terça-feira, 31 de janeiro de 2017

31 de janeiro - São João Bosco

"Os jovens não só devem ser amados, mas devem saber que são amados. A primeira felicidade de um menino é saber-se amado”

Dom Bosco foi camponês, estudante, aprendiz de vários ofícios, padre e educador.

O Espírito Santo deu-lhe especial sensibilidade para captar, mediante várias experiências, o abandono e os perigos em que se achavam os jovens de seu tempo. Eram jovens que, arrancados da zona rural pelas dificuldades aí existentes, buscavam trabalho na cidade grande:


“Esse jovem que se perverte em vossas ruas começará por vos pedir uma esmola, depois a exigirá, por fim a roubará de revólver em punho. É necessário educar os jovens para que sejam úteis à sociedade, jovens que espalhem bons princípios, que não acabem povoando as prisões e as masmorras, mas sejam, pelo contrário, exemplos vivos de princípios salutares!”

Dom Bosco nasceu em Castelnuovo, Itália em 16 de agosto de 1815. Morreu em 31 de janeiro de 1888. 
Ainda padre novo, em Turim, depois de 1841, ele sentiu que Deus o chamava para consagrar sua vida aos jovens pobres e abandonados. Devia ajudá-los a tornarem-se cidadãos honestos e bons cristãos, por meio da promoção humana e da educação da fé.

Fundou, em seguida, várias obras com o fim de socorrer e educar a juventude.

A sua atenção dirigiu-se também aos adultos da classe popular, especialmente dos camponeses, nos quais ele via uma classe desfavorecida, sem meios de se promover humana e cristã.
Seu amor ao próximo estendeu-se também aos povos que viviam em regiões pagãs, aos quais, mais tarde, enviou os salesianos como missionários.

A missão que Dom Bosco queria realizar de maneira duradoura em favor da juventude pobre precisava de pessoas decididas a trabalhar com ele. Exigia também instituições que pudessem garantir a continuidade do empreendimento.

Sob a ação do Espírito Santo. Dom Bosco compreendeu logo que essa pesada tarefa só poderia apoiar-se em homens que se consagrassem inteiramente à obra.
O mesmo Espírito fez desabrochar no coração dos primeiros discípulos o chamamento à consagração total na vida religiosa.
Constituiu-se então, a partir de 1854, um grupo de jovens, que recebeu o nome de “Salesianos”. Mais tarde Dom Bosco obteve a aprovação da sua sociedade de São Francisco de Sales (Congregação Salesiana) que se compõe de padres e irmãos fraternalmente iguais.
           
Por volta de 1872, tendo a certeza de que era a vontade de Deus que se ocupasse também das meninas, fundou em Mornese (Itália), com Maria Domingas Mazzarello, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Surgiram assim as irmãs salesianas.

Dom Bosco tinha certeza de que o maior número possível de cristãos devia unir forças para o bem do próximo, principalmente dos jovens pobres.
Compreendeu então que a Congregação Salesiana devia ser como que o fermento animador de vasto movimento de fraternidade, em que homens e mulheres participariam de sua missão e espírito, cada um segundo o próprio estado de vida.

Foi assim que nasceu a Associação dos Cooperadores Salesianos, terceira instituição que se valeria do carisma de Dom Bosco. É um movimento com 25.000 leigos que, com espírito salesiano, se engajam nas atividades pastorais das comunidades eclesiais locais.
As Voluntárias de Dom Bosco são uma instituição secular. Compõe-se de mulheres que professam os votos religiosos, mas permanecem com seus familiares e se entregam às mais diversas atividades pastorais, conforme as necessidades das igrejas locais.

A educação é permanente. Educa-se a vida toda e por meio da própria vida. O movimento dos Ex-alunos visa a manter os jovens unidos a seus educadores pela amizade, como Dom Bosco queria.
Toda vez que o Ex- aluno se compromete com alguma atividade evangelizadora, participa ativamente da Família Salesiana. O Movimento dos Ex-alunos está organizado em nível mundial e local.

O termo “família” é continuamente empregado na tradição salesiana para indicar, de forma genérica, a unidade de ideal e os laços de fraternidade que há entre os Salesianos, as Salesianas, os Cooperadores e as Voluntárias pertencem também à Família Salesiana, em sentido amplo, os Alunos, os Ex-alunos, bem como outras pessoas que, de diversos modos, se interessam pelas obras salesianas. O órgão oficial da Família Salesiana é o Boletim Salesiano, publicação bimestral, impresso nas Escolas Profissionais Salesianas (SP).

Dom Bosco deixou como herança aos salesianos o Sistema Preventivo, um método educativo que se baseia inteiramente na razão, na religião e na bondade. Pode-se dizer que este método é o Evangelho vivido na alegria e no serviço. Os educadores devem estar sempre fraternalmente presentes no meio dos jovens, em seus grupos e atividades.

O Oratório Festivo foi a obra mais característica de Dom Bosco.

Funciona onde há comunidades salesianas. Os oratórios festivos, renovados segundo as exigências de tempo e lugar, têm a finalidade de entreter adolescentes e jovens particularmente nos domingos e feriados com esporte, música, teatro, excursões e outros divertimentos, dando-lhes também ocasião de participar de reuniões catequéticas e celebrações eucarísticas.
Proporciona-lhes, ao mesmo tempo, uma experiência de vida comunitária.

A fim de concretizar hoje sua missão, os salesianos têm em vista três metas:
- a opção pelos jovens e pelos pobres,
- a atividade catequética,
- a pastoral missionária.
A opção pelos pobres se concretiza no trabalho educativo pastoral em benefício dos jovens mais pobres e das classes populares.
A atividade catequética permeia toda atividade educativa dos salesianos nas escolas, paróquias, educandários, oratórios, casas de acolhida de meninos de rua...

31 de janeiro - Beata Candelária de São José

“A obra da Beata Candelária evidencia a teologia do consolo porque em seu agir transmitiu alegria ao doente, por isso Deus consolava através dela. O amor a Deus está intimamente unido com a caridade ao próximo. Ela testemunha que só o amor pode mudar a vida do ser humano. Convida-nos a nos preocupar com os doentes, aliviar a solidão dos anciões e os pobres.”
Cardeal Saraiva Martins – Homilia de Beatificação – 27 de abril de 2008

“Esta beatificação é muito importante porque é a primeira que se faz em solo venezuelano e esperamos que hajam muitas mais. O importante é que queiramos reafirmar nossa vivência cristã pelo caminho de Jesus Cristo que é o único para a felicidade. Ela personifica o triunfo da fé sobre a incredulidade, amor sobre ódio, solidariedade e misericórdia sobre o egoísmo e a indiferença, paz sobre a violência e a guerra''.
Cardeal Jorge Urosa Sabino – Arcebispo de Caracas

Susana Paz Castillo Ramírez, terceira filha de Francisco de Paula Paz Castillo e Maria do Rosário Ramírez, nasceu em Altagracia de Orituco (Estado Guárico, Venezuela), em 11 de agosto de 1863.
Seu pai era um homem reto e honrado, de grande coração e profundamente católico; gozava do apreço e estima de todos os habitantes; possuía conhecimentos de medicina e os empregava para ajudar a muita gente. Sua mãe era uma pessoa piedosa, trabalhadora e honrada.

Os pais deram a seus filhos uma educação tão esmerada quanto lhes permitia as circunstâncias de seu tempo. Sua instrução acadêmica, ainda que, escassa e deficiente, própria da época, não foi um impedimento para sua formação integral: frequentou uma escola particular onde deu seus primeiros passos na escrita e no cultivo de sua paixão pela leitura. Aprendeu também corte e costura e vários tipos de trabalhos manuais, especialmente bordados. Este aprendizado foi muito valioso para ela no futuro.

Seu pai morreu quando Susana contava com 7 anos de idade. Quando sua mãe faleceu, Susana, que tinha 24 anos, assumiu as responsabilidades de cuidar da casa. Ao mesmo tempo, praticava a caridade com os doentes e feridos que recolhia e cuidava em uma casa semiabandonada, junto à igreja paroquial, pois no início do século XX a Venezuela viveu uma grande turbulência política, econômica e social como consequência da revolução pela libertação. 

Junto com outras jovens de sua vila, com o apoio de um grupo de médicos e do Pe. Sixto Sosa, pároco de Altagracia de Orituco, fundou um hospital para atender a todos os necessitados. Ali, em macas e catres de lona, que ela mesma confeccionava, os atendia.
Com a fundação deste centro de saúde, em 1903, se deu início à família religiosa das Irmãzinhas dos Pobres de Altagracia, atualmente denominada Irmãs Carmelitas de Madre Candelária. Em 13 de setembro de 1906, com autorização do bispo diocesano, Madre Susana fez sua profissão religiosa tomando o nome de Candelária de São José, ela que desde muito jovem era devota de Nossa Senhora da Candelária.

Em 31 de dezembro de 1910 a Congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Altagracia nasceu oficialmente com a profissão das primeiras seis Irmãs pelas mãos de Mons. Felipe Neri Sendrea, que confirmou Madre Candelária como Superiora Geral. Em dezembro de 1916 ela emitiu seus votos perpétuos em Ciudad Bolívar.

Após vários acontecimentos, a Beata decidiu abraçar a espiritualidade carmelitana e pediu para entrar na Ordem do Carmo como fundadora das Carmelitas Terceiras Regulares na Venezuela. No dia 25 de março de 1925 o pedido foi aceito e em 10 de julho de 1926, com algumas companheiras, recebeu o hábito carmelitano. Em 9 de agosto de 1926, Mons. Sixto Sosa, Bispo de Cumaná, nomeou-a Superiora Geral e Mestra de Noviças no Noviciado de Porlamar.

Seguiram-se anos de trabalho intenso, também devido aos terremotos que atingiram a Venezuela. Muitas foram as obras fundadas por ela: hospitais e uma escola para crianças pobres em Altagracia de Orituco.

Sua vida transcorreu entre os pobres; se distinguiu por uma profunda humildade, uma inesgotável caridade, uma profunda vida de fé, oração e amor à Igreja. Além de sua esmerada atenção com os enfermos, se preocupou com a educação das crianças, tarefa que deixou como legado às suas filhas carmelitas.
A Madre Candelária era uma religiosa de caráter afável, recolhida, de olhar modesto; após uma conversação cordial e amena com ela, sempre ficava uma suavidade em quantos a ouviam.
Outra característica sua era a alegria; tudo fazia com amor e uma confiança sem limites na Divina Providência. Seus grandes amores foram Jesus Crucificado e a Santíssima Virgem. Percorreu muitos quilômetros em busca de recursos para a manutenção de suas obras e fundando novas comunidades que responderam às necessidades do momento.

 Governou a Congregação durante 35 anos, desde sua fundação até o capítulo geral de 1937, quando a sucedeu no cargo a Madre Luísa Teresa Morao.
Os últimos anos da Madre Candelária foram marcados pela dor e pela enfermidade. Entretanto, depois de deixar o cargo de Superiora Geral, aceitou continuar prestando seus serviços à Congregação como Mestra de Noviças.

Tinha plena consciência de sua enfermidade, porém com incrível paciência suportava as dores e dava provas de conformidade com a vontade de Deus. Pedia ao Senhor poder morrer com o nome de Jesus nos lábios, e assim aconteceu. Na madrugada do dia 31 de janeiro de 1940, após pronunciar três vezes o nome de Jesus, entregou sua alma ao Criador, em Cumaná. Foi sepultada no cemitério de Santa Inês. O corpo da Beata foi exumado e colocado na Casa-mãe de Caracas.
Em 22 de março de 1969 iniciou-se na cidade de Caracas seu processo de beatificação e canonização. Foi beatificada em 27 de abril de 2008.
Oração
Ó Deus que vos alegrais em habitar nos corações puros, concedei-nos, por intercessão da beata Candelária de São José, viver, por vossa graça, de tal maneira que mereçamos ter-vos sempre conosco.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

30 de janeiro - Beata Maria Bolognesi

Com alegria recordo que ontem, em Rovigo, foi proclamada Beata Maria Bolognesi, fiel leiga, nascida em 1924 e morta em 1980. Passou toda a sua vida a serviço dos outros, especialmente dos pobres e doentes, suportando grande sofrimento em profunda união com a paixão de Cristo. Demos graças a Deus por este testemunho do Evangelho!

Papa Francisco – Angelus 08 de setembro de 2013

A história de Maria Bolognesi é de uma mulher muito simples chamada a ser, de uma maneira singular, sinal de presença de Deus. Nasceu em 1924 em Bosaro, na província de Rovigo, no nordeste da Itália, de uma família pobre e numa situação difícil.
Frequentou as escolas até o segundo ano primário; mas através da avó aprendeu a sabedoria da fé e o amor pela oração. Por isso desde menina sua assiduidade à missa cotidiana, ao catecismo, à Ação católica, enquanto ajuda a família no trabalho da terra.

A 21 de junho de 1940, porém, acontece, algo misterioso: para Maria começa um período de trevas, que se caracteriza por um profundo mal-estar. Existe nela uma força que lhe impede de colocar o pé na paróquia de são Caseiro onde era de casa; as amigas contaram que “é como se uma força poderosa a arrastasse longe da igreja e de qualquer sacerdote”.
No verão de 1941 o pai a imobiliza: é a única maneira para realizar um exorcismo por um sacerdote, antes, e – poucas horas depois (não tendo surtido efeito) – também pelo bispo. A possessão diabólica – informam os biógrafos – a partir daquele momento se atenua, mas continua a se manifestar até janeiro de 1942.

Mas a partir de 1º de abril daquele mesmo ano, a situação muda radicalmente: iniciam as visões místicas durante as quais Cristo lhe entrega três alianças. A primeira com cinco rubis, representando Suas cinco chagas. A partir daí ela suportou os mesmos sofrimentos de Jesus no Calvário e começou a suar sangue, experimentando o sofrimento de Cristo, suportou com paciência e oferecendo sua cruz a Jesus para aqueles em necessidade. Todos puderam constatar os fenômenos acompanhados de formas de participação física aos sofrimentos de Jesus no Calvário.

A pedido do diretor espiritual começa também a tomar nota, num caderno, de suas experiências místicas: escreverá mais de 2 mil páginas.
Após o período de possessão, além de suar sangue sofreu de pneumonia, broncopneumonia, oftalmia crônica (extrema secura dos olhos pela total ausência de lágrimas), vermes, vômitos, anemia, reumatismo, dor ciática, laringite crônica e faringite, dextrocardia (o coração está na metade direita do tórax) e acidente vascular cerebral que enfraqueceu o corpo por longos anos. O primeiro ataque cardíaco foi sofrido em 1971. Mas continua sempre uma mulher muito ativa: continua seu compromisso na Ação católica e seu serviço como catequista paroquial. E alimenta uma atenção particular pelos doentes.

Morre a 30 de janeiro de 1980. “Maria – escreveu o postulador de sua causa de beatificação, padre Tito Maria Sartori – continua sendo pobres entre os pobres, sinal da presença divina nas almas humildes. Também se os dons místicos que enriquecem a relação com Deus continuam longe da nossa experiência, o amor pelos necessitados, sua dedicação aos doentes, sua participação aos sofrimentos dos demais são também para nós um exemplo a ser imitado e um motivo a mais para pedir a ela que interceda junto a deus em nosso favor”.


Maria é lembrada como "mulher silenciosa da caridade, a ocultação é para ela uma forma essencial de vida, o seu amor, como o amor a Deus em oração incessante e a dedicação de sua vida a Ele; caridade para com os irmãos em suas necessidades materiais de indigência - sua pobreza envolvida na pobreza de outras pessoas - e, acima de tudo, nas suas dificuldades morais.

domingo, 29 de janeiro de 2017

29 de janeiro - Beata Boleslava Maria Lament

Durante esta missa recordamos uma pessoa muito especial, uma daquelas pessoas felizes que guardavam as vias da Sabedoria Eterna e, portanto, encontraram  a vida e a graça obtida a partir do Senhor.
Quarenta e cinco anos atrás, aqui, em Bialystok, morreu a serva de Deus Boleslava Lament, fundadora das Irmãs Missionárias da Sagrada Família; e que hoje será beatificada. Deus chamou esta filha da cidade de Lowicz para fundar instituições de caridade educacionais e outros centros de assistência espiritual na distante Petersburg, Mohylew, Zytomierz, e depois da Primeira Guerra Mundial, especialmente na terra de Pinsk, Bialystok e Vilnius.
Mandava à frente a sua obra mesmo com a constante oposição, duas vezes viveu a perda total do patrimônio da congregação, muitas vezes ela e suas irmãs para trabalhavam morrendo de fome e sem casa. Nesses momentos ela usou para confortar-se o lema familiar de espiritualidade inaciana: "Tudo para a maior glória de Deus"
Os últimos anos de sua vida passou paralisada, sofrendo com muita paciência e imersa na oração. Durante toda a sua vida foi distinguida por uma particular sensibilidade para a miséria humana, ela se preocupou especialmente com o destino das minorias sociais, das pessoas empurradas para a marginalidade ou mesmo no mundo do crime.

Com profundo sentido de responsabilidade para toda a Igreja, Boleslava viveu a dolorosa ruptura da unidade da Igreja. Ela mesma experimentou várias divisões, e até mesmo os ódios nacionais e confessionais tornadas ainda mais profundas pelas divisões políticas. Por isso, o principal objetivo de sua vida, e da Congregação que fundou, era a unidade da Igreja, aquela unidade pela qual Cristo orou na Última Ceia na Quinta-feira Santa: "Pai Santo, guarda em teu nome os que você me deu para que eles sejam um, como nós somos um" (Jo 17, 11).
Madre Lament serviu à causa da unidade, especialmente onde a divisão se distinguia por uma particular intensidade. Nada poupou, a fim de fortalecer a fé e acender o amor por Deus, a fim de contribuir para a aproximação mútua entre católicos e ortodoxos, "porque todo mundo - como disse – nos queremos bem e formamos um." Trabalhava nela uma graça especial da Divina Providência em favor da unidade da Igreja, especialmente nos territórios orientais. Muito antes do Concílio Vaticano II se tornou a inspiração para o ecumenismo na vida cotidiana através do amor.

Papa João Paulo II – Homilia de beatificação – 05 de junho de 1991

Primeira dos oito filhos do casal Martino Lament e Lúcia Cyganowska, Boleslava Lament, nasceu em 3 de julho de 1862 em Lowicz, Polônia.
Durante sua infância viu com dor a morte de suas irmãzinhas Helena e Leocádia, e do pequeno Martino; era um tempo em que a mortalidade infantil dizimava as crianças, fazendo com que as famílias numerosas perdessem muitos de seus membros. A pequena Boleslava foi marcada irremediavelmente por estas dolorosas experiências.
Depois dos cursos elementar e colegial, Boleslava foi para Varsóvia onde conseguiu o diploma de modista em uma escola de artes e profissões; de volta a Lowicz abriu, junto a sua irmã Estanislava, uma casa de modas, enquanto vivia uma intensa vida espiritual em seu interior.

Em 1884, aos 22 anos, decidiu entrar na Congregação da Família de Maria, que estava se organizando em Varsóvia na clandestinidade por causa das perseguições czaristas.
Como religiosa, distinguiu-se pelo dom da oração, do recolhimento, da seriedade e da fidelidade no cumprimento de seus deveres. Depois do noviciado e da profissão dos votos simples, trabalhou como mestra de costura e educadora em muitas Casas da Congregação, abertas no território do império russo.
Mas depois de nove anos, antes de pronunciar os votos solenes, teve uma profunda crise que a fez sentir-se insegura de sua vocação naquela congregação, por isto a deixou e voltou para sua casa em Lowicz, com a intenção de entrar em um convento de clausura.
Aconselhada por seu confessor, optou pelas obras de assistência aos sem-teto, atividade que também continuou em Varsóvia, quando a família mudou-se para lá. Para ajudar nos gastos familiares, abriu uma casa de modas com sua irmã Maria.
Logo lhe confiaram a direção de uma hospedagem para os sem-teto, onde também se preocupou em por em ordem a vida ética e religiosa de seus socorridos. Ela os preparava para receber os Sacramentos, visitava os doentes em suas pobres casas ou nos refúgios, cuidava das crianças.

Em 1894, uma epidemia de cólera atingiu seu pai, colocando sobre seus ombros outras responsabilidades familiares; levou consigo sua mãe e seu irmão Estevão, que era aluno do colégio em Varsóvia e que desejava ser sacerdote.
Ingressou na Ordem Terceira Franciscana onde conheceu o Beato Honorato Kozminski (1829-1916), frade capuchinho, fundador de diversas congregações religiosas que trabalhavam na clandestinidade por causa dos acontecimentos políticos que afetavam a Polônia naqueles tempos.

Em 1900, uma vez mais a morte golpeou sua família: aos pés do caixão de seu irmão Estevão, Boleslava Lament prometeu voltar à vida de religiosa. Dois anos depois o Pe. Honorato apresentou-a a uma senhora chegada da Bielorrússia, que buscava religiosas para dirigir a Ordem Terceira e um centro educativo em Mogilev, cidade junto ao Rio Dnieper.
Boleslava consciente de todas as dificuldades que enfrentaria, aceitou a tarefa e em 1903 partiu para Mogilev, uma cidade de cerca de 40.000 habitantes. No início morou com Leocádia Gorczynska, que dirigia uma oficina de costura, para ensinar ali essa profissão às meninas das famílias pobres; depois Boleslava alugou uma casa de madeira para convertê-la em sua casa de modas.
Admirada com a laboriosidade de Boleslava, Leocádia Gorczynska decidiu ir viver com ela; em seguida juntou-se a elas Lúcia Czechowska. Neste ponto Boleslava começou a pensar em fundar uma Congregação, rigorosamente religiosa, entregue ao apostolado entre os ortodoxos.

Com a ajuda do Padre Félix Wiecinski, que contribuiu diretamente com a fundação, em outubro de 1905 as três mulheres começaram a nova congregação, chamada inicialmente Sociedade da Sagrada Família, mas que em seguida mudou o nome para Congregação das Irmãs Missionárias da Sagrada Família. Boleslava foi sua primeira superiora.
No outono de 1907, Boleslava mudou-se para Petersburgo com as seis monjas que então formavam a comunidade, onde desenvolveu um ampla atividade educativa, dedicada sobretudo aos jovens, e em 1913 estendeu sua atividade à Finlândia, abrindo um colégio para meninas em Wyborg.
Em Petersburgo empreendeu uma intensa atividade catequética, educativa e assistencial nos bairros mais pobres, se esforçou para criar bom relacionamento entre as alunas e as famílias de diferentes nacionalidades e religiões.
Como consequência das dificuldades geradas pela 1ª. Guerra Mundial e o Movimento Bolchevique que tomou o poder na Rússia em outubro de 1917, Boleslava foi obrigada a deixar a Rússia em 1921 e voltar para a Polônia. Tudo isto produziu enormes perdas materiais, também na Polônia; a Congregação vivia pobremente, mas Madre Boleslava Lament, com sua grande fé, se encomendou totalmente à vontade de Deus e paulatinamente aquilo foi sendo superado.

Durante alguns meses Madre Boleslava dirigiu o trabalho das monjas em Wolynia, em 1922 fundou uma nova Casa na Pomerânia, na Polônia oriental, onde a população era pobre e a maior parte de religião ortodoxa.
A partir de 1924, começou a abrir outras Casas na arquidiocese de Vilna e na diocese de Pinsk; em 1935 já existiam 33 Casas espalhadas por toda Polônia e uma em Roma.
Em 1925, Madre Boleslava foi a Roma para conseguir a aprovação pontifícia de sua Congregação, mas não a conseguiu por falta de clareza sobre as tarefas das monjas, divididas em dois ramos: apostolado e ensino e direção doméstica das Casas.
Em 1935, Madre Boleslava Maria Lament decidiu renunciar ao cargo de Superiora Geral por graves motivos de saúde, e num acordo com a nova Superiora se retirou em Bialystok, onde, embora idosa e gravemente doente, se dedicou a abrir escolas, um hospital para mulheres sozinhas e um refeitório para os desempregados.

A II Guerra Mundial gerou novas dificuldades para a idosa Madre Boleslava, incluindo a ameaça nazista; foi obrigada a mudar a forma de atuar, adaptando-se às necessidades da época. Em 1941 foi atacada pela paralisia e se dedicou a uma vida mais ascética, transmitindo preciosos conselhos às suas irmãs de hábito.
Morreu santamente em Bialystok em 29 de janeiro de 1946, aos 84 anos; foi levada para o convento de Ratow e enterrada na cripta da Igreja de Santo Antônio.
A Congregação das Irmãs Missionárias da Sagrada Família está difundida na Polônia, Rússia, Zâmbia, Líbia, EUA e Itália.


sábado, 28 de janeiro de 2017

28 de janeiro - Os efeitos da Eucaristia (São Tomás de Aquino)


01 - No Sacramento da Eucaristia, em virtude das palavras da instituição, as espécies simbólicas se mudam em corpo e sangue; seus acidentes subsistem no sujeito; e nele, pela consagração, sem violação das leis da natureza, o Cristo único e inteiro, existe Ele próprio em diversos lugares, assim como uma voz é ouvida e existe em vários lugares, continuando inalterado e permanecendo inviolável quando dividido, sem sofrer diminuição alguma. Cristo, de fato, está inteira e perfeitamente em cada e em todo fragmento de hóstia, assim como as aparências visíveis que se multiplicam em centenas de espelhos.

02 - O efeito deste Sacramento deve ser considerado, portanto, primeira e principalmente em função daquilo que nele está contido, que é o Cristo.
Ele, vindo ao mundo em forma visível, trouxe ao mundo a vida da graça, segundo nos diz o Evangelho de João:

"A graça e a verdade, porém,
vieram por meio de Jesus Cristo".
Assim, da mesma forma, vindo Cristo ao mundo em forma sacramental, opera a vida da graça, segundo ainda outra passagem do mesmo Evangelho:
"Quem me come,
viverá por mim",

03 - O efeito deste Sacramento deve, ademais, ser considerado também pelo que ele representa, que é a Paixão de Cristo. Por isto, o efeito que a Paixão de Cristo realizou no mundo, este Sacramento também realiza no homem.

04 - O efeito deste Sacramento também deve ser considerado pelo modo através do qual ele é trazido aos homens, que é por modo de comida e bebida. E por isto todo efeito que a bebida e a comida material realizam quanto à vida corporal, isto é, sustentar, crescer, reparar e deleitar, tudo isto realiza este Sacramento quanto à vida espiritual. E é por isto que se diz:

"Este é o pão da vida eterna,
pelo qual se sustenta
a substância de nossa alma".

De onde que o próprio Senhor diz, no Evangelho de São João:
"Minha carne é verdadeiramente comida,
e meu sangue é verdadeiramente bebida".

05 - Finalmente, o efeito do Sacramento da Eucaristia deve ser considerado pelas espécies em que este Sacramento nos é oferecido. Foi por causa disto que escreveu Santo Agostinho:

"O Senhor confiou-nos
o Seu Corpo e o Seu Sangue
em coisas tais que são reduzidas à unidade
a partir de muitas outras,
porque o pão é um, 
embora conste de muitos grãos,
e o vinho é feito
a partir de muitas uvas".

E por isso ele também escreveu em outro lugar:

"Ó Sacramento da piedade,
ó sinal da unidade,
ó vínculo da caridade!".
06 - E porque Cristo e sua Paixão são causa da graça, e uma refeição espiritual e a caridade não podem existir sem a graça, por todas estas coisas é manifesto que este Sacramento confere a graça.

07 - Mas, conforme diz São Gregório na homilia de Pentecostes,
"o amor de Deus não é ocioso;
opera grandes coisas,
se de fato existe".

Por isto, por meio deste Sacramento, o quanto pertence a seu efeito próprio, não somente é conferido o hábito da graça e da virtude, mas também esta é conduzida ao ato, segundo o que está escrito na Segunda Epístola aos Coríntios:

"O amor de Cristo
nos impele".

Daqui é que provém que pela virtude do Sacramento da Eucaristia a alma faz uma refeição espiritual por deleitar-se e inebriar-se pela doçura da bondade divina, segundo o que diz o Cântico dos Cânticos:

"Comei, amigos, e bebei;
e inebriai-vos, caríssimos".

08 - Este Sacramento também tem virtude para a remissão dos pecados veniais, o que pode ser visto pelo fato de que ele é tomado sob a espécie de alimento nutritivo. A nutrição proveniente do alimento é necessária ao corpo para restaurar aquilo que em cada dia é desperdiçado pelo calor natural. Espiritualmente, porém, em nós também é desperdiçado a cada dia algo pelo calor da concupiscência pelos pecados veniais que diminuem o fervor da caridade. E por isto compete a este Sacramento a remissão dos pecados veniais. De onde que Santo Ambrósio diz, no livro Dos Sacramentos, que este pão de cada dia é tomado:

"como remédio 
da enfermidade de cada dia".

09 - Ademais, a coisa deste Sacramento é a caridade, não somente quanto ao hábito, mas também quanto ao ato, ao qual é conduzida neste Sacramento, pelo qual os pecados veniais se dissolvem. De onde que é manifesto que pela virtude deste Sacramento ocorre a remissão dos pecados veniais. Os pecados veniais, ao contrário dos mortais, não contrariam a caridade quanto ao hábito, mas contrariam a caridade quanto ao fervor do ato, ao qual é conduzida por este Sacramento. É por esta razão que os pecados veniais são perdoados pelo Sacramento da Eucaristia.

10 - O Sacramento da Eucaristia pode também perdoar toda a pena devida ao pecado. Este efeito pode ocorrer tanto por ele ser sacrifício, como por ser sacramento. A Eucaristia possui razão de sacrifício na medida em que é oferecido; possui razão de sacramento na medida em que é tomado.

11 - Como Sacramento, a Eucaristia possui diretamente aquele efeito para o qual foi instituído. Não foi, porém, como Sacramento, instituído para satisfazer, mas para alimentar espiritualmente pela união a Cristo e aos seus membros, assim como o alimento se une ao alimentado. Mas porque esta união se realiza pela caridade, por cujo fervor alguém pode conseguir a remissão não apenas da culpa, mas também da pena, daqui ocorre que por consequência, por uma certa concomitância ao efeito principal, o homem alcança a remissão também para a pena. Não, porém, de toda a pena, mas de acordo como o modo de sua devoção e fervor.

12 - Mas, na medida em que é Sacrifício, a Eucaristia possui virtude satisfatória. Entretanto, também na satisfação mais deve se considerar o afeto do oferente do que a quantidade da oblação, de onde que o Senhor disse, no Evangelho de São Lucas, da viúva que ofereceu apenas duas moedas, que

"ofereceu mais do que todos".

Embora, portanto, a oblação eucarística pela sua própria quantidade seja suficiente para a satisfação de toda a pena, todavia torna-se satisfatória para aqueles pelos quais é oferecida, ou também para os próprios oferentes, de acordo com a quantidade de sua devoção, e não por toda a pena.

13 - A Eucaristia também preserva o homem dos pecados futuros, pelo mesmo modo em que o corpo é preservado da morte futura. O pecado é uma certa morte espiritual da alma. Ora, a natureza corporal do homem é preservada da morte pela comida e pelo remédio na medida em que a natureza humana é interiormente fortificada contra o que pode corrompê-la interiormente. É deste modo que este Sacramento preserva o homem do pecado, porque através dele, unindo-se a Cristo pela graça, é fortalecida a vida espiritual do homem, ao modo de uma comida espiritual e um remédio espiritual. É assim que diz o Salmo 103:

"O pão confirma
o coração do hom
em”

 14 - A Eucaristia preserva o homem dos pecados futuros também defendendo-o contra as impugnações exteriores. Pois é sinal da Paixão de Cristo, pela qual foram vencidos os demônios, de modo que este Sacramento repele toda a impugnação dos demônios.

15 - Ainda que este Sacramento não diretamente se ordene à diminuição do incitamento do pecado, diminui, porém, este incitamento por uma certa consequência, na medida em que aumenta a caridade, porque, segundo diz Agostinho no Livro das 83 Questões,

"O aumento da caridade
é a diminuição da cobiça
”.

 Diretamente, porém, a Eucaristia confirma o homem no bem, pelo que também é preservado o homem do pecado.

16 - Este Sacramento, ademais, é de proveito para muitos outros além dos que o recebem porque, conforme foi dito, este Sacramento não é apenas sacramento, mas é também sacrifício. Na medida em que neste Sacramento é representada a Paixão de Cristo, pela qual Cristo se ofereceu a Si mesmo como hóstia a Deus, possui razão de sacrifício. Na medida, porém, em que neste Sacramento é trazida invisivelmente a graça sob uma espécie visível, possui razão de sacramento.

17 - Assim, pois, este Sacramento é, para os que o recebem, de proveito não só por modo de sacramento, como também por modo de sacrifício, porque é oferecido por todos os que o recebem.

18 - Mas também é de proveito para os que não o recebem, embora apenas por modo de sacrifício, na medida em que é oferecido pela salvação deles. É por isso que no cânon da Missa se diz:

"Lembrai-vos, Senhor,
dos vossos servos e servas,
pelos quais nós Vos oferecemos,
e eles Vos oferecem também,
este Sacrifício de louvor,
por si e por todos os seus,
pela redenção de suas almas,
pela esperança de sua
salvação e sua segurança.”

19 - O próprio Senhor, ademais, expressou que a Eucaristia seria de proveito para outros além dos que a recebem, quando disse, na última Ceia:

"Este cálice é o meu sangue, 
que por vós",
isto é, os que o recebem,
"e por muitos"
outros,
"será derramado
para o perdão dos pecados".

20 - Pode-se, porém, argumentar que sendo o efeito deste Sacramento a obtenção da graça e da glória e a remissão da culpa, pelo menos da venial, se este Sacramento realmente tivesse efeito em outros além dos que o recebem poderia acontecer que alguém alcançasse a glória, a graça e a remissão das culpas sem ação nem paixão própria, por algum outro ter oferecido ou recebido este Sacramento.

Responde-se a isto dizendo que assim como a Paixão de Cristo é de proveito para todos para a remissão da culpa, e a obtenção da graça e da glória, mas não produz efeito senão naqueles que se unem à Paixão de Cristo pela fé e pela caridade, assim também este sacrifício que é a Eucaristia, memorial da Paixão do Senhor, não produz efeito senão naqueles que se unem a este Sacramento pela fé e pela caridade. De onde que no Cânon da Missa não se ora por aqueles que estão fora da Igreja. Aos que nela estão, porém, o Sacrifício Eucarístico é de proveito maior ou menor de acordo com o modo de sua devoção.

21 - Mas, assim como deve-se dizer que o Sacramento da Eucaristia obtém a remissão dos pecados veniais, assim devemos também dizer que os pecados veniais impedem o efeito deste Sacramento. Pois diz São João Damasceno:

"O fogo do seu desejo que há em nós,
acendendo-se mediante
aquele fogo que há no carvão",

isto é, neste Sacramento,
"queimará nossos pecados
e iluminará nossos corações 
para que ardamos e nos deifiquemos 
pela participação do fogo divino".

Mas o fogo do nosso desejo ou do nosso amor é impedido pelos pecados veniais, que impedem o fervor da caridade. Portanto, os pecados veniais impedem o efeito deste Sacramento.

22 - Os pecados veniais podem ser considerados de dois modos. De um primeiro modo, na medida em que são passados. De um segundo modo, na medida em que estão sendo exercidos em ato.
Segundo o primeiro modo, os pecados veniais de nenhum modo impedem o efeito deste Sacramento. De fato, pode acontecer que alguém, depois de ter cometido muitos pecados veniais, se aproxime devotamente a este Sacramento e alcance plenamente o seu efeito.
Porém, de acordo com o segundo modo, os pecados veniais não impedem totalmente o efeito deste Sacramento, mas apenas em parte. De fato, foi dito que o efeito deste Sacramento não é apenas a obtenção da graça habitual ou da caridade habitual, mas também uma certa refeição atual de espiritual doçura. A qual, na verdade, é impedida se alguém se aproximar a este Sacramento com a mente distraída pelos pecados veniais. O aumento da graça habitual ou da caridade habitual, porém, não é tirado.

23 - Aquele que com o ato do pecado venial se aproxima deste Sacramento come espiritualmente segundo o hábito, mas não segundo o ato. E por isto recebe o efeito deste Sacramento segundo o hábito, não segundo o ato.

24 - Nisto o Sacramento da Eucaristia difere do Batismo, porque o Batismo não se ordena a um efeito atual, isto é, ao fervor da caridade, do modo como ocorre com o Sacramento da Eucaristia. O Batismo é uma regeneração espiritual, pelo qual se adquire uma primeira perfeição, que é um hábito ou forma; mas a Eucaristia é uma refeição espiritual que possui uma deleitação atual.

25 - Quem está em pecado mortal comete sacrilégio ao receber a Eucaristia, porque há duas coisas sacramentais na Eucaristia. A primeira, significada e contida, é o próprio Cristo; a segunda, significada mas não contida, é o Corpo Místico de Cristo, isto é, a sociedade dos santos. Quem quer que, pois, receba este Sacramento, só por isto significa estar unido a Cristo e aos seus membros. Ora, isto se realiza pela fé formada pela caridade, que ninguém pode possuir juntamente com o pecado mortal. E por isto é manifesto que quem quer que receba este Sacramento em pecado mortal comete nele falsidade. Incorre, por este motivo, em sacrilégio, como violador do Sacramento. Peca, por causa disto, mortalmente.

26 - Os pecadores, porém, que tocavam o Corpo de Cristo não sob a espécie sacramental, mas em sua substância própria, não pecavam. Às vezes até alcançavam o perdão dos pecados, como se lê no Evangelho de São Lucas a respeito da mulher pecadora. Isto acontecia porque o Cristo, aparecendo sob a sua espécie própria, não se exibia para ser tocado pelos homens em sinal de união espiritual com Ele, como é o caso quando se oferece para ser recebido neste Sacramento. Foi por isso que os pecadores que o tocavam em sua própria espécie não incorriam no crime de falsidade contra a divindade, como o fazem os pecadores que recebem este Sacramento.

27 - O pecador que recebe o Corpo de Cristo pode ser comparado, quanto à semelhança do crime, a Judas que beijou Cristo, porque ambos ofendem a Cristo sob um sinal de caridade.
Esta semelhança compete a todos os pecadores em geral, porque por todos os pecados mortais age-se contra a caridade de Cristo, de que é sinal este Sacramento, e tanto mais quanto os pecados são mais graves.
Mas sob um aspecto especial os pecados contra o sexto mandamento tornam o homem mais inepto para o recebimento deste Sacramento, na medida em que, a saber, por este pecado o espírito é maximamente submetido à carne, e desta maneira é impedido o fervor do amor que é requerido neste Sacramento.

28 - Que ninguém, pois, se aproxime desta Mesa sem reverente devoção e fervente amor, sem verdadeiro arrependimento, ou sem lembrar-se de sua Redenção.
Maravilhoso é este Sacramento em que uma inefável eficácia inflama os afetos com o fogo da caridade. Que revigorante maná é aqui oferecido para o viajante! Ele restaura o vigor dos fracos, a saúde para os doentes, confere o aumento da virtude, faz a graça superabundar, purga os vícios, refresca a alma, renova a vida dos aflitos, vincula uns aos outros todos os fiéis na união da caridade. Este Sacramento da fé também inspira a esperança e aumenta a caridade. É o pilar central da Igreja, a consolação dos que falecem, e o acabamento do Corpo Místico de Cristo. A fé amadurece, e a devoção e a caridade fraterna são aqui saboreadas. Que estupenda provisão para o caminho é esta, que conduz o viajante até à montanha das virtudes! Este é o pão verdadeiro que é comido e não consumido, que dá força sem perdê-la. É a nascente da vida e a fonte da graça. Perdoa o pecado e enfraquece a concupiscência. Os fiéis encontram aqui a sua refeição, e as almas um alimento que ilumina a inteligência, inflama os afetos, purga os defeitos, eleva os desejos. Ó cálice de doçura para as almas devotas, este sublime Sacramento, ó Senhor Jesus, declara para os que creem Tuas maravilhosas obras.
São Tomás de Aquino - Sermão sobre o Corpo do Senhor




28 de janeiro - São Tomás de Aquino

A vida e o ensinamento de São Tomás de Aquino poderia se resumir em um episódio apanhado pelos biógrafos antigos. Enquanto o santo, como era seu costume, estava em oração perante o crucifixo, pelo início da manhã na Capela de São Nicolau, em Nápoles, Domingo de Caserta, o sacristão da igreja, sentiu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se o que havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava correto. E o Crucifixo respondeu: “Tu tens falado bem de mim, Tomás. Qual será tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é a que nós também, amigos e discípulos de Jesus, sempre quisemos dizer: “Nada mais que Tu, Senhor”.

A busca da verdade foi sempre uma grande preocupação de Tomás, que nas meditações, ao longo de sua vida, buscava resposta. Um dos maiores teólogos da Igreja e grande filósofo, nasceu na Itália, no Castelo de Roccassecca, num pequeno lugarejo a 30 quilometro de Nápoles, provavelmente no inicio do ano 1225. Seu pai era um nobre, Landolfo de Aquino, Conde de Aquino, que vivia no Castelo com sua  família constituída de esposa e cinco filhos, três rapazes e duas moças.

Como era comum naquela época, Tomás foi enviado a Abadia, pertencente a Ordem Religiosa Beneditina, com cinco anos de idade, na condição de“oblato” (leigo que se oferece para serviços numa Ordem Monástica), onde permaneceu por mais de 8 anos.

Mais tarde, Tomás descobriu nos ensinamentos e orientações do Frei João o carisma Dominicano que cativou o seu espírito. Depois de diversos encontros e muitos assuntos abordados, aderiu a Ordem Religiosa. Na continuidade, em 1244, com a idade de 20 anos e contra a vontade da família, entrou oficialmente na Ordem Dominicana, fundada pelo Padre Domingos de Gusmão, que acabava de ser constituída oficialmente. 

Quando sua mãe, a Condessa Teodora ficou sabendo da decisão do seu filho, perdeu totalmente o controle emocional, pois não concordou com a atitude dele e se dispôs a fazê-lo desistir daquele intento, voltando a Monte Cassino, “nem que fosse à força”. Tomás ao receber a intimação da sua mãe, e conhecendo bem a força da vontade materna, que removia montanhas para satisfazer o seu objetivo, fugiu para Paris, a fim de escapar de sua tirania. Mas, logo no inicio da viagem, foi dominado pelos seus dois irmãos militares, que vieram buscá-lo para conduzi-lo a presença da mãe. Ele quis resistir, mas seus irmãos eram muito mais fortes, depois de o espancarem brutalmente, tentaram e quase conseguiram arrancar o seu hábito religioso. Ele teve que ficar muito esperto, para não ser despojado de sua veste dominicana e ficar praticamente sem roupa.

Assim, capturado, o levaram a presença da mãe. Foram muitos dias de conversa e propostas, mas que na realidade, resultaram em nada, porque ele não cedeu, queria continuar Dominicano. Nervosa e quase perdendo a tranquilidade, a mãe mandou que as duas filhas, usassem de seus argumentos com a finalidade de convencer, a qualquer preço, o seu irmão “rebelde”  a renunciar a Ordem Dominicana. Tomás também decidiu apresentar os seus fortes argumentos e suas fundamentadas razões. Resultou numa longa semana de muita conversa e entendimentos entre os três irmãos. O desfecho desta longa entrevista foi surpreendente: uma de suas irmãs decidiu se fazer religiosa, entrou no Convento de Santa Maria de Cápua, onde viveu santamente e se tornou Abadessa. A outra irmã, embora permanecendo no lar junto à mãe, buscou acalmar o ambiente, empregando todo o seu esforço para que houvesse paz na família.

Mas a mãe não queria saber de muita conversa. Farta de ouvir argumentos com os quais não concordava, tomou uma medida drástica: mandou encarcerar o Tomás na torre do Castelo, forçando-o com esta tentativa violenta, a fazê-lo desistir de sua vocação Dominicana.
Assim, em completa solidão, Tomás permaneceu por mais de um ano. Pela porta do aposento onde se encontrava, só chegavam às refeições; ele não podia sair para nenhum lugar. Mas, sabiamente ele soube aproveitar o seu tempo, dedicando-o aos estudos e a contemplação do Senhor.

Já havia decorrido um tempo considerável e Tomás não tinha modificado a sua vontade. Sua mãe e seus irmãos elaboraram uma trama: com a desculpa de que uma mulher queria encontrá-lo para se confessar, enviaram-na à torre. Mas era uma prostituta, que foi contratada para fazê-lo pecar. Era um dia frio e a lareira estava acesa. A porta se abriu e entrou a moça com um vestido muito justo e um olhar cheio de sedução. Ele muito ligeiro, saltou da cadeira, pegou um tição em brasa na lareira e partiu na direção dela, que não esperou, deu uma rápida meia volta e fugiu como pode, para escapar do fogo do tição que brilhava nas mãos de Tomás.
Naquele mesmo momento traçou com o mesmo tição em brasa uma cruz na parede, ajoelhou-se e renovou sua promessa de castidade.

Descreve a Tradição, que Deus, vendo o seu esforço e autêntico autodomínio para vencer as forças do maligno, à noite lhe proporcionaram um magnífico sonho: dois Anjos vieram visitá-lo e o cingiram com um cordão celestial, dizendo: "Viemos da parte de Deus e conferir-te o dom da virgindade perpétua, que a partir de agora será irrevogável".
Nunca mais São Tomás sofreu qualquer tentação de concupiscência ou de orgulho. Após a sua morte, quando recebeu o titulo de Doutor Angélico, não lhe foi dado apenas por ter transmitido a mais alta doutrina, mas também e, sobretudo, por ter com seu comportamento ilibado.

Em 1244, percebendo que todas as suas tentativas de dissuadir Tomás fracassaram, Teodora tentou salvar a dignidade da família e arranjou para ele escapasse durante uma noite pela janela. Ela acreditava que uma fuga secreta da prisão era menos prejudicial que uma rendição aberta aos dominicanos. 

Estudou filosofia em Nápoles e, ao longo dos estudos, revelou as suas preciosas e consistentes qualidades. Por essa razão, foi enviado pelos seus superiores a estudar em Paris, na França. Seu professor Santo Alberto Magno, ficou impressionado com sua inteligência e com sua sisudez. Percebeu que ele não gostava de “muita conversa”. E por isso mesmo, os colegas o apelidaram de “boi mudo” (comia as letras e as ruminava, quieto e calado). Santo Alberto disse sobre ele:
“Quando este boi mugir, o mundo inteiro ouvirá o seu mugido”.

Deixou Paris em 1248, acompanhado de seu mestre, e foram para a Alemanha. Dom Alberto foi incumbido de fundar o “Studium Generale” dos Dominicanos, na cidade de Colônia, onde Tomás terminou os seus estudos. Em 1252, Tomás de Aquino retornou a Paris, e obteve licença para lecionar teologia e logo iniciou o seu magistério.
Foi mestre na Universidade de Paris (Sorbona), no reinado de Luis IX, e atuou como professor, lecionando pelo resto da sua vida. Foi convocado pelo Papa Gregório X para participar do II Concílio Geral de Lyon, na França, mas faleceu a caminho, antes de chegar ao destino, com apenas 49 anos de idade, no dia 7 de Março de 1274.

Antes de iniciar esta viagem, a sua saúde já havia se manifestado com problemas, aos quais, ele não deu a devida importância. Com o tempo, o mal evoluiu. Assim que iniciou a viagem para participar do Concílio, sua doença forçou-o a se abrigar na Abadia Cisterciense de Fossanova, nas imediações da capital italiana, onde veio a falecer, cercado pelo carinho de toda a Comunidade Religiosa.

Sua Obra tornou-se tão vasta, que só para enumerá-la, com uma pequena explicação, são necessárias várias páginas. São quase sessenta grandes obras, entre comentários, sumas, questões e opúsculos. Todavia, sem dúvida, a sua grande Obra é a famosa “Suma Teológica”.

Sua prodigiosa faculdade de memorizar lhe permitia reter todas as leituras que havia feito, entre elas a Bíblia, as obras dos filósofos antigos e dos Padres da Igreja. Todas as oitenta mil citações contidas em seus escritos brotaram espontaneamente de sua capacidade retentora. Nunca precisou ler duas vezes o mesmo trecho. Ao lhe ser perguntado qual era o maior favor sobrenatural que recebera, depois da graça santificante, respondeu: "Creio que o de ter entendido tudo quanto li".

Muitas vezes também, recorreu a Jesus Sacramentado. E diante do Sacrário, passava horas em orações. Tomás afirmava com segurança, ter aprendido mais desta forma, junto de Deus, do que em todos os estudos que fizera. Amava a Eucaristia, e este grande amor, o levou a compor o “Pange Língua” e o “Lauda Sion” para uma festa de Corpus Christi.

Descrevem os seus hagiógrafos, que ao receber a Sagrada Eucaristia pela última vez, ele disse:
"Eu Vos recebo, preço do resgate de minha alma e Viático de minha peregrinação, por cujo amor eu estudei, eu vigiei, trabalhei, preguei e ensinei. Tenho escrito tanto, e tão frequentemente tenho discutido sobre os mistérios da Vossa Lei, ó meu Deus; sabeis que nada desejei ensinar que não tivesse aprendido de Vós. Se o que escrevi é verdade, aceitai-o como uma homenagem à Vossa infinita majestade; se é falso, perdoai a minha ignorância. Consagro tudo o que fiz e o submeto ao infalível julgamento da Vossa Santa Igreja Católica Apostólica Romana, na obediência à qual estou prestes a partir desta vida."

A Igreja não tardou a glorificá-lo, elevando-o à honra dos altares em 1323.
Na cerimônia de canonização, o Papa João XXII afirmou: 
"Tomás sozinho iluminou a Igreja mais do que todos os outros doutores. Tantos são os milagres que fez, quantas as questões que resolveu". 

No Concílio de Trento, as três obras de referência postas sobre a mesa da assembleia foram: a Bíblia, os Atos Pontificais e a Suma Teológica. É difícil exprimir o que a Igreja deve a este seu filho admirável.