A passagem evangélica de Lucas, que se
assemelha a uma condenação profética dos fariseus e dos doutores da lei, põe de
sobreaviso a comunidade cristã de ontem e de hoje contra as tentações do
legalismo, do formalismo e do ritualismo discriminante, que alimentam aquele
grande inimigo da obra salvífica de Cristo que é a soberba e fechamento.
A perversão da Lei no formalismo exterior e a
redução da vocação do povo eleito a privilégio exclusivista contra os pagãos
minam a universalidade da salvação e a missão dos discípulos de Jesus.
Jesus denuncia, antes de mais, os abusos dos
fariseus no âmbito das oferendas. Eles são capazes de observar normas mínimas e
marginais, como o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as ervas. Jesus não
quer eliminar estas práticas, mas colocá-las no seu justo contexto, no âmbito
da verdadeira relação de fé para com Deus e de amor para com o próximo.
Fazer uma oferenda sem um envolvimento pessoal
num caminho de conversão pode transformar-se na desculpa para ignorar preceitos
fundamentais, como a justiça e o amor a Deus, realidades que exigem uma
transformação decidida e contínua do próprio coração e do mundo.
A outra denúncia é movida por Jesus contra a
tendência de procurar honras, de perseguir gratificações e de se dar ares de
poder, ocupando os primeiros lugares. A insistente preocupação em aparecer é o
resultado de uma corrupção interior que torna o homem semelhante a um sepulcro,
talvez suntuoso por fora, mas cheio de podridão por dentro. Enquanto o interior
permanece invisível aos olhos dos outros, o exterior é exageradamente cuidado
com fins egoístas.
As palavras de Jesus ressoam com força,
atingindo não só os fariseus, mas também os doutores da Lei, que se sentem
profundamente ofendidos por Ele.
A Lei é dada para servir a vida, guardando-a e
promovendo-a. A fé nunca é realidade que desumaniza: pelo contrário, estimula
cada criatura ao seu pleno florescimento. Encontramo-nos numa perspectiva
claramente apostólica: frente à exigência da universalidade da salvação de Deus
e da missão de Jesus e dos seus discípulos, os fariseus e os doutores da Lei
devem pôr em questão o seu próprio modo de pensar a relação com Deus, de agir e
de propor a salvação.
O missionário é chamado a fazer-se próximo de
todos, porque Deus não faz acepção de pessoas. Lucas usa uma fórmula carregada
de significado para exprimir a abertura universal da salvação oferecida por
Deus em Jesus e da missão da sua Igreja: “Insensatos! Aquele que fez o exterior
não fez também o interior? Antes, dai em esmola o que possuís e tudo para vós
ficará puro”. Para serdes puros, praticai a misericórdia, vivei a caridade.
Hoje celebramos:
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