Esta jovem que
aspirava se tornar religiosa missionária foi forçada a abandonar o convento por
causa de uma doença, que foi vivida com uma fé inabalável, demonstrando a
grande capacidade do sofrimento para a salvação das almas nos últimos dias de
sua existência, em profunda união com Cristo crucificados, repetia: “é lindo dar-se a Jesus, que se dou
completamente por nós”.
Papa
Bento XVI – 17 de junho de 2012
Cecília Eusepi viveu
no início do século XX num vilarejo às portas de Roma e morreu de tuberculose
com apenas dezoito anos. Não deixou mais do que poucos cadernos com as suas
recordações de infância e um diário, escritos apenas para obedecer ao seu
confessor quando já estava tomada pela doença.
A beatificação,
introduzida pouco depois da sua morte, procedeu sem obstáculos. No dia 1º de
junho de 1987 foi declarada venerável por João Paulo II, e dia 17 de junho de
2012 foi proclamada beata pelo Papa Bento XVI.
Hoje já há quem a
considere uma irmã espiritual de Santa Teresa de Lisieux, à qual Cecília Eusepi
é semelhante em muitos aspectos.
Nepi é uma antiga
cidadezinha da Tuscia a quarenta quilômetros de Roma. Um dos muitos sonolentos
vilarejos que tempos atrás pertenciam à Itália camponesa. Foi neste ambiente
que foi morar Cecília, vinda de Monte Romano, uma cidadezinha próxima na qual
tinha nascido no dia 17 de fevereiro de 1910, última de onze filhos. Com a mãe
viúva e o tio materno estabeleceram-se a três quilômetros do vilarejo, numa
propriedade chamada “La Massa” que pertencia aos Duques Lante della Rovere,
onde o tio trabalhava como caseiro.
Muito vivaz e
sensível, cresceu circundada por um afeto particular, principalmente por parte
do tio, a cujos cuidados seu pai, antes de morrer, a tinha confiado. Aos seis
anos, como muitas meninas do povoado, foi mandada à escola junto ao mosteiro
cisterciense de Nepi, que hospedava na comunidade as órfãs de guerra. Pela
destacada sensibilidade e a rapidez de aprendizado de tudo aquilo que lhe
ensinavam, as monjas não esconderam a esperança de tê-la um dia entre os muros
do claustro.
Mas não era a vida
monacal que atraía Cecília. Um pouco mais adiante, a cem metros do convento,
encontrava-se a paróquia de São Ptolomeu mantida pelos Servos de Maria, à qual
tinha anexo o seminário, que então era lotado de aspirantes sacerdotes para as
missões. Em torno da paróquia de São Ptolomeu gravitava toda a vida juvenil do
vilarejo.
Concluída a escola
primária, Cecília passava o seu tempo ali, e foi neste contexto que amadureceu
precocemente e com surpreendente clareza a sua vocação. Tanto que com apenas
doze anos, junto com outras colegas maiores, pediu para entrar como terciária
na ordem dos Servos de Maria e no ano seguinte, apesar da tenra idade e das
tentativas para dissuadi-la por parte dos familiares, obteve do bispo a
dispensa para entrar como postulante entre as “Mantellates” Servas de Maria.
Foi estudar em Roma, em Pistóia e depois em Zara.
Mas a sua aspiração
de partir como missionária não se realizaria. Em outubro de 1926, atingida pela
doença que dois anos depois a levaria à morte, foi obrigada a voltar para Nepi.
A pedido do Pe.
Gabriele Roschini, seu confessor, escreveu suas memórias e as entregou em junho
de 1927 num caderninho de escola.
Quem lê aquela
narração talvez poderá se admirar com o modo infantil e confidencial de Cecília
falar da sua ligação de pertença a Jesus, mas toda sua sabedoria está neste ser
criança abandonada à graça de Deus. Exatamente como Santa Teresa de Lisieux.
Ela mesma diz isso: “Chegarei a
Jesus por um pequeno atalho, breve, muito breve, que me foi traçado pela
pequena Teresa do Menino Jesus”.
Foi justamente a
leitura de "História de uma alma" que provocou em Cecília ainda
menina o desejo de abraçar a vida religiosa. Cecília ainda não tinha completado
dez anos e Teresa de Lisieux não tinha sido proclamada venerável. Mais tarde
diria: “Jamais pensei em chamá-la de irmã, embora tivesse notado entre a
minha alma e a Sua uma grande semelhança, não pela correspondência à graça, mas
pelos dons de graça que Jesus nos concedeu”.
No dia 23 de
outubro de 1926, com a volta para Nepi, para Cecília se inicia o último e breve
percurso da sua vida, marcado pela manifestação e agudeza progressiva da
tuberculose. Período que se tornou ainda mais doloroso pela solidão do chamado
por ela “exílio em La Massa”. Um exílio sofrido pela consciência de não poder
mais professar os votos, pelo afastamento de Nepi, e as calúnias por parte dos
proprietários do local. Único conforto, a devoção filial a Nossa Senhora das
Dores que ela chama o seu “coração” e à Eucaristia, o seu “tesouro”, que Pe.
Roschini, duas vezes por semana, com qualquer condição de tempo, pontualmente
levava para ela.
Não faltam, para
romper o exílio, as frequentes visitas dos camponeses, dos colegas da Ação
Católica, e dos jovens seminaristas acompanhados pelos padres, os quais com
frequência pedem a essa mocinha doente e pouco instruída conselhos para as
homilias.
Nestes últimos anos
Cecília terá do “pequeno caminho”
uma lúcida consciência: “Humildade,
abandono, amor”. Até o fim não diminuiria a sua simplicidade e
alegria, faleceu cantando as orações à Maria que tinha aprendido quando
pequena. Era o dia 1º de outubro de 1928. E também esta data parece quase uma
coincidência. Teresa morrera no dia precedente, dia 30 de setembro de 1897. Em
1927, ano em que foi proclamada por Pio XI padroeira das missões, no dia 1º de
outubro Teresa apareceu num sonho de Cecília, assim como está documentado no
seu diário, preanunciando sua morte exatamente para aquele dia.
Uma junta médica
aprovou por unanimidade, no dia 1° de outubro de 2009, a cura de Thomas Ricci,
ocorrida em 4 de agosto de 1959, depois que ele sofreu uma queda acidental. Sua
recuperação milagrosa foi a condição necessária para a continuação da causa de
beatificação da Serva de Deus Cecilia Eusepi.
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