Simon Mpecke nasceu em 1906 em Log Batombé, nos
Camarões. Em 1914, aos oito anos de idade, Mpecke começou a frequentar a escola
primária da missão católica de Édéa. Tratava-se de uma missão aberta pela
congregação dos padres palotinos, na época das colônias alemãs.
Aos onze anos, Mpecke terminou o ensino
primário. A 14 de agosto de 1918, aos doze anos, Mpecke foi batizado em Édéa
pelo padre Louis Chevrat, assumindo, a partir desse momento, o nome de Simon
Mpecke.
No dia seguinte ao do seu Batismo, Mpecke fez a
Primeira Comunhão. A seguir, Simon viria a ser professor nas escolas da savana
e depois na missão central de Édéa.
Em 1920 obteve o diploma de professor nativo na
missão católica de Édéa e, em 1923, tornou-se no primeiro professor da missão.
A 8 de agosto de 1924, Simon Mpecke entrou no pequeno seminário de Yaoundé. De
outubro de 1927 a dezembro de 1935, na sequência da abertura do grande
seminário de Mvolyé, seguiu, durante dois anos, os estudos de Filosofia e,
durante quatro anos, os de Teologia.
Em 8 de dezembro de 1935, Simon foi um dos
primeiros camaronenses a serem ordenados sacerdotes. Esta ordenação sacerdotal
constituiu uma etapa importante na história da Igreja dos Camarões, tendo
inaugurado uma nova era para o país. Como seu primeiro ministério, Simon foi
nomeado vigário da missão de Ngovayang, onde tomou firmemente posição contra as
práticas das religiões tradicionais da região. Em 1947 foi nomeado para a
paróquia do bairro New-Bell, em Douala, e no ano seguinte passou a ser o seu
pároco. Impulsionou a paróquia e incrementou várias confrarias e congregações
laicais. Apoiou os movimentos da Ação Católica e a escola, revelando uma grande
disponibilidade e uma generosidade total.
Ainda em 1947, por acaso, o padre Simon Mpecke
leu um artigo em que tomou conhecimento da existência de populações pagãs no
norte dos Camarões. A partir desse momento, sentiu nascer dentro de si uma
grande simpatia por essas populações. O estabelecimento das fraternidades dos
Irmãozinhos e das Irmãzinhas de Jesus na sua paróquia aproximou-o da
espiritualidade de Charles de Foucauld.
Em 1953, o padre Simon Mpecke ingressou no
Instituto secular dos Irmãos de Jesus e partiu para fazer um ano de noviciado
na Argélia. Foi um dos fundadores a nível internacional da União Sacerdotal
Iesus Caritas, e viria a ser o seu primeiro responsável nos Camarões. Durante
um certo período, pensou ingressar pessoalmente na sua fraternidade.
A 21 de abril de 1957, o Papa Pio XII publica a
encíclica Fidei Donum; foi, portanto, com esse espírito, que o padre Simon
Mpecke partiu para o norte dos Camarões como missionário e como sacerdote Fidei
Donum. Em fevereiro de 1959, a pedido de Dom Plumey, o padre Simon chegou a
Tokombéré para fundar uma missão e tentar chegar aos kirdi, nome que significa
“pagãos”.
Embora o sul dos Camarões, na sua maioria
bantu, se tivesse convertido quase todo ao Cristianismo, o norte, habitado por
povos de origem sudanesa, era um feudo do Islã. O médico suíço Joseph Maggi
tinha-se instalado na aldeia para fundar um hospital, num lugar onde havia
apenas alguns dirigentes da administração colonial francesa e vários técnicos
que estavam a introduzir a cultura do algodão. Os primórdios da missão católica
de Tokombéré deram ocasião a uma experiência missionária excecional. A missão
não era fácil: Simon Mpecke, com efeito, era considerado um perigo, pois não
pertencia à tribo local; no entanto, o fato de ser africano facilitou as
coisas.
Desde o início, a escolarização dos kirdi
tornar-se-ia na sua preocupação quotidiana. A sua lendária bondade rapidamente
lhe granjeou a alcunha de “Baba”, que significa papá, patriarca, sábio e
guia ao mesmo tempo.
Todos – homens e mulheres, adultos e crianças,
kirdi e muçulmanos – passaram a tratá-lo espontaneamente por Baba. Em
Tokombéré, Baba Simon cumpriu a promessa feita por Deus a Abraão: o seu êxodo,
a sua missão, permitiu o nascimento de um povo.
A fé e a amizade travada com Jesus
convenciam-no de que só o amor pelo homem integral o salvaria do mal espiritual
do pecado e da ignorância, e do mal material da miséria e da discriminação
étnica e religiosa.
Para Baba Simon, a escola era a vida: a sua
escola suscitou a esperança de fazer desabrochar o homem na sua luta contra a
ignorância, a tirania e o medo e foi a sua forma de lutar em prol da dignidade
humana. Decidiu levar a instrução “ao domicílio”, dando a todos a possibilidade
de assistir à “escola debaixo da árvore”: uma escola à vista de todos, no
próprio coração da vida dos kirdi.
Em seguida construiu a escola Saint-Joseph de
Tokombéré e obteve autorização para abrir outras escolas em Bzeskawé, em
Rindrimé e em Baka. Criou um internato para rapazes e outro para moças, gerido
pelas Servas de Maria.
Baba Simon ensinou os kirdi a amar os
muçulmanos como seus irmãos de sangue, e fez o mesmo com os muçulmanos em
relação aos kirdi. Através da escola, das estruturas sanitárias, do empenho
contra a injustiça e do apelo à fraternidade universal, permitiu uma verdadeira
melhoria das condições de vida das populações kirdi, durante muito tempo esquecidas
pelo resto do país.
A sua preocupação por um diálogo constante com
os responsáveis das religiões tradicionais faz dele um precursor profético do
diálogo inter-religioso professado pelo Concílio Vaticano II. Gostava muito de
viajar, e a primeira razão que o impelia a fazê-lo era encontrar a ajuda
necessária para as suas obras em favor dos kirdi, sobretudo para os estudantes,
pertencentes ou não à comunidade. Com esse objetivo, foi a França, à Suíça, a
Itália, a Espanha e a Israel. Partilhou a vida dos kirdi, a sua pobreza e a sua
luta contra a miséria.
A sua evangelização era impregnada de oração,
amor à Igreja e caridade para com as suas tradições. No dia 13 de agosto de
1975, esgotado pela doença, Baba Simon morreu em Édéa – depois de ter passado
um período na França, para ser tratado –, longe de Tokombéré, sem poder voltar
a ver os seus kirdi. Foi sepultado em Tokombéré.
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