Aquele que acredita, ao aceitar o dom da fé, é
transformado numa nova criatura, recebe um novo ser, um ser filial, torna-se
filho no Filho: “Abbá, Pai” é a palavra mais característica da experiência de
Jesus, que se torna centro da experiência cristã.
A vida na fé, enquanto existência filial,
consiste em reconhecer o dom original e radical que está na base da existência
do homem, podendo resumir-se nesta frase de São Paulo aos Coríntios: “Que tens
tu que não tenhas recebido?”
É precisamente aqui que se situa o cerne da polêmica
de Jesus com os fariseus: o fechamento em si mesmo, a autossuficiência, uma
atitude de quem se quer justificar a si mesmo diante de Deus mediante uma prática
estéril da lei. Tal pessoa, mesmo quando obedece aos mandamentos, mesmo quando
pratica boas obras, coloca-se a si própria no centro e não reconhece que a
origem da bondade é Deus.
Quem assim atua, quem quer ser fonte da sua
própria justiça, depressa a vê esgotar-se, descobrindo que nem sequer se pode
manter fiel à lei. Fecha-se, isolando-se em relação ao Senhor e aos outros, e,
por isso, a sua vida torna-se vã e as suas obras estéreis, como árvore longe da
água. Quando o homem pensa que, afastando-se de Deus, se encontrará a si mesmo,
a sua existência fracassa.
O início da salvação é a abertura a qualquer
coisa que nos precede, a um dom original que afirma a vida e preserva a
existência. Só abrindo-nos a essa origem e reconhecendo-a podemos ser
transformados, deixando que a salvação atue em nós e torne a vida fecunda,
cheia de bons frutos. A salvação pela fé consiste em reconhecer o primado do
dom de Deus, como resume São Paulo: “Pela graça fostes salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Ef 2,8)
Hoje celebramos:
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