"Santificar a Cristo como Senhor em
vossos corações" (1 Pd 3, 15). Estas palavras da Carta de São Pedro também
lançam luz sobre a intensa e frutuosa atividade apostólica que Januário Maria
Sarnelli, redentorista, deixado tanto nas pregações às pessoas quanto nos seus
numerosos escritos. A comunhão íntima e pessoal que teve com Cristo era a fonte
constante de seu zelo pastoral incansável.
Sua vida humana e religiosa, como a de Santo
Afonso Maria de Ligório de quem ele era um amigo e colaborador, foi expressa de
uma forma particular, em uma acentuada sensibilidade em relação aos pobres,
aproximou-os à luz da sua realidade como filhos de Deus.
Sua evangelização era caracterizada por
grande dinamismo: ele foi capaz de conciliar o compromisso missionário com o de
escritor e o ministério sacerdotal, não menos desafiador, conselheiro e guia
espiritual. Enquanto prosseguia nos padrões culturais da época, o novo Beato
nunca negligenciou a procurar formas renovadas de evangelização para enfrentar
os desafios emergentes. E por que, apesar de ter vivido em um período histórico
em muitos aspectos longe do nosso, Januário Maria Sarnelli pode ser encaminhado
para a comunidade cristã de hoje, no limiar do novo milênio, como apóstolo que se abriu para receber toda inovação útil
para um anúncio mais incisivo da mensagem perene de salvação.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 12 de maio de 1996
Januário Maria
Sarnelli, filho do Barão de Ciorani, nasceu em Nápoles no dia 12 de setembro de
1702.
Quando tinha 14 anos, acompanhou a
beatificação de Francisco Régis e decidiu tornar-se um jesuíta. Foi logo
desencorajado por seu pai, devido a sua pouca idade. Começou então os estudos
de jurisprudência e se doutorou em leis eclesiásticas e civis em 1722. Logo se
destacou na Associação dos Advogados e se inscreveu na Ordem dos Cavaleiros das
Profissões Médico-Legais, dirigida pelos Pios Operários em São Nicolau de
Toledo. Entre as normas desta associação, havia a obrigação de visitar os
doentes no Hospital dos Incuráveis. E foi neste ambiente que ele se sentiu
chamado ao sacerdócio.
Em setembro de 1728, tornou-se seminarista e
foi encardinado pelo Cardeal Pignatelli, como clérigo na paróquia de Santana di
Palazzo. No dia 4 de junho de 1729, com o objetivo de estudar em condições mais
favoráveis, tornou-se interno no Colégio da Sagrada Família, conhecido como o
Colégio Chinês, fundado por Mateus Ripa. No dia 8 de abril do ano seguinte,
deixou o colégio e no dia 5 começou o noviciado na Congregação das Missões
Apostólicas.
No dia 28 de maio de 1731, concluiu seu
noviciado e a 8 de julho do ano seguinte, foi ordenado sacerdote. Durante esses
anos, além de visitar o hospital, ele se empenhou em ensinar catecismo às
crianças que já eram obrigadas a trabalhar. Visitava também os velhinhos no
Asilo de São Januário e os condenados perpétuos e que se encontravam internados
por doenças. Nesses anos, ele desenvolveu uma amizade com Santo Afonso de
Ligório e entrou em contato com seu apostolado. Juntos eles se dedicaram a
ensinar catecismo aos leigos adultos, organizando reuniões à noite.
Após sua ordenação, foi designado pelo
Cardeal Pignatelli, Diretor de Instrução Religiosa na paróquia de São Francisco
e São Mateus, no Bairro Espanhol. Tornando-se consciente e preocupado com a
realidade gritante da corrupção de meninas, decidiu canalizar suas energias
contra a prostituição. Neste mesmo período (1733), ele corajosamente defendeu
seu amigo, Afonso de Ligório, contra críticas infundadas e injustas, após a
fundação da Congregação Missionária do Santíssimo Redentor, em Scala, no dia 9
de novembro de 1732.
Em junho de 1733, tendo ido a Scala para ajudar os
Redentoristas na missão de Ravello, decidiu tornar-se também Redentorista,
continuando ao mesmo tempo a ser membro das Missões Apostólicas. Após sua
entrada para a Congregação, em abril de 1736, ele se dedicou sem restrições às
missões paroquiais e a escrever. Escreveu principalmente em defesa das
"meninas em perigo". Também escreveu sobre a vida espiritual. Trabalhava
a tal ponto que chegou à beira da morte. Com o consentimento de Santo Afonso,
voltou a Nápoles para tratamento da saúde e lá retomou seu apostolado de
recuperação das prostitutas.
Fazendo um apostolado redentorista juntamente
com as Missões Apostólicas, ele incentivou a meditação em comum junto aos
leigos, ao publicar "O Mundo Santificado". Fez também campanhas
contra a blasfêmia, em outro livro que escreveu. Em 1741 participou com Santo
Afonso na grande missão pregada nos arredores de Nápoles, em preparação à visita
canônica do Cardeal Spinelli. Apesar da precariedade de sua saúde, continuou a
pregar até o fim de abril de 1744, quando sua saúde decaiu e ele muito doente
voltou a Nápoles, onde morreu no dia 30 de junho com a idade de apenas 42 anos.
Seu corpo jaz na igreja de Ciorani, a primeira igreja redentorista.
Januário Maria Sarnelli nos deixou 30
escritos, entre meditações, teologia mística, direção espiritual, leis,
pedagogia, temas morais e pastorais. Devido a seus trabalhos sociais em defesa
da mulher, é considerado um dos mais importantes autores que tratou deste
assunto na Europa, na primeira metade do século dezoito.