Maria Soledad
Torres Acosta foi reconhecida como Santa. Foi proclamada Santa. Foi inscrita
nos registro dos Santos. Foi apresentada a toda a Igreja terrestre, como
pertencente à Igreja celeste. Foi declarada digna do culto de veneração, porque
está unida para sempre e totalmente a Cristo ressuscitado e participa da glória
que Ele possui. Este é o significado do ato extraordinário e solene que Nós
acabamos de realizar. Canonizamos esta bem-aventurada filha da Igreja e agora
sentimos que a luz, a fascinação, o mistério da santidade se difundem sobre
nós, sobre esta assembleia exultante, sobre a Espanha que foi a pátria da nova
Santa, sobre a Família religiosa que ela fundou, a das Servas de Maria
Ministras dos Enfermos, sobre a Igreja inteira e sobre o mundo. Deus seja
bendito!
Espontaneamente
vem-nos à mente esta pergunta: como foi a vida de Maria Soledad? Qual é a sua
história? Como se tornou ela Santa? É-Nos impossível, sem a menor dúvida,
responder agora a esta pergunta e fazer o panegírico de Maria Soledad.
Encontrareis nos livros, que narram a sua vida, o modo de satisfazer esta
legítima e louvável curiosidade. De
resto, trata-se de uma vida simples e silenciosa, que pode ser resumida em duas
grandes palavras: humildade e caridade. Foi uma vida inteiramente
consagrada a uma espiritualidade intensa, aos trabalhos da fundação de uma nova
família religiosa, à imitação de Cristo, à devoção a Nossa Senhora, ao serviço
dos enfermos e à fidelidade à Igreja.
Se, por um lado, a
biografia de Maria Soledad não nos oferece aquelas singularidades muitas vezes
cheias de aventura e de prodígio, nem aquela riqueza de palavras e de escritos,
que caracterizam outras figuras de Santas, por outro, o seu perfil, cheio de
pureza e de bondade, apresenta algumas características que Nos parece necessário
sublinhar.
Maria Soledad é uma
fundadora, a fundadora de uma Família religiosa muito numerosa e muito
difundida, de uma Congregação excelente e provedora. Assim, Maria Soledad faz
parte daquele grupo de santas e intrépidas mulheres, que, no século passado,
fizeram jorrar na Igreja torrentes de santidade e de operosidade, intermináveis
procissões de virgens consagradas ao único e supremo amor de Cristo, devotadas
ao serviço inteligente, incansável e desinteressado do próximo. Vós conheceis
estas almas. Por toda a parte podeis encontrá-las. Não é necessário que vos
descrevamos agora a magnífica expansão que os seus Institutos tiveram.
Entre estas
Famílias eleitas e operosas, está incluída a das Servas de Maria, fundada pela
nossa Santa. E está incluída de tal modo, que nela podemos ver o paradigma
dessa imensa e multiforme expressão de vida religiosa que, apesar das
peculiaridades especificas de cada Instituto, parece modelada segundo um ideal
comum, segundo uma fórmula que foi substancialmente igual para todas as novas
fundações do século XIX. E, assim, no fervor e na excitação do renovamento da
vida religiosa e na procura, às vezes demasiado crítica e fantasiosa, de novas
fórmulas de consagração ao seguimento de Cristo, vem a propósito perguntar se o
exemplo insigne, que temos diante dos olhos da nossa admiração, é, ou não, bom
em si mesmo, e se conserva ainda algum valor para o nosso tempo.
Perante a figura de
Santa Maria Soledad e da legião das suas filhas, Nós temos o feliz dever de responder
afirmativamente. Sem excluir que a interpretação da vocação ao seguimento
perfeito e total do Mestre admite, com as expressões históricas e clássicas que
precederam o esquema de vida religiosa neste momento contemplado, outras
manifestações novas, todas elas dignas de florescerem no jardim da Igreja,
capazes de satisfazerem as necessidades atuais e de se concretizarem em formas
modernas, Nós confirmamos o Nosso apreço pelo modelo de vida religiosa,
realizado principalmente no século passado e no precedente.
As características
peculiares, que descrevem especificamente o modelo em questão, justificam e
glorificam esse tipo de procura da perfeição cristã. Consiste ele no desapego
prático e ascético da vida secular comum, que hoje é preferida por muitos; na
vida comum organizada, dentro da observância dos conselhos evangélicos da
pobreza, da castidade e da obediência; no primado, ciosamente conservado, da
vida interior, da oração, do culto divino e do amor de Deus; numa palavra, na
dedicação sem limite e sem cálculos egoístas a algumas obras de caridade; e,
por fim, na adesão profunda e orgânica à Santa Igreja. Estas características
básicas, que constituem um estado de vida qualificado pelo esforço para
alcançar a perfeição cristã, estão autenticamente de acordo com as exigências
do Evangelho, e ainda hoje são capazes de definir e de valorizar a vida
religiosa no nosso tempo. A Congregação
das Servas dos Enfermos merece, no nome e no exemplo da sua santa
fundadora, este Nosso reconhecimento.
Esta Congregação
merece também outro reconhecimento, o da sua definição como Instituto religioso
especificamente dedicado à assistência aos enfermos. Esta é a opção que
exprime, empenha e ilustra a caridade de Maria Soledad e da sua descendência
espiritual.
Papa
Paulo VI – 25 de janeiro de 1970 – Homilia de Canonização
Nossa santa nasceu
em Madri, a 2 de dezembro de 1826. Viveu numa Espanha perturbada pelos
conflitos entre absolutistas e liberais, que produziram às vezes para a Igreja
anos custosos. Os pais, Francisco Torres e Antônia Acosta, eram pequenos
comerciantes. A criança foi batizada como Bibiana Antônia Manuela.
Estudou com as
Irmãs Vicentinas e ao ver a dedicação total destas religiosas aos mais pobres,
se entusiasmou pela vida religiosa. Porém tinha uma saúde muito débil e não foi
admitida na comunidade.
Quando, chegando
aos 25 anos, pensava na vida dominicana, o Pe. Miguel Martínez, sacerdote do
bairro populoso de Chamberi, conquistou-a para a sociedade de religiosas,
guardas de doentes, que projetava organizar. Desde pequena ela havia
assistido a vários moribundos e sentia um gosto especial em assistir a doentes
e moribundos. Era uma graça que o Espírito Santo lhe havia concedido.
Em 15 de agosto de
1851, a jovem entrou no grupo das sete primeiras Servas de Maria, adotando o
nome de Irmã Soledade. Embora chegando tarde, depressa foi promovida a
superiora.
Mas Pe. Miguel
partiu para as missões no estrangeiro. O novo diretor espiritual julgou
acertado mudar a superiora: Madre Soledade foi enviada para Getafe, no Sudoeste
de Madri, para um pequeno hospital. Ir-se-ia dissolver a Congregação em estado
deplorável? O Pe. Gabino Sánchez Cortez repôs Madre Soledade à frente das
irmãs, e deu ao Instituto uma regra bem adaptada.
Em 1861, as Servas
de Maria receberam a aprovação diocesana, e o agostiniano, Pe. Angel Barra, foi
nomeado diretor. A instituição ampliou seu campo de ação para atender também as
jovens delinquentes e as fundações se multiplicaram.
Fundaram-se 46
casas durante a vida da Santa. A rainha Isabel II exigiu suas religiosas para o
hospital de São João de Deus, em Madrid. Em 1867, esta caridade que vence o mal
com o bem levou Madre Soledade a Valência, onde a guerra civil multiplicava os
feridos.
Em 1885, uma
epidemia de cólera invadiu metade do país: bela ocasião de socorrer o próximo
com perigo de vida, para ela e suas colaboradoras!
Santa Soledade
faleceu no dia 11 de outubro de 1887 com 61 anos de idade; foi beatificada por
Pio XII em 5 de fevereiro de 1950 e canonizada por Paulo VI em 1970.
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