quinta-feira, 31 de agosto de 2017

31 de agosto - São Raimundo Nonato

Raimundo nasceu em Portell, na Catalunha, Espanha, em 1200. Seus pais eram nobres, porém não tinham grande fortuna. O seu nascimento aconteceu de modo trágico: sua mãe morreu durante o trabalho de parto, antes de dar-lhe à luz. Por isso Raimundo recebeu o nome de Nonato, que significa não-nascido de mãe viva, ou seja, foi extraído vivo do corpo sem vida dela. Por isso é festejado, no dia 31 de agosto, como o patrono das parteiras e obstetras.

Nonatus significa em Latin non–natus (não nascido) tendo em vista que ele foi retirado do ventre de sua mãe já morta com um faca ( tipo uma cesariana de emergência ) pela parteira e escapou. Alguns estudiosos acham que ele foi retirado com uma navalha e apresentava nas costas pequenas marcas de cortes do referido instrumento.

Dotado de grande inteligência, fez com certa tranqüilidade seus estudos primários. 
Ainda menino, teve de guardar o gado e, durante seus anos de pastor, visitava constantemente uma ermida de São Nicolau, onde se venerava uma imagem de Nossa Senhora de quem era devotíssimo.
Conta-se que, durante as horas que passava aos pés de Maria, um anjo lhe guardava o rebanho.
O pai, percebendo os dotes religiosos do filho, tratou de mandá-lo administrar uma pequena fazenda de propriedade da família. Com isso, queria demovê-lo da idéia de ingressar na vida religiosa. Porém as coisas aconteceram exatamente ao contrário. 
Raimundo passava seu tempo com os pastores e os trabalhadores, estudando e orando até que o seu pai desistiu de sua brilhante carreira na corte.   Seu pai planejava uma brilhante carreira para Raimundo Nonato na corte de Aragon.  

Raimundo, no silêncio e na solidão em que vivia, fortificou ainda mais sua vontade de dedicar-se unicamente à Ordem de Nossa Senhora das Mercês, fundada por seu amigo Pedro Nolasco, agora também santo.

A Ordem tinha como principal finalidade libertar cristãos que caíam nas mãos dos mouros e eram por eles feitos escravos. Nessa missão, dedicou-se de coração e alma.

Apesar da dificuldade, conseguiu o consentimento do pai e, finalmente, em 1224, ingressou na Ordem, recebendo o hábito das mãos do próprio fundador. 

Ordenou-se sacerdote e seus dotes de missionário vieram à tona, dedicando-se nessa missão de coração e alma. Por isso foi mandado em missão à Argélia, norte da África, para resgatar cristãos das mãos dos muçulmanos. 
Conseguiu libertar cento e cinqüenta escravos e devolvê-los às suas famílias.

Quando se ofereceu como refém, sofreu no cativeiro verdadeiras torturas e humilhações. Mas mesmo assim não abandonou seu trabalho. Levava o conforto e a Palavra de Deus aos que sofriam mais do que ele e já estavam prestes a renunciar à fé em Jesus. Muitas foram as pessoas convertidas por ele, o que despertou a ira dos magistrados muçulmanos, os quais mandaram que lhe perfurassem a boca e colocassem cadeados, para que Raimundo nunca mais pudesse falar e pregar a doutrina de Cristo.

Raimundo sofreu durante oito meses essa tortura até ser libertado, mas com a saúde abalada. 

Quando chegou à pátria, na Catalunha, em 1239, logo foi nomeado cardeal pelo papa Gregório IX, que o chamou para ser seu conselheiro em Roma.

Empreendeu a viagem no ano seguinte, mas não conseguiu concluí-la. Próximo de Barcelona, na cidade de Cardona, já com a saúde debilitada pelos sofrimentos do cativeiro, Raimundo Nonato foi acometido de forte febre e acabou morrendo, em 31 de agosto de 1240, quando tinha, apenas, quarenta anos de idade.

Raimundo Nonato foi sepultado naquela cidade e o seu túmulo tornou-se local de peregrinação, sendo, então, erguida uma igreja para abrigar seus restos mortais.

Seu culto propagou-se pela Espanha e pela Europa, sendo confirmado por Roma em 1681. 

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

30 de agosto - Beato Padre Eustáquio Van Lieshout


“Padre Eustáquio foi para Belo Horizonte enjeitado, ninguém sabia onde colocar Padre Eustáquio. Ele foi para Belo Horizonte com a obrigação de não fazer milagre. Pois para Deus não tem isso. Ele fez… trocou nome de rua, trocou nome de bairro, trocou nome de igreja, trocou tudo… para ver o que é a pessoa marcada por Deus. Padre Eustáquio com o seu ‘Saúde e Paz’ chegou a todas as famílias, de JK até o mais simples e pobre dos cristãos.“ 
Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo, Arcebispo Emérito de Belo Horizonte.

Nascido na Holanda em 1890 e ordenado sacerdote em 1919, o Beato Eustáquio desembarcou no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1925. Seu destino: o povoado de Água Suja, no Triângulo Mineiro.

Situado às margens do Rio Bagagem, aquele local sofria dos males comuns às regiões de mineração muito afastadas, sendo marcado por enormes necessidades espirituais e materiais. O farol que iluminava a vida dura dos mineiros era o antigo santuário de Nossa Senhora da Abadia, onde se fixou o padre vindo da Europa.

Nos seus dez anos em Água Suja - cujo nome foi mudado para Romaria - ele iniciou a edificação do Santuário de Nossa Senhora da Abadia, que se tornou um grande centro de peregrinação.

Em Romaria, como nas cidades onde atuou depois, dedicou-se com extremo desvelo aos pobres e aos enfermos. Nas suas visitas às casas de seus paroquianos, servia até mesmo de médico e enfermeiro dos doentes.

Assim comportou-se o Padre Eustáquio durante seus 24 anos de sacerdócio. Com uma diferença: ele era o escravo de todos os necessitados, e não apenas de seus paroquianos.

Em Romaria, o Padre Eustáquio já fez algumas curas consideradas milagrosas. Mas foi em Poá (SP), para onde foi transferido, tomando posse como pároco em fevereiro de 1935, que esse dom começou a brilhar com maior intensidade, e sua fama de santidade começou a se espalhar irresistivelmente pelo Brasil inteiro.

Um dos maiores benefícios que o Padre Eustáquio fez à população daquela região foi vencer o indiferentismo religioso e resgatar numerosas almas que estavam se emaranhando nas teias da seita espírita.

Multidões cada vez maiores procuravam assiduamente o homem de Deus para pedir o alívio de seus sofrimentos espirituais e físicos. A afluência de povo era tão grande que chegaram a passar por Poá cerca de dez mil pessoas por dia.

A autoridade civil e a religiosa se inquietaram com isso. Por intervenção do Arcebispo de São Paulo - arquidiocese à qual pertencia então Poá - os superiores do Padre Eustáquio se viram obrigados a transferi-lo.

Nosso beato ficou chocado com a notícia. Não conseguia entender como poderia ser impedido de exercer um carisma que claramente Deus lhe havia concedido para o bem do povo. Mas, como pessoa virtuosa que era, obedeceu sem pestanejar.

Com ar de muito abatimento, deixou sua querida Poá no dia 13 de maio de 1941 sem nem sequer despedir- se das pessoas mais chegadas.

Teve de viver algum tempo oculto na cidade de São Paulo, numa situação humilhante, sob a vigilância de seus superiores, sendo até mesmo proibido de visitar seus amigos.

Desde a saída de Poá, a vida do Beato Eustáquio foi como a de um migrante. Onde quer que estivesse havia pessoas que o procuravam para lhe pedir ajuda, consolo e cura. Logo as multidões se lhe punham ao encalço, e isso causava desagrados e incompreensões. Quase invariavelmente, pouco depois era convidado a se retirar do local. É verdade que também recebeu mostras de carinho, como do Arcebispo de Campinas. Mas a par disso houve cenas constrangedoras, como quando foi obrigado a se retirar sem demora do Rio de Janeiro, ocasião em que nem lhe queriam dar tempo de rezar o breviário.

De volta a Minas Gerais, chamado pelo jovem superior da comunidade da Congregação, em Patrocínio, Padre Eustáquio pôde finalmente encontrar sossego. Havendo chegado em outubro de 1941, ele sentiu-se de fato aliviado, pois seus companheiros de hábito, além de não lhe colocarem obstáculos, ainda o ajudaram nos seus labores apostólicos. Ali ele recebeu a comunicação de que o Arcebispo de Belo Horizonte queria sua presença em sua arquidiocese.

Na capital de Minas, onde chegou em 3 de abril de 1942, Padre Eustáquio assumiu a paróquia dos Sagrados Corações, na qual permanecerá até 30 de agosto de 1943, dia de sua morte. Após um início com algumas restrições, que fizeram temer a volta das sanções já aplicadas em outros lugares, o Beato pôde exercer com toda a liberdade os carismas da cura e do conselho, cumprindo a vocação para a qual o Senhor o destinara.

Acima de tudo, pastor de almas

Esse sacerdote exemplar, que sempre procurava remediar os males corporais, nunca se esquecia de que sua principal missão era salvar almas.

Repercutiram sensacionalmente na imprensa os milagres atribuídos ao Padre Eustáquio e há documentos de várias curas para as quais a ciência não tem explicação. Mas ele operou "milagres" muito mais importantes, e numa quantidade que de fato "fazem lembrar os tempos da Igreja primitiva": a conversão de milhares de pecadores.


Passava seis horas por dia atendendo confissões. Não tinha dotes oratórios, mas possuía em alto grau o dom da palavra ardente que move ao arrependimento e à mudança de vida. Na paróquia de Poá, muitas vezes três coadjutores eram insuficientes para atender os penitentes que faziam fila diante dos confessionários após ouvir uma recomendação desse homem de Deus.

Durante um tríduo de pregações na maior igreja de Belo Horizonte, nos três dias verificou-se um fato inédito: terminado o sermão, centenas de homens de todas as classes e idades corriam ao confessionário, disputando o privilégio de serem os primeiros a se reconciliarem com Deus. Movimentação ainda maior ocorreu na páscoa dos funcionários públicos: mais de cinco mil pessoas obrigaram doze sacerdotes a socorrerem-no no atendimento de confissões.

Donde lhe vinha esse poder de arrastar os pecadores à conversão? Do esplendor de sua santidade...

O Beato Eustáquio sabia que a alma de todo apostolado é a vida interior. Por isso, mesmo quando passava a noite em claro, começava o dia às cinco da manhã, para não se privar da hora de meditação quotidiana. Rezava o Rosário. Passava horas em adoração diante de Jesus Eucarístico. Nunca se dispensava de fazer seu exame de consciência nem de rezar o breviário.

Em certa ocasião, após um dia estafante, era noite alta e ele tinha de partir de viagem imediatamente. Vendo seu enorme cansaço, disse-lhe um bispo:
- Pe. Eustáquio, eu o dispenso de rezar o breviário hoje.
- Não posso, Excelência. O dia inteiro trabalhei para os outros, agora preciso pensar um pouco em mim mesmo.

Para esse religioso exemplar, a oração não era uma obrigação enfadonha, mas sim o alimento restaurador das energias. Fortalecido por ela, pôde ele realizar o empolgante lema de sua Congregação dos Sagrados Corações: "Para mim o trabalho, para o próximo a utilidade, para os Sagrados Corações a honra e a glória".

No dia 20 de agosto de 1943, atendendo a um doente que sofria de tifo exantemático, o Pe. Eustáquio contraiu essa grave enfermidade, então incurável.

Em dez dias partiria para a eternidade. Prostrado no leito do hospital, caminhando para a morte - que aliás ele mesmo profetizara - permaneceu sempre sereno em meio a sofrimentos atrozes, de tal modo que seus últimos dias foram dos mais edificantes de sua vida.

Nos seus derradeiros momentos, renovou os votos religiosos, e só deu o último suspiro depois de ver entrar em seu quarto, chorando e cansado por uma longa e estafante viagem, seu superior provincial, com quem queria estar de qualquer modo antes de morrer. Era 30 de agosto de 1943.

E Deus o glorificou

Suas exéquias foram uma apoteose nunca antes vista na capital mineira. Todos os jornais e emissoras de rádio lhe dedicaram grande espaço, comentando seus dons e transcrevendo sua biografia. Pode-se dizer que a quase totalidade da população compareceu para prestar-lhe as últimas homenagens. Sua tumba tornou-se desde logo local de peregrinação. Em 1949, seus restos mortais foram transladados para o interior da igreja que começara a construir.

Infinitamente mais importante, porém, é a glória com que foi recebido no Céu, à qual a Santa Igreja acrescenta a glorificação dos altares, ao beatificá-lo é assim o apresenta como modelo para os fiéis do mundo inteiro, especialmente os párocos e os religiosos.

A cerimônia de beatificação foi presidida pelo Cardeal José Saraiva Martins, Presidente da Congregação para as Causas dos Santos, concelebrada por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Luiz Mancilha Vilela, Arcebispo de Vitória, e numerosos outros bispos e milhares de fiéis.


                                                               

30 de agosto - Beato Alfredo Ildefonso Schuster

"Não tenho outra recordação para vos deixar a não ser um convite à santidade. Parece que as pessoas já não se deixam convencer pela nossa pregação; mas perante a santidade, ainda creem, ainda se ajoelham e rezam... Não vos esqueçais de que o diabo não tem medo dos nossos campos desportivos e das nossas salas de cinema: ao contrário, tem medo da nossa santidade".

"Para que a tempestade não arraste a barca, não servem nem a diplomacia, nem as riquezas, nem o poder secular, mas unicamente a santidade apostólica, tácita como o fermento, humilde, pobre'.

"Se alguém me ama, ele observará minha palavra e meu Pai o amará e nós iremos até ele, e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23).

O amor por Cristo, expresso em um serviço incansável à Igreja, é o coração da espiritualidade e da atividade apostólica de Alfredo Ildefonso Schuster, por muitos anos Pastor incansável da Arquidiocese de Milão. "Um homem de oração, estudo e ação - chamou-o, Monsenhor Giovanni Battista Montini, em seu discurso na entrada na arquidiocese – não tinha outro objetivo do que a salvação espiritual do seu povo".

O espírito de oração e contemplação, próprio da tradição beneditina em que se formou, animou seu ministério pastoral. A espiritualidade monástica, apoiada pela meditação diária da Sagrada Escritura, foi expandido tanto como a cooperação ativa com a Santa Sé e no generoso serviço à comunidade Ambrosiana, ele sempre edificada e confortado com a celebração assídua e devoção dos Sagrados Mistérios e o exemplo de uma vida clara e coerente.
O cardeal Schuster ofereceu ao clero milanês um brilhante exemplo de como a contemplação e a ação pastoral podem ser harmonizadas. Ele continua a apontar hoje para cada sacerdote e cada pessoa chamada para trabalhar na vinha do Senhor, o valor supremo do amor a Deus, o fundamento da comunhão fraterna e do apostolado. "No final - ele escreveu - o que importa para a verdadeira grandeza da Igreja e dos seus filhos é o amor”.

Papa João Paulo II – Homilia de beatificação – 12 de maio de 1996

Alfredo Luís Schuster, nasceu em Roma a 18 de Janeiro de 1880. Desde a idade de 11 anos, entrou no mosteiro beneditino de São Paulo Fora dos Muros, onde pronunciou os votos simples em 1899. Ali tomou o nome de Ildefonso Schuster. Foi ordenado sacerdote em 1904, e nesse mesmo ano Mestre dos noviços, vindo a ser eleito Abade em 1918. Esta preparação na escola de São Bento forjou nele uma alma de oração et de contemplação. Esta obra abre-o ao “amor de Deus que é o fundamento da comunhão fraterna et do apostolado” (João Paulo II).
Em 1929 foi nomeado Arcebispo de Milão por Pio XI, e no mesmo ano, foi criado Cardeal. Foi na oração e na meditação quotidiana das Escrituras que este “frágil frade” encontrou o segredo que lhe permitiu guiar seu rebanho numa época turvada pelo fascismo.

Durante a segunda guerra mundial, ele deu provas da sua grande caridade. Este sábio que tinha publicado os 10 volumes do “Liber sacramentorum” (1919-1923) criou uma escola de música assim como centros de cultura católica. O Cardeal Schuster preocupou-se com o seu clero para o qual ele era um exemplo vivo da maneira como podem ser harminizadas a contemplação e a ação pastoral.

Ele recomendou a participação dos leigos na vida paroquial. Durante o seu governo pastoral, convocou cinco sínodos.
O Cardeal Schuster morreu a 30 de Agosto de 1954 em Venegono Inferior (província civil de Varese, diocese de Milão), no Seminário Arquiepiscopal Pio XI, onde ele se encontrava de passagem. Foi seu sucessor um amigo dos beneditinos, Monsenhor João Batista Montini (futuro Papa Paulo VI), que introduziu a sua causa de beatificação em 1957.

Estudioso e asceta, realizou uma profunda síntese entre contemplação e ação. "Ele foi, por um quarto de século", disse o Papa Roncalli, "a ilustração mais conhecida e admirada do glorioso binômio ora et labora".

A grandeza de Schuster reside de fato, mais do que nos seus escritos, no seu testemunho de mestre da oração da Igreja e na sua capacidade de manifestar através do corpo e de alargar à vida quotidiana o espírito haurido na liturgia celebrada.

Dos seus sacerdotes ele exige a santidade de vida, porque "parece que as pessoas não podem mais ser convencidas pela nossa pregação, mas na face da santidade, elas ainda acreditam, ainda se ajoelham e rezam". Além de ser pastor de almas, ele é um bom estudioso da história, catequese, arqueologia e arte, mas antes de tudo é liturgista, convencido de que a liturgia "por excelência é a oração da Igreja, a única verdadeira "devoção" de todo cristão, que não deve ir em busca de outras devoções"

"Via-se um santo em diálogo com o poder invisível de Deus. Não se podia olhar para ele sem sermos atingidos por um tremor religioso" (testemunho de João Colombo, Scritti). 

“O povo simples acorria... para contemplar este homem pequeno e frágil que, nas vestes do liturgo, se tornava um gigante... o seu testemunho sacerdotal, tornava-se para todos a mais autêntica e válida das mistagogias" (testemunho de Giacomo Biffi).




terça-feira, 29 de agosto de 2017

29 de agosto - Martírio de São João Batista

"Celebramos hoje a memória do martírio de são João Batista, o precursor de Jesus. No Calendário romano, é o único santo do qual se celebra tanto o nascimento, a 24 de Junho, como a morte ocorrida através do martírio. A memória  remonta à dedicação de uma cripta de Sebaste, em Samaria onde, já em meados do século IV, se venerava a sua cabeça. Depois, o culto alargou-se a Jerusalém, às Igrejas do Oriente e a Roma, com o título de Degolação de são João Batista. No Martirológio romano faz-se referência a uma segunda descoberta da preciosa relíquia, transportada naquela ocasião para a igreja de São Silvestre em Campo Márcio, em Roma.

Estas breves referências históricas ajudam-nos a compreender como é antiga e profunda a veneração de são João Batista. Nos Evangelhos realça-se muito bem o seu papel em relação a Jesus. De modo particular, são Lucas narra o seu nascimento, a sua vida no deserto e a sua pregação, e no Evangelho de hoje são Marcos fala-nos da sua morte dramática. João Batista começa a sua pregação sob o imperador Tibério, em 27-28 d.C., e o convite claro que ele dirige ao povo que acorre para o ouvir é que prepare o caminho para receber o Senhor, e endireitem as veredas tortas da própria vida através de uma conversão radical do coração (cf. Lc 3, 4). 
Contudo, João Batista não se limita a pregar a penitência e a conversão mas, reconhecendo Jesus como «o Cordeiro de Deus» que veio para tirar o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29), tem a profunda humildade de mostrar em Jesus o verdadeiro Enviado de Deus, pondo-se de lado a fim de que Jesus possa crescer, ser ouvido e seguido. Como último gesto, João Batista testemunha com o sangue a sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem ceder nem desistir, cumprindo a sua missão até ao fim. São Beda, monge do século IX, nas suas Homilias diz assim: «São João, por [Cristo] deu a sua vida; embora não lhe tenha sido imposto que negasse Jesus Cristo, só lhe foi imposto que não dissesse a verdade». E ele dizia a verdade, e assim morreu por Cristo, que é a Verdade. Precisamente pelo amor à Verdade, não cedeu a compromissos nem teve medo de dirigir palavras fortes a quantos tinham perdido o caminho de Deus.

Nós vemos esta grande figura, esta força na paixão, na resistência contra os poderosos. Interroguemo-nos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão recta e tão coerente, empregue totalmente por Deus e para preparar o caminho para Jesus? A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio condutor de toda a sua existência. João é o dom divino longamente invocado pelos seus pais, Zacarias e Isabel (cf. Lc 1, 13); uma dádiva grande, humanamente inesperada, porque ambos eram de idade avançada e Isabel era estéril (cf. Lc 1, 7); mas a Deus nada é impossível (cf. Lc 1, 36). O anúncio deste nascimento verifica-se precisamente no contexto da oração, no templo de Jerusalém; aliás, acontece quando Zacarias recebe o grande privilégio de entrar no lugar mais sagrado do templo para fazer a oferta do incenso ao Senhor (cf.Lc 1, 8-20). Também o nascimento de João Batista é marcado pela oração: o cântico de alegria, de louvor e de acção de graças que Zacarias eleva ao Senhor e que nós recitamos todas as manhãs nas Laudes, o «Benedictus», exalta a obra de Deus na história e indica profeticamente a missão do filho João: preceder o Filho de Deus que se fez carne, para lhe preparar as estradas (cf.Lc 1, 67-79). Toda a existência do precursor de Jesus é alimentada pela relação com Deus, de modo particular o período transcorrido em regiões desertas (cf. Lc 1, 80); as regiões desertas que são lugares de tentação, mas também lugares onde o homem sente a própria pobreza, porque desprovido de apoios e certezas materiais, e compreende que o único ponto de referência sólido permanece o próprio Deus. Mas João Batista não é apenas um homem de oração, do contacto permanente com Deus, mas também um guia para esta relação. Citando a oração que Jesus ensina aos discípulos, o «Pai-Nosso», o evangelista Lucas anota que o pedido é formulado pelos discípulos com estas palavras: «Senhor, ensinai-nos a rezar, como também João ensinou aos seus discípulos» (cf. Lc 11, 1).

Caros irmãos e irmãs, celebrar o martírio de são João Batista recorda-nos, também a nós cristãos deste nosso tempo, que não se pode ceder a compromissos com o amor a Cristo, à sua Palavra e à Verdade. A Verdade é Verdade, não existem compromissos. A vida cristã exige, por assim dizer, o «martírio» da fidelidade quotidiana ao Evangelho, ou seja, a coragem de deixar que Cristo cresça em nós e que seja Cristo quem orienta o nosso pensamento e as nossas ações. 

Mas isto só se verifica na nossa vida se a nossa relação com Deus for sólida. A oração não é tempo perdido, não é roubar espaço às atividades, inclusive às obras apostólicas, mas é precisamente o contrário: se formos capazes de ter uma vida de oração fiel, constante e confiante, o próprio Deus dar-nos-á a capacidade e a força para viver de modo feliz e tranquilo, para superar as dificuldades e testemunhá-lo com coragem. São João Batista interceda por nós, a fim de sabermos conservar sempre o primado de Deus na nossa vida. Obrigado!"

Papa Bento XVI 29/08/2012

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

28 de agosto - Santo Agostinho de Hipona (Pai dos Agostinianos)


Raramente uma civilização encontrou um espírito tão grande, que soubesse acolher os seus valores e exaltar a sua intrínseca riqueza, inventando ideias e formas das quais se alimentariam as gerações vindouras, como ressaltou também Paulo VI:
"Pode-se dizer que todo o pensamento da antiguidade conflui na sua obra e dela derivam correntes de pensamento que permeiam toda a tradição doutrinal dos séculos sucessivos".
Além disso, Agostinho é o Padre da Igreja que deixou o maior número de obras. O seu biógrafo Possídio diz: parecia impossível que um homem pudesse escrever tantas coisas durante a vida.
Hoje a nossa atenção concentra-se sobre a sua vida, que se reconstrói bem pelos escritos, e em particular pelas Confissões, a extraordinária autobiografia espiritual, escrita em louvor a Deus, que é a sua obra mais famosa.
E são precisamente as Confissões agostinianas, com a sua atenção à interioridade e à psicologia, que constituem um modelo único na literatura ocidental, e não só, também não religiosa, até à modernidade. Esta atenção à vida espiritual, ao mistério do eu, ao mistério do Deus que se esconde no eu, é uma coisa extraordinária sem precedentes e permanece para sempre, por assim dizer, um "vértice" espiritual. 
Papa Bento XVI - 09 de janeiro de 2008

Aurelius Augustinus, mais conhecido como Santo Agostinho nasce em Tagaste, província romana ao norte da África em 13 de novembro de 354; primogênito do pagão Patrício e da fervorosa cristã Mônica. Criança alegre, buliçosa, entusiasta do jogo, travessa e amante da amizade, não gosta muito de estudar porque os mestres usam métodos agressivos e não são sinceros. Ante os adultos se revela como "um menino de grandes esperanças", com inteligência clara e coração inquieto. 


Africano pela lei do solo, romano pela cultura e língua, e cristão por educação. Agostinho, jovem, de temperamento impulsivo e veemente, se entrega com afinco ao estudo e aprende toda a ciência do seu tempo. Chega a ser brilhante professor de retórica em Cartago, Roma e Milão. 

Sedento de Verdade e Felicidade 

Em sua busca pela verdade vive longos anos com ânimo disperso. Vazio de Deus e agarrado pelo pecado, a vontade "sequestrada", errante e peregrina, "enganado e enganador". 

Mas, seu coração, sempre aberto à verdade, chega ao encontro da graça pelo caminho da interioridade, apoiado pelas orações de sua mãe, que na infância lhe havia marcado com o sinal da cruz. E pelos ensinamentos do Bispo Ambrósio de Milão.

Coração Sempre Jovem 

Estando em Milão, no seu horto; uma voz infantil o anima - "TOMA E LÊ" - a ler as Escrituras, ficando de repente iluminada a sua inteligência com uma luz de segurança e satisfazendo o seu coração – Coração humano - coração grande de jovem; era o outono do ano 386. 

Deixando a docência, retira-se a Cassicíaco, recinto de paz e silêncio e põe em prática o Evangelho em profunda amizade compartilhada: vida de quietude, animada somente pela paixão à Verdade. Assim se prepara para ser batizado na primavera de 387 por Santo Ambrósio. 

Inspirador da Vida Religiosa
 

De novo em Tagaste - a mãe morre no porto de Roma - vende suas posses e projeta seu programa de vida comum: pobreza, oração e trabalho. Por seus dotes naturais e títulos de graça, cresce em torno dele um grupo de amizade e funda para a história o Monacato Agostiniano.
 

No ano 391 é proclamado sacerdote pelo povo, e cinco anos mais tarde, os cristãos de Hipona o apresentam para o Episcopado. Consagrado Bispo de Hipona - título de serviço e não de honra - converte a sua residência em casa de oração e tribunal de causas. Inspirador da vida religiosa, pastor de almas, administrador de justiça, defensor da Fé e da Verdade. Prega e escreve de forma infatigável e condensa o pensamento do seu tempo. 

A Deus se confiou Agostinho todos os dias, até ao extremo da sua vida: atingido por febre, quando havia três meses que Hipona estava assediada pelos vândalos invasores, o Bispo, narra o amigo Possídio na Vita Augustini pediu para transcrever em letras grandes os salmos penitenciais "e fez pregar as folhas na parede, de modo que estando de cama durante a sua doença os podia ver e ler, e chorava ininterruptamente lágrimas quentes". Transcorreram assim os últimos dias da vida de Agostinho, que faleceu a 28 de Agosto de 430, quando ainda não tinha completado 76 anos. 

Oração

Senhor, despertai na vossa Igreja o espírito que animou Santo Agostinho, para que todos nós, sedentos da verdadeira sabedoria, não nos cansemos de vos procurar, fonte viva do amor eterno. 
Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.

domingo, 27 de agosto de 2017

27 de agosto - Santa Mônica (Agostiniana)


Forte de ânimo, ardente na fé, firme na esperança, de inteligência brilhante, sensibilíssima às exigências da convivência, assídua na oração e na meditação da Sagrada Escritura.

Mônica encarna o modelo de esposa ideal e mãe cristã.

Ela nasceu no ano de 331 ou 332, na cidade de Tagaste, na Argélia, que fica no norte da África.
Filha de família abastada, foi criada por uma escrava que criava os filhos dos senhores. Os manuscritos que recolheram a tradição oral sobre Santa Mônica dizem que desde criança ela era muito religiosa e disciplinada. Sempre que podia, Mônica ajudava os mais pobres e demonstrava muita paciência e mansidão.

Casou-se com um nobre chamado Patricio. Ele era um decurião, (membro do conselho de Tagaste). Possuía terras, escravos e uma boa posição social. Patrício, porém, era homem rude e violento. 
Mônica suportou tudo em silêncio e mansidão. Encontrava o consolo nas orações que elevava a Cristo e à Virgem Maria pela conversão do esposo. E Deus recompensou sua dedicação pois ela pôde assistir ao batismo do marido, que se converteu sinceramente um ano antes de morrer.

Teve 3 filhos: Agostinho, Navigio e Perpétua. Agostinho era o mais velho e lhe causou muitas tristezas. A dificuldade com Agostinho chegou a tal ponto que, para ensiná-lo que nossas ações neste mundo tem consequências, Mônica o proibiu de entrar  em casa. Mas ela nunca deixou de rezar pela conversão do filho. Rezava também pela conversão do marido e de Navigio, sempre com muita perseverança e paciência, nunca desistiu de sua fé cristã.

Certa vez ela foi pedir os conselhos de um bispo. Este a consolou dizendo:

“Continue a rezar,
pois é impossível que se perca
um filho de tantas lágrimas”.

Santa Mônica rezou anos a fio pela conversão de seu marido e seus 2 filhos. Sua perseverança foi compensada com a felicidade de ver todos convertidos para Deus. Sua perseverança foi tão marcante que ela rezou durante trinta anos pela conversão de Agostinho sem desanimar. 
E suas orações foram ouvidas: seu filho mais velho tornou-se o famoso "Santo Agostinho", o santo que influenciou todo o Ocidente cristão e influencia até hoje. Quando escreveu sobre sua mãe, entre outras coisas, ele disse: "ela foi o meu alicerce espiritual, que me conduziu em direção da fé verdadeira. Minha mãe foi a intermediária entre mim e Deus."

Santa Mônica faleceu no ano 387, aos 56 anos. Santo Agostinho no seu famoso livro autobiográfico intitulado "Confissões" fez um monumento indelével à memória de Santa Mônica. O corpo de Santa Mônica foi descoberto em 1430. O Papa Martinho V transportou-o para Roma e depositou-o na igreja de Santo Agostinho.

Ela foi canonizada pelo Papa Alexandre lll, por ter sido a responsável pela conversão de Santo Agostinho, ensinado a fé cristã, a moral e a mansidão.
Foi declarada Padroeira das Associações das Mães Cristãs.

Oração
Senhor, nosso Deus e misericórdia, que cumulastes Santa Mônica com o carisma de reconciliar os homens entre si e convosco, concedei-nos ser mensageiros da paz e da unidade, dirigindo para vós os corações com o exemplo de nossa vida.

Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


sábado, 26 de agosto de 2017

Ser Catequista...


Ser catequista não é uma profissão, mas uma vocação:
É o que afirma o Papa Francisco na mensagem enviada aos participantes do Simpósio  Internacional sobre Catequese, em andamento na Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica Argentina (UCA), em Buenos Aires.

O Pontífice cita um diálogo de São Francisco de Assis com um de seus seguidores, que queria aprender a pregar. O santo lhe diz: Quando visitamos os enfermos, ajudamos as crianças e damos de comer aos pobres já estamos pregando. “Nesta lição, está contida a vocação e a tarefa do catequista”.
Ser catequista
Em primeiro lugar, a catequese não é um trabalho ou uma tarefa externa à pessoa do catequista, mas se “é” catequista e toda a vida gira em torno desta missão. De fato, “ser” catequista é uma vocação de serviço na Igreja, que se recebeu como dom do Senhor para ser transmitido aos demais. Por isso, o catequista deve constantemente regressar àquele primeiro anúncio ou “kerygma”, que é o dom que transformou a própria vida. Este anúncio deve acompanhar a fé que já está presente na religiosidade do povo.
Com Cristo
O catequista caminha a partir de Cristo e com Ele, não é uma pessoa que parte de suas próprias ideias e gostos, mas se deixa olhar por Ele, porque é este olhar que faz arder o coração. Quanto mais Jesus toma o centro da nossa vida, mais nos impulsiona a sair de nós mesmos, nos descentraliza e nos faz mais próximos dos outros.
Catequese “mistagógica”
O Papa compara este dinamismo do amor com os movimentos cardíacos: sístole e diástole, se concentra para se encontrar com o Senhor e imediatamente se abre para pregar Jesus. O exemplo fez do próprio Jesus, que se retirava para rezar ao Pai e logo saía ao encontro das pessoas sedentas de Deus. Daqui nasce a importância da catequese “mistagógica”, que é o encontro constante com a Palavra e os sacramentos e não algo meramente ocasional.
Criatividade
E na hora de pregar, Francisco pede que os catequistas sejam criativos, buscando diferentes meios e formas para anunciar a Cristo. “Os meios podem ser diferentes, mas o importante é ter presente o estilo de Jesus, que se adaptava à
as pessoas que tinha a sua frente. É preciso saber mudar, adaptar-se, para que a mensagem seja mais próxima, mesmo quando é sempre a mesma, porque Deus não muda, mas renova todas as coisas Nele.
Agradeço a todos os catequistas pelo que fazem, mas sobretudo porque caminham com o Povo de Deus. “Eu os encorajo a serem alegres mensageiros, custódios do bem e da beleza que resplandecem na vida fiel do discípulo missionário.”

26 de agosto - São Liberato, São Bonifácio e Companheiros

Santo Agostinho fundou diversos mosteiros no norte da África, onde numerosos seguidores dos ideais agostinianos da comunidade de vida monástica viveram.

Após 34 anos da morte do Bispo de Hipona, a vida dos seguidores de Agostinho mudaria bruscamente: as invasões na África romana - em primeiro lugar dos vândalos e depois dos árabes - destruíram as fundações monásticas agostinianas.

Em 484, no reinado de Hunerico, o rei vândalo, publicou um edito ordenando a dissolução de todos os mosteiros católicos na região sob seu domínio e que os monges e monjas fossem entregues aos mouros.

Os sete membros do mosteiro de Gafsa, na Tunísia, foram capturados, levados a força para Cartago por causa da recusa em renunciar sua fé.  Juntos responderam:
“Um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Guardai o que prometeis. Haveis de perecer com vossas riquezas. Quanto a nós, ninguém poderá apagar de nossas frontes o sinal que o Criador, no batismo, dignou-se gravar como propriedade da Santíssima Trindade”.

Eram eles: o diácono Bonifácio, o subdiácono Servo, o subdiácono Rústico, o abade Liberato, e os monges Rogato, Sétimo e Máximo. Eram sete como os irmãos Macabeus. A única e santa mãe, a Igreja Católica os gerara e dera à luz da fonte eterna no território da cidade de Gafsa.

Primeiro lhes foi oferecido recompensa se eles abandonassem Cristo e o modo de vida agostiniana. Como eles não arredaram pé, foram jogados na prisão. Enfrentando as provações, forma martirizados em Cartago, dando grande exemplo de fortaleza na fé e de unidade fraterna.

Como eles permaneceram constantes em sua crença, foram acorrentados e jogados na masmorra. No início, cristãos fiéis pagavam propina aos guardas e os visitavam dia e noite para deles receberem instrução e encorajamento em seus próprios sofrimentos pela fé.

Finalmente decidiram que eles seriam colocados em um navio velho e queimados no mar. O marcha até o mar foi de alegria, dificilmente diminuída pelos insultos dos arianos que estavam ao longo do caminho que faziam.

Eles pediam com ardor ao mais jovem, Máximo, que abandonasse seus companheiros. Sua resposta foi firme:

“Ninguém vai separar-me do meu santo pai Liberato, ou dos meus irmãos que me viram crescer no mosteiro. Eu aprendi com eles como viver no temor de Deus. Eu desejo partilhar o sofrimento com eles porque eu espero participar da glória que está para chegar. Vocês acham que podem me desviar do meu caminho porque eu sou jovem. O Senhor tem a intenção de nos reunir a nós sete; ele irá coroar a todos nós com o martírio”.

O navio foi colocado para velejar sem rumo e ateado fogo diversas vezes, mas o fogo não começava. Hunerico então ordenou que os monges fossem trazidos para a praia e golpeados até a morte com os remos.

Eles morreram por Cristo, unidos em sua fé e fraternidade agostiniana. Era 2 de julho de 484. Embora seus corpos fossem jogados no mar, foram resgatados pelos fiéis e enterrados no mosteiro de Biguá, próximo à Basílica de Celerino.

A celebração do ofício foi concedida à Ordem em 6 de junho de 1671.

Oração
Senhor Deus, que nos santos mártires Liberato, Bonifácio, Máximo e companheiros, fortalecidos com a força do Espírito Santo, nos destes um exemplo admirável de fortaleza e unidade fraterna: concedei-nos, por sua intercessão, que, em meio às vicissitudes deste mundo, permaneçamos sempre fiéis a Cristo e vivamos na unidade no amor.


Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

25 de agosto - São José de Calasanz

José de Calasanz foi um homem singular, nos planos de Deus e na história da educação.
Nasceu no norte da Espanha em 1557. Aos 35 anos, com o título de doutor em teologia, embarcou para Roma com intenção de voltar em breve; não imaginava que em Roma encontraria sua vocação definitiva.

Roma, naquele final do século XVI, estava invadida por uma imensa multidão de “excluídos”; peregrinos, pobres, doentes. Forte miséria social e moral. Calasanz foi descobrindo o dramático rosto da pobreza e da ignorância, o abandono da maior parte da população. Não foi insensível a essa realidade.

A educação era privilégio de poucos; crianças e jovens perdiam a vida jogados na rua, incapazes de sair de sua situação de abandono, privados de cultura e futuro. As escolas eram insuficientes e com pouquíssimos recursos. Em 1597 começou a trabalhar com entusiasmo numa escolinha de periferia, com crianças pobres, e foi crescendo no seu coração o desejo de assumir uma difícil missão:
 “oferecer educação a meninos e jovens abandonados, levando-os a descobrir o valor da vida, despertando neles o desejo de ser alguém, de libertar-se das ignorâncias, de ser filhos de Deus”.

Em 1600, levou a escolinha, popular e gratuita, para dentro da cidade, pois a situação de pobreza era generalizada. A obra foi crescendo. Procurou ajuda em Instituições existentes, mas não achou resposta adequada; ninguém apostava em “escola para pobres”. Só os filhos dos ricos recebiam uma adequada educação. Ficou sozinho.

Com muita fé em Deus e amor pelos pequenos abandonados, fez a definitiva opção de sua vida:“encontrei em Roma a melhor maneira de agradar a Deus, educando as crianças pobres, e nunca abandonarei esta tarefa”. Descobriu sua vocação "na entrega total à educação do menor carente", que se revelava, aos olhos de Calasanz, como um espelho da face misericordiosa de Deus. Este foi o grande acontecimento que mudou sua vida.

Calasanz, que aspirava a ter cargos importantes, renunciou a tudo e aprendeu a ser humilde. Deixou de lado o prestígio, e dedicou sua vida a uma profissão considerada na época como muito desprezível. Começou a viver austeramente, para poder doar-se melhor aos pequenos; com eles partilhou seu tempo e dinheiro, sua vida.
Sua obra foi ganhando espaço; chegaram mais alunos; ensinava a ler e escrever, e os bons costumes da piedade cristã. Estava nascendo, de forma silenciosa e humilde, uma das obras mais importantes daquela época, confirmando um direito fundamental de toda pessoa: 
“o direito a ter educação, a ter uma escola gratuita e popular”.

O caminho não foi fácil. Os meninos aumentavam todo dia e as escolas enfrentavam inúmeros problemas: falta de locais apropriados, dificuldades econômicas, falta de professores que aceitassem com alegria o trabalho com os pobres, algumas calúnias e até invejas.

Tudo foi superado pela profunda convicção do valor daquela obra; com fé inabalável e com generosa dedicação. Calasanz nunca voltou atrás, foi fiel até os 91 anos. Fidelidade feita de sacrifício, trabalho generoso, oração e constante presença de Deus; confiante, paciente, humilde; sereno e sempre firme; apesar das muitas contradições, homem feliz. Sem essa fé total e sem essa grandeza de espírito, a “Escola Nova” de Calasanz não teria ido para frente.

Pouco a pouco, a escola para crianças pobres foi tomando consistência. Era um projeto singular. “Primeira Escola Popular Gratuita da história”, escola universal, aberta a todo tipo de pessoas: católicos, protestantes, judeus. Nunca suas portas se fecharam para ninguém.

Calasanz viu nos pobres a figura de Jesus. Sua obra não era uma simples filantropia; seu amor às crianças humildes era um "sinal do Reino de Deus". Foi Jesus quem disse: "quem recebe uma criança em meu nome, é a mim que recebe". Calasanz encarnou na sua vida o amor preferencial de Jesus pelos pequenos; suas escolas foram fundadas para servir a Cristo neles. É assim que Calasanz queria manifestar e viver seu seguimento de Jesus, encarnado na entrega total aos “pequenos-pobres”.

Para dar estabilidade à sua obra, Calasanz fundou a “Ordem Religiosa dos Padres Escolápios”, primeira Ordem Religiosa da Igreja dedicada totalmente ao ministério da educação cristã.
O Papa Paulo V percebeu a importância das escolas para o desenvolvimento da educação dos pobres, e deu sua aprovação.

Calasanz teve que lutar muito para manter o espírito da obra, ciente do serviço que podia prestar à sociedade. Muitas pessoas não compreendiam. Dirigiu ao Cardeal Tonti um dos documentos mais vibrantes e corajosos, em defesa da educação dos pobres
"O ministério da educação é o mais digno, o mais nobre, o de maior mérito, o mais necessário, o mais natural, o primeiro; dele depende a vida toda da pessoa; é o mais razoável por parte do Estados, pois deveriam ser os primeiros interessados em ter cidadãos bem preparados para a vida e para o trabalho".

A obra de Calasanz levantou polêmica; nos padrões da época, a educação era privilégio de poucos. Lutou contra toda discriminação. Defendeu a dignidade do educador numa época que desvalorizava o ministério docente; para ele era a missão mais digna.
Pagou caro seu empenho de oferecer educação aos pobres; foi caluniado, perseguido, humilhado e até levado preso. Enfrentou intrigas e invejas, com uma firme serenidade que não se deixou abalar nas dificuldades. Sua paciência exemplar soube manter a calma no meio das tempestades, deixando assombrados os próprios acusadores.

Para ele, a educação deveria ser uma perfeita combinação entre fé e cultura; por isso, a escola que fundou pretendia educar na fé, com uma boa catequese, e instruir crianças e jovens de tal forma que pudessem inserir-se na sociedade como pessoas responsáveis.
Suas aspirações continuam a ser da maior atualidade nos tempos atuais; deviam ser bem chocantes naquele início do século XVII; daí as muitas dificuldades que enfrentou.

Para poder realizar esta missão, Calasanz queria colaboradores competentes, de profundas virtudes humanas, humildes e com espírito de serviço, com sólida experiência de fé e com boa preparação pedagógica. Uma vocação muito digna. Definia o educador-escolápio como um"cooperador da Verdade". Para Calasanz, o verdadeiro educador (seja religioso, leigo, professor, catequista...) é aquele que acompanha o nascimento de Jesus no coração de cada criança e de cada jovem, levando-os a viver segundo o evangelho, dentro dos planos do Pai. O educador escolápio vive sempre aberto à VERDADE e à VIDA e anuncia a Jesus como o único caminho para o Pai.

José de Calasanz morreu em 25 de agosto de 1648, aos 91 anos.
Em 1948, o Papa Pio XII consagrou-o como “Padroeiro universal das Escolas Populares Cristãs”, e falava dele com as seguintes palavras: “O que São José de Calasanz sofreu nos últimos anos de sua longa vida, o que suportou com heróica virtude, resplandece como uma das mais preciosas jóias na história”.

Foi um “Grande Profeta de Deus entre os pequenos”.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

24 de agosto - São Bartolomeu


“O apóstolo Bartolomeu, nos antigos elencos dos Doze é sempre colocado antes de Mateus, enquanto varia o nome daquele que o precede e que pode ser Filipe (cf. Mt 10, 3; Mc 3, 18; Lc 6, 14) ou Tomé (cf. Act 1, 13). O seu nome é claramente um patronímico, porque é formulado com uma referência explícita ao nome do pai. De fato, trata-se de um nome provavelmente com uma marca aramaica, Bar Talmay, que significa precisamente "filho de Talmay".
Não temos notícias de relevo acerca de Bartolomeu; com efeito, o seu nome recorre sempre e apenas no âmbito dos elencos dos Doze acima citados e, por conseguinte, nunca está no centro de narração alguma. Mas, tradicionalmente ele é identificado com Natanael:  um nome que significa "Deus deu". Este Natanael provinha de Caná (cf. Jo 21, 2), e portanto é possível que tenha sido testemunha do grande "sinal" realizado por Jesus naquele lugar (cf. Jo 2, 1-11). A identificação das duas personagens provavelmente é motivada pelo fato que este Natanael, no episódio de vocação narrada pelo Evangelho de João, é colocado ao lado de Filipe, isto é, no lugar que Bartolomeu ocupa nos elencos dos Apóstolos narrados pelos outros Evangelhos.
Filipe tinha comunicado a este Natanael que encontrara "aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas:  Jesus, filho de José de Nazaré" (Jo 1, 45). Como sabemos, Natanael atribuiu-lhe um preconceito bastante pesado:  "De Nazaré pode vir alguma coisa boa?" (Jo 1, 46a). Esta espécie de contestação é, à sua maneira, importante para nós. De fato, ela mostra-nos que segundo as expectativas judaicas, o Messias não podia provir de uma aldeia tanto obscura como era precisamente Nazaré (veja também Jo 7, 42). Mas, ao mesmo tempo realça a liberdade de Deus, que surpreende as nossas expectativas fazendo-se encontrar precisamente onde não o esperávamos. Por outro lado, sabemos que Jesus na realidade não era exclusivamente "de Nazaré", pois tinha nascido em Belém (cf. Mt 2, 1; Lc 2, 4) e que por fim provinha do céu, do Pai que está no céu.

Outra reflexão sugere-nos a vicissitude de Natanael:  na nossa relação com Jesus não devemos contentar-nos unicamente com as palavras. Filipe, na sua resposta, faz um convite significativo:  "Vem e verás!" (Jo 1, 46b). O nosso conhecimento de Jesus precisa sobretudo de uma experiência viva:  o testemunho de outrem é certamente importante, porque normalmente toda a nossa vida cristã começa com o anúncio que chega até nós por obra de uma ou de várias testemunhas. Mas depois devemos ser nós próprios a deixar-nos envolver pessoalmente numa relação íntima e profunda com Jesus; de maneira análoga os Samaritanos, depois de terem ouvido o testemunho da sua concidadã que Jesus tinha encontrado ao lado do poço de Jacó, quiseram falar diretamente com Ele e, depois deste colóquio, disseram à mulher:  "Já não é pelas tuas palavras que acreditamos, nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo" (Jo 4, 42).
Voltando ao cenário de vocação, o evangelista refere-nos que, quando Jesus vê Natanael aproximar-se exclama:  "Aqui está um verdadeiro Israelita, em quem não há fingimento" (Jo 1, 47). Trata-se de um elogio que recorda o texto de um Salmo:  "Feliz o homem a quem Iahweh não atribui iniquidade" (Sl 32, 2), mas que suscita a curiosidade de Natanael, o qual responde com admiração:  "Como me conheces?" (Jo 1, 48a). A resposta de Jesus não é imediatamente compreensível. Ele diz:  "Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira" (Jo 1, 48b).

Não sabemos o que aconteceu sob esta figueira. É evidente que se trata de um momento decisivo na vida de Natanael. Ele sente-se comovido com estas palavras de Jesus, sente-se compreendido e compreende:  este homem sabe tudo de mim, Ele sabe e conhece o caminho da vida, a este homem posso realmente confiar-me. E assim responde com uma confissão de fé límpida e bela, dizendo:  "Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o Rei de Israel" (Jo 1, 49). Nela é dado um primeiro e importante passo no percurso de adesão a Jesus. As palavras de Natanael ressaltam um aspecto duplo e complementar da identidade de Jesus:  Ele é reconhecido quer na sua relação especial com Deus Pai, do qual é Filho unigênito, quer na relação com o povo de Israel, do qual é proclamado rei, qualificação própria do Messias esperado. Nunca devemos perder de vista nenhuma destas duas componentes, porque se proclamamos apenas a dimensão celeste de Jesus,  corremos  o  risco  de  o  transformar num ser sublime e evanescente, e se ao contrário reconhecemos apenas a sua colocação concreta na história, acabamos por descuidar a dimensão divina que propriamente o qualifica.
Da sucessiva atividade apostólica de Bartolomeu-Natanael não temos notícias claras. Segundo uma informação referida pelo historiador Eusébio do século IV, um certo Panteno teria encontrado até na Índia os sinais de uma presença de Bartolomeu (cf.
Hist. eccl., V 10, 3). Na tradição posterior, a partir da Idade Média, impôs-se a narração da sua morte por esfolamento, que se tornou muito popular. Pense-se na conhecidíssima cena do Juízo Universal na Capela Sistina, na qual Michelangelo pintou São Bartolomeu que segura com a mão esquerda a sua pele, sobre a qual o artista deixou o seu autorretrato. As suas relíquias são veneradas aqui em Roma na Igreja a ele dedicada na Ilha Tiberina, aonde teriam sido levadas pelo Imperador alemão Otão III no ano de 983.

Para concluir, podemos dizer que a figura de São Bartolomeu, mesmo sendo escassas as informações acerca dele, permanece contudo diante de nós para nos dizer que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada também sem cumprir obras sensacionais. Extraordinário é e permanece o próprio Jesus, ao qual cada um de nós está chamado a consagrar a própria vida e a própria morte.”

Papa Bento XVI
04 de outubro de 2006                                Oração de São Bartolomeu