para o
controle inglês. Desde a sua fundação (1603), a “Nouvelle France” (a Nova
França) havia nascido graças à imigração do velho continente, regulada por
normas precisas. Os habitantes eram todos católicos franceses e a convivência
com os ingleses (protestantes) não era fácil.
Com a Revolução
Americana, os colonos que não queriam separar-se da Coroa Britânica se
refugiaram no Canadá. Eles se estabeleceram sobretudo no oeste, em Ontário,
deixando aos franceses os territórios do leste. A convivência entre as duas
comunidades, que implicava na escolha dos governos, a liberdade de imprensa e o
controle do comércio, era difícil. Houve revoltas contidas à força (1838),
porque os franceses, sendo a maioria, tinham menos direitos.
Nesse ambiente
complexo se insere a história da beata. Na sua cidadezinha, para instruir o
povo, se procurou fazer vir da França a Congregação dos Santos Nomes de Jesus e
Maria que, impossibilitada de abrir uma casa no ultramar, mandou suas próprias
constituições para que se inspirassem nelas.
O confessor de
Eulália, um Missionário Oblato de Maria Imaculada (fundado por Santo Eugênio de
Mazenod), aconselhou então a jovem a dar vida a uma nova família religiosa.
Eulália, contra
toda expectativa, junto com duas amigas, formou a primeira comunidade,
alojando-se em uma velha escola. Naquele mesmo ano, Santo Eugênio de Mazenod
enviou da França os seus missionários a Montreal, o que facilitava o
desenvolvimento de sua Congregação. A diocese católica era grande e havia muito
trabalho a fazer.
Nasceu assim, em
Longueuil, no dia 28 de outubro de 1843, as Irmãs dos Santos Nomes de Jesus e
Maria. Aprovada pelo Bispo Ignace Bourget em 29 de fevereiro do ano seguinte,
em 8 de dezembro de 1844, procedeu-se à profissão religiosa e Eulália adotou o
nome de Maria Rosa, sendo nomeada superiora e mestra de noviças.
Em 1845,
a Congregação teve sua personalidade jurídica reconhecida pelo Parlamento.
A direção dos Oblatos de Santo Eugênio foi fundamental na formação das
religiosas, bem como a ajuda dos irmãos de Madre Maria Rosa, em particular de
Teófilo. Mantiveram as constituições do Instituto de Marselha, adotando o
método de ensino dos Irmãos das Escolas Cristãs.
A Congregação
multiplicou o seu apostolado, algumas iniciativas eram a pagamento e assim se
pode financiar a atividade educativa para as famílias pobres.
Madre Maria Rosa
tinha finalmente cumprido sua missão terrena, lançando no seio da Santa Igreja
uma semente fecunda. Morreu com somente 38 anos, em 6 de outubro de 1849. Pouco
antes de expirar, sorridente, disse às Irmãs reunidas em torno de seu leito:
“As vossas orações me detêm aqui, deixem-me ir!”
A Congregação, que
em 1877 se tornou de direito pontifício, se dedica ainda hoje principalmente à
instrução e à catequese, seguindo a espiritualidade inaciana. Difundiu-se por
várias partes do mundo: além do Canadá e dos Estados Unidos, está presente no
Japão, Brasil, Peru, Camarões, Haiti, Nigéria.
Foi beatificada em
23 de maio de 1982.
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