Cunegundes
ou Kinga nasceu na família real húngara da dinastia dos Arpádios. Era filha de
Bela IV, Rei da Hungria, e de Teodora Laskarysa. Era irmã da Beata Iolanda e de
Santa Margarida da Hungria.
Cunegundes
foi educada cristãmente na corte. Aos 16 anos casou-se com Boleslau IV, Rei da
Polônia. A semente de santidade lançada no coração de Kinga na casa paterna
encontrou na Polônia um terreno fértil onde se desenvolver.
Em
1239, ela chegou a Wojnicz, e foi depois para Sandomierz. Kinga teve um vínculo
cordial com a mãe do seu futuro esposo, Grzymislawa, e com a sua filha Salomé.
Ambas se distinguiam por uma profunda religiosidade, por uma vida ascética e
pelo amor à oração, pela leitura da Sagrada Escritura e das vidas dos santos. A
companhia cordial destas damas, especialmente nos primeiros e difíceis anos da
sua permanência na Polônia, teve uma grande influência sobre Kinga. O ideal da
santidade amadureceu sempre mais no seu coração.
Buscando
modelos a imitar, escolheu como especial padroeira, a sua santa parente,
princesa Santa Edviges da Silésia. Desejando dar à Polônia um santo que pudesse
tornar-se um exemplo de amor à Pátria e à Igreja, juntamente com o Bispo de
Cracóvia, e com o marido, empenhou-se na canonização do mártir da Cracóvia, Dom
Estanislau de Szczepanów, bispo assassinado em 1079, alcançando seu objetivo em
1253.
Ela
desejava consagrar-se a Deus de todo o coração mediante o voto de virgindade.
Por isso, ao se casar com o príncipe Boleslau convenceu-o a participar de sua
escolha por uma vida virginal para a glória de Deus e, depois de uma prova de
dois anos, os esposos confiaram ao Bispo Prandota o voto de castidade perpétua.
Boleslau mereceu assim o epíteto de o Casto.
Este
modo de vida, hoje difícil de ser compreendido, era profundamente arraigado na
tradição da Igreja primitiva. Santa Kinga é um exemplo de que tanto o
matrimônio como a virgindade vivida em união com Cristo, podem tornar-se uma
via de santidade. O matrimônio é a via da santidade, até mesmo quando se torna
o caminho da cruz.
A
santa rainha levava uma vida penitente e mortificada: visitava as igrejas desde
a madrugada, a pé, enfrentando as intempéries; atendia os enfermos nos
hospitais; usava cilício sob as vestes principescas. Ela fez-se terceira
franciscana e usou publicamente o hábito da instituição.
O
convento de Clarissas de Stary Sacz, ao qual Santa Kinga deu início e onde
concluiu a sua vida após o falecimento de seu esposo em 1279, testemunham ainda
hoje como ela apreciava a castidade e a virgindade.
Há
ainda outra característica que a identifica: como princesa, ela soube ocupar-se
das coisas de Deus também neste mundo. Ao lado do esposo participou no governo,
demonstrando firmeza e coragem, generosidade e solicitude pelo bem do país e
dos súditos. Durante as insurreições, na luta pelo poder num reino dividido em
regiões e as devastadoras invasões dos Tártaros, Santa Kinga soube enfrentar as
necessidades do momento.
Esforçou-se
zelosamente pela unidade da herança dos Piast e para reconstruir o país das
ruínas não hesitou em doar tudo o que recebera em dote de seu pai para atingir
esse objetivo. A ela se deve também o prodigioso descobrimento de sal-gema em
Bochnia e de Wieliczka nos arredores de Cracóvia, resultado de sua preocupação
pelas necessidades dos seus súditos.
As
suas antigas biografias testemunham que o povo a chamava de consoladora,
médica, santa mãe. Renunciando à maternidade natural, tornou-se verdadeira mãe
de muitos. O desenvolvimento cultural da nação também lhe é devedor: à sua
pessoa e ao convento local está ligado o nascimento de verdadeiros monumentos
da literatura, como o primeiro livro escrito em língua polaca: Zoltarz
Dawidów - Saltério de David.
Quando
seu esposo faleceu, em 1279, foi-lhe pedido que tomasse o poder. Ela recusou e
recolheu-se em Stary Sacz, onde viveu ainda 13 anos.
"Venho
para servir. Esquecei quem fui: só há de novo contar a comunidade uma irmã a
mais", dissera
ela ao entrar para o convento.
Ela
costumava lavar a louça, tratar das enfermas e varrer. Foi escolhida abadessa,
pois dera bom exemplo em tudo: tratara a louça com benignidade, as enfermas com
caridade e o pó com severidade. Atribuiu-se às suas orações a descoberta de
água no interior do mosteiro, que antes devia ser trazida de fora. A sua
bondade transpôs os muros do convento: ela construiu edifícios piedosos, foi
benfeitora dos franciscanos e resgatou prisioneiros na Turquia.
Em
1287 a Polônia foi invadida pelos tártaros. Cunegundes e as setenta Irmãs
precisaram abandonar o mosteiro e refugiar-se no castelo de Pyiemin. Mas, os
tártaros chegaram ao seu refúgio e as irmãs, assustadas, se lançaram aos pés de
sua madre. Tal qual o milagre de Santa Clara em Assis, aqui também os invasores
foram detidos por uma força invisível. Passado o perigo, algum tempo depois as
irmãs voltaram ao mosteiro.
Depois
de um ano de enfermidade, confortada com aparição de São Francisco, Cunegundes
morreu aos 68 anos a 24 de julho de 1292.
O
Papa Alexandre VIII aprovou o seu culto em 1690.
Em
3 de julho de 1998 um milagre obtido por sua intercessão foi reconhecido, o que
possibilitou a sua canonização.
Em
16 de junho de 1999 o Papa João Paulo II a canonizou em Stary Sacz, na homilia
ele disse:
Os
Santos não passam. Os Santos vivem dos Santos e têm sede de santidade.
Se
hoje estamos a falar da santidade, do desejo e da obtenção da santidade, seria
necessário perguntar-nos como formar ambientes que favoreçam a sua
aspiração. O que fazer a fim de a família, a escola, o ambiente de trabalho, o
escritório, as aldeias, as cidades e por fim o país inteiro se tornem uma
morada de santos, que influenciem mediante a sua bondade, a fidelidade ao
ensinamento de Cristo, o testemunho da vida quotidiana, alimentando o
crescimento espiritual de cada homem? Santa Kinga e todos os Santos e Beatos do
século XIII respondem: é preciso o testemunho. É necessária a coragem,
para não esconder a própria fé. É preciso, enfim, que nos corações dos crentes
exista aquele desejo de santidade, que forma não só a vida privada, mas
influi sobre a sociedade inteira.