A vida do Padre Zegri é um
desafio para todos os que seguimos sua espiritualidade, não tanto pelo que fez, mas sobretudo porque soube amar à maneira de
Deus, oferecendo o Evangelho da caridade aos mais necessitados. Ele nos
revelou que a ternura e a misericórdia de Deus se tornam realidade no coração
dos seres humanos, pelo mistério da Redenção do Filho e caminhando com Ele. Ele fez caminho de discipulado
entregando-se total e exclusivamente a Jesus Cristo crucificado, como podemos
ler no seu testamento espiritual, vivendo suas mesmas atitudes e sentimentos,
oferecendo-se totalmente a Ele para o bem da humanidade; perdoando àqueles que
o caluniaram, não levando em conta o mal e criando laços de comunhão, de
encontro e de relação; construindo uma nova humanidade em aras da caridade mais
delicada e amando a Maria, a mulher nova, que sustentou sua vida na fé e sua fé
no mistério de Deus.
João Nepomuceno Zegri e
Moreno, fundador da Congregação religiosa das Irmãs Mercedárias da Caridade,
nasceu em Granada, no dia 11 de outubro de 1831, no seio de uma família cristã.
Seus pais deram-lhe uma esmerada e cuidadosa educação. Forjaram sua rica personalidade nos valores humano evangélicos, fazendo
dele um verdadeiro cristão, comprometido com a causa de Jesus Cristo e dos
pobres, desde sua juventude. Foi um ótimo estudante e um grande homem.
Estudou Humanidades e Jurisprudência, destacando-se
por sua inteligência, mas, sobretudo, pelos seus valores humanos e por uma
intensa vida cristã: dedicado à oração e à caridade para com os pobres.
Deus o chamou a participar
do sacerdócio de Jesus Cristo para oferecer aos seres humanos o Evangelho da
caridade redentora. Estudou no Seminário de São Dionísio de Granada, foi
ordenado sacerdote na catedral de Granada, no dia 2 de junho de 1855. Ser sacerdote de Jesus Cristo foi sua
grande vocação, estava disposto aos maiores sacrifícios, para realizar este
sonho, alimentado desde sua mais tenra juventude.
Como sacerdote esteve nas
paróquias de Huétor Santillán e de São Gabriel de Loja (Granada). Em ambas
exercitou sua vocação de pastor, a exemplo do Bom Pastor, que dá a vida pelas
suas ovelhas. Quando tomou posse de uma destas paróquias, disse o que desejava
ser para os demais, a partir da vocação que tinha recebido: como
bom pastor, correr atrás das ovelhas perdidas; como médico, curar os corações
enfermos devido à culpa e derramar sobre todos a esperança; como pai, ser a
providência visível para todos aqueles que, gemendo na orfandade, bebem o
cálice da amargura e se alimentam com o pão da tribulação. Sua vida sacerdotal esteve
impregnada de uma profunda experiência de Deus; um profundo amor a Jesus Cristo
Redentor, com quem se configurou, aprendendo a obediência, desde o sofrimento.
Sempre teve um grande amor a Maria, sua Mãe e protetora; uma vida intensa de oração,
fonte de caridade; uma grande paixão pelo Reino e pelos pobres, e um intenso
amor à Igreja, com quem viveu em comunhão, apesar da escuridão da fé e dos
sofrimentos que lhe chegaram do seio da própria Igreja.
Foi um evangelizador
infatigável. Gostava de rezar, meditar e escrever seus sermões. Não falava o que não orava, e proclamava o
que estava no centro de seu coração, inflamado pelo amor de Deus. Anunciava
aquilo em que acreditava. Sua palavra convidava a todos a viver a vida cristã
com radicalidade e os sagrados vínculos da religião cristã. Toda sua vida foi
Eucaristia, pão partido para ser comido; celebração do amor de Deus na entrega
de sua própria existência. E foi, também, reconciliação. Celebrou o sacramento
do perdão tornando-se perdão, misericórdia e compaixão para todos,
especialmente para sus inimigos e para aqueles que o caluniaram.
Ocupou cargos importantes,
mas sempre viveu a maravilhosa humildade de Deus, revelada no hino da Carta aos
Filipenses 2,5.
Impactado
pelos problemas sociais e pelas necessidades dos mais desfavorecidos, sentiu-se
chamado a fundar uma Congregação religiosa para libertar os seres humanos de
suas escravidões. Funda-a sob a proteção e inspiração de Maria
das Mercês, a peregrina humilde da gratuidade de Deus, em Málaga, no dia 16 de
março de 1878.
O objetivo: Praticar
todas as obras de misericórdia espirituais e corporais na pessoa dos pobres,
pedindo às religiosas que tudo quanto fizessem fosse para o bem da humanidade, em Deus,
por Deus e para Deus. A Congregação, em poucos anos, estende-se por
muitas dioceses espanholas como conseqüência da dinamicidade de sua inspiração
carismática: Curar todas as chagas, remediar todos os males, acalmar todos os
pesares, desterrar todas as necessidades, enxugar todas as lágrimas, não
deixar, se possível for em todo o mundo, um só ser abandonado, aflito,
desamparado, sem educação religiosa e sem recursos.
O Pe. Zegri, inflamado no amor de Deus, chegou
a dizer que a caridade é a
única resposta a todos os problemas sociais e não concluirá enquanto houver uma
só dor que curar, uma só infelicidade que consolar, uma só esperança que derramar
nos corações ulcerados; enquanto houver regiões longínquas que evangelizar,
suores que verter e sangue que derramar para fecundar as almas e engendrar a
verdade na terra.
Provado como ouro no
cadinho, e enterrado no sulco da terra, como o grão de trigo, foi caluniado e
afastado da obra por ele fundada, primeiro pela Igreja, e depois, pelas mesmas
religiosas. Morre no dia 17 de março de 1905 na cidade de Málaga, só e
abandonado, como ele tinha decidido morrer; a exemplo do Crucificado, fixo o
olhar no autor e consumador de nossa fé. Morre
como filho fiel da Igreja, sob o sinal da obediência da fé, como as grandes
testemunhas e os grandes profetas.
Elaborou uma rica
espiritualidade na qual hoje bebemos as religiosas, os mercedários da caridade
e tantas pessoas leigas que, impressionadas pela sua vida, pela caridade que
derramou nos pobres e pela maneira como decidiu morrer, querem fazer seu
caminho de vida cristã a partir de sua inspiração carismática. Os eixos
fundamentais da mesma são:
— a caridade redentora,
para fazer benefícios à humanidade e oferecer aos pobres o Evangelho do amor e
da ternura de Deus, pois a caridade, que é Deus, manifesta‑se enxugando
lágrimas, socorrendo infortúnios, fazendo bem a todos e deixando a seu passo
torrentes de luz
— o amor e a
configuração com Jesus Cristo Redentor, em seu mistério pascal, pois a
característica do amor místico que quase identifica com Jesus Cristo o coração
do homem, desinteressado de toda recompensa, é o sublime ideal da
caridade
— o amor a Maria das
Mercês, pois N. Sra. das Mercês é de todos e para todos, já que não há título
mais doce, invocação mais suave, nomenclatura mais ampla do que a mercê e
misericórdia de Maria.
Viveu e se apropriou
de todas as virtudes cristãs de maneira heróica, sobretudo a fé, a esperança e
a caridade, e todas aquelas virtudes humanas que dão elegância à caridade e a
tornam entranhável no relacionamento: humildade, afabilidade, doçura, ternura,
misericórdia, bondade, mansidão, paciência, generosidade, gratuidade e benevolência.
Distinguiu-se também pela
sua prudência, pela sua fortaleza no sofrimento, pela sua transparência na
busca da verdade e pelo sentido de justiça em todos os seus atos e decisões. A
Igreja reconheceu suas virtudes heroicas proclamando-o Venerável no dia 21 de
dezembro do ano 2001.
Deus Pai, por sua
intercessão, realizou um milagre, na pessoa de Juan de la Cruz Arce, na cidade
de Mendoza, Argentina, devolvendo-lhe o
pâncreas, que lhe havia sido totalmente extirpado numa intervenção
cirúrgica.
Foi proclamado Beato em 09
de novembro de 2003.
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