terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

28 de fevereiro - Beato Daniel Alessio Brottier

Apóstolo dos órfãos, e com um profundo amor pelo Senegal, seus contemporâneos assim o definiam:  “Se abrissem o seu coração, aí encontrariam um órfão e a Catedral de Dacar”

Daniel Brottier nasceu no dia 7 setembro de 1876, em Ferté-Saint-Cyr na diocese de Blois, norte da França. Muito cedo ele se mostrou atraído pela fé católica. Ainda criança disse para sua mãe que queria ser Papa e ela lhe respondeu que antes ele precisaria ser um padre. Não surpreende o fato de ter entrado no seminário e sido ordenado padre aos 23 anos. 

Mas, não satisfeito de trabalhar para os católicos franceses, decidiu dedicar sua vida para levar o Evangelho aos não crentes. Com isso em mente, entrou na Congregação do Padres do Espírito Santo. Foi enviado como missionário para o Senegal, na África Ocidental, onde trabalhou com grande empenho e compromisso na paróquia de St. Louis, apesar de desejar ir para o campo e não ficar na cidade.

Devido aos problemas de saúde, foi chamado de volta à França em 1911, mas continuou a sua missão e envolveu-se no levantamento de fundos para a construção da catedral de Dacar, capital do Senegal. Entretanto, eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Brottier foi alistado nas forças francesas como capelão militar nas linhas de frente. Por quatros anos, assistiu os moribundos, cuidou dos feridos, deu assistência espiritual a seus compatriotas. No fim da Guerra foi condecorado com a Cruz da Guerra e com a Legião de Honra.  Foi nessa qualidade que tomou parte nas batalhas da Lorrena, do Somme, Verdun e Flandres. Tendo sido um dos poucos afortunados que sobreviveram à guerra, reconhecia que tinha sobrevivido pela intercessão de Tereza de Lisieux, de quem era devoto.

Em 1923, o Arcebispo de Paris, Cardeal Dubois, pediu à Congregação do Espírito Santo para se ocupar dos Órfãos de Auteuil, uma obra que acolhia crianças desfavorecidas, muitas das quais viviam nas ruas de Paris. Prover amparo e educação para as crianças sempre foi, desde cedo, uma opção da Congregação do Espírito Santo que, frequentemente, criava orfanatos ao lado dos seminários e das escolas.
O Padre Daniel Brottier assumiu esse trabalho, junto com o Padre Pichon. Durante 13 anos viveu ao serviço dessas crianças e jovens. Acolheu-as, escutou-as e com elas experimentou a miséria de que padeciam.

Sobre este orfanato, o Padre Brottier escreveu: Assim, elas chegavam cheias de confiança a Auteuil. Ouviam dizer que nesta casa, desde que houvesse espaço disponível, crianças como elas iriam ter alguma coisa para comer, beber e ainda um canto para dormir. Ainda mais, ouviam dizer que em Auteuil se podia aprender a trabalhar e a preparar-se para o futuro, de modo que não haveria mais motivo para falar de misérias vividas no passado. E que mais tarde elas poderiam formar suas próprias famílias, cheias de alegria e amor”.

Sem pensar em si mesmo, o Padre Brottier tentou dar a estas crianças um mínimo de conforto e formação para que pudessem ter uma vida normal viver como toda a gente:
“Acreditem em mim, tem de haver um mínimo de bem-estar e conforto para que esses jovens cresçam sem mágoas. Caso contrário, mais tarde eles irão lançar as sementes de revolta e anarquia na sociedade”.

Daniel Brottier encontrou uma aliada e amiga na sua vida e obra – Santa Teresa de Lisieux. Em Auteuil, projetou com a intercessão dela muitos caminhos da “tentadora Providência” para a realização e desenvolvimento do trabalho com os órfãos. Embora preponderantemente um homem de ação, o seu trabalho fluía de uma união prática e interior com Deus.
“Se a Providência Divina existe, se Deus se preocupa com os órfãos e as crianças abandonadas, se os pássaros dos campos e os lírios dos vales Lhe são caros, se os méritos de alguns podem servir para ajudar a outros, …então, nesse caso, devemos agir com essa fé. Não podemos duvidar da Providência. Devemos orar e agir… e com esse projeto podemos aplainar montanhas. Ir avante com total confiança em Deus. Ou temos fé ou não temos.”

O Padre Brottier faleceu no dia 28 de fevereiro de 1936, no Hospital de Saint Joseph, em Paris. Foi sepultado na Capela de Santa Teresa de Lisieux em Auteuil, no dia 5 de abril do mesmo ano. Foi declarado Venerável em 1983 e beatificado em 25 de novembro de 1984, pelo Papa João Paulo II.



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

27 de fevereiro - São Gabriel de Nossa Senhora das Dores

Gabriel de Nossa Senhora das Dores, a quem Leão XIII chamava o novo São Luiz Gonzaga, nasceu em Assis em 1838, e no mesmo dia recebeu o batismo, na mesma pia, em que foi batizado São Francisco de Assis.
                                              
Seu pai era governador da cidade de Urbânia,  e como um dos magistrados dos Estados Pontifícios, gozava de grande estima do Papa Pio IX e Leão XIII honrava-o com sua sincera amizade. A mãe era de nobre família.
Eram esposos cristãos, vivendo no santo temor de Deus, unidos no vínculo de respeito e amor fidelíssimo. Deus abençoou esta santa união com treze filhos, dos quais Gabriel era o undécimo. Este, no batismo recebeu  nome de Francisco, em homenagem a seu avô e ao Seráfico de Assis.
                                              
Dando testemunho da educação que recebiam na família, no Processo da beatificação do Servo de Deus, os seus irmãos declararam: “Nós fomos educados com o máximo cuidado, no que diz respeito à piedade e à instrução. Nossa mãe era piedosíssima e nos educou segundo as máximas da nossa santa Religião”.
Nos braços, sobre os joelhos de uma mãe profundamente religiosa o pequeno Francisco aprendeu os rudimentos da vida cristã e pronunciar os santos nomes de Jesus e Maria.
                                              
A morte prematura da mãe trouxe grande tristeza. D. Inês sentindo a última hora se aproximar, reuniu todos os filhos à cabeceira do leito, estreitou-os, um por um, ao seu coração, selou a sua fronte com o último beijo, deu-lhes a bênção, distinguindo com mais carinho os de tenra idade, entre estes, Francisco; munida de todos os sacramentos, confortada pela graça de Deus, na idade de 38 anos deixou este mundo.

Do pai, o próprio filho Francisco ao seu diretor espiritual deu o seguinte testemunho: Meu pai, tinha por costume levantar-se bem cedo. Dedicava uma hora à oração e meditação; se neste tempo alguém desejava falar-lhe, havia de esperar pelo fim das práticas religiosas. Terminadas estas, ia à igreja assistir a santa Missa e costumava levar consigo dos filhos os que não fossem impedidos. Finda a santa Missa metia-se ao trabalho. À noite reunia seus filhos e dava-lhes sábios conselhos e úteis exortações. Falava-lhes dos deveres para com Deus, do respeito devido à autoridade paternal e do perigo das más companhias. “Os maus companheiros, dizia ele, são os assassinos da juventude, os satélites de Lúcifer, traidores escondidos e por isso para os temer e deles ter cuidado”.
                                              
Os biógrafos de Francisco fazem ressaltar em primeiro lugar a extraordinária bondade de coração do menino, principalmente para com os pobres. Muitas vezes ficou ele sem a merenda, por tê-la dado aos pobres. Entre seus irmãos era ele o anjo da paz, sempre pronto para desculpar e para defendê-los, quando acusados injustamente. Não suportava a injúria, fosse ela atirada a si ou a um dos seus. Com a maior facilidade se desfazia de objetos de certo valor, que recebia de presente. Assim presenteou a um de seus irmãos de uma bela corrente de prata, que tinha recebido de um parente. Estes belos traços no caráter de Francisco não afastam certas sombras que nele subsistiam também. Os que o conheciam meigo, bondoso, compassivo, sabiam-no também ser nervoso, impaciente, irascível.
                                              
Francisco era obediente e tinha grande respeito ao pai, o que aliás não impedia que diante de uma severa repreensão desse largas ao seu gênio impulsivo, com palavras e gestos demonstrando o seu descontentamento, sua raiva. Mas logo voltava às boas; sua boa índole não permitia, que estas revoltas interiores durassem muito tempo. Era encantador ver, momentos depois, o menino desfeito em pranto, procurar o pai e por seus modos ingênuos e infantis, assegurar-se do perdão e do amor do dele. Este, fingindo não dar crédito a estas demonstrações, retrucava bruscamente: “Nada de carícias; quero ver fatos”. Então o menino se atirava ao colo do pai, beijava-o e sentia-se feliz, em ter voltado a paz, com o perdão paterno. Nesta escola de sábia pedagogia Francisco cedo aprendeu combater e vencer seus defeitos.
                                              
Por algum tempo Francisco ficou entregue aos cuidados de um mestre; depois freqüentou o colégio dos Irmãos das Escolas Cristãs, onde fez rápidos progressos, figurando sempre entre os melhores alunos. Na idade de sete anos fez a sua primeira confissão.
                                              
Um ano depois, em junho de 1846 recebeu o sacramento da confirmação. Tudo isto prova que o menino já se achava bem instruído nas verdades da nossa fé.
                                              
Nesse mesmo tempo caiu também a data da sua primeira comunhão, para qual se preparou com todo o esmero. Esses sentimentos de fé e de piedade, aquelas chamas de amor ao Santíssimo Sacramento não mais se separaram do coração de Francisco nos anos de sua mocidade, nem no meio de uma vida dissipada de certo modo mundana. Não menos certo é que a freqüente recepção da santa comunhão preservou-o de graves desvios no meio das tentações do mundo.
                                              
Terminados os estudos elementares, o pai pensou em procurar para Francisco uma educação mais elevada, de acordo com a sua posição social e confiou seu filho aos Padres Jesuítas que na cidade de Spoleto dirigiram um colégio. Mestres e colegas igualmente o estimavam. Tudo nele encantava: os seus modos delicados e gentis, a modéstia no falar, o sorriso benévolo que lhe afloravam aos lábios, o garbo com que se sabia ver em circunstâncias mais solenes, os sentimentos nobres que dominam em todo o seu proceder.
Desde a sua infância mostrou devoção particular a Nossa Senhora das Dores, uma imagem da qual se conservava em sua família; e cabia-lhe a ele adorná-la de flores e manter acesa uma lâmpada diante da estátua.
                                              
Para completar a imagem do jovem estudante e assim melhor poder compreender a mudança que nele mais tarde se efetuou, tenha aqui lugar a descrição da solene distribuição de prêmios, da última em que Francisco tomou parte no colégio dos Jesuítas em Spoleto, em setembro de 1856.
Francisco ocupava o primeiro lugar. Ninguém se lhe igualava em elegância exterior, no garbo de representar, na graça de declamar, na graciosidade da gesticulação, no timbre encantador da voz. Podendo representar no palco, parecia estar no seu elemento e fazia-o com toda a naturalidade e perfeição. Em sua aparência não deixava nada a desejar: tudo obedecia às exigências da última moda: o cabelo esmeradamente penteado, o traje elegante e ricamente adornado, as luvas brancas, gravata de seda, sapatos luzidios e artisticamente acabados, a tudo isso Francisco ligava máxima importância.
                                              
O inimigo das almas tirou proveito dessas fraquezas. Se não conseguiu roubar-lhe a inocência, não foi porque não lhe poupasse contínuos assaltos, bem sucedidos. A paixão pelo teatro, a verdadeira mania por bailes, o amor à leitura de romances eram tantos os perigos, que é de admirar que o jovem Francisco não caísse presa das ciladas diabólicas. Tão pronunciada era sua paixão às danças, que recebeu o apelido de “bailarino”. Assim um dos seus mestres, quando soube da sua inesperada fuga do mundo para o convento, disse: “O bailarino fez isto? Quem esperava uma tal coisa! Deixar tudo e fazer-se religioso no noviciado dos Padres Passionistas!”

Francisco bem conhecia o perigo em que nadava, e não faltava quem o chamasse à atenção, o lembrasse da necessidade da oração, da vigilância, da mortificação, da devoção a Jesus e Maria, de não perder de vista a eternidade.                                              

Com todas as leviandades e suas perigosas tendências para o mundo, Francisco não deixava de ser um bom e piedoso jovem.                                              
                                              
Das paixões de Francisco, uma das mais fortes foi a da caça. A esta paixão ele pagava tributos bem pesados e seu diretor espiritual não hesitou em atribuir a este esporte a cruel moléstia, que o ceifou na flor da idade. Certa vez, em pular uma cerca, chegou a cair e com tanta infelicidade, que quebrou-lhe um osso do nariz. O fuzil disparou e o projétil passou-lhe rente pela testa, pouco faltando que lhe rebentasse o crânio. Francisco reconhecendo logo a providência deste aviso, renovou a sua promessa. Ficou com as cicatrizes, mas deixou-se ficar no mundo.
                                              
A graça divina também não se deu por vencida. Rejeitada três vezes, tentou um quarto golpe, mais doloroso ainda. De todos de sua família Francisco dedicava grande amizade a sua irmã Maria Luzia, nove anos mais velha que ele, e esta amizade era correspondida com todo afeto. Em 1855 irrompeu em Spoleto a cólera e Maria Luiza foi a primeira vítima da terrível epidemia. A morte da irmã feriu profundamente o coração do jovem e mergulhou sua alma em trevas nunca antes experimentadas. Perdeu o gosto de tudo e se entregou a uma tristeza inconsolável. Parecia, que com este golpe a graça divina tivesse removido o  último obstáculo de a promessa se cumprir. Assim ainda não foi. Todo acabrunhado, Francisco manifestou ao pai sua resolução de entrar para o convento chegando a dizer que para ele tudo se tinha acabado nesta vida. Possenti, receando perder seu filho a quem muito amava, não recebeu bem a comunicação e pediu-lhe nunca mais tocasse neste assunto. Aconselhou-o a se distrair, a afastar os pensamentos tristes a procurar a sociedade, freqüentar o teatro; chegou a insinuar-lhe a idéia de procurar a amizade de uma donzela distinta, de família igualmente conceituada, na esperança de nos entendimentos inocentes ela conseguir de fazê-lo esquecer-se dos seus intentos religiosos.
                                              
Na igreja metropolitana de Spoleto gozava de uma veneração singular uma imagem de Nossa Senhora; a esta imagem chamava simplesmente “a Icone”. Na oitava do dia 15 de agosto esta imagem era levada em solene procissão por dentro da igreja e não havia quem não se ajoelhasse à sua passagem. Em 1856 Francisco Possenti achava-se no meio dos fiéis e todo tomado de amor por Maria Santíssima, os seus olhos se fixavam na venerada imagem como que esperando por uma bênção especial. Pois, quando a “Icone” vinha aproximando-se do jovem, parecia ela lhe atirar um olhar todo especial e lhe dizer: “Francisco, o mundo não é para ti; a vida no convento te espera”. Esta palavra, qual uma seta de fogo cravou-lhe no coração; assim saiu da igreja desfeito em lágrimas. Estava resolvido a realizar desta vez o plano de alguns anos. Tratou, porém, de não dar por enquanto nenhuma demonstração do seu intento.
                                              
Embora certo de sua vocação, mas desconfiando da sua fraqueza, e para não ser vítima de uma ilusão procurou seu diretor espiritual Pe. Bompiani, e a ele se abriu inteiramente, fazendo do conselho do mesmo depender sua resolução definitiva. O exame foi feito com toda sinceridade e tendo tomado em consideração todos os fatores influentes no passado da vida do jovem, o Pe. Bompiani não duvidou de se tratar de uma vocação verdadeira e animou o jovem a seguí-la.

Francisco se resolveu então a pedir sua admissão na Congregação dos Passionistas. Comunicar ao pai a resolução tomada, não foi fácil. Mas desta vez o Sr. Sante, homem consciencioso, vendo a aflição e a firmeza de seu filho, não mais se opôs; tomado, porém, de espanto quando soube que a Congregação por Francisco escolhida, a dos Passionistas, era de todas a mais austera. Se bem que não se opusesse à vontade do filho, tratou de procrastinar a execução do seu plano e impor condições. Francisco, porém, ficou firme. Tomou ainda e pela última vez, parte na solenidade da distribuição dos prêmios, no colégio dos Jesuítas, fez como sempre um papel brilhante no palco, despediu-se dos seus professores, dos seus amigos, depois foi para  convento Morrovale, dos Passionistas onde já em 21 de setembro de 1856 recebeu o hábito com o nome de Gabriel dell’Adolorata.

Convencidíssimo da sua vocação religiosa, longe do mundo, da sociedade e da família, não mais teve outro ideal que subir as culminâncias da perfeição.
                                              
Inconfundível era sua personalidade no meio dos seus companheiros do noviciado. Sem perder as notas características do seu caráter, a jovialidade, a alegria de espírito, a amenidade de trato, era fiel no cumprimento dos exercícios regulares, como também na prática das virtudes cristãs e monásticas.
E as causas desta mudança radical na vida de Gabriel, duas: o ardente amor a Jesus Crucificado, à Santa Eucaristia, sua devoção singular a Mãe de Deus, em particular à Nossa Senhora das Dores e sua inalterada mortificação, por meio da qual deu morte aos seus desordenados apetites, um por um.
                                              
Tendo corrido o ano de provação, Gabriel foi admitido à profissão e mandado para várias casas da Congregação, com o fim de completar os seus estudos de teologia. Durante os anos de preparação para o sacerdócio, superiores e companheiros viram no santo jovem o modelo mais perfeito de todas as virtudes, e cumpridor exatíssimo dos seus deveres.
                                              
Quando chegou à idade de vinte e três anos, aparecem os primeiros sintomas da tuberculose pulmonar. O longo tempo da sua enfermidade Gabriel o aproveitou para ainda mais se aprofundar na sua devoção predileta à Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo e à Maria Santíssima, Mãe das Dores. Em fevereiro de 1862 ainda pôde andar e receber a santa comunhão na igreja, junto com seus companheiros.

Inesperadamente o mal se agravou; foi preciso avisá-lo para receber os últimos sacramentos. A notícia assustou-o por um momento só; mas imediatamente recuperou a habitual calma, que logo se transformou numa alegria antes nunca experimentada. O modo de receber o santo viático comoveu e edificou a todos que assistiram. Não mais largava a imagem do crucificado, que cobria de beijos, e ao seu alcance tinha a estátua de N. Sra. das Dores, que freqüentemente apertava ao seu peito, proferindo afetuosas jaculatórias, como estas: “Minha mãe, faze depressa!” – “Jesus, Maria, José, expire eu em paz em vossa companhia!” – “Maria, mãe da graça, mãe da misericórdia, do inimigo nos protegei, e na hora da morte nos recebei”.
                                              
Assim morreu o santo jovem na idade de vinte e quatro anos, na manhã de 27 de fevereiro de 1862. Trinta anos depois foi feito o reconhecimento do seu corpo. Nesta ocasião com o simples contato de suas relíquias verificou-se a cura prodigiosa de uma jovem com tuberculose em estado terminal.
Em 1908 o Papa Pio X inscreveu o nome de Gabriel da Virgem Dolorosa no catálogo dos Beatos e em 1920 Bento XV decretou-lhe as solenes honras da canonização.

27 de fevereiro - Beata Francisca Ana das Dores de Maria

Também na vida da beata  Francisca-Ana das Dores de Maria vemos refletidos os ensinamentos que hoje Jesus nos dá no Evangelho. Dada a binomial riqueza e pobreza, Francisca-Ana escolheu a pobreza e excluiu do projeto da sua vida cristã e consagrada a riqueza, porque ela sabia que podia levá-la para longe de Deus. Ela doava o pouco que produzia em suas terras para servir a paróquia e aos necessitados: "O Senhor dá o pão aos famintos. . . o Senhor sustém o órfão e a viúva ".

Francisca-Ana ao longo de sua vida obedeceu a vontade de Deus. A vontade divina é por vezes difícil de discernir: quando nova quer ser freira e seu pai a impede. Francisca-Ana pai vê nessa recusa a vontade de Deus que não a quer uma freira em um convento, sua consagração será em sua própria casa através de uma vida dedicada à oração, mortificação e de apostolado.

Quando aos quarenta anos está sozinha no mundo após a morte de seus pais e irmãos, seja por obediência ao seu diretor espiritual, seja porque a situação sociopolíticas de sua nação não aconselhava isso, as circunstâncias adia a realização de seu ideal de consagrar-se a Deus por meio dos votos religiosos até quase o fim de sua vida, quando conta com setenta anos e funda em sua própria casa um convento de caridade.
Uma vida cheia de incertezas, mas uma vida em que não havia nenhum obstáculo para servir a Deus em tudo, porque Francisca-Ana tinha dado tudo o que tinha, de fato, tinha vindo a dedicar-se a Deus na virgindade.

Então, livre de tudo o que a poderia amarrar a este mundo, ela lutou a luta da Fé, empreendendo decididamente o caminho da perfeição cristã. A Beata Francisca-Ana Maria das Dores do Senhor nos dá um grande exemplo de saber como colocar o serviço a Deus a serviço da riqueza e do mundo, sabendo que tem o coração livre para consagrar-se e dedicar-se só a Ele.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 01 de outubro de 1989

Francisca Ana, chamada habitualmente Francinaina, nasceu em Sencelles, Mallorca, Baleares, em 1º de junho de 1781, sendo batizada no mesmo dia; pertencia a uma família de camponeses.

Desde pequena se sentia chamada a se consagrar a Deus na vida religiosa. Mas, inúmeras e variadas dificuldades, a impediram de fazê-lo, com muito pesar de sua parte. Cresceu como qualquer menina do povoado de então; como ajudava os pais e os três irmãos mais velhos nos trabalhos do campo e da casa, Francinaina não fez os estudos elementares. Analfabeta, aprendia o catecismo de memória; também aprendeu a costurar.

Desde pequena se dedicava às devoções do Rosário, da Via Sacra, bem como à frequência na Comunhão. Pediu permissão para entrar em um convento, mas seu pai não aceitou, o que a fez se tornar terciária franciscana desde 1798, levando uma vida de religiosa em sua casa e em meio aos seus trabalhos seculares.

Aos 26 anos, falecida sua mãe e também seus irmãos, Francinaina vivia junto a seu pai na casa familiar. Além de cuidar de seu pai, ela se encarregava de todas as tarefas do campo e domésticas.
Em 1821, seu pai falece. Por ocasião de sua morte Francinaina tinha quarenta anos; ela reafirmou seu projeto de dedicar sua vida a Deus e aos demais. Decidiu levar uma vida de retiro em sua casa, onde vivia em companhia de outra mulher, Madalena Cirer Bennazar, a qual permanecerá junto a ela até sua morte.

Em Sencelles ela era popularmente conhecida como "Sa Tia Xiroia". Trabalha na paróquia e atende ao povo que com frequência recorria a seus conselhos. O que ganha na colheita investe nos pobres, reservando para si mesma apenas o indispensável.
Em 1850 o reitor de Sencelles, Juan Molinas, decidiu estabelecer uma casa de caridade, no espírito das Filhas da Caridade de São Vicente de Paula, na localidade. Encarregou a direção desta nova instituição a Francisca, que ofereceu sua casa e seus bens para a obra. Em 7 de dezembro de 1851 fez, junto com outras duas mulheres Ir. Madalena e Ir. Conceição, os votos na nova Congregação, tomando o nome de Francisca Ana da Virgem das Dores.

Apesar de analfabeta, Irmã Francisca ensinava e educava crianças e jovens na fé cristã.Oferecia consolo aos pobres e aos doentes, e os ajudava no limite de suas possibilidades. Orientava e aconselhava as meninas, e qualquer pessoa que necessitasse; também assistia aos moribundos.

Diversos milagres lhe são atribuídos: uma menina foi e voltou de Sencelles à Binisalem, situada a oito quilômetros, em busca de medicamentos. Como chovia Irmã Francisca lhe cedeu sua sombrinha para que a usasse como guarda-chuva. Ao voltar a menina estava completamente seca. Outros milagres se referem à cura de enfermidades de crianças. A fama destes milagres correu pela ilha e muitos vão até Sencelles.
Irmã Francisca faleceu no dia 27 de fevereiro de 1855 como consequência de um AVC; pessoas de todas as classes sociais foram prestar homenagem a ela, que foi sepultada na cripta do Convento das Irmãs de Caridade de Sencelles.

O Papa João Paulo II a beatificou em Roma em 1º de outubro de 1989.

A Beata Francisca Ana é venerada em toda a Ilha de Mallorca por todas as curas milagrosas que lhe são atribuídas. Sua festividade se celebra em 27 de fevereiro; nesse dia os habitantes de Sencelles, e de outras povoações, saem às ruas para levar uma oferenda floral para aquela que foi a fundadora das Irmãs de Caridade.

Desde 1986, a cada ano se realiza uma romaria no 2º domingo do mês de maio que vai da localidade de Casa Blanca até o túmulo da Beata. Esta romaria é feita a pé, a cavalo ou de carro. Em 2005 ela foi nomeada Filha Predileta da ilha pelo Conselho de Mallorca. Desde 2009 ela é a patrona dos catequistas.


domingo, 26 de fevereiro de 2017

26 de fevereiro - Santa Paula Fornés de São José Calasanz

“Em verdade te digo: hoje estarás Comigo no Paraíso" (Lc 23, 43). No paraíso, na plenitude do reino de Deus, foi acolhida Santa Paula Montal Fornés de São José de Calasanz, fundadora do Instituto das Filhas de Maria, Religiosas Escolápias, depois de uma vida de santidade. Primeiro na sua cidade natal, Arenys del Mar, empenhada em várias atividades apostólicas e penetrando, com a oração e a piedade sincera, os mistérios de Deus; depois, como fundadora de uma família religiosa, inspirada no lema calasanziano "piedade e letras", dedica-se à promoção da mulher e da família com o seu ideal de: "Salvar a família, educar as meninas no santo temor de Deus"; por fim, dá provas da autenticidade, da coragem e da ternura do seu espírito, um espírito modelado por Deus, durante os trinta anos de vida escondida em Olesa de Montserrat.

A nova Santa pertence a esse grupo de fundadores de institutos religiosos que no século XIX foram ao encontro das numerosas necessidades que naquela época se apresentavam e às quais a Igreja, na perspectiva do Evangelho e de acordo com as sugestões do Espírito, devia responder para o bem da sociedade. A mensagem de Santa Paula continua a ser atual e o seu carisma educativo é fonte de inspiração para a formação das gerações do terceiro milênio cristão.
Papa João Paulo II – Homilia de Canonização – 25 de novembro de 2001


Na vila de Arenys de Mar, perto de Barcelona, Espanha, nasceu Paula Montal Fornés em 11 de outubro de 1799, que no mesmo dia recebeu o batismo. Paula passou a infância e a juventude em sua cidade natal, trabalhando desde os 10 anos de idade, quando seu pai morreu. O seu lazer era a vida espiritual da sua paróquia, onde se destacou por sua devoção à Virgem Maria. 



Paula Montal, durante este período, constatou, por sua própria experiência, que as possibilidades de acesso à instrução e educação para as mulheres eram quase nenhuma. Um dia quando estava em profunda oração, se sentiu iluminada por Deus para desenvolver este dever. Decidiu deixar sua cidade natal para fundar um colégio inteiramente dedicado à formação e educação feminina.

Paula Montal se transferiu para a cidade de Figueras, junto com mais três amigas de espiritualidade Mariana, e iniciou sua obra. Em 1829, ela abriu a primeira escola para meninas, com amplos programas educativos, que superavam o sistema pedagógico dos meninos. Era uma escola nova. 

Assim, Paula Montal com o seu apostolado totalmente voltado à formação feminina, se tornou a fundadora de uma família religiosa, inspirada no lema de São José de Calazans: "piedade e letras". Sempre fiel a sua devoção à Virgem Maria, deu o nome para a sua Congregação de Filhas de Maria. A estas religiosas transmitiu seu ideal de: "Salvar a família, educar as meninas no santo temor de Deus". E continuou se dedicando à promoção da mulher e da família. 

Em 1842, abriu o segundo colégio em sua terra natal, Arenys de Mar. Nesta época, Paula Montal decidiu seguir os regulamentos da Congregação dos Padres Escolápios, fundada por São José de Calazans com quem se identificava espiritualmente. Um ano após abrir sua terceira escola, Paula Montal conseguiu a autorização canônica para, junto com suas três companheiras, se tornar religiosa escolápia. Em 1847, a congregação passou a ser Congregação das Filhas de Maria, Religiosas Escolápias, que ano após ano crescia e criava mais escolas por toda a Espanha.

Paula Montal deu a prova final de autenticidade, da coragem e da ternura do seu espírito modelado por Deus, em 1959. Neste ano, no pequeno e pobre povoado de Olesa de Montserrat, fundou sua última obra pessoal: um colégio ao lado do mosteiro da Virgem de Montserrat. Ali ficou durante trinta anos escondida, praticando seu apostolado. Morreu aos 26 de fevereiro de 1889 e foi sepultada na capela da Igreja da Matriz de Olesa Montserrat, Barcelona, Espanha. 


Quando Paula faleceu, sua ordem contava com 308 freiras e 38 noviças, que juntas educavam mais de 3.400 estudantes em 19 escolas espalhadas pela Espanha.
Hoje, no Brasil, existem oito colégios da Madre Paula Montalt, sendo cinco em Minas Gerais, dois em Tocantins, um em São Paulo e um em Sergipe. E no mundo, há diversos colégios espalhados pela Argentina, Bolívia, Chile, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Índia, Itália, Japão, México, Polônia, Porto Rico, República Dominicana e Senegal.
Madre Paula Montalt foi beatificada em 18 de abril de 1993 e canonizada em 25 de novembro de 2001 pelo Papa João Paulo II, em Roma, na Itália.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

25 de fevereiro - Beato Domingos Lentini

“Esteja sobre nós a bondade do Senhor, nosso Deus”. A consciência profunda da bondade do Senhor animava o Beato Domingos Lentini, o qual na sua pregação itinerante não se cansava de propor o apelo à conversão e ao retorno a Deus. Por este motivo, a sua atividade apostólica era acompanhada pelo assíduo ministério do confessionário. Bem sabeis, com efeito, que na celebração do sacramento da Penitência o sacerdote se torna dispensador da misericórdia divina e testemunha da nova vida que nasce, graças ao arrependimento do penitente e ao perdão do Senhor.
Sacerdote, de coração indiviso, soube conjugar a fidelidade a Deus com a fidelidade ao homem. Com ardente caridade dirigiu-se em particular aos jovens, que educava para serem firmes na fé, e aos pobres, aos quais oferecia tudo aquilo de que dispunha, com uma absoluta confiança na divina Providência. A total dedicação ao ministério fez dele, segundo a expressão do meu venerado Predecessor, Papa Pio XI, «um sacerdote rico só do seu sacerdócio».

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 12 de outubro de 1997

Domingos Lentini  nasceu em Lauria, Província de Potenza (Itália), Diocese de Tursi-Lagonegro, a 20 de Novembro de 1770, numa família humilde e piedosa. Aos quatorze anos seguiu a vocação ao sacerdócio e progrediu na vida espiritual e na formação cultural, em primeiro lugar na paróquia natal e, depois, no Seminário de Policastro.

Em 1794 foi ordenado Sacerdote, tendo exercido o ministério sempre na paróquia de Lauria, dedicando-se especialmente à confissão dos fiéis, à pregação do Evangelho, sempre obediente ao Bispo e não querendo assumir cargos honoríficos. Foi ministro da Cruz, amou a Cruz, vivendo-a à luz da Ressurreição, seguindo a Cristo no caminho da contínua pobreza e dura penitência. Teve uma grande devoção à Virgem das Dores, cujo culto foi por ele enormemente difundido.

Foi ministro da caridade, interessando-se pelos mais pobres e praticando profunda severidade para consigo mesmo e sentido de partilha com todos.
Dotado de muitos carismas e talentos, manifestou-se como sacerdote de vasta cultura, dedicando-se heroicamente à Igreja e ao seu povo, em períodos de graves situações sociopolíticas, semeando serenidade e paz.

A 25 de Fevereiro de 1828, com fama de santidade, após uma agonia em completo abandono místico, o Servo de Deus foi chamado a receber a recompensa do seu Senhor.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

24 de fevereiro - Beata Josefa Naval Girbés

A Igreja canta uma canção de alegria e louvor a Cristo para a beatificação de Josefa Naval Girbés, virgem secular, que dedicou sua vida ao apostolado em sua terra natal natal, Algemesi, da arquidiocese de Valência, Espanha. Mulher simples, dócil ao Espírito, ela chegou ao longo da vida ao cume da perfeição cristã, dedicada ao serviço ao próximo em um período nada  fácil do século XIX, durante o qual ela viveu e desenvolveu sua intensa atividade apostólica.

Ela tinha dezoito anos quando, com a aprovação do seu diretor espiritual, fez o voto de castidade. Ela viveu trinta anos na casa de sua família abriu uma escola-seminário, onde irá formar humana e espiritualmente muitos jovens. Este ministério vai continuar na chamada "conversas de jardim", pelo qual os discípulos mais bem preparados recebiam uma formação espiritual mais profunda.

Ciente de que, como mais tarde afirmaria o Concílio Vaticano II, "a vocação é, por sua natureza, vocação ao apostolado", Josefa tornou-se tudo para todos, como o apóstolo São Paulo, para salvar a todos (ICor 9, 22). Daí a marca indelével deixada no exercício da sua caridade. Ela observou com cuidado os moribundos, ajudando-os a morrer na graça de Deus. A atenção heroica para com aqueles que foram afetados pela epidemia de cólera em 1885, é um dos exemplos mais expressivos do amor desta alma querida.

Uma característica única de Josefa é o seu estado secular. Ela, que encheu de discípulos dos conventos de clausura, permaneceu solteira no mundo, vivendo os princípios do evangelho, e sendo um exemplo das virtudes cristãs para todos os filhos da Igreja que, "depois de ser incorporados em Cristo através do Batismo... por sua capacidade continua na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão" (Lumen gentium, 31).

Papa João Paulo II - Homilia de beatificação – 25 de setembro de 1988

Josefa Naval Girbés nasceu em Algemesi, Província de Valência, Espanha, no dia 11 de dezembro de 1820. Algemesi era um povoado eminentemente agrícola, com quase 8000 habitantes, uma única paróquia, um convento de Dominicanos, um hospital, escassos centros de instrução e poucas indústrias elementares. Foram seus pais Francisco Naval Carrasco e Josefa Girbés, e teve cinco irmãos.

De seus pais ela herdou seu grande espírito de fé, sua ardente caridade, seu amor ao trabalho e o desejo ardente de viver sempre na graça de Deus. Maria Josefa recebeu o Santo Batismo no mesmo dia em que nasceu. Desde aquele momento só a chamavam com o nome de Josefa, mas alguns de seus devotos a seguem chamando de “Senhora Pêpa”.

Quando Josefa tinha oito anos, recebeu o Sacramento da Confirmação. Adquiriu uma cultura elementar, suficiente para desenvolver-se em meio no qual se passava sua vida. Aprendeu a bordar, atividade que com tanto acerto ensinou as suas numerosas alunas.

Sua infância transcorre sem acontecimentos especiais. Em sua formação religiosa colaborou eficazmente sua mãe. Desde pequena aprendeu a amar à Santíssima Virgem, venerada perto de sua casa, no convento dos Padres Dominicanos. Desde pequena já manifestava um caráter reto, um tanto enérgico, que ela depois administraria em sua atividade apostólica.
Fez sua Primeira Comunhão quando apenas contava com nove anos e, nesta época, se comungava pela primeira vez apenas aos onze anos cumpridos.

Sua mãe morreu quando ela tinha treze anos. A Virgem dos Padres Dominicanos a inspirou que nunca a abandonaria. Josefa, com seu pai e seus três irmãos, foi viver com sua avó materna.
Resultou em uma perfeita “ama” de casa, nos afazeres próprios da família. Dedicava um grande e doce cuidado com sua avó enferma, sem deixar sua vida de piedade nem dar concessões à rotina do cansaço. A avó morreu quando Josefa contava com 27 anos, ficando nesta casa com seu pai, seu tio Joaquim e seus irmãos sobreviventes Maria Joaquina e Vicente.

Seu pai morreu aos 62 anos, quando Josefa tinha 42 anos. Sua irmã Maria Joaquina se casou, morrendo aos 43 anos de idade. Seu irmão Vicente também se casou, teve três filhos que morreram muito pequenos, assim como sua esposa, pelo que já viúvo foi viver com ela. Seu tio Joaquim, um santo varão solteiro, morreu aos 77 anos, em 1870, ano no qual Josefa convidou sua discípula e confidente Josefa Esteve Trull a viver com ela, a quem, ao morrer, deixou seus bens em usufruto vitalício para que continuasse sua obra.

Para melhor agradar e entregar-se a Deus, em 04 de dezembro de 1838, escolheu a Jesus como seu único esposo, e a Ele consagrou para sempre sua virgindade; permanecendo indiviso seu coração (I Cor 7, 32-34), em sua união com Cristo fez progressos incessantes e se dedicou com todas suas forças à sua própria santificação e ao serviço da Igreja e das almas, demonstrando assim que a virgindade é o verdadeiro sinal e estímulo do amor e uma muito especial fonte de fecundidade espiritual no mundo.

Buscava todas as oportunidades para anunciar a Cristo, por palavras e com obras, tanto aos não crentes, para atraí-los à fé, como aos fiéis, para instruí-los, confirmá-los na mesma e estimulá-los a um maior fervor de vida. Com esta intenção ensinava às meninas a doutrina cristã, visitava aos enfermos, ajudava os pobres, aconselhava os quantos acudiam a ela, restaurava a paz em famílias desunidas, para as mães organizava em sua casa um círculo com a finalidade de conduzi-las à formação cristã, encaminhava de novo à virtude às mulheres que se haviam apartado do caminho reto e admoestava com prudência aos pecadores.

Porém, a obra a qual concentrou todos os seus cuidados e energias, foi a da educação humana e religiosa das jovens, para as quais abriu em sua casa uma escola gratuita de bordado, atividade manual que muito conhecia. Aquela atividade que por si mesma era “comercial”, à qual acudiam com assiduidade e entusiasmo muitas jovens de todas as esferas sociais, se converteu em um centro de convivência fraterna, oração, louvor a Deus, explicação e aprofundamento da Sagrada Escritura e das verdades eternas.

Deste modo contribuiu eficazmente para o incremento religioso de sua paróquia, formando assim muito boas mães de família, fomentando o germe da vocação à vida consagrada e ensinando a todos o que significa serem membros do Povo de Deus. Por tudo isso, ganhou grande estima e fama de santidade entre o clero e o povo. Inclusive depois de sua morte, que ocorreu piedosamente em 24 de fevereiro de 1893, continuou estendendo-se sua lembrança devido à santidade de sua vida e de suas obras.

A cerimônia de Beatificação se celebrou na Basílica de São Pedro em 25 de setembro de 1988.

Josefa Naval Girbés é, sem dúvida, um exemplo para todos os que são chamados à santidade sem abandonar o mundo. Quer dizer, sem deixar seu lugar, sua vida familiar e seu trabalho profissional. Ela permaneceu no mundo para ser modelo de santidade para os seculares. Josefa não fez votos para a vida consagrada e não ingressou em um convento, não por comodidade ou para escapar do rigor da vida comunitária, já que no mundo, sem sair de sua casa, viveu, em plenitude, os conselhos evangélicos, para ser um modelo exequível para a maior parte dos filhos da Igreja que são os seculares.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

23 de fevereiro - São Policarpo de Esmirna

Vínculo entre os Apóstolos e os Padres da Igreja, seguidor do "discípulo amado", incansável combatente contra as heresias, mártir sereno e corajoso: eis alguns traços da rica personalidade daquele que foi um dos maiores bispos dos primeiros tempos, São Policarpo, converteu-se ao cristianismo no ano de 80, e teve a grande honra de ter sido discípulo do grande Apóstolo São João Evangelista, de quem recebeu o espírito e a doutrina de Jesus Cristo.

Em 96 recebeu a sagração episcopal e foi-lhe confiada a diocese de Esmirna. É possível que São João Evangelista no livro Apocalipse tenha-se referido a Policarpo quando escreveu: “Sei tua tribulação e pobreza, porém, és rico”, e mais adiante: “Se fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida”. (Apoc. 2,  9.).  
O santo Bispo-mártir de Antioquia Inácio, alegrou-se muito com a visita de Policarpo, e escreveu duas epístolas importantes, uma a Policarpo e outra aos fiéis de Esmirna, em que lhe dá sábios ensinamentos sobre a santa doutrina.
                                     
Policarpo administrou a diocese como verdadeiro Apóstolo, com firmeza e caridade, pela palavra e pelo exemplo. De sua  autoria existe uma epístola preciosíssima aos  Filipenses, cheia do mais belos ensinamentos e sábios conselhos.
Já idoso, fez uma viagem a Roma, para tratar com o Papa Aniceto sobre a célebre questão da Páscoa. Em Roma encontrou muitos cristãos, que se tinham deixado enganar pelos hereges Valentim e Marcion, e conduziu-os ao caminho da verdade.
Por Marcion perguntado, se  o conhecia, respondeu prontamente, que o conhecia, o filho mais velho de Satanás.
De volta para a Ásia, encontrou na diocese o decreto de perseguição, publicado pelo imperador Marco Aurélio.
Foi o princípio de horrores para a jovem Igreja. O governador de Esmirna começou a perseguição, pela condenação de doze cristãos, que foram atirados às feras. Policarpo, vendo o rebanho em perigo, redobrou os esforços para conservá-lo na fé e confortá-lo na hora da tribulação. Os cristãos, por seu turno, inquietavam-se muito pela sorte do venerável Bispo. Para salvar-lhe a vida, levaram-no a um sítio fora da cidade, onde o esconderam aos olhos dos fiscais do governo.
Três dias antes da sua prisão teve a revelação do martírio que o esperava. Em sonhos viu o travesseiro rodeado de fogo e disse aos amigos: “Meus irmãos, sei  que serei condenado à morte pelo fogo. Deus seja bendito, porque se digna de dar-me a coroa do martírio”. Três dias depois se cumpriu o que tinha predito.
                                     
A polícia do governador descobriu-lhe o esconderijo e Policarpo, embora lhe fosse fácil efetuar a fuga, entregou-se à autoridade. No caminho para a cidade se encontrou com Herodes, juiz de paz e com Nicetas, pai do mesmo. Estes homens, sem dúvida bem intencionados, insistiram com ele para que conservasse a vida e obedecesse à lei do imperador. Depois de muito discursar, o Bispo disse: “Não farei o que me aconselhais. Nem espada, nem fogo ou qualquer outra tortura, me fará renunciar a Cristo”.
                                     
Apresentado ao governador, este lhe perguntou se era Policarpo e ordenou-lhe que abjurasse a religião e injuriasse a Cristo. Policarpo respondeu: “Sim, sou Policarpo. Oitenta e seis anos são que completo no serviço de Jesus Cristo e Ele nunca me fez mal algum; como poderia injuriá-lo?”
O governador, porém, continuou a insistir com muito empenho e disse: “Tenho as feras à minha disposição; se não obedeceres, serás atirado a elas!”  
Policarpo: “Deixa-as vir!  Persisto no meu intento e não mudarei!”  
O governador: “Se não tens medo das feras, temos ainda o fogo; este te porá manso!”  
Policarpo: “Ameaças com um fogo que arde por algum tempo, para depois se apagar e nada sabes daquele fogo eterno, que é preparado para os ímpios. Não percas tempo!  Manda vir as feras ou faze o que quiseres. Sou cristão e não abandonarei a Cristo”.  
Em dizer isto, o rosto resplandecia-lhe de satisfação, tanto que todos se admiraram, sem poder compreender, como um homem tão avançado em idade pudesse apresentar tamanho heroísmo.
                                     
O governador mandou apregoar em alta voz: “Policarpo é cristão, como ele mesmo confessou”. Os judeus e pagãos presentes unânimes exigiram sentença de morte e pediram que fosse queimado vivo. Em poucos minutos foi preparada a fogueira. Alguns queriam que o Santo fosse amarrado num pau, para impossibilitar a fuga. Policarpo, porém, tranqüilizou-os, dizendo: “Aquele que me dá a graça de sofrer a pena do fogo, há de dar-me também força para que fique imóvel no meio das labaredas”. Ataram-lhe então as mãos nas costas e puseram fogo.
                                     
Antes que o fogo chegasse a queimar-lhe o corpo venerável, o ancião elevou os olhos ao céu e disse: “Deus todo-poderoso, Pai de Jesus Cristo, vosso Filho Unigênito, por quem recebemos a graça de conhecer-Vos; Deus dos Anjos e das Potestades celestiais, Deus de todas as criaturas e de todo o povo dos justos, que vivem em vossa presença: graças vos dou porque me conservastes a vida até esta hora, para ser associado aos vossos mártires e participar do cálice de amargura do vosso Ungido, e na virtude do Espírito Santo ser ressuscitado para a vida eterna. Aceitei propício, em união àquele sacrifício que para vós preparastes, este meu holocausto e a mim mesmo, para que se cumpra o que me revelastes, Vós que sois Deus verdadeiro. Eu vos louvo em todas as coisas: eu vos bendigo; eu vos glorifico, pelo eterno Sumo Pontífice, Jesus Cristo, vosso dileto Filho, que convosco e o Espírito Santo é louvado e honrado por todos os séculos. Amém”.
                                      
Apenas tinha o Santo terminado a oração, quando subiram as labaredas com todo o vigor. Deus, porém, quis manifestar o seu poder e provar que não lhe faltavam os meios de proteger seu servo no meio do fogo. As chamas subiram de todos os lados, mas – ó maravilha! – formaram como que uma abóbada por cima do Santo, sem que lhe queimassem um só cabelo. Ao mesmo tempo se espalhou um cheiro suavíssimo como se fossem queimados doces perfumes. Pavor apoderou-se dos inimigos. Mas, como quisessem ver morto o servo de Cristo, recebeu o algoz a ordem de matá-lo com a espada. Assim terminou o curso glorioso do grande Bispo que, segundo a afirmação dos judeus e pagãos, tinha sido o primeiro mestre dos cristãos e o inimigo mais implacável dos deuses.

 “Tiramos das cinzas os ossos, para nós mais preciosos que ouro e pedrarias, e depositamos num lugar conveniente, onde esperamos poder, com a graça de Deus, reuni-los, para festejar o dia do seu aniversário, isto é, o dia dos seu martírio”, que foi o dia 26 de janeiro de 155 ou 156. O túmulo de São Policarpo acha-se numa capela em Esmirna.


23 de fevereiro - Beata Rafaela Ybarra

A Beata Rafaela Ybarra deixa como seu maior legado a pureza de coração, humildade e amor incondicional que entregava a todas as pessoas, e isso podemos ver em suas palavras de conselho, que dizem que jamais devemos nos cansar de fazer o bem.

Rafaela Maria da Luz Estefania de Ybarra y Arámbarri nasceu em Bilbao, em 1843, no seio de uma das famílias mais poderosas de Vizcaya. Seu pai havia criado as primeiras empresas mineiras que logo dariam lugar aos Altos Fornos de Vizcaya. Era a mais velha de cinco irmãos. Sua família era profundamente católica e lhe inculcou as virtudes humanas que foram a base de uma vida excepcional. Pertencia à alta sociedade de Bilbao.

Os sinais do amor divino nela foram precoces. Viveu a experiência de sua Primeira Comunhão com grande alegria: “Comunguei com grande fervor. Recordo muito bem haver experimentado grandes consolos espirituais e haver chorado pensando na Paixão de Jesus”. Não obstante, no meio de sua piedade, havia também espaço para certas vaidades que, em geral, são particularmente atraentes na juventude.

Ela mesma confessou seus bons hábitos e também suas debilidades: “Agradava-me ser vista e bem tratada. O luxo não era exagerado para minha posição social. No entanto, gastava bastante em tudo. Agradavam-me muito as joias. Porém, conservava um fundo de piedade natural. Rezava o Rosário todos os dias com os empregados; lia meus livros de piedade e era compassiva com os necessitados”.

 Aos 18 anos se casou com José Villalonga y Gipuló, engenheiro industrial de procedência catalã, homem virtuoso, sem cuja generosidade e respeito não teria podido levar a cabo a obra que empreendeu. Tiveram sete filhos, dos quais dois morreram cedo.

Quando do falecimento de sua irmã Rosário, Rafaela tomou para si o cuidado de seus cinco sobrinhos. Nesta família de dez crianças se desenvolveu o trabalho familiar desta beata. Sua influência se estendeu à sua numerosa família, e era especialmente apreciada pelo trato com os doentes, aos quais atendia cumulando-os de paz e consolo. Tornou seu desejo em realidade: “Que eu seja a cada dia melhor esposa, melhor mãe, melhor filha”.

Ela também teve que desprender-se repentinamente de dois de seus filhos, além do Benjamim, que foi atingido por uma terrível febre e dolorosa paralisia infantil. Esse fato, Dom Bosco a havia vaticinado ao encontrá-la em Barcelona: "Senhora, este menino será sua pequena cruz"; a mãe teve que lidar com essa dor e apreciar a grandeza do pequeno que um dia disse-lhe: "mamãe, tu és, pelo menos, 'serva de Deus'".

Sua união com Deus alcançou níveis próprios aos santos. Seus escritos sobre experiências espirituais, bem como sua numerosa correspondência, refletem uma mulher cheia de amor a Jesus Cristo e a seus semelhantes.

Rafaela tinha tal devoção ao Santíssimo Sacramento, que cada vez se sentia mais impelida à união com Ele e a realizar o maior bem que lhe fosse possível.  Esse momento chegou quando, como resultado da ocupação de seu marido – promotor da empresa “Altos Hornos”, que tinha um capital humano de três mil pessoas –, tomou contato com a realidade do mundo operário.

Sentia-se inclinada a cuidar das meninas e das jovens expostas a riscos que vêm unidos à pobreza e à ignorância, tão frequentes em sua época. Via os males que acercavam as jovens operárias e, para acolhê-las, criou a casa Asilo da Sagrada Família. As recolhia pelas ruas e não titubeava em se colocar em apertos e se expor a situações difíceis com o objetivo de resgatá-las do perigo. Queria proporcionar-lhes tudo o que precisavam humana e espiritualmente, semeando a esperança em suas vidas. Além disso, aos enfermos e pobres nunca lhes faltou sua caridade. “As pessoas passam, porém, as obras permanecem”, costumava dizer.

A Rafaela seu esposo nunca lhe pôs impedimentos para exercer um vibrante apostolado, que frutificou generosamente, culminando com sua aprovação para que professasse e fundasse um Instituto religioso, máxima prova de um amor humano que se inspira no amor divino, o Instituto das Irmãs dos Anjos Custódios, em 1894.

Rafaela criou em Bilbao numerosas instituições de proteção à mulher. Ajudaram-na neste empenho as voluntárias que trabalhavam seguindo o lema que lhes deu:“doçura nos meios e firmeza nos fins”. Tinha claro, e assim o transmitiu, que “o que não alcança o amor, não o conseguirá o temor”. Dizia isto por experiência, posto que um dia que foi buscar uma reclusa, esta a esbofeteou. E ela, respondendo com mansidão, lhe disse: “Não me fizeste dano, minha filha! Desde agora te quero ainda mais bem”, palavras tão sentidas e autênticas que desmoronaram a revolta e a arrogância da jovem, que se arrependeu chorando amargamente.

O propósito de toda a obra de Rafaela foi este: viverem “unidas a Deus pela oração e o apostolado” para levar “o anúncio do amor de Deus ao mundo da infância e da juventude”. Assim, surgiram apartamentos e oficinas que puderam dar suporte e treinamento a estes grupos.

O dia 2 de agosto de 1897, festa de Nossa Senhora dos Anjos, marca um momento especial em sua vida e obra: foi colocada a primeira pedra do Colégio Anjos Custódios de Zabalbide, em Bilbao, ficando definitivamente inaugurado em 24 de março de 1899. A Congregação tinha finalmente sua Casa Mãe que poderia servir de modelo às que posteriormente viessem a existir.

Mesmo após a morte de seu esposo Rafaela jamais professou como religiosa, porque a morte de sua nora fez com que ela se encarregasse do cuidado de seus seis netos.

Faleceu santamente no dia 23 de fevereiro de 1900, em Bilbao, aos 57 anos, sem poder ver consolidada sua fundação. Vivera plenamente o lema que ensinava a todos:“Não vos canseis de fazer o bem”. O Instituto das Irmãs dos Anjos Custódios está presente hoje em mais de 35 casas dispersas pela Espanha e América.

Foi beatificada em 30 de setembro de 1984.