quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Santo André

“Falamos hoje do irmão de Simão Pedro, Santo André, também ele um dos Doze. A primeira característica que em André chama a atenção é o nome: não é hebraico, como teríamos pensado, mas grego, sinal de que não deve ser minimizada uma certa abertura cultural da sua família.
Estamos na Galileia, onde a língua e a cultura gregas estão bastante presentes.

Nas listas dos Doze, André ocupa o segundo lugar, como em Mateus (10, 1-4) e em Lucas (6, 13-16), ou o quarto lugar como em Marcos (3, 13-18) e nos Atos (1, 13-14). Contudo, ele gozava certamente de grande prestígio nas primeiras comunidades cristãs.

O laço de sangue entre Pedro e André, assim como a comum chamada que Jesus lhes faz, sobressaem explicitamente nos Evangelhos. Neles lê-se: "Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu os dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens""(Mt 4, 18-19; Mc 1, 16-17).

Do Quarto Evangelho tiramos outro pormenor: num primeiro momento, André era discípulo de João Batista; e isto mostra-nos que era um homem que procurava, que partilhava a esperança de Israel, que queria conhecer mais de perto a palavra do Senhor, a realidade do Senhor presente. Era verdadeiramente um homem de fé e de esperança; e certa vez, de João Batista ouviu proclamar Jesus como "o cordeiro de Deus" (Jo 1, 36); então ele voltou-se e, juntamente com outro discípulo que não é nomeado, seguiu Jesus, Aquele que era chamado por João o "Cordeiro de Deus". O evangelista narra: eles "viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia" (Jo 1, 37-39). Portanto, André viveu momentos preciosos de familiaridade com Jesus.

A narração continua com uma anotação significativa: "André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: "Encontramos o Messias" que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus" (Jo 1, 40-43), demonstrando imediatamente um espírito apostólico não comum. Portanto, André foi o primeiro dos Apóstolos a ser chamado para seguir Jesus.
Precisamente sobre esta base a liturgia da Igreja Bizantina o honra com o apelativo de Protóklitos, que significa exatamente "primeiro chamado".

E não há dúvida de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. Para realçar este relacionamento, o meu Predecessor, o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu as insignes relíquias de Santo André, até então conservadas na Basílica Vaticana, ao Bispo metropolita Ortodoxo da cidade de Patrasso na Grécia, onde segundo a tradição o Apóstolo foi crucificado.

As tradições evangélicas recordam particularmente o nome de André noutras três ocasiões, que nos fazem conhecer um pouco mais este homem:
A primeira é a da multiplicação dos pães na Galileia. Naquele momento foi André quem assinalou a Jesus a presença de um jovem que tinha cinco pães de cevada e dois peixes: era muito pouco observou ele para todas as pessoas reunidas naquele lugar (cf. Jo 6, 8-9). Merece ser realçado, neste caso, o realismo de André: ele viu o jovem portanto já se tinha perguntado: "mas o que é isto para tantas pessoas?"  mas apercebeu-se da insuficiência dos seus poucos recursos. Contudo, Jesus soube fazê-los bastar para a multidão de pessoas que vieram ouvi-lo.

A segunda ocasião foi em Jerusalém. Saindo da cidade, um discípulo fez notar a Jesus o espetáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava. A resposta do Mestre foi surpreendente: disse que não teria ficado em pé nem sequer uma pedra daqueles muros. Então André, juntamente com Pedro, Tiago e João, interrogou-o: "Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar" (Mc 13, 1-4).
Para responder a esta pergunta Jesus pronunciou um importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e sobre o fim do mundo, convidando os seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes. Podemos deduzir deste episódio que não devemos ter receio de fazer perguntas a Jesus, mas ao mesmo tempo devemos estar prontos para receber os ensinamentos, até surpreendentes e difíceis, que Ele nos oferece.

Por fim, nos Evangelhos está registrada uma terceira iniciativa de André. O Cenário ainda é Jerusalém, pouco antes da Paixão. Para a festa da Páscoa narra João tinham vindo à cidade santa alguns Gregos, provavelmente prosélitos ou tementes a Deus, que vinham para adorar o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, servem como intérpretes e mediadores deste pequeno grupo de Gregos junto de Jesus. A resposta do Senhor à sua pergunta parece como muitas vezes no Evangelho de João enigmática, mas precisamente por isso revela-se rica de significado. Jesus diz aos dois discípulos e, através deles, ao mundo grego: "Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (12, 23-24).

O que significam estas palavras neste contexto? Jesus quer dizer: sim, o encontro entre mim e os Gregos terá lugar, mas não como simples e breve diálogo entre mim e algumas pessoas, estimuladas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável à queda na terra de um grão de trigo, chagará a hora da minha glorificação. A minha morte na cruz originará grande fecundidade: o "grão de trigo morto" símbolo de mim crucificado tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será luz para os povos e para as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego, realizar-se-á naquela profundidade à qual faz alusão a vicissitude do grão de trigo que atrai para si as forças da terra e do céu e se torna pão. Por outras palavras, Jesus profetiza a Igreja dos gregos, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo como fruto da sua Páscoa.

Tradições muito antigas vêem em André, o qual transmitiu aos gregos esta palavra, não só o intérprete de alguns Gregos no encontro com Jesus agora recordado, mas consideram-no como apóstolo dos Gregos nos anos que sucederam ao Pentecostes; fazem-nos saber que no restante da sua vida ele foi anunciador e intérprete de Jesus para o mundo grego. Pedro, seu irmão, de Jerusalém, passando por Antioquia, chegou a Roma para aí exercer a sua missão universal; André, ao contrário, foi o apóstolo do mundo grego: assim, eles são vistos, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos uma irmandade que se exprime simbolicamente no relacionamento especial das Sedes de Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.

Uma tradição sucessiva, como foi mencionado, narra a morte de André em Patrasso, onde também ele sofreu o suplício da crucifixão. Mas, naquele momento supremo, de modo análogo ao do irmão Pedro, ele pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus. No seu caso tratou-se de uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente inclinada, que por isso foi chamada "cruz de Santo André".

Eis o que o Apóstolo dissera naquela ocasião, segundo uma antiga narração (início do século VI) intitulada Paixão de André: 

"Salve, ó Cruz, inaugurada por meio do corpo de Cristo e que se tornou adorno dos seus membros, como se fossem pérolas preciosas. Antes que o Senhor fosse elevado sobre ti, tu incutias um temor terreno.
Agora, ao contrário, dotada de um amor celeste, és recebida como um dom. Os crentes sabem, a teu respeito, quanta alegria possuis, quantos dons tens preparados. Portanto, certo e cheio de alegria venho a ti, para que também tu me recebas exultante como discípulo daquele que em ti foi suspenso... Ó Cruz bem-aventurada, que recebestes a majestade e a beleza dos membros do Senhor!... Toma-me e leva-me para longe dos homens e entrega-me ao meu Mestre, para que por teu intermédio me receba quem por ti me redimiu. Salve, ó Cruz; sim, salve verdadeiramente!".

Como se vê, há aqui uma profundíssima espiritualidade cristã, que vê na Cruz não tanto um instrumento de tortura como, ao contrário, o meio incomparável de uma plena assimilação ao Redentor, ao grão de trigo que caiu na terra. Nós devemos aprender disto uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem valor se forem consideradas e aceites como parte da cruz de Cristo, se forem alcançadas pelo reflexo da sua luz. Só daquela Cruz também os nossos sofrimentos são nobilitados e adquirem o seu verdadeiro sentido.

Portanto, o apóstolo André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4, 20; Mc 1, 18), a falar com entusiasmo d'Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n'Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte.”

Papa Bento XVI 14/06/2006


terça-feira, 29 de novembro de 2016

Beata Maria Madalena da Encarnação

A nova beata, Maria Madalena da Encarnação, acreditou firmemente nas palavras de Jesus, e seguiu plenamente seu mandato e se deixou inundar no esplêndido projeto de salvação que o Senhor Jesus inaugurou na história. A sua grande missão, recebida pelo mesmo Senhor, foi a de propor-se a si mesma, ao Instituto das Irmãs da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento baseado por ela, à Igreja inteira, a experiência de uma adoração que fosse 'perpétua': como Jesus permanece no sacramento logo depois de terminar o momento celebrativo, assim também é necessário que fiquemos com Ele.

Cardeal José Saraiva Martin – Homilia de Beatificação - 3 de maio de 2008

A Beata Maria Madalena da Encarnação nasceu em Porto Santo Stefano (Itália) no dia 16 de abril de 1770, no seio de uma família fervorosamente católica. Foi batizada no dia seguinte com os nomes de Catarina Maria Francisca Antônia.
Cresceu em um ambiente impregnado de religiosidade exemplar. Seu pai, Lourenço Sordini, promoveu que se expusesse o Santíssimo Sacramento na igreja paroquial, para a veneração pública, em circunstâncias especiais, com espírito de amor e reparação, como, por exemplo, no carnaval. Assim, desde sua adolescência, Catarina passava horas em adoração junto a Jesus Sacramentado.

Aos 17 anos recebeu uma proposta de casamento da parte de Afonso, jovem de boa posição, que lhe presenteou joias preciosas. Adornada com elas, ao olhar-se no espelho o rosto doloroso de Jesus Crucificado lhe apareceu e a convidava a entregar-se totalmente a ele e lhe dizia: "Catarina, me abandonas por um amor humano?"

Em fevereiro de 1788 ingressou no mosteiro das Terciárias Franciscanas de Ischia de Castro. Ao vestir o hábito religioso tomou o nome de Irmã Maria Madalena da Encarnação.
Em 19 de fevereiro de 1789, terça-feira de carnaval, no refeitório viu "Jesus como em um trono de graça no Santíssimo Sacramento, rodeado de virgens que O adoravam" e ouviu uma voz que lhe dizia: "Te elegi para instituir a obra das Adoradoras Perpétuas, que dia e noite me oferecerão sua humilde adoração para reparar as ofensas e as ingratidões da humanidade e impetrar graças e ajudas de minha divina misericórdia".
Aquele dia se converteu para ela no "dia da luz".

No dia 20 de abril de 1802 foi eleita abadessa, cargo que ocupou até 1807, quando, seguindo a vontade de Deus que desejava um novo instituto, e redigidas as Constituições, se mudou para Roma com algumas Irmãs e a bênção de Pio VII, para fundar o primeiro mosteiro das Adoradoras Perpétuas do Santíssimo Sacramento, no convento de São Joaquim e Santa Ana, em Quattro Fontane. A fundação teve lugar no dia 8 de julho de 1807. Por iniciativa sua a igreja foi aberta para a adoração dos fieis leigos.

Graças a sua união com Deus cada vez mais íntima, a seu grande espírito de fé e a sua intensa oração em tempos muito difíceis devido a invasão dos franceses depois da Revolução Francesa, conseguiu realizar muitas obras em beneficio do mosteiro e também de muitas pessoas que recorriam a ela.

A Madre Maria Madalena profetizou ao Papa Pio VII a sua deportação para a França: "Mas não tenha medo; ninguém lhe poderá prejudicar e voltará glorioso a Roma". A cruz também chegou para as Adoradoras sob a forma da supressão do instituto e ela foi exilada em Florença.
Com a queda do regime napoleônico, no ano 1814, a Madre voltou para Roma com algumas jovens florentinas e em 18 de setembro de 1817 vestiu o novo hábito religioso, que havia visto no "dia da luz": túnica branca e escapulário vermelho, símbolos do candor virginal e do amor a Jesus Crucificado e Eucarístico.

Em 10 de março de 1818 a Santa Sé reconheceu oficialmente a Congregação, que a Madre Maria Madalena colocou sob o patrocínio da Virgem das Dores.

A Beata faleceu em 29 de novembro de 1824, em Roma. Foi sepultada em Santa Ana no Quirinal, com a permissão do papa, que então residia no Palácio do Quirinal, mas em 1839 seus despojos foram transladados para a Igreja de Santa Maria Madalena em Monte Cavallo, nova sede de Roma das Adoradoras Perpétuas.

Foi beatificada no dia 3 de maio de 2008 na Basílica de São João de Latrão, Roma.
O Instituto conta hoje com mais de noventa mosteiros espalhados por todo o mundo. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Nossa Senhora das Dores de Kibeho

Nossa Senhora das Dores apareceu a três jovens, Afonsina Mumureke, Natália Mukamazimpaka e Maria Clara Mukangango entre 1981 e 1982, em Kibeho, Ruanda, centro da África. Foi a primeira aparição da Virgem Maria no continente africano reconhecida por autoridades da Igreja Católica.

No final de 1981, Kibeho era apenas uma das pequenas aldeias pertencentes à diocese de Gikongoro. Nela havia um colégio fundado e dirigido por três Irmãs católicas, onde jovens ruandesas estudavam para serem secretárias ou professoras primárias. Como não se tratava de colégio para formação de religiosas, alí não se vivia um clima particular de devoção, pois sequer possuía uma capela. Podemos entender aí o fundamento das aparições de Maria.
No almoço do dia 28 de novembro deste ano, Afonsina, de dezesseis anos, estava servindo suas colegas no refeitório quando ouviu nitidamente uma voz que a chamava: “Minha filha, venha até aqui”. A voz procedia do corredor, no fundo da sala de refeições. Afonsina foi até lá e viu, pela primeira vez, a Senhora.
Assustada, Afonsina, pediu à desconhecida que fosse embora. A Santíssima Virgem então se apresentou no dialeto ruandês: “Ndi Nyina Wa Jambo”, isto é “Eu sou a Mãe do Verbo”. A estudante contou todo o ocorrido às religiosas e às colegas, mas ninguém lhe deu crédito. Como as aparições continuaram, Afonsina acabou passando por histérica. Sofrendo com essa situação, numa das visões ela pediu à Mãe que aparecesse ao menos às suas amigas, Natália e Maria Clara.
Assim no dia 12 de janeiro de 1982, a Virgem apareceu para Natália que tinha dezessete anos. Depois para a Maria Clara, esta com vinte e um anos e a mais descrente. Só então as mensagens foram aceitas. Elas pediam a verdadeira conversão dos cristãos, através de muita oração, penitência e jejum.
Mas foi a descrição da última aparição, em 15 de agosto de 1982, que possibilitou verificar sua autenticidade, pois depois se confirmou como terrível realidade. Nesta, Maria apareceu para as três videntes juntas e lhes mostrou cenas impressionantes que enchiam de dor seu imaculado coração. Era um verdadeiro mar de sangue, pessoas que se matavam entre si, cadáveres abandonados sem sepultura… As imagens eram a antecipação da guerra civil deflagrada entre abril e julho de 1994, quando Ruanda viveu seu próprio genocídio.
Depois de vários anos de estudos, por parte da comissão médica e teológica, no final de junho de 2001, as aparições foram reconhecidas oficialmente pela autoridade eclesiástica local. No dia 31 de maio de 2003, às dez horas da manhã, estava o Prefeito da Congregação para a evangelização dos povos, enviado do Papa, formalizando a consagração do Santuário à Nossa Senhora das Dores de Kibeho, através da missa solene realizada com a presença de todos os Bispos ruandeses, quando diante de todos os fiéis se repetiu o fenômeno da dança do sol, como em Fátima, no dia 13 de outubro de 1913. Ele durou oito minutos e foi filmado e fotografado por repórteres profissionais e amadores.

Informado e depois de ver todos os documentos, o Papa João Paulo II declarou: “Nossa Senhora das Dores de Kibeho é a Fátima do coração da África”.

domingo, 27 de novembro de 2016

A Coroa do Advento

Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal. No final do século IV na Gália (atual França) e na Espanha, tinha caráter ascético com jejum, abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de São Martinho). Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos catecúmenos para o batismo na festa da Epifania.

Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos. Só mais tarde é que o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das 4 semanas. A Igreja entendeu que não podia celebrar a liturgia, sem levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.

A Coroa do Advento tem a sua origem em uma tradição pagã europeia, que consistia em prender velas durante o inverso para representar o fogo do deus sol e pedir-lhe que voltasse com sua luz e calor.
Os primeiros missionários aproveitaram esta tradição para evangelizar as pessoas e lhes ensinaram que deviam aproveitar esta Coroa do Advento como meio para esperar Cristo, celebrar seu nascimento e lhe pedir que infunda sua luz em suas almas.

Ela tem a forma circular, pois o círculo é uma figura geométrica que não tem princípio nem fim. A Coroa do Advento recorda que Deus também não tem princípio nem fim, por isso reflete sua unidade e eternidade. É sinal do amor que se deve ter pelo Senhor e pelo próximo, o qual deve se renovar constantemente e nunca acabar.

 Os ramos são verdes, pois verde é a cor da esperança e da vida. Os ramos significam que Cristo está vivo entre nós. A cor verde também recorda a vida de graça, o crescimento espiritual e a esperança que devemos cultivar durante o Advento. O desejo mais importante deve ser querer chegar a uma união mais forte com Deus, nosso Pai, assim como a árvore e seus ramos.

Colocamos quatro velas que representam cada domingo do advento. As velas permitem refletir sobre a escuridão provocada pelo pecado, o qual deixa o homem cego e o afasta de Deus. Depois da primeira queda do homem, Deus foi dando pouco a pouco uma esperança de salvação que iluminou todo o universo, como as velas da Coroa.

Neste sentido, assim como as trevas se dissipam com cada vela que acendemos, os séculos foram se iluminando cada vez mais com a proximidade da chegada de Cristo ao mundo.

As quatro velas colocadas na Coroa de Advento são acesas semana a semana, nos quatro domingos do Advento e com uma oração especial.
  
As cores das velas variam muito, podem ser três da cor roxa e uma rosa, todas brancas ou todas vermelhas.
No Brasil temos uma bonita tradição de coloca-las de várias cores: começa da Roxa (1º Domingo), Verde (2º Domingo), Rósea (3º Domingo) e Branca (4º Domingo). Gradativamente vão sendo clareados os tons, como que expressando a alegria cada vez mais próxima do nascimento do Salvador, a Luz eterna.

Existem diferentes tradições sobre os significados das velas. Uma bastante difundida:

A primeira vela é do profeta;
A segunda vela é de Belém;
A terceira vela é dos pastores;
A quarta vela é dos anjos.

Outra tradição vê nas quatro velas as grandes fases da História da Salvação até a chegada de Cristo. Assim:

A primeira é a vela do perdão concedido a Adão e Eva, que de mortais se tornarão seres viventes em Deus;
A segunda é a vela da fé dos patriarcas que creem na promessa da Terra Prometida;
A terceira é a vela da alegria de Davi pela sua descendência;
A quarta é a vela do ensinamento dos profetas que anunciam a justiça e a paz.





Nossa Senhora das Graças (Medalha Milagrosa)

Ó Maria concebida sem pecado,
rogai por nós que recorremos a vós.

Esta é a oração que vós inspirastes, ó Maria, a Santa Catarina Labouré, neste mesmo lugar há 150 anos; e esta invocação, agora impressa na medalha, e atualmente levada e pronunciada por tantos fiéis no mundo inteiro!

Neste dia em que a Igreja celebra a visita que vos fizestes a Isabel quando o Filho de Deus já tomara carne no vosso seio a nossa primeira oração será para vos louvar e vos bendizer. 

Vós sois bendita entre todas as mulheres! Bem-aventurada vós que acreditastes! O Poderoso fez por vós maravilhas! A maravilha da vossa maternidade divina! E em previsão dela, a maravilha da vossa Imaculada Conceição! A maravilha do vosso Fiat! Vós fostes associada tão intimamente a toda a obra da nossa Redenção, associada à cruz do nosso Salvador, o vosso Coração foi por isso trespassado, ao lado do Seu Coração. E agora, na glória do vosso Filho, vós não cessais de interceder por nós, pobres pecadores. Vós velais pela Igreja de que sois Mãe. Vós velais por cada um dos vossos filhos. Vós obtendes de Deus, para nós, todas estas graças, simbolizadas pelos raios de luz que irradiam das vossas mãos abertas. Apenas sob a condição de que nos atrevamos a pedir-vo-las, que nos aproximemos de vós com a confiança, a ousadia e a simplicidade duma criança assim que vós nos levais sem cessar a caminho do vosso divino Filho.

Neste lugar abençoado, gosto de vos repetir eu próprio, hoje, a confiança, o apego profundíssimo de que vós me fizestes sempre a graça. "Totus tuus". Venho como peregrino, depois de todos os que vieram a esta capela a partir de há 150 anos; como todo o povo cristão que em grande número está aqui todos os dias para vos dizer a sua alegria, a sua confiança e a sua súplica. Venho como o Beato Maximiliano Kolbe: antes da sua viagem missionária ao Japão; precisamente há 50 anos, veio ele aqui procurar o vosso apoio particular para propagar aquilo a que chamou depois "A Milícia da Imaculada" e veio lançar a sua obra prodigiosa de renovação espiritual, sob o vosso patrocino, antes de dar a vida pelos seus irmãos. Cristo pede hoje a sua Igreja uma grande obra de renovação espiritual. E eu, humilde sucessor de Pedro, é esta grande obra que venho confiar-vos; como o fiz em Jasna Gora, em Nossa Senhora de Guadalupe em Knock, em Pompéia, em Éfeso, e como o farei no próximo ano em Lourdes.

Consagramo-vos as nossas forças e a nossa disponibilidade para servirmos o desígnio de salvação operada pelo vossa Filho. Pedimo-vos que, graças ao Espírito Santo, a fé se aprofunde e robusteça em todo o povo cristão, para a comunhão vencer todos os germes de divisão e para a esperança ser revigorada em todos os desanimados. Pedimo-vos especialmente por este povo da França, pela Igreja que está na França, pelos seus Pastores, pelas almas consagradas, pelos pais e mães de família, pelas crianças e pelos jovens, pelos homens e pelas mulheres da terceira idade. Pedimo-vos por aqueles que sofrem duma miséria particular, física ou moral, que sentem a tentação de infidelidade, que estão abalados pela dúvida num clima de incredulidade, e pedimo-vos também pelos que sofrem perseguição por causa da fé. Nós confiamo-vos o apostolado dos leigos, o ministério dos Sacerdotes e o testemunho das Religiosas. Nós vos pedimos que o apelo da vocação sacerdotal e religiosa seja muitas vezes ouvido e seguido, para glória de Deus e vitalidade da Igreja neste país, e pela dos países que esperam ainda uma ajuda fraternal missionária.

Recomendamo-vos especialmente a multidão das Irmãs da Caridade, cuja Casa-Mãe está neste lugar estabelecida, as quais, no espírito do fundador São Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac, estão tão prontas para servir a Igreja e os pobres em todos os meios em todos os países. Nós vos pedimos por aquelas que habitam esta Casa e acolhem, no coração desta capital febril, todos os peregrinos que sabem qual o preço do silêncio e da oração.

Ave, Maria,
cheia de graça,
a Senhor é convosco,
bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores,
agora e na hora da nossa morte.
Amem.

João Paulo II
Prece na Capela da Medalha Milagrosa
31 de maio de 1980

Primeiro Domingo do Advento

Chegou o Advento! A Igreja começa um novo ano litúrgico. Vivendo esse período com autêntico espírito evangélico, o cristão pode, certamente, experimentar os frutos desta escola de santidade, abrindo as portas de sua casa para "a luz dos povos" que é Cristo.

O Advento, assim como a Quaresma, também insiste na necessidade da penitência e da oração como vias de purificação da alma. Mas de uma maneira diferente. Enquanto que na Quaresma a Igreja tem como prática principal, por assim dizer, o jejum, no Advento, os fiéis são incentivados a fazer vigílias, preparando seus corações para a chegada da criança. Animada pelas palavras do Anjo aos três reis magos - "eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor" (Cf. Lc 2, 11) -, toda a Igreja põe-se de guarda à espera d’Aquele que "dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo".

O Evangelho deste domingo fala em "vigília" e "atenção", "porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá" (Cf. Mt 24, 44). Com estas palavras, a liturgia quer suscitar entre os cristãos a consciência de que o retorno do "Filho do Homem" a este tempo e a esta história deve ser não somente esperado, como também preparado, pois como "nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam (...), até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem" (Cf. Mt 24, 38).
A palavra de Cristo no Evangelho deste domingo nos fala justamente disso: o homem é chamado a vigiar para não cair no erro diabólico de que a felicidade se encontra fora do amor de Deus. Uma vez que foste criado para Deus, diz Santo Agostinho, o coração do homem "está inquieto enquanto não encontrar em Ti descanso". Mas para manter essa fé, o homem deve, necessariamente, lutar, combater o bom combate. E esse combate se dá por meio das normas de piedade: a frequência aos sacramentos, a recitação do rosário e demais jaculatórias, a doação de esmolas e outros atos de caridade e etc. Mas por que essas coisas são necessárias?

São Paulo nos fala na sua carta aos Romanos: "despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz" (Cf. Rm 13, 12). O apóstolo está exortando a comunidade, a fim de conduzi-la à atitude do sentinela. Sabendo que "agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé", diz ao rebanho que "já é hora de despertar". É um convite a uma fé mais madura.

Não obstante, esta fé mais madura só é possível se auxiliada pela graça de Deus. Os cristãos devem fugir da tentação de querer alcançar o céu pelos próprios esforços. Como tanto tem insistido o Papa Francisco, cada batizado deve se entregar nos braços de Deus, revestindo-se - como pede São Paulo na segunda leitura - "do Senhor Jesus Cristo". Este é o único e verdadeiro caminho para a glória e a felicidade eternas.

O cristão nasceu para o combate; e o primeiro combate a ser travado é aquele contra as próprias inclinações, orando e vigiando. Ficai vigilantes, porque o Senhor está próximo.

sábado, 26 de novembro de 2016

Beata Gaetana Sterni

 
Também a beata Gaetana Sterni, tendo compreendido que a vontade de Deus é sempre o amor, dedicou-se com incansável caridade aos excluídos e aos que sofrem. Tratou sempre estes seus irmãos com a doçura e o amor de quem, nos pobres, serve o próprio Senhor.

Exortava as suas Filhas espirituais a seguir o mesmo ideal, as Irmãs da Vontade Divina, convidando-as, como escrevia nas Regras, "a estarem dispostas e a sentirem alegria por viverem privações, canseiras e qualquer sacrifício para benefício do próximo necessitado em tudo o que o Senhor pudesse querer delas".
O testemunho de caridade evangélica oferecido pela Beata Sterni convida cada crente a procurar a vontade de Deus, no abandono confiante a Ele e no generoso serviço aos irmãos.

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 04 de novembro de 2001

Gaetana Sterni viveu toda a sua vida em Bassano del Grappa, (Itália). Ele chegou com sua família, com cerca de 8 anos vindos de Cassola, onde ela nasceu 26 de junho de 1827. Seu pai Giovanni Battista Sterni, administrava as propriedades rurais da família Mora e vivia confortavelmente com sua esposa e seus seis filhos. Em 1835 ele se mudou com sua família para Bassano.

No entanto, uma série de acontecimentos muda drasticamente as condições da família de Gaetana. Na verdade, morre aos 18 anos, Margaret, sua irmã mais velha e, depois de uma doença mais dolorosa, seu pai morreu, enquanto seu irmão Francesco, que quer ser ator, sai de casa e deixa a família em situação econômica crítica. Estes eventos marcam a existência de Gaetana, fazendo que ela amadureça rapidamente e tendo que partilhar com a mãe os muitos problemas da vida cotidiana.

Sua educação na fé é sólida e apoiada pelo testemunho e os ensinamentos da mãe, pela oração e sacramentos. Como uma aparência graciosa e rara beleza, cheia de charme, atrai um jovem empresário, um viúvo com três filhos que pediu para casar com ela.
Após avaliar seus sentimentos e a responsabilidade que assumiria, superando a oposição do tutor, Gaetana aceitou a proposta de casamento de Liberale Conte. A jovem noiva que ainda não tinha 16 anos de idade preenche a nova casa com a sua vitalidade; restaura a paz e alegria para o marido e três filhos que a amam como mãe. Gaetana sabe quando engravida que a felicidade do casal está completa.

Enquanto orava uma premonição sobre a morte iminente de seu marido perturba Gaetana, que se sente "morrer de um coração partido" com a ideia de perder a pessoa que lhe é "a mais preciosa da vida", mas em seu coração sentiu como uma força que ajuda não se desesperar e confiar em Deus de todo o coração.

A premonição infelizmente se torna realidade e Liberale Conte, na flor da juventude e saúde, depois de uma curta doença, morreu. A jovem esposa vive horas de terrível angústia pela perda de seu marido, que amou mais do que a si mesma, para a dor das crianças órfãs e outra vez para seu filho que nunca conhecerá seu pai. E 'sobrecarregada com tristeza, mas quando ela cai em si mesma recorda a premonição que teve e o que ela tinha experimentado.
Mais uma vez ele confia no Senhor, colocando Nele, com confiança, toda a sua vida. Encontra Nele a força para viver, para cuidar das três crianças e levar ao fim a gravidez. Mas, o filho de Gaetana morre poucos dias após o nascimento. Começando anos de uma viuvez amarga.

A família do marido de fato não aceita o carinho que une os órfãos a Gaetana, nascendo assim, mal-entendidos, suspeitas e calúnias. Ela é separada dos filhos e afastada de sua casa. Aos dezenove anos volta para a casa de sua mãe. Apesar do sofrimento, esquecendo-se de si mesma, ajuda as crianças a aceitar o duro afastamento. Afável, mas firme, ela defende os direitos das crianças, perdoa generosamente e obtém com serenidade a plena reconciliação das duas famílias.

O sofrimento não a destrói, sua sensibilidade natural torna presente sua capacidade de misericórdia e solidariedade.
Ela nunca pensou em ser uma religiosa e, olhando para o futuro, ora para que o Senhor lhe dê a conhecer qual é o cônjuge que Deus pretendia na sua vida. E em oração percebe claramente que Deus quer ser "o único Esposo de sua vida."

Gaetana fica perturbada. Ela confrontou-se com o seu confessor, que confirma que é um verdadeiro chamado de Deus. Em seguida, ela pede para entrar no convento das Canossianas de Bassano, e é aceita como postulante. Ela vive na comunidade cinco meses feliz, mas ainda em oração tem outra premonição que a preparou para a morte de sua mãe, em seguida. Deve, portanto, deixar o convento e assumir a responsabilidade pelos irmãos mais novos. Durante anos, ela lida com as dificuldades, doença na família, dor e sofrimento. Apesar da impossibilidade de viver uma vida de recolhimento espiritual, tenta se entregar cada vez mais a Deus. Ela confronta seu confessor e ora diligentemente para conhecer a vontade de Deus para ela. Com humilde disponibilidade e cada vez mais atenta ao que Ele pede nas profundezas do coração, mas também através de eventos e nas necessidades dos pobres de sua cidade.

Como pressentimento da morte da mãe, Gaetana também sentiu que Deus estava preparando-lhe um abrigo "para doar a si mesma ao serviço dos pobres e, assim, cumprir a sua vontade." Esta vocação ressoa em seu coração por um longo tempo antes que ela encontre a coragem de falar com o seu confessor, porque lhe parecia estranho e terrível. Quando ela finalmente fala, ele não parece dar muito peso à ideia de Gaetana.  Mas cada vez que ela vê um pobre "internado num hospício" ouve em seu íntimo o convite "Eu quero que você acolha meu pobre" e ideia do Abrigo sempre a persegue.

Ela tem 26 anos quando finalmente livre das obrigações da família pode cuidar de si. Concluindo um discernimento sério e partilhado, com o Padre Bedin que confirma sua vocação, dizendo "Sim, Gaetana, o Senhor quer você nos hospícios". Em 1853, "apenas para fazer a vontade de Deus", Gaetana entra neste hospício de mendicância que acolhe em condições miseráveis ​​115 doentes, para a maioria dos pacientes, parte do transtorno é o vício que causa desordens e abusos de quase todos os tipos.

Ela permaneceu lá por 36 anos até sua morte comprometida neste ministério, dando tudo de si mesma, com a caridade incansável. Vigílias no leito de morte, nos serviços mais humildes aos doentes e idosos, é toda abnegação, suavidade e doçura para aqueles que nada possuem, nos pobres serve ao Senhor. É cheia de grande confiança em Deus e desejo de agradá-lo em tudo.

Aos 33 anos, com o consentimento de seu confessor Don Simonetti faz a doação total de si mesma a Deus, "disposta a aceitar o que o Senhor pode ter para ela."
Com confiança ilimitada se entrega nas mãos de Deus, "instrumento fraco que ele usa para seus projetos." Ela atribui apenas à Providência, o nascimento da nova congregação, que teve lugar na simplicidade e no escondimento com a profissão das primeiras duas companheiras em 1865.

O nome "Irmãs da Vontade Divina" interiormente sugerido a Gaetana, para ela e para as jovens que a seguem, indicando o que deve caracteriza-las  "uniformidade em toda a Vontade Divina através de um abandono total a Deus e um zelo santo para o bem dos outros, dispostos a sacrificar tudo apenas para louva-lo".
Como ela, as primeiras companheiras animadas pelo mesmo zelo espiritual são consagradas a Deus, e são dedicadas a servir os pobres do Hospício e ao nosso próximo em necessidade, especialmente com a assistência do doente em casa e com outras obras de caridade de acordo com as necessidades particulares que surgissem. O Bispo de Vicenza aprovou as primeiras regras da congregação em 1875.
Gaetana morreu em 26 de novembro de 1889 amorosamente assistida por suas filhas e venerada pelos seus compatriotas. Seus restos mortais são venerados na Casa Mãe. As comunidades se multiplicaram e a congregação já se espalhou para a Europa, América e África.

O caminho para a santidade que Gaetana percorreu é, por essência, uma rota viável para cada cristão: cumprir em tudo e sempre o que agrada ao Senhor, confiando Nele com confiança ilimitada, mudar com o poder do amor todo o mal em bem à maneira de Jesus.


São Leonardo de Porto Maurício


São Leonardo de Porto Maurício é uma figura extraordinária, entre os grandes pregadores de penitência e, dos missionários que Deus tem dado à Igreja, é ele um dos maiores. Nos lugares onde pregava, um dos cuidados do missionário era implantar na alma do povo, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e da Sagrada Paixão de Nosso Senhor, a adoração perpétua do Santíssimo Sacramento e o culto de Nossa Senhora.  Um dos mais ardentes desejos seus era ver proclamado o dogma da Imaculada Conceição. 

Paulo Jerônimo nasceu em 1676, em Porto Maurício, atual Impéria, Itália. Filho do capitão da marinha Domingos Casanova, ficou órfão ainda muito pequeno. Foi, então, levado a Roma para concluir os estudos no Colégio Romano. Depois, foi para o Retiro de São Boaventura, onde entrou para a Ordem Franciscana e vestiu o hábito tomando o nome de frei Leonardo.


Missionário da Itália, no espaço de 44 anos pregou 326 missões em 84 dioceses, apresentando-se assim como instrumento escolhido da Providência Divina, para a salvação de muitas almas. O resultado estupendo que lhe coroava os trabalhos deste missionário franciscano, tem sua explicação na grande santidade deste humilde filho de São Francisco de Assis.


Grande pregador, era também modelo perfeito das virtudes, que procurava implantar nos corações dos ouvintes. Possuidor do espírito de São Francisco, era Leonardo, como seu pai espiritual, amigo apaixonado da pobreza. Andando sempre descalço, não usava hábito que não tivesse já servido a outros Irmãos da Ordem e bastante gasto.


Presentes, que em quantidade lhe eram oferecidos, por ocasião das missões, Leonardo os rejeitava, preferindo viver pobre, como o Divino Mestre viveu e morreu. 


Hemoptises freqüentes e fortes obrigaram-no a interromper pelo espaço de cinco anos a sua atividade de missionário pregador. Restabelecido, em 1707, subiu novamente ao púlpito e durante 44 anos não mais preciso foi tomar maior descanso. Nestes tempos desenvolveu uma atividade maravilhosa na Itália, principalmente na Toscana. 


O amor de Deus tinha deitado raízes fortíssimas na alma do santo missionário, que costumava dizer:  "Mesmo se tivesse toda a certeza de parar no inferno, de todo coração amaria a meu Deus". Ou: "Feliz me consideraria, se com meu sangue pudesse evitar um só pecado mortal, que tanto desgosto causa a Deus e tão gravemente o ofende". 


Para ter diante de si a lembrança da Sagrada Paixão de Nosso Senhor, fazia todos os dias o exercício da via sacra, e levava sobre o peito uma cruz guarnecida de cinco pontas de ferro. Nas sextas-feiras, mastigava vermuto ou outras ervas amargas, para acompanhar o divino Mestre, a quem foram dados fel e vinagre a beber.  Deixava como sinal de sua passage uma cruz,e na maioria das vezes, uma via-sacra. São 572 espalhadas pelas cidades. A ele se deve a primeira via-sacra no Coliseu, em 1750.


Devotíssimo de Maria Santíssima, saudava a divina Mãe, todas as vezes que ouvia bater horas. Os sábados e as vésperas de festas marianas eram-lhe dias de jejum. Missão não terminava, sem recomendar aos ouvintes a devoção a Nossa Senhora como o melhor antídoto contra o pecado mortal.


Considerando o Santíssimo Sacramento como o sol do cristianismo, a alma da fé, o ponto central da religião cristã, Leonardo era adorador devotíssimo deste grande mistério, e com o maior recolhimento celebrava a santa Missa, preparando-se para a celebração pela confissão diária. 


Amigo de Deus e trabalhador dedicadíssimo pelos interesses de Jesus, grande amor dedicava também ao próximo. Esta caridade teve sua máxima expressão e exemplificação no confessionário. Os pecadores encontravam nele um bom pai e caridoso médico. Admirável era-lhe a dedicação no confessionário, durante as missões. Foi observado que permanecia no tribunal da penitência durante 30 horas, sem tomar alimento e sem se permitir um descanso. Todos os sacrifícios, todas as fadigas as oferecia pelas almas do purgatório. Admirável expressão de São Lourenço é a seguinte: "De boa vontade ficaria na entrada do inferno, suportando os maiores tormentos, se com meu corpo pudesse obstruir a passagem e impossibilitar que lá alguém entrasse". 

Na Córsega, depois de uma pregação em praça pública, os homens, divididos por antigos rancores, descarregaram os fuzis e se abraçaram , num inusitado gesto de paz.


Verdadeiro santo, era Leonardo amigo da Penitência. O tempo lhe era precioso demais, para perdê-lo com conversações inúteis. Só o serviço de Deus e o interesse pelas almas podiam-no levar a sair da cela. Durante as missões o soalho lhe servia de leito, e o corpo, macerado pelo jejum, e pelas mortificações, trazia sinais inequívocos de cruéis flagelações. Quando estudante, era modelo para os colegas, e os mestres tinham-lhe grande estima, comparando-o com São Luís Gonzaga. 


Nunca abandonou os princípios austeros, adquiridos na mocidade, defensores e conservadores da santa pureza. "Quando um religioso, precisa falar com uma pessoa de outro sexo, deve ter o cuidado de quem tem que se haver com um empesteado. Não podendo evitar o contato com tais doentes, leve consigo cheiros fortes para evitar o contágio. O religioso, enquanto precisa falar com uma mulher, deve usar o incenso dos bons pensamentos, para não porem perigo a própria alma", dizia.  


Era visível a graça e proteção divina, que o acompanhavam nas missões. Como fossem numerosíssimas as conversões, não faltavam exemplos a mostrar como Deus castigava os desprezadores dos salutares avisos divinos. Em todas as emergências conservava São Leonardo a conformidade e uma profunda humildade. "Tudo para Deus, nada para mim", era sua divisa. 


Leonardo morreu no ano de 1751 em Roma, no Convento de São Boaventura. Pio VI, que o conhecera em vida, conferiu-lhe o título de Bem-Aventurado. Pio IX inseriu-lhe o nome no catálogo dos Santos da Igreja e Pio XI deu-o por padroeiro aos missionários. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Santa Catarina de Alexandria


Catarina vem da junção: "Catha", que significa total, e "ruin" que significa ruína: portanto, "ruína total". Realmente, o prédio do diabo foi totalmente demolido dentro de Santa Catarina: o edifício do orgulho, destruído pela sua humildade, aquele da concupiscência carnal, pela virgindade que ela preservou, e aquele da cobiça terrestre, pelo menosprezo a todo tipo de bens mundanos.

Santa Catarina, filha do rei Costus e da rainha Sabinela, nasceu em Alexandria, no Egito, no fim do século III. Distinguia-se por sua inteligência e por sua beleza. Era pagã como seus pais. Dois sábios de Alexandria foram os seus mestres e, tão rápidos foram seus progressos, que aos treze anos era mestra nas sete artes livres: eloquência, poesia, música, arquitetura, escultura, plástica e coreografia.

Quando seu pai, rei Costus, faleceu, Catarina retirou-se com sua mãe Sabinela para as montanhas da Cilícia. Sabinela encontrou-se com um eremita cristão chamado Ananias que a instruiu na fé cristã. Ela aderiu a Jesus Cristo e recebeu o Batismo. Através de um sonho que tiveram mãe e filha, Deus chamou Catarina à verdadeira fé. Desejosa de conseguir aquilo que o sonho lhe prometera, instruiu-se nas verdades da religião cristã. Depois de preparada, Catarina recebeu o batismo.
Príncipes de diversas regiões que ouviam falar da sabedoria e da beleza de Catarina e desejavam casar-se com ela. Catarina, porém, foi radical em sua decisão de renunciar ao casamento e a todas as honras e riquezas da terra, para servir exclusivamente a Jesus Cristo. Era ousada em combater os deuses pagãos e em falar ao povo do Deus verdadeiro. Com apenas dezoito anos, em discussão pública, confundiu os maiores filósofos da cidade em que morava.

No ano de 307, o imperador Maxêncio decretou uma perseguição aos cristãos de Alexandria. Para conseguir o seu objetivo promoveu uma festa no templo dos deuses e convocou todo o povo para oferecer incenso aos ídolos. Por medo da morte, os cristãos, viam-se constrangidos a oferecer incenso a estes deuses em quem não acreditavam. Ciente destes acontecimentos, Catarina que temia unicamente a Deus, enfrentou o imperador Maxêncio. Ele procurou confrontar as afirmações de Catarina e lhe provar que o Cristianismo era um absurdo. A jovem corajosa ficou inabalável em sua fé.

Ante a firmeza de Catarina, o imperador convocou os sábios do Império para uma disputa com a jovem Catarina. No dia combinado os sábios compareceram ao palácio real. Catarina também se apresentou. Maxêncio no seu trono e grande número de alexandrinos assistiam à disputa. Os sábios expuseram a sua doutrina em defesa da autoridade dos deuses. O auditório aplaudiu. Catarina falou da Divindade eterna, Criador do céu e da terra, e da humanidade do Verbo. Sua firmeza e a clarividência de tudo o que afirmava, abalou as convicções dos sábios e todos passaram a acreditar em Deus. Muitas pessoas presentes ao debate, também se converteram ao cristianismo. Maxêncio, enfurecido com os sábios que reconheceram a falsidade dos deuses, mandou que todos eles fossem queimados vivos em praça pública.

Por ordem de Maxêncio, Catarina foi encarcerada. No dia seguinte, o imperador mandou chamá-la à sua presença. Apaixonado por sua beleza procurou conquistá-la por meio de adulações e propostas. Prometeu até dedicar-lhe um templo. Destemida, Catarina permaneceu firme em sua fé. Decepcionado, Maxêncio ordenou que a flagelassem e a deixassem no cárcere sem comer e sem beber.

Num sonho, a imperatriz viu Catarina no cárcere, rodeada de luz e assistida por pessoas vestidas de branco. Pediu então ao General Porfírio que a levasse ao cárcere. O General que já havia perdido a fé nos deuses dos pagãos e se inclinava a aderir ao Cristianismo, atendeu prontamente o pedido da imperatriz. Chegaram ao cárcere durante a noite e a viram iluminada por grande claridade. Foi para ambos a hora da graça de Deus. Conversaram longamente com Catarina. A adesão a Cristo, esclarecida e corajosa, foi o fruto deste encontro. Catarina animou-os a se prepararem para as consequências de sua decisão, inclusive para o martírio. Porfírio comandava a primeira corte dos guardas imperiais: 500 homens. Confirmado na fé, anunciou aos seus soldados a Boa Nova de Jesus. Muitos se converteram.

Catarina passou doze dias na prisão. Foi então convocada a comparecer ao tribunal. O imperador ficou surpreso ao vê-la mais bela do que antes, apesar do jejum e da flagelação. Ordenou que os guardas fossem castigados se não revelassem quem a havia socorrido na prisão. Para defender a vida dos guardas, Catarina declarou: “se estou com boa aparência, é porque Aquele que eu confessei diante de ti dignou-se alimentar a mim com pão celestial”.

Mais irritado ainda, Maxêncio acusou-a de feiticeira e ordenou que fosse torturada e assassinada. A caminho do suplício, Catarina converteu a muitos que insistiam com ela para que atendesse aos desejos do imperador.

Foi então que um alto funcionário da corte teve uma idéia diabólica. Ele foi ter com o imperador e propôs que Catarina fosse condenada ao suplício da máquina com facas e pontas de ferro em quatro grandes rodas que, ao se movimentarem em sentidos diversos umas das outras, despedaçariam o corpo colocado no meio delas. A máquina foi colocada na praça pública e Catarina foi trazida para o local. Enquanto preparavam o suplício, Catarina permaneceu tranquila, em oração. Ao terminar a oração, eis que um Anjo desceu do céu num turbilhão e quebrou a máquina com tal ímpeto que os pedaços se projetaram sobre os algozes. Algumas pessoas morreram atingidas pelos pedaços das rodas, e outras, pelo raio. Por esse motivo a Roda Quebrada passou a ser o símbolo de Santa Catarina de Alexandria. Após este acontecimento Catarina retornou à prisão.

A imperatriz foi ter com seu marido e lhe disse: “por que lutas contra o Senhor meu Deus? É uma loucura te ergueres contra o Criador! Pensas que terás êxito? Reconhece, ao menos agora, nas rodas quebradas, o poder do Deus dos cristãos”. Irritado por ver que sua esposa professava a fé em Jesus Cristo, ordenou aos carrascos que a levassem ao lugar do suplício para ser martirizada. Na manhã seguinte, o imperador ficou sabendo que o General Porfírio e seus soldados haviam embalsamado e sepultado o corpo da imperatriz. Encolerizado, ordenou que Porfírio e seus soldados fossem decapitados e que seus corpos fossem devorados pelos cães.

Alguns dias depois, o imperador Maxêncio pediu que lhe trouxessem Catarina e lhe disse: embora sejas mais culpada do que todos aqueles que, seduzidos por teus feitiços, incorreram, por tua causa, à sentença de morte, todavia, se te arrependeres e ofereceres incenso aos nossos deuses onipotentes, poderás reinar feliz conosco e ser nomeada a primeira dama em nosso império. Catarina desprezou as promessas do imperador e lhe declarou ser fiel a Jesus Cristo. Maxêncio então ordenou que fizessem Catarina sair de sua presença e que fosse imediatamente decapitada.

Quando Catarina se dirigia ao lugar do martírio, viu a multidão que a seguia e que muitos choravam. Disse-lhes: “se alguma piedade natural vos comove a meu respeito, peço-vos: alegrai-vos comigo, pois vejo Nosso Senhor Jesus Cristo que me chama. Ele é a soberana recompensa dos Santos, a beleza e a coroa das Virgens”. Pediu ao carrasco que lhe desse tempo para orar. Após a oração Catarina estendeu o pescoço e disse ao algoz: “eis que Nosso Senhor Jesus Cristo me chama! Faze o que tens a fazer!” Então o algoz, de um só golpe, decepou-lhe a cabeça.

Segundo a tradição, religiosos que moravam no Sinai sepultaram o corpo de Catarina no mais alto pico do Monte Sinai. Este pico passou a ter o nome de “Monte Katharin”. No século VI, o imperador Justiniano ordenou a construção da Igreja e do Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. A veneração a Santa Catarina teve novo impulso quando o seu corpo foi descoberto no Monte Katharin, no século VIII. Os monges o colocaram em caixa de ouro. Atualmente estas relíquias se encontram num sarcófago de mármore, na Igreja do Mosteiro de Santa Catarina. Numerosas Igrejas e Capelas são colocadas sob sua proteção.

Santa Catarina é venerada como Padroeira da Congregação das Irmãs de Santa Catarina. Também é Padroeira dos jovens, das universidades, da corporação dos moleiros e dos fabricantes de carros. Sua festa é celebrada no dia 25 de novembro.

Oração:

Gloriosa Santa Catarina, modelo de virtude, por aquela fé que vos animava desde a mais tenra idade e que vos fez tão agradável aos olhos de Deus, que mereceste não só a coroa do martírio, mas que também confundistes os sábios deste mundo e os convertestes a Cristo, alcançai-nos a graça de conservarmos em nossos corações a fé, em toda a sua pureza e de nos confessarmos cristãos não somente por palavras, mas também por obras, para que Jesus, de quem damos testemunho diante dos homens, nos confesse e glorifique diante do Pai.

Ó Santa Catarina, Virgem forte na fé, por aquela constância com que conservastes vossa consagração a Cristo, no meio do mundo corrompido, alcançai-nos de Deus o espírito de fortaleza para vencermos todas as tentações e nos conservarmos puros de coração.


Ó Virgem ardente no amor, por aquela força que abrasava o vosso coração na fidelidade ao amor de Deus e à missão para a qual Deus vos chamou e que vos fez suportar tantos sofrimentos e torturas, alcançai-nos de Deus a graça que purifica o nosso amor, para que possamos um dia participar da mesma glória que merecestes pelo vosso martírio. Amém.