A gratidão é a memória do coração. É chocante
ler que só um dos dez leprosos curados por Jesus voltou para dizer obrigado.
Ser gratos não é apenas um dever social recíproco, mas uma afirmação da nossa
interioridade que também se transforma num ato espiritual.
A lepra era uma doença da pele considerada
castigo para os pecadores, tornava as pessoas impuras para o culto e
determinava o afastamento da comunidade de quem a contraísse, obrigando-o a
viver fora do convívio humano. Os leprosos eram, portanto, homens e mulheres
excluídos da sociedade, forçados a vaguear na solidão, a conviver apenas com
outros leprosos e a anunciar sempre a sua chegada quando passavam nas
proximidades dos centros habitados. Além disso, também os humilhava o fato de
terem de envergar vestes esfarrapadas e a cabeça descoberta.
Um grupo de dez leprosos vai ao encontro de
Jesus. Pedem-Lhe ajuda, da forma como lhes é permitido: à distância. Dispõem
apenas da sua voz, utilizando-a para gritar o mais alto possível: Jesus,
Mestre, tem compaixão de nós! Tratando Jesus por Mestre, relacionam-se com
Ele como discípulos, e Jesus vê-os e observa-os, pedindo-lhes que realizem um
gesto muito preciso: Ide apresentar-vos aos sacerdotes.
Neste encontro inicial, a cura não tem lugar
imediatamente. Fiel à Tora, Jesus ordena aos leprosos que se apresentem aos
sacerdotes. Curar, portanto, implicaria a escuta da palavra de Jesus e, ficar
reconhecidos para com Aquele que os curou. Nove leprosos, por muito boa
intenção que tenham de obedecer à ordem de Jesus e mesmo que tenham tido o
privilégio de se encontrar com Ele pessoalmente, não são capazes de correr o
risco maior: de se converterem a Jesus. Só um deles o faz: um samaritano e, por
isso, um “inimigo”. Quando, porém, “vê” que foi curado, “volta atrás”, ao
encontro de Jesus.
A gratidão é habitualmente expressa em relação
a Deus; este é o único caso, no Novo Testamento, em que esse reconhecimento se
dirige a Jesus. No fim, o estrangeiro, que foi transformado pela sua fé em Jesus,
está preparado para ser enviado em missão: Levanta-te e vai.
Hoje celebramos:
Nenhum comentário:
Postar um comentário