“Rezemos para que fiquemos livres do medo e da
intimidação, mas principalmente do desejo de vingança e violência.” Pe. Popieluszko
Em
Varsóvia, capital da Polônia, foi beatificado no dia 6 de junho de 2010 aquele
que é considerado um dos mártires do movimento pela democratização da Polônia,
o sacerdote Jerzy Popieluszko, morto pelo governo comunista em 1984, foi alguém
que “somente com as armas espirituais da verdade, da justiça e da caridade,
procurou reivindicar a liberdade de consciência dos cidadãos e dos sacerdotes”,
disse o prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Dom Angelo Amato, que
presidiu a Celebração.
Padre
Jerzy, “desde o início do seu serviço sacerdotal, com zelo pastoral e natural
bondade atraía os fiéis a Cristo”, e “tinha a capacidade de unir as pessoas
provenientes de diversos ambientes e grupos sociais já que por qualquer um
nutria um profundo respeito”, disse o Arcebispo de Varsóvia, Dom Kazimierz
Nycz.
Em
sua homilia Dom Angelo Amato disse que o “Padre Jerzy era simplesmente um leal
sacerdote católica, que defendia a sua dignidade de ministro de Cristo e da
Igreja e a liberdade de todos aqueles que, como ele, eram oprimidos e
humilhados”.
Por
uma ideologia que “não suportava o esplendor da verdade e da justiça”,
prosseguiu o enviado do Papa, “o inerme sacerdote foi espionado, perseguido,
capturado, torturado e jogado na água, ainda agonizante. Foi encontrado somente
dez dias depois.”
Estavam
também presentes à cerimônia de beatificação em Varsóvia a mãe do beatificado,
Marianna Popieluszko, com 100 anos, seus irmãos e irmãs.
Numa
época em que o Comunismo consolidava o seu poder vitorioso sobre a Polônia, em
1947, Jerzy Popieluszko nascia numa família de camponeses. Cerca de quarenta
anos depois, quando o comunismo europeu começava a desagregar-se, ele foi
assassinado. Chamavam-no “a consciência do povo”. Jerzy Popieluszko era apenas
um jovem capelão de uma aldeia desconhecida, Okopy, perto de Suchowola.
Trabalha
com crianças e jovens e, em 1980, com a idade que Cristo tinha ao morrer,
empenha-se no movimento operário polaco, prega justiça social e patriotismo,
celebra uma grande missa para soldadores em greve no recinto da sua fábrica.
A
partir daí, fica na mira dos serviços secretos. É vigiado e ameaçado por eles;
sucedem-se os acidentes de automóvel de que é vítima, instauram-lhe um
processo, assaltam e vandalizam a sua casa. O capelão mantém-se firme. Por fim,
na noite de 19 de outubro de 1984, é raptado, torturado e afogado. Com a
mordaça na boca foi espancado até a inconsciência com um bastão de madeira,
amarrado com pedras, o corpo mutilado foi colocado em um saco e jogado no Rio
Vístula, perto da barragem na região de Wloctawek, uma morte desumana,
espancado por mais de 14 vezes, com chutes na cabeça, enforcado e afogado,
ainda vivo.
Mas
a consciência não morre. O seu enterro transforma-se numa manifestação.
Milhares de pessoas, incluindo os pais, participam profundamente desgostosos.
Para todos é evidente: o Padre Jerzy sacrificou a sua vida pela verdade.
A
notícia de seu sequestro e assassinato, aos 37 anos, deu a volta ao mundo. Seu
funeral foi em 3 de novembro de 1984, e atraiu cerca de 600 a 800 mil pessoas
de todo o país. Já dois dias depois chegaram à Cúria de Varsóvia os
primeiros pedidos de sua beatificação.
No
início do processo de beatificação pode ler-se: “A morte dele abre-nos os
olhos: os olhos do nosso coração, do nosso entendimento, da nossa fé”. Mesmo
depois de morto, fala às consciências.
Entrou
no Seminário de Varsóvia aos dezoito anos em 1965. Em 1967, junto com os outros
seminaristas, é convocado pelo exército nacional. Durante dois anos será
obrigado a permanecer na carreira militar. No quartel, destacou-se pelas suas
firmes convicções religiosas. Nunca negará a sua fé. Basta dizer que diante dos
regimes totalitários, ninguém conseguiu arrancar seu Rosário e
sua Medalha de Nossa Senhora. Por isso, foi punido várias vezes por seus
superiores.
Entre
milhões de peregrinos que veneraram a memória do mártir, houve alguém muito
especial que visitou o túmulo do Pe. Jerzy no dia 14 de junho de 1987. Era do
conhecimento geral que João Paulo II desejava rezar junto do túmulo do Pe.
Popieluszko durante a sua visita à Polônia. Inúmeras referências aos
ensinamentos e exemplo do Pe. Popieluszko, presentes nas homilias do Santo
Padre, não deixam dúvidas acerca da sua estima pelo sacerdote martirizado.
O
Padre George (em português) nasceu em 14 de setembro de 1947, na aldeia Okopy
da região de Białystok. Seus pais, Mariana e Vladislau, trabalhavam na
agricultura. As condições de vida eram difíceis, mas os pais criaram os filhos
com muito cuidado. Em primeiro lugar estava o Senhor Deus, a Santa Missa e a
oração da família reunida. A decisão sobre a escolha do sacerdócio foi tomada
após a graduação no segundo grau. Em 1965, ingressou no Seminário
Arquidiocesano, em Varsóvia. Foi ordenado sacerdote em 28 de maio de 1972.
Durante
o seu ministério sacerdotal executou muitas tarefas. Em fevereiro de 1979,
recebeu a função de pastor do grupo médico em Varsóvia. Dedicou muita atenção
às questões da defesa da vida dos nascituros e da necessidade de prestação de
assistência concreta às mulheres grávidas, que se encontravam em situações
difíceis.
No
domingo memorável de 31 de agosto de 1980, quando o país inteiro estava tomado
por uma onda de greves, os trabalhadores dos estaleiros de Huta que estavam
protestando em Varsóvia, estavam à procura de um sacerdote que pudesse celebrar
as santas missas em suas instalações. O Cardeal Wyszyński enviou o seu capelão.
Sem qualquer plano prévio, o Cardeal parou em frente à Igreja de São Estanislau
Kostka. Lá descobriu que apenas o padre Popiełuszko poderia ir. Desta forma,
pareceria um acaso, mas começou a grande aventura do ministério espiritual para
o povo trabalhador. Após a missa o padre George permaneceu no estaleiro até a
noite e desde então vinha várias vezes por semana.
O
Pe. Popiełuszko simplesmente gostava das pessoas. Sem imposição e obsessão
podia realmente interessar-se com profundidade pelo homem, sua vida, sua
perspectiva, seus problemas. Atraía-as para si porque sentiam a sua bondade.
Era mestre em fazer contatos, construir relacionamentos, criar ligações. Era um
patrono para todos aqueles que individualmente estavam em busca de realizações,
sofrendo de isolamento e mesmo com tratamentos caros em psicoterapeutas não
eram capazes de superá-lo. Sem contar com os empecilhos, interferia por aqueles
que eram os mais oprimidos.
Em
seus sermões, falou muito sobre a liberdade. Ressaltava que a liberdade não
significa anarquia, isto é, fazer toda e qualquer coisa que o homem deseje e o
que é viável, mas que seja pela livre busca do bem. Vencer o mal com o bem.
Permanecer livre do ódio, da repressão e da vingança. O Pe. Popiełuszko levava
café quente para os policiais gelados, que durante o inverno em plena lei
marcial vigiavam sua casa.
Desde
fevereiro de 1982, assumiu a celebração de Santas Missas pela Polônia. Elas
eram celebradas regularmente no último domingo do mês, e logo começou a reunir
multidões de fiéis. Ouviam-no os trabalhadores e professores, opositores e até
mesmo aqueles pertencentes ao partido da oposição. As pessoas vinham de toda a
Polônia, de mês a mês vinham mais e mais pessoas. Não é de admirar que logo por
parte das autoridades aparecessem provocações e tentativas de intimidação.
Nas
Santas Missas pela Pátria ocorriam muitas conversões, muitos voltaram para a
Igreja depois de muitos anos ou até depois de dezenas de anos, e muitos pediam
para ser batizados. Os trabalhadores se opunham ao comunismo sem portar
armamentos além do Santo Rosário em suas mãos e com imagens da Virgem e do Papa
polaco João Paulo II.
Mês
após mês, a atmosfera em torno Pe. Popiełuszko tornava-se cada vez mais tensa.
Sempre era seguido, sabia que sua moradia era vigiada e o telefone gravado. Não
escapou de artigos difamatórios na imprensa e muitas horas de oitivas no posto
policial.
Em
setembro de 1983, junto com Lech Walesa organizou a primeira peregrinação de
trabalhadores para Jasna Góra (para o santuário de Częstochowa – e esta idéia
mantêm-se até hoje). Um ano mais tarde recebia telefonemas anônimos: “Se fores
novamente para Jasna Góra – vais morrer”.
No
dia 13 de outubro de 1984, três oficiais do serviço secreto causaram-lhe um
acidente automobilístico. Providencialmente, dele o padre sobreviveu. Alguns
dias depois, afirmaria: “A vida deve ser vivida com dignidade, porque
temos apenas uma. Peçamos que sejamos libertos do medo, do terror, mas
sobretudo, do desejo de vingança. Devemos vencer o mal com o bem, mantendo
intacta a nossa dignidade de homens, e por isso não podemos fazer uso da
violência”.
No
mesmo dia em que dissera estas palavras acima foi sequestrado por aqueles
mesmos três homens. Pronunciamentos a favor de sua libertação foram feitos por
bispos e sacerdotes. Até mesmo João Paulo II a favor dele se pronunciou na
Audiência do dia 24:
Apelo
às consciências daqueles que cometeram esse ato vergonhoso e são responsáveis
por ele. Queridos irmãos e irmãs, por favor, juntem-se a mim. em oração pela
libertação imediata de Pe. Popiełuszko e seu retorno ao trabalho pastoral;
e
no Angelus do dia 28.
Caros
compatriotas. Continuamos a perseverar em oração pelo Pe. Jerzy Popieluszko.
Agradecemos
a todos que aqui em Roma, Itália e em todo o mundo se juntam a nós em oração
por esta história. Pedimos a Deus paz e ordem em nosso país, em nossa
terra natal. Pedimos que esse novo sofrimento sirva à renovação espiritual
de nossa nação.
Finalmente,
no dia 30, seu corpo foi encontrado.
O
Papa Bento o apresentou, no último Angelus do Ano Sacerdotal, como modelo para
os sacerdotes no dia 13 de junho de 2010, ocasião que encerrava uma longa série
de ensinamentos a respeito do Ano Sacerdotal afirmou: “Padre Jerzy
Popieluszko, Servo da Verdade e do Perdão”.
A
ele, o Papa Bento dedicou dois Angelus. O primeiro, no dia de sua beatificação,
assim dizia: “Dirijo cordial saudação a Igreja na Polônia, que hoje rejubila
com a elevação aos altares do presbítero Jerzy Popieluszko. O seu serviço
zeloso e o martírio são sinais particulares da vitória do bem sobre o mal. O
seu exemplo e a sua intercessão façam aumentar o zelo dos sacerdotes e inflamem
de amor os fiéis leigos”.
Palavras
da Senhora Marianna Popieluszko, mãe do Pe. Popieluszko:
“Ofereci meu
Filho a Deus.”
“Havia
pedido a Deus a graça de ter um filho sacerdote. Quando estava grávida
dele o ofereci a Deus.”
“Pouco
antes de nascer o ofereci a Virgem Maria.”