José de Calasanz foi um homem singular, nos planos de Deus e na história da educação.
Nasceu no norte da Espanha em 1557. Aos 35 anos, com o título de doutor em teologia, embarcou para Roma com intenção de voltar em breve; não imaginava que em Roma encontraria sua vocação definitiva.
Roma, naquele final do século XVI, estava invadida por uma imensa multidão de “excluídos”; peregrinos, pobres, doentes. Forte miséria social e moral. Calasanz foi descobrindo o dramático rosto da pobreza e da ignorância, o abandono da maior parte da população. Não foi insensível a essa realidade.
A educação era privilégio de poucos; crianças e jovens perdiam a vida jogados na rua, incapazes de sair de sua situação de abandono, privados de cultura e futuro. As escolas eram insuficientes e com pouquíssimos recursos. Em 1597 começou a trabalhar com entusiasmo numa escolinha de periferia, com crianças pobres, e foi crescendo no seu coração o desejo de assumir uma difícil missão:
“oferecer educação a meninos e jovens abandonados, levando-os a descobrir o valor da vida, despertando neles o desejo de ser alguém, de libertar-se das ignorâncias, de ser filhos de Deus”.
Em 1600, levou a escolinha, popular e gratuita, para dentro da cidade, pois a situação de pobreza era generalizada. A obra foi crescendo. Procurou ajuda em Instituições existentes, mas não achou resposta adequada; ninguém apostava em “escola para pobres”. Só os filhos dos ricos recebiam uma adequada educação. Ficou sozinho.
Com muita fé em Deus e amor pelos pequenos abandonados, fez a definitiva opção de sua vida:“encontrei em Roma a melhor maneira de agradar a Deus, educando as crianças pobres, e nunca abandonarei esta tarefa”. Descobriu sua vocação "na entrega total à educação do menor carente", que se revelava, aos olhos de Calasanz, como um espelho da face misericordiosa de Deus. Este foi o grande acontecimento que mudou sua vida.
Calasanz, que aspirava a ter cargos importantes, renunciou a tudo e aprendeu a ser humilde. Deixou de lado o prestígio, e dedicou sua vida a uma profissão considerada na época como muito desprezível. Começou a viver austeramente, para poder doar-se melhor aos pequenos; com eles partilhou seu tempo e dinheiro, sua vida.
Sua obra foi ganhando espaço; chegaram mais alunos; ensinava a ler e escrever, e os bons costumes da piedade cristã. Estava nascendo, de forma silenciosa e humilde, uma das obras mais importantes daquela época, confirmando um direito fundamental de toda pessoa:
“o direito a ter educação, a ter uma escola gratuita e popular”.
O caminho não foi fácil. Os meninos aumentavam todo dia e as escolas enfrentavam inúmeros problemas: falta de locais apropriados, dificuldades econômicas, falta de professores que aceitassem com alegria o trabalho com os pobres, algumas calúnias e até invejas.
Tudo foi superado pela profunda convicção do valor daquela obra; com fé inabalável e com generosa dedicação. Calasanz nunca voltou atrás, foi fiel até os 91 anos. Fidelidade feita de sacrifício, trabalho generoso, oração e constante presença de Deus; confiante, paciente, humilde; sereno e sempre firme; apesar das muitas contradições, homem feliz. Sem essa fé total e sem essa grandeza de espírito, a “Escola Nova” de Calasanz não teria ido para frente.
Pouco a pouco, a escola para crianças pobres foi tomando consistência. Era um projeto singular. “Primeira Escola Popular Gratuita da história”, escola universal, aberta a todo tipo de pessoas: católicos, protestantes, judeus. Nunca suas portas se fecharam para ninguém.
Calasanz viu nos pobres a figura de Jesus. Sua obra não era uma simples filantropia; seu amor às crianças humildes era um "sinal do Reino de Deus". Foi Jesus quem disse: "quem recebe uma criança em meu nome, é a mim que recebe". Calasanz encarnou na sua vida o amor preferencial de Jesus pelos pequenos; suas escolas foram fundadas para servir a Cristo neles. É assim que Calasanz queria manifestar e viver seu seguimento de Jesus, encarnado na entrega total aos “pequenos-pobres”.
Para dar estabilidade à sua obra, Calasanz fundou a “Ordem Religiosa dos Padres Escolápios”, primeira Ordem Religiosa da Igreja dedicada totalmente ao ministério da educação cristã.
O Papa Paulo V percebeu a importância das escolas para o desenvolvimento da educação dos pobres, e deu sua aprovação.
Calasanz teve que lutar muito para manter o espírito da obra, ciente do serviço que podia prestar à sociedade. Muitas pessoas não compreendiam. Dirigiu ao Cardeal Tonti um dos documentos mais vibrantes e corajosos, em defesa da educação dos pobres:
"O ministério da educação é o mais digno, o mais nobre, o de maior mérito, o mais necessário, o mais natural, o primeiro; dele depende a vida toda da pessoa; é o mais razoável por parte do Estados, pois deveriam ser os primeiros interessados em ter cidadãos bem preparados para a vida e para o trabalho".
A obra de Calasanz levantou polêmica; nos padrões da época, a educação era privilégio de poucos. Lutou contra toda discriminação. Defendeu a dignidade do educador numa época que desvalorizava o ministério docente; para ele era a missão mais digna.
Pagou caro seu empenho de oferecer educação aos pobres; foi caluniado, perseguido, humilhado e até levado preso. Enfrentou intrigas e invejas, com uma firme serenidade que não se deixou abalar nas dificuldades. Sua paciência exemplar soube manter a calma no meio das tempestades, deixando assombrados os próprios acusadores.
Para ele, a educação deveria ser uma perfeita combinação entre fé e cultura; por isso, a escola que fundou pretendia educar na fé, com uma boa catequese, e instruir crianças e jovens de tal forma que pudessem inserir-se na sociedade como pessoas responsáveis.
Suas aspirações continuam a ser da maior atualidade nos tempos atuais; deviam ser bem chocantes naquele início do século XVII; daí as muitas dificuldades que enfrentou.
Para poder realizar esta missão, Calasanz queria colaboradores competentes, de profundas virtudes humanas, humildes e com espírito de serviço, com sólida experiência de fé e com boa preparação pedagógica. Uma vocação muito digna. Definia o educador-escolápio como um"cooperador da Verdade". Para Calasanz, o verdadeiro educador (seja religioso, leigo, professor, catequista...) é aquele que acompanha o nascimento de Jesus no coração de cada criança e de cada jovem, levando-os a viver segundo o evangelho, dentro dos planos do Pai. O educador escolápio vive sempre aberto à VERDADE e à VIDA e anuncia a Jesus como o único caminho para o Pai.
José de Calasanz morreu em 25 de agosto de 1648, aos 91 anos.
Em 1948, o Papa Pio XII consagrou-o como “Padroeiro universal das Escolas Populares Cristãs”, e falava dele com as seguintes palavras: “O que São José de Calasanz sofreu nos últimos anos de sua longa vida, o que suportou com heróica virtude, resplandece como uma das mais preciosas jóias na história”.
Foi um “Grande Profeta de Deus entre os pequenos”.