quinta-feira, 30 de novembro de 2017

30 de novembro - Beato José Lopes Piteira

A providência divina queria que este jovem, primeiro beato cubano, derramasse seu sangue defendendo sua fé em Cristo, na Espanha, a terra de seus antepassados, apesar de ter gravada em seu coração, até o último suspiro, a ilha caribenha que o viu nascer. Mas um apóstolo é um cidadão do mundo, um vasto território que é conquistado de polegada a polegada, entregando tudo, como Cristo exige no Evangelho, para que qualquer lugar para o qual ele seja conduzido por causa da vontade divina se torne um destino amado.

E isso que José manteve em mente em todos os momentos, juntamente com a graça divina que o iluminou, fez com que não vacilasse em nenhum momento, mesmo quando enfrentou a morte brutal que lhe foi imposta.

O Beato José não é tão conhecido em todo o mundo como outros mártires, mas ele é parte, por próprio direito, daqueles que souberam enfrentar corajosamente o destino cruel que se aproximava, e generosamente deram suas vidas deixando para trás um admirável legado de amor. 
Um dia, no início do século XX, sua família humilde deixou a Espanha para ganhar a vida, assim como tantos compatriotas. Lá permaneceram, sob a custódia dos avós, dois de seus filhos, de quem eles se despediram com imensa dor. Em sua bagagem, eles levaram a fé herdada de seus pais como um precioso tesouro que eles transmitiriam aos seus numerosos descendentes. José nasceu em Jatibonico – Cuba - em 2 de fevereiro de 1912. Ele foi a quinta criança das que vieram ao mundo naquele lar criado por Emilio e Lucinda, e o segundo dos meninos; depois, mais cinco filhos nasceram. 

Pouco antes de completar seus primeiros cinco anos de vida, José voltou com seus pais para a Espanha. Embora quase não haja informações sobre sua infância, ele deve ter sido uma daquelas crianças que não criavam problemas. Estudou com os beneditinos de Santa Maria de San Clodio, no município de Leiro, Orense, dando assim os primeiros passos para a vida religiosa. Certamente seus pais tinham uma grande esperança nele. Depois de completar seus estudos, juntou-se aos agostinianos de Leganés, em Madri. Ele professou seus primeiros votos com eles em 1929, e continuou seus estudos no mosteiro de San Lorenzo del Escorial. 
Dentre as suas qualidades de vida destacadas, sublinhamos seu "caráter amável e tratável, entusiasmado e observador". 

E, de fato, não seria um religioso ruim, quando um ano antes de se tornar um sacerdote, um momento que aguardava com alegria, seu futuro como vigário apostólico de Hai Phong no Vietnã já estava decidido. Seus superiores haviam vislumbrado nele as qualidades e virtudes que o estavam configurando como um grande apóstolo. Ele não chegou a receber o sacramento da Ordem. Seus sonhos foram violentamente destruídos quando foi capturado em 6 de agosto de 1936 junto com seus irmãos religiosos no meio da fratricida luta espanhola. A antiga escola madrilena de San Antón, que pertencia aos Padres Escolápios, onde muitos estudantes forjaram e compartilharam sua fé, então transformado em prisão, foi o local onde se desenvolveu os primeiros passos do Calvário particular de José.

Quando soube dos esforços feitos por seus familiares diante das autoridades cubanas, antes que se concretizasse a sua liberdade, em um gesto de coragem e coerência, o Beato recusou a oferta de sua libertação que havia sido obtida, mesmo sabendo das dificuldades envolvidas em tal decisão. E sua vocação apostólica, cheio de caridade, se manifestou em sua inabalável vontade de caminhar dando os mesmos passos de seus irmãos em comunidade: "Vocês estão aqui, todos vocês que foram meus educadores, meus professores e meus superiores. Eu vou fugir da cidade? Eu prefiro seguir o destino de todos, e o que Deus quiser!" 
Então ele determinou, com absoluta vontade, querer cumprir a vontade divina. Os rostos de seus superiores e formadores o observavam com emoção. E com eles compartilhou muitos sofrimentos em cerca de quatro meses, marcados pela privação e angústia, até que ele entregou sua alma a Deus em Paracuellos del Jarama, em Madri. 

Ele foi executado em 30 de novembro de 1936, juntamente com outros 50 religiosos agostinianos, exclamando: "Viva o Cristo Rei!".
Ao renovar o supremo ato de perdão, aprendido do Redentor, para com os que o privaram de sua vida, abriu as portas do céu para ele. Ele tinha 24 anos.

Foi beatificado com outros 497 mártires em 28 de outubro de 2007 em Roma.




quarta-feira, 29 de novembro de 2017

29 de novembro - Beato Frederico de Ratisbona - Agostiniano

O beato Frederico foi um irmão agostiniano conhecido pela sua generosidade, humildade, delicadeza para com os irmãos, caridade para com os pobres, religiosidade, dedicação à oração e seu amor devocional à Eucaristia, nasceu em Ratisbona, Bavária, Alemanha. Seus pais pertenciam à classe média.

Entrou na Ordem como irmão não clérigo no mosteiro agostiniano de São Nicolau em sua cidade natal. O mosteiro era a mais importante comunidade da Província da Bavária naquela época, e acolheu o capítulo geral da Ordem Agostiniana de 1290.

Nele, a primeira Constituição dos Agostinianos foi promulgada.

Frederico serviu a comunidade como carpinteiro e tinha a responsabilidade de prover à casa a lenha necessária para o uso cotidiano, modesto trabalho levado a cabo durante anos unido a uma profunda vida de oração.

É lamentável que seja pouco o que se sabe de sua vida. Conhecemos, isso sim, alguns relatos lendários do século XVI, como os que aparecem na biblioteca do capítulo metropolitano de Praga.

Algumas pinturas representando cenas da vida de Frederico e encomendadas por ocasião de sua morte ajudaram a inspirar tais lendas.

Entre elas, a mais conhecida narra como um dia, impossibilitado de assistir à missa e estando no mesmo lugar onde se encontrava trabalhando, Frederico recebeu a comunhão das mãos de um anjo.

A carga de colorido com a que se apresentam os fatos históricos, em conformidade aos gostos do tempo, hoje faz com que tais relatos sejam vistos com fortes reservas, ou inclusive, com rechaço.

Porém, há de se ter em conta que interessava ao narrador medieval confirmar o reconhecimento divino da santidade mediante o milagre.

Mais que escrever propriamente uma biografia, a intenção era a de representar exemplos de virtude e ideais religiosos que animassem a segui-los.

Episódios como o exposto acima atestam a devoção eucarística de nosso beato e provam o profundo efeito produzido entre seus contemporâneos e a continuidade da piedosa memória de que foi objeto ao longo dos séculos.

O Prior Geral dos Agostinianos, Clemente Fulh, atesta em uma carta dirigida aos irmãos não clérigos que

"o beato Frederico chegou ao cume da perfeição obedecendo fielmente as normas estabelecidas por Santo Agostinho e soube integrar de maneira admirável a vida perfeitamente contemplativa com a vida perfeitamente ativa".


Frederico morreu em Ratisbona no dia 29 de novembro de 1329 e logo depois de sua morte muito milagres foram creditados por sua intercessão e o Papa São Pio X, o beatificou em 12 de maio de 1909.

29 de novembro - Beato Bernardo Francisco Hoyos

Eu não saio do Sagrado Coração; quer este Divino Dono que eu seja discípulo do Sagrado Coração de Jesus, e discípulo amado.

Bernardo Francisco Hoyos é considerado como o principal apóstolo do Sagrado Coração de Jesus na Espanha e, apesar de sua breve vida, pode ser considerado um extraordinário místico. Não escreveu grandes tratados. Somente instruções e documentos espirituais, alguns sermões, apontamentos e várias centenas de cartas - possivelmente mais de duzentas - ao seu diretor espiritual.

Bernardo era natural de Torrelobatón, localidade espanhola situada no coração de Castela, onde nasceu em 20 de agosto de 1711. Teve pais piedosos que lhe transmitiram o patrimônio da fé, o puseram sob a proteção de São Francisco Xavier e o incentivaram em sua vocação religiosa. Desde os 9 anos até a morte precoce, esteve sempre com os jesuítas. Com eles estudou em várias localidades de Valladolid, integrando-se à Companhia de Jesus aos 14 anos, época em que já experimentava favores celestiais.

Um dos traços preponderantes da sua existência foi a profunda e singular vida interior, que recorda a dos grandes místicos, como Teresa de Jesus e João da Cruz. Bernardo era um jovem simples, inocente, devoto da Virgem Maria, diligente na obediência, dócil às ordens recebidas, com os braços sempre abertos para Deus em espírito de auto-oferta, guiado pelo santo temor que o precavia de qualquer falta que pudesse ofendê-lo.

Em sua biografia, encontramos o instante concreto que marcou a sua futura missão em honra do Sagrado Coração de Jesus. Mais do que coincidência, foi providencial o que lhe ocorreu aos 21 anos, quando estudava teologia em Valladolid:

Um amigo sacerdote e professor, pouco mais velho que ele, pedira a Bernardo o favor de buscar na biblioteca o texto «De cultu Sacratissimi Cordis Iesu», escrito pelo padre. José de Gallifet, e de copiar alguns fragmentos que desejava para um sermão. A leitura desta obra dedicada à devoção ao Sagrado Coração de Jesus, e da qual Bernardo não tinha noção alguma, despertou nele uma comoção interior inefável. 

“Eu, que não havia ouvido jamais coisa assim, comecei a ler a origem do culto do Coração de nosso amor Jesus, e senti em meu espírito um extraordinário movimento forte, suave e nada arrebatado nem impetuoso, com o qual me fui logo ao ponto diante do Senhor Sacramentado a oferecer-me a seu Coração para cooperar o quanto pudesse ao menos com orações para a extensão de seu culto. (...)Todo o dia transcorreu em notáveis afetos ao Coração de Jesus, e ainda estando em oração, me fez o Senhor um favor (...) Mostrou-me seu Coração todo abrasado em amor, condoído do pouco que se lhe estima.” 

Naquele mesmo instante, ele consagrou a vida perante o sacrário, prometendo dedicar-se por inteiro a estender esse culto.
No dia seguinte, através de uma locução divina, soube que tinha sido escolhido para esta missão: «Envolto em confusão, renovei a oferta do dia anterior, mesmo um pouco perturbado, vendo a desproporção do instrumento e não vendo meios para uma obra tão grande». Na mesma jornada, durante a oração, viveu outro fato singular. O Sagrado Coração lhe apareceu «todo abrasado em amor e condoído pelo pouco que é amado. Repetiu-me o chamado que fizera a este seu indigno servo para transmitir o seu culto, e fez sossegar aquela pequena perturbação que mencionei, dando-me a entender que eu devia deixar sua providência agir, pois ela me guiaria…». Em outra visão, o arcanjo São Miguel lhe assegurou sua assistência para levar adiante esta missão. 

Bernardo promovia uma intensa cruzada em favor do Sagrado Coração de Jesus, em que envolveu religiosos, começando pela própria comunidade, prelados e membros da realeza, conseguindo até que o pontífice oficializasse esta festa para a Espanha.

No dia 15 de agosto de 1733, festa da Assunção de Maria, nosso Bernardo teve uma visão em que pode admirar a glória da Virgem no Céu. Viu Bernardo durante a Santa Missa e lhe disse Nosso Senhor: “O que hoje sentiu, é algo que aconteceu no Céu quando nele entrou minha Mãe. Tenha-a por sua: tudo o que me pedir por seu intermédio, não duvides que alcançarás, se é pela minha glória.”


Numa das locuções, Cristo lhe garantiu que reinaria «na Espanha com mais veneração do que em outras muitas partes do mundo». O arcebispo de Burgos o apoiou nesta missão desde o começo, o que propiciou o florescimento de congregações do Coração de Jesus e a realização de numerosas novenas que aumentavam a veneração das pessoas.


Os jesuítas levaram à América os ecos desta cruzada que Bernardo empreendeu até morrer, em Valladolid, no dia 29 de novembro de 1735, em decorrência do tifo. Tinha 24 anos e fora ordenado sacerdote em janeiro do mesmo ano. Foi beatificado em Valladolid em 18 de abril de 2010.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

28 de novembro - Santo Estevão, o jovem

Estevão, o Jovem foi um monge bizantino de Constantinopla que tornou-se um dos principais oponentes das políticas iconoclastas do imperador Constantino  ele nasceu em Constantinopla no ano de  713. 

Seu pai, Gregório, foi um artesão. Sua mãe chamava Ana e teve duas irmãs mais velhas, Teodora e outra de nome desconhecido.  Aos 15 anos foi confiado por seus pais aos monges do Monastério de Santo Auxencio, não muito distante de Calcedônia.

Lá recebeu o ofício de comprar as provisões para o monastério. Quando seu pai faleceu, Estevão precisou ir à Constantinopla, quando aproveitou para vender todas as suas posses, repartindo com os pobres o dinheiro resultante da venda. Uma de suas irmãs já era religiosa. A outra partiu para Bitínia com sua mãe, retirando-se, ambas, num monastério.

Ao morrer o abade João, Estevão, com apenas 30 anos, foi eleito para sucedê-lo em seu posto. O monastério era constituído por uma série de celas isoladas, espalhadas pela montanha. O novo abade se estabeleceu numa caverna localizada em seu topo. Ali, uniu trabalho e oração, ocupando-se em copiar livros e confeccionar redes. Alguns anos mais tarde, Estevão renunciou ao cargo e, num lugar ainda mais retirado construiu uma cela tão pequena que, sequer podia estar de pé em seu interior nem deitar-se sem encostar-se a uma de suas paredes. Encerrou-se nesta espécie de sepulcro até seus 42 anos de idade.

O imperador Constantino V, seguiu com as perseguições que se pai já havia declarado às imagens. Como já era de se esperar, encontrou nos monastérios a oposição mais forte que podia esperar, e contra eles, portanto, adotou as medidas mais rigorosas. O imperador estava tentando assinar o decreto promulgado pelos bispos no sínodo iconoclasta de 754.

Patrício Calixto fez uma tentativa de convencer o santo a assiná-lo, mas fracassou na empresa. Constantino, furioso ao não ver a assinatura de Santo Estevão, enviou Calixto com um grupo de soldados para que arrancassem o santo de sua cela e o conduzisse à prisão. Estevão achava-se já tão exausto, que os soldados tiveram de carrega-lo até o topo da montanha. Algumas testemunhas acusaram Santo Estevão de ter vivido com sua filha espiritual, a santa viúva Anna. Anna protestou, afirmando sua inocência e, tendo negado a testemunhar contra o santo, como lhe pedia o imperador, foi encarcerada num monastério onde morreu pouco depois em decorrência dos maus tratos sofridos.

O imperador, que buscava um novo pretexto para condenar Estevão à morte, surpreendeu-lhe quando conferia o hábito a um noviço, o que estava proibido. Imediatamente os soldados dispersaram os monges e incendiaram o monastério e a igreja. Na igreja foi aprisionado e conduzido num navio a um monastério de Crisópolis onde foi julgado por Calixto e alguns outros bispos.

No início, foi tratado com cordialidade, não tardando, porém, a ser maltratado com brutalidade. O santo lhes perguntou como se atreviam qualificar de ecumênico um concílio não aprovado por outros patriarcas, defendendo com coragem e firmeza a veneração das imagens sagradas. Por isso, foi desterrado para a Ilha de Proconeso de Propôntide. Dois anos mais tarde, Constantino V mandou que fosse transferido para uma prisão em Constantinopla.

Alguns dias depois Santo Estevão comparecia diante do imperador que lhe perguntou se acreditava mesmo que pisotear uma imagem era o mesmo que pisotear Cristo. Estevão respondeu: «Claro que não!»

E tomando uma moeda perguntou ao imperador que castigo merecia o que pisoteasse a imagem do imperador que havia nela. Só pensar num crime desta natureza provocou visível indignação no imperador. Então, Estevão voltou a perguntá-lo: «De modo que, é crime insultar a imagem do rei da terra, mas não o é atear fogo às imagens do Rei do Céu?»

O imperador então ordenou que Estevão fosse açoitado, o que seus carrascos cumpriram com violência extrema. Sabendo que Estevão não tinha morrido no suplício, Constantino exclamou: «Será que não existe quem seja capaz de me livrar desse monge?» Imediatamente um dos que estavam presentes correu ao cárcere e arrastou o santo pelas ruas da cidade, sendo apedrejado e açoitado pela multidão, até que um homem atingiu sua cabeça, destrocando-a mortalmente.

Seu crânio foi recuperado por um de seus seguidores e levado pelo mosteiro de Dius e tornou-se objeto de uma procissão especial presidida pelo eparca de Constantinopla em sua festa.



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

27 de novembro - Nossa Senhora da Medalha Milagrosa


“Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo. Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que a usarem com confiança”, disse Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré no dia 27 de novembro de 1830.

Na aparição, a Mãe de Deus vestia um traje branco e estava revestida com um véu da mesma cor que a cobria da cabeça aos pés. Seu rosto era muito belo. Os pés estavam sobre um globo branco e esmagavam uma serpente.

Suas mãos, à altura do coração, seguravam um pequeno globo de ouro, coroado com uma pequena cruz. Levava nos dedos anéis com pedras preciosas que brilhavam e iluminavam em toda a direção.

A Virgem olhou para Santa Catarina e lhe disse: “o globo que vês representa o mundo inteiro, especialmente a França e cada alma em particular. Estes raios são o símbolo das graças que Eu derramo sobre as pessoas que mais pedem. As pérolas que não emitem raios são as graças das almas que não pedem”.

O globo de ouro que a Virgem Maria estava segurando se desvaneceu e seus braços se estenderam abertos, enquanto os raios de luz continuavam caindo sobre o globo branco dos pés.
Nesse momento formou-se um quadro em torno de Nossa Senhora, um pouco oval, no alto do qual estavam as seguintes palavras: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

As palavras formavam um semicírculo que iniciava à altura da mão direita, passava por cima da cabeça de Maria e terminava à altura da mão esquerda. É aqui onde Maria pede a Catarina que cunhe uma medalha segundo o que está vendo.

A aparição girou e no reverso estava a letra “M” encimada por uma cruz que tinha uma barra em sua base, a qual atravessava a letra. Embaixo figurava o coração de Jesus, circuncidado com uma coroa de espinhos, e o coração de Nossa Senhora, transpassado por uma espada. Ao redor havia doze estrelas.

A manifestação voltou a acontecer por volta do final de dezembro de 1830 e a princípios de janeiro de 1831. Inicialmente a medalha era chamada “da Imaculada Conceição”.

Pouco tempo depois da aprovação da Medalha Milagrosa, estoura em Paris, em fevereiro de 1832, uma terrível epidemia de cólera, que matou mais de vinte mil pessoas. Este tempo foi previsto em outras aparições a Santa Catarina, que precederam as de Nossa Senhora: “São Vicente de Paulo lhe manifestou seu coração. Na Capela, em oração, Catarina vê por três dias consecutivos, o coração de São Vicente, em três cores diferentes. Ele lhe aparece, em primeiro lugar, branco, cor da paz; depois vermelho, cor do fogo; depois, preto, sinal das desgraças que recairão sobre a França e, particularmente, Paris”. Nesse tempo de sofrimento, a irmã Catarina e as demais Filhas da Caridade começam a distribuir as primeiras medalhas. A partir disso, as curas milagrosas multiplicam-se por toda a França, bem como os sinais da proteção de Nossa Senhora e as conversões a Jesus Cristo. Algo extraordinário estava acontecendo, e o povo de Paris, que testemunha todos esses prodígios, passar a chamar a medalha de Nossa Senhora das Graças de “Milagrosa”.

Um caso que ficou muito famoso foi o da conversão do grande judeu Afonso Ratisbona. Não era católico, mas era amigo de um francês que lhe deu uma Medalha Milagrosa. Ratisbona, mesmo sem aderir a fé, começou a usar a medalha milagrosa. No quarto dia, olhando para um quadro de Nossa Senhora, sentiu uma abrupta mudança no modo de pensar. Tornou-se cristão, pediu o batismo, e alguns meses depois entrou no seminário para se tornar sacerdote. Foi um grande sacerdote.

Significação da Medalha Milagrosa

A serpente: Maria aparece esmagando a cabeça da serpente. A mulher que esmaga a cabeça da serpente, que é o demônio, já estava predita na Bíblia, no livro do Gênesis 3,15 : “Porei inimizade entre ti e a mulher… Ela te esmagará a cabeça e tu procurarás, em vão, morder-lhe o calcanhar”. Deus declara iniciada a luta entre o bem e o mal. Essa luta é vencida por Jesus Cristo, o “novo Adão”, juntamente com Maria, a co-redentora, a “nova Eva”. É em Maria que se cumpre essa sentença de Deus: a mulher finalmente esmaga a cabeça da serpente, para que não mais a morte pudesse escravizar os homens.

Os raios: Simbolizam as graças que Nossa Senhora derrama sobre os que pedem suas graças uns do anel que não sai graças são daqueles que não pedem.A Santa Igreja, por isso, a chama Tesoureira de Deus.

As 12 estrelas: Simbolizam as 12 tribos de Israel. Maria Santíssima também é saudada como “Estrela do Mar” na oração Ave, Stella Maris.

O coração cercado de espinhos: É o Sagrado Coração de Jesus. Foi Maria quem o formou em seu ventre. Nosso Senhor prometeu a Santa Margarida Maria Alacoque a graça da vida eterna aos devotos do seu Sagrado Coração, que simboliza o seu infinito e ilimitado Amor.

O coração transpassado por uma espada: É o Imaculado Coração de Maria, inseparável ao de Jesus: mesmo nas horas difíceis de Sua Paixão e Morte na Cruz, Ela estava lá, compartilhando da Sua dor, sendo a nossa co-redentora.

O M: Significa Maria. Esse M sustenta o travessão e a Cruz, que representam o calvário. Essa simbologia indica a íntima ligação de Maria e Jesus na história da salvação.

O travessão e a Cruz: Simbolizam o calvário. Para a doutrina católica, a Santa Missa é a perpetuação do sacrifício do Calvário, portanto, ressaltam a importância do Sacrifício Eucarístico na vida do cristão.

A própria medalha contém as palavras por que a Santa Mãe de Deus quis ser invocada:

Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós.



domingo, 26 de novembro de 2017

26 de novembro - Beata Delfina de Signe

Delfina de Signe nasceu em torno de 1284 em Puy Michel (França) em uma família nobre, como era filha dos Condes de Marselha. Escreveram  sobre ela: “ tinha uma santidade delicadamente feminina, que se espalhava por ela como uma linfa silenciosa e generosa, para nutrir aqueles que a rodeavam no bem ".

Uma encantadora figura de mulher, que passa pelo mundo levando a todas as partes a luz de sua graça, o perfume da virtude, o calor de seu afeto. Não era uma santidade ruidosa, que tenha marcado a história de seu tempo, mas uma santidade delicadamente feminina que se difundiu a seu redor como linfa silenciosa e generosa para alimentar no bem a quantos estiveram em contato com ela durante sua vida.

Desde menina sua presença foi luz e consolo para sua família. Aos 12 anos já estava prometida a um jovem não inferior a ela por sua gentileza, nobreza de sangue e beleza de alma. Elzear, o noivo, era filho do Senhor de Sabran e Conde de Ariano no reino de Nápoles. Desde o nascimento sua mãe o havia oferecido em espírito a Deus e mais tarde um austero tio o havia educado em um mosteiro.

O casamento teve lugar quatro anos mais tarde. Foi um matrimônio “branco”, porque os dois jovens esposos escolheram a castidade, um meio de perfeição espiritual mais alto e árduo. No Castelo de Ansouis, os dois nobres cônjuges viveram não como castelãos, mas como penitentes; não como senhores feudais, mas como ascetas dignos dos tempos heroicos da primitiva Igreja.

Tendo se transferido para o Castelo de Puy Michel entraram na Ordem Terceira Franciscana. Sua vida interior se enriqueceu com uma nova dimensão, a da caridade, mediante a qual eles, ricos por sua condição, se fizeram humildes e pobres para socorrer aos pobres. Delfina e seu esposo além das penitências, orações e mortificações, se dedicaram a todas as obras de misericórdia, destacando-se em todas.

Quando Elzear foi enviado ao seu ducado de Ariano como embaixador no reino de Nápoles, a atividade benéfica dos dois esposos continuou em um ambiente ainda mais difícil. Em meio a tumultos e rebeliões, os dois Santos foram embaixadores de concórdia, de caridade, de oração. Continuaram suas boas obras multiplicando seus próprios esforços e sacrifícios até conquistar a admiração do povo.

Elzear morreu pouco depois em Paris. Delfina entretanto sobreviveu a ele por muito tempo e honrou a memória de seu esposo do melhor modo possível, continuando as boas obras e imitando suas virtudes. Teve a alegria de ver seu esposo colocado pela Igreja no número dos Santos. Ela, aos 74 anos pode reclinar sua cabeça serena e feliz para o eterno descanso.
Morreu em Calfières, em 26 de novembro de 1358. Foi beatificada pelo Papa Inocêncio XII em 24 de julho de 1694.


Ano Nacional do Laicato

A Igreja no Brasil vai celebrar, no período de 26 de novembro de 2017, Solenidade de Cristo Rei, a 25 de novembro de 2018, o "Ano do Laicato". 

Tema: Cristãos leigos e leigas, sujeitos na “Igreja em saída”, a serviço do Reino.
Lema: Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14).

Como Igreja, Povo de Deus, vamos celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil; aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão; e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade.


Vamos comemorar os 30 anos do Sínodo Ordinário sobre os leigos (1987) e os 30 anos da publicação da Exortação Apostólica Christifideles Laici, de São João Paulo II, sobre a Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no mundo (1988);  Dinamizar o estudo e a prática do documento 105, “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade”, e demais documentos do Magistério, em especial do Papa Francisco, sobre o Laicato; Estimular a presença e a atuação dos cristãos leigos e leigas, “verdadeiros sujeitos eclesiais”(Dap, n. 497a), como “sal, luz e fermento” na Igreja e na Sociedade.

26 de novembro - Cristo Rei do Universo

Celebra-se hoje a solenidade de Cristo Rei do universo. Esta festa foi oportunamente colocada no último domingo do ano litúrgico, para realçar que Jesus Cristo é o Senhor do tempo e que n'Ele tem o seu cumprimento qualquer desígnio da criação e da redenção
.
A figura do Rei-Messias assume uma forma, na consciência do povo de Israel, através da Antiga Aliança. É o próprio Deus que, especialmente mediante os Profetas, revela aos Israelitas a sua vontade de os reunir como faz um pastor com o rebanho, para que vivam livres e em paz na terra prometida. Para esta finalidade, Ele enviará o seu Consagrado o "Cristo", em grego para resgatar o povo do pecado e o introduzir no Reino.

Jesus de Nazaré cumpre com o mistério pascal esta missão. Ele não vem para reinar como os reis deste mundo, mas para instaurar, por assim dizer, no coração do homem, da história e do cosmos o poder divino do Amor.

O Concílio Vaticano II proclamou de maneira forte e clara ao mundo contemporâneo o senhorio de Cristo, e a sua mensagem foi retomada no Grande Jubileu do Ano 2000. Também a humanidade do terceiro milênio precisa de descobrir que Cristo é o seu Salvador. Eis o anúncio que os cristãos devem levar ao mundo de hoje com coragem renovada.

O Concílio Vaticano II recordou, a este propósito, a especial responsabilidade dos fiéis leigos (cf. Decr. Apostolicam actuositatem). Em virtude do Batismo e da Confirmação, eles participam na missão profética de Cristo. Por conseguinte, são chamados a "procurar o Reino de Deus, tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus" e também a desempenhar "um papel próprio... na Igreja e no mundo [...] com a sua ação para evangelizar e santificar os homens" (Carta apost. Novo millennio ineunte, 46).

Entre todas as criaturas angélicas e terrenas, Deus escolheu a Virgem Maria para a associar de modo muito singular à realeza do seu Filho feito homem. É isto que contemplamos no último mistério glorioso do santo Rosário. Maria nos ensine a testemunhar com coragem o Reino de Deus e a acolher Cristo como Rei da nossa existência e de todo o universo.

Papa João Paulo II - Angelus 24 de novembro de 2002


sábado, 25 de novembro de 2017

25 de novembro - São Pedro de Alexandria

O século III talvez tenha sido o mais trágico palco em que se desenrolou o drama da perseguição e extermínio de cristãos. As grandes perseguições vinham através do imperador romano, tirano, cruel e violento. Defender o cristianismo, naqueles tempos, era atrair para si a ira dos poderosos, no mínimo a prisão e o trabalho escravo, quando não o exílio e, quase sempre, a morte. E assim, como o Povo de Deus nunca temeu sacrificar-se em nome da fé em seu Redentor, foi um tempo em que floresceram milhares de mártires.

Um deles foi Pedro, patriarca de Alexandria, que foi consagrado no ano 300. Era admirado por todos de seu tempo, por seu vasto saber científico e filosófico e pelo profundo conhecimento das Sagradas Escrituras.

Sob sua responsabilidade estavam as igrejas do Egito, da Tebaida e da Líbia, todos territórios de muita perseguição ao seu rebanho. Mas quanto maior o perigo, mais firmeza demonstrava Pedro. Consolava os perseguidos, acolhia e protegia os que mais sofriam, dava exemplos diários de coragem e perseverança.

Porém o patriarca Pedro não enfrentou somente as feras do paganismo. Também teve de lutar contra as forças opositoras que surgiram dentro da própria Igreja cristã, corroendo-a internamente. Enfrentou tudo com tolerância e benevolência, mas com firmeza. Apenas exigiu que os bispos vivessem com o mesmo rigor a fé cristã e a mesma retidão de caráter e disciplina de vida que ele próprio se impunha, não almejando, apenas, posição e os bens materiais. 

Os bispos Melécio e Ário logo começaram um movimento radical contra ele, visando o seu afastamento e o seu posto episcopal. Pedro, então, convocou um Concílio e ambos foram afastados da Igreja. Aí começou a verdadeira guerra contra o patriarca.

Os dois bispos negaram-se a reconhecer o poder do Concílio, continuaram suas atividades episcopais e, em represália, passaram a pregar contra a Igreja. Isso causou um cisma na Igreja, isto é, uma divisão que durou cento e cinquenta anos e que ficou conhecido como o "Cisma Meleciano". Então, denunciado por Ário, Pedro acabou preso e condenado à morte. Aliás, o imperador aproveitou-se da situação para eliminar aquela incômoda liderança e autoridade católica.

A antiga tradição diz que, na véspera da execução, Cristo apareceu-lhe numa visão, na forma de um menino que tinha a túnica rasgada de alto a baixo. Disse-lhe que o responsável por aquilo era Ário, que dividira sua Igreja ao meio.

 Assim, antes de morrer, ele viu sua doutrina confirmada. Foi decapitado em 25 de novembro de 311 por opor-se ao cisma de Melécio e pela fé em Cristo.

Ele é venerado como santo pelas Igrejas Copta, Católica, e Ortodoxa.
O historiador Severus de Ashmumeen, do décimo século, conta como o Patriarca teria sido preso durante a perseguição de Diocleciano. Quando o imperador foi informado sobre isto, ordenou que Pedro fosse decapitado. 

Isto foi impedido de imediato por um número grande de cristãos que se reuniram junto à prisão desejando morrer pelo seu Patriarca. 

Os soldados retardaram a execução, temendo um massacre da multidão ou criar uma revolta.
Pedro, temendo pela vida do seu povo, teria sugerido aos soldados um plano para tirá-lo da prisão através de um buraco na parede apontado por ele. Desta forma, ele poderia ser tirado para fora receber sua sentença.

Severus de Ashmumeen descreve o momento do martírio do Patriarca:
E ele vestiu o seu omofório e descobriu seu pescoço, que era puro diante de Deus, e disse a eles: 
"Façam como foi ordenado a vocês".
Mas os soldados temeram que problemas surgissem por causa dele. Assim olharam um para outro, e nenhum deles ousou cortar a cabeça dele, por causa do medo no qual eles tinham caído.
Então deliberaram e disseram: "Quem cortar sua cabeça receberá de nós cinco denários." 
Eles eram seis, e um deles tinha um pouco de dinheiro. Assim ele tirou cinco e vinte denários e disse: "O que subir até ele e cortar sua cabeça, receberá este dinheiro de mim e dos outros quatro." 
Assim um dos homens foi adiante, criou coragem e cortou a cabeça do santo mártir e patriarca Pedro.



sexta-feira, 24 de novembro de 2017

24 de novembro - São Crisógono de Aquileia

Crisógono é definido como "vir christianissimus" (verdadeiro cristão). E de tal maneira coerente com a própria fé, que não se deixou seduzir pelo cargo honorífico do consulado — que lhe fora oferecido pelo imperador Diocleciano em pessoa, quando estava de passagem por Aquileia, com a condição de que renegasse a Cristo e queimasse alguns grãos de incenso no altar de Júpiter. Ante sua recusa, o “cristianíssimo” Crisógono foi preso na casa de um certo Rufino, que o devia manter confinado à espera de um processo. Rufino terminou sendo convertido por seu prisioneiro, e compartilhou com ele a mesma sorte, isto é, a decapitação.

Desde o princípio, a devoção a este mártir de Aquileia foi transferida para Roma, onde há uma igreja dedicada em seu nome em Trastevere. Esta igreja ("Titulus Chrysogoni") foi mencionada pela primeira vez nos atos do Concílio de Roma de 499, mas provavelmente data do século IV. É possível que o fundador da igreja tenha sido um tal Chrysogonus e que, por conta da similaridade entre os nomes, a igreja rapidamente tenha se tornado o centro da devoção do mártir de Aquileia. De forma similar, a veneração de Anastácia de Sirmio fora transplantada para Roma. É também possível, porém, que, desde o início, por alguma razão desconhecida, a igreja tenha sido consagrada em nome de São Crisógono e tenha sido batizada em sua homenagem de fato.

Por volta do século VI surgiu a legenda do mártir que fez dele um romano e o ligou à história de Santa Anastácia, uma maneira de evidenciar a veneração de Crisógono na igreja romana que leva seu nome. De acordo com esta legenda, Crisógono, inicialmente um funcionário do vigário da cidade (vicarius Urbis), era um professor cristão de Anastácia, a filha do nobre romano Pretextato. Atirado na prisão durante a perseguição de Diocleciano, ele confortou a aflita Anastácia com suas cartas. Por ordem de Diocleciano, Crisógono foi arrastado à presença do imperador em Aquileia, condenado à morte e decapitado. Seu cadáver, atirado ao mar, apareceu numa praia e foi enterrado pelo já idoso sacerdote Zoilo, que também é o santo padroeiro de Zadar. Na legenda, a morte do santo teria ocorrido em 23 de novembro.

A Igreja Católica comemora o santo no dia 24 de novembro, o aniversário da dedicação da igreja que leva seu nome.


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

23 de novembro - São Columbano

"Se tirarem a liberdade de alguém, tiram-lhe a dignidade."

Hoje gostaria de falar do santo abade Columbano, o irlandês mais conhecido do início da Idade Média: com razão ele pode ser chamado um santo "europeu", porque como monge, missionário e escritor trabalhou em vários países da Europa ocidental. Juntamente com os irlandeses do seu tempo, ele estava consciente da unidade cultural da Europa. Numa sua carta, escrita por volta do ano 600 e dirigida ao Papa Gregório Magno, encontra-se pela primeira vez a expressão "totius Europae - de toda a Europa", referindo-se à presença da Igreja no Continente (cf. Epistula I, 1).

Columbano nasceu por volta do ano 543 na província de Leinster, no sudeste da Irlanda. Educado na própria casa por ótimos mestres que o iniciaram no estudo das artes liberais, confiou-se depois à guia do abade Sinell da comunidade de Cluain-Inis, na Irlanda setentrional, onde pôde aprofundar o estudo das Sagradas Escrituras. Com cerca de trinta anos entrou no mosteiro de Bangor no nordeste da ilha, onde era abade Comgall, um monge muito conhecido pela sua virtude e pelo seu rigor ascético. Em total sintonia com o seu abade, Columbano praticou com zelo a severa disciplina do mosteiro, conduzindo uma vida de oração, de ascese e de estudo. Ali foi também ordenado sacerdote. A vida em Bangor e o exemplo do abade influenciaram a concepção do monaquismo que Columbano maturou com o tempo e difundiu depois ao longo da sua vida.

Aos cinquenta anos, seguindo o ideal ascético tipicamente irlandês da "peregrinatio pro Christo", isto é, do fazer-se peregrino por Cristo, Columbano deixou a ilha para empreender com doze companheiros uma obra missionária no continente europeu. De fato, devemos ter presente que a migração de povos do norte e do leste fizera voltar ao paganismo inteiras Regiões já cristianizadas.

Por volta do ano 590 este pequeno grupo de missionários chegou à costa da Bretanha. Acolhidos com benevolência pelo rei dos Francos da Austrásia (atual França), pediram apenas um pouco de terra inculta. Obtiveram a antiga fortaleza romana de Annegray, totalmente em ruínas e abandonada, já coberta pela floresta. Habituados a uma vida de extrema renúncia, os monges conseguiram em poucos meses construir sobre as ruínas o primeiro ermitério. Assim, a sua reevangelização começou a desenvolver-se antes de tudo mediante o testemunho da vida. Com a nova cultivação da terra começaram também uma nova cultivação das almas.

A fama daqueles religiosos estrangeiros que, vivendo de oração e em grande austeridade, construíam casas e arroteavam a terra, difundiu-se rapidamente atraindo peregrinos e penitentes. Sobretudo muitos jovens pediam para ser acolhidos na comunidade monástica para viver, como eles, esta vida exemplar que renovava a cultura da terra e das almas. Depressa se tornou necessária a fundação de um segundo mosteiro. Foi edificado a poucos quilômetros de distância, sobre as ruínas de uma antiga cidade termal, Luxeuil. O mosteiro tornar-se-ia depois o centro da irradiação monástica e missionária de tradição irlandesa no continente europeu. Um terceiro mosteiro foi erigido em Fontaine, a uma hora de caminho mais a norte.

Em Luxeuil Columbano viveu quase vinte anos. Ali, o santo escreveu para os seus seguidores a Regula monachorum durante um certo período mais difundida na Europa do que a de São Bento designando a imagem ideal do monge. É a única antiga regra monástica irlandesa que hoje possuímos. Como integração ele elaborou a Regula coenobialis, uma espécie de código penal para as faltas dos monges, com punições bastante surpreendentes para a sensibilidade moderna, explicáveis apenas com a mentalidade do tempo e do ambiente. Com outra obra famosa intitulada De poenitentiarum misura taxanda, escrita também em Luxeuil, Columbano introduziu no continente a confissão e a penitência privadas e reiteradas; foi chamada penitência "tarifada" devido à proporção estabelecida entre gravidade do pecado e tipo de penitência imposta pelo confessor. Estas novidades despertaram a suspeita dos Bispos da região, uma suspeita que se transformou em hostilidade quando Columbano teve a coragem de os reprovar abertamente pelos costumes de alguns deles.

A ocasião em que se manifestou o contraste foi a contenda sobre a data da Páscoa: de fato, a Irlanda seguia a tradição oriental, em contraste com a tradição romana. O monge irlandês foi convocado em 603 a Châlon-sur-Saôn para prestar contas diante de um sínodo dos seus costumes relativos à penitência e à Páscoa. Em vez de se apresentar ao sínodo, ele enviou uma carta com a qual minimizava a questão convidando os Padres sinodais a discutir não só sobre o problema da data da Páscoa, segundo ele um pequeno problema, "mas também de todas as necessárias normas canônicas desatendidas por muitos o que é mais grave" (cf. Epistula II, 1). Contemporaneamente escreveu ao Papa Bonifácio IV como alguns anos antes já se tinha dirigido ao Papa Gregório Magno (cf. Epistula I) para defender a tradição irlandesa (cf. EpistulaIII).

Sendo muito intransigente em todas as questões morais, Columbano entrou depois em conflito também com a casa real, porque tinha reprovado asperamente o rei Teodorico pelas suas relações adúlteras. Isso originou uma rede de intrigas e manobras a nível pessoal, religioso e político que, no ano 610, se transformou num decreto de expulsão de Luxeuil para Columbano e para todos os monges de origem irlandesa, que foram condenados ao exílio definitivo.

Foram escoltados até ao mar e embarcados para a Irlanda com o patrocínio da corte. Mas o navio encalhou a pouca distância da praia e o capitão, vendo nisto um sinal do céu, renunciou a prosseguir e, com receio de ser amaldiçoado por Deus, reconduziu os monges para a terra firme. Eles, em vez de voltarem para Luxeuil, decidiram começar uma nova obra de evangelização. Embarcaram no Reno e subiram o rio. Depois de uma primeira etapa em Tuggen junto do lago de Zurique, foram para a região de Bregenz perto do lago de Constância para evangelizar os Alamanos.

Mas pouco depois Columbano, devido a vicissitudes políticas pouco favoráveis à sua obra, decidiu atravessar os Alpes com a maior parte dos seus discípulos. Permaneceu só um monge de nome Galo; da sua ermida ter-se-ia depois desenvolvido a famosa abadia de Sankt Gallen, na Suíça. Tendo chegado à Itália, Columbano encontrou um acolhimento favorável junto da corte real longobarda, mas teve que enfrentar imediatamente grandes dificuldades: a vida da Igreja estava dilacerada pela heresia ariana que ainda prevalecia entre os longobardos e por um cisma que tinha separado a maior parte das Igrejas da Itália setentrional da comunhão com o Bispo de Roma. Columbano inseriu-se com autoridade neste contexto, escrevendo um libelo contra o arianismo e uma carta a Bonifácio IV para o convencer a dar alguns passos decididos em vista de um restabelecimento da unidade (cf. Epistula V).

Quando o rei dos longobardos, em 612 ou 613, lhe confiou um terreno em Bobbio, no vale da Trebbia, Columbano fundou um novo mosteiro que depois se tornaria um centro de cultura comparável com o famoso de Montecassino. Nele viu o fim dos seus dias: faleceu a 23 de Novembro de 615 e nesta data é comemorado no rito romano até hoje.

A mensagem de São Columbano concentra-se numa firme chamada à conversão e ao desapego dos bens terrenos em vista da herança eterna. Com a sua vida ascética e com o seu comportamento intransigente face à corrupção dos poderosos, ele evocava a figura severa de São João Batista. A sua austeridade, contudo, nunca é fim em si mesma, mas unicamente o meio para se abrir livremente ao amor de Deus e corresponder com todo o ser aos dons por Ele recebidos, reconstruindo assim em si a imagem de Deus e ao mesmo tempo arroteando a terra e renovando a sociedade humana.

Cito das suas Instructiones: "Se o homem usar retamente as faculdades que Deus concedeu à sua alma, então será semelhante a Deus. Recordemo-nos que lhe devemos restituir todos aqueles dons que ele depositou em nós quando estávamos na condição originária. Ensinou-nos o seu modo com os seus mandamentos. O primeiro deles é o de amar o Senhor com todo o coração, porque Ele nos amou primeiro, desde o início dos tempos, ainda antes que nós viéssemos à luz deste mundo" (cf. Inst., XI).

O Santo irlandês encarnou realmente estas palavras na própria vida. Homem de grande cultura escreveu também poesias em latim e um livro de gramática revelou-se rico de dons de graça. Foi incansável construtor de mosteiros, assim como intransigente pregador penitencial, empregando todas as suas energias para alimentar as raízes cristãs da Europa que estava a nascer. Com a sua energia espiritual, com a sua fé, com o seu amor a Deus e ao próximo tornou-se realmente um dos Padres da Europa: ele mostra-nos também hoje onde estão as raízes das quais pode renascer esta nossa Europa.


Papa Bento XVI - Audiência Geral 11 de junho de 2008