quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 09 de outubro - Beato Benedict Daswa


No seu decreto de beatificação, o Papa Francisco descreveu-o como catequista diligente, professor dedicado e testemunha do Evangelho até ao derramamento de sangue.

Tshimangadzo Samuel Daswa nasceu a 16 de junho de 1946, na aldeia de Mbahe, na África do Sul; morreu mártir pela fé a 2 de fevereiro de 1990 e foi beatificado a 13 de setembro de 2015. Quando Benedict se tornou católico, compreendeu que havia aspetos da cultura africana, como a prática difusa da bruxaria, da magia e do homicídio ritual, que não podia continuar a aceitar. A sua posição contra esses problemas profundos e obscuros da sua cultura levou-o a pagar o preço último do martírio. A sua morte brutal por lapidação e espancamento fez dele um herói para todos os cristãos de África e de qualquer outro lugar em que se lute pela libertação da escravidão da bruxaria.

Benedict Daswa viveu a sua vocação cristã com satisfação e entusiasmo, mas, ao mesmo tempo, com modéstia e humildade, como o demonstra o seu testemunho cristão nas várias áreas da sua vida. Após o seu Batismo, e em particular depois do seu casamento na Igreja, em 1974, com Shadi Eveline Monyai, Benedict tornou-se um guia para os jovens, passando com eles muitas horas e fins de semana, catequizando-os e instruindo-os. Quando se formou o primeiro Conselho Pastoral Paroquial, foi eleito presidente. Ajudou, ensinando o catecismo a crianças e adultos, conduzindo a celebração dominical na ausência do sacerdote, visitando os doentes e os não-praticantes e ajudando os pobres e os necessitados.

Em família, Benedict era um verdadeiro modelo de referência como marido e pai, sendo completamente dedicado ao ideal da família como “Igreja doméstica”. Nas aulas, não só se preocupava em transmitir aos alunos um bom nível de instrução, mas transmitia-lhes sobretudo os valores morais fundamentais para a formação da sua personalidade.

Na esfera pública, Benedict não fez segredo da sua posição contra a bruxaria, a magia e o homicídio ritual, que ainda hoje têm poder para impedir o desenvolvimento e o progresso da sociedade. As acusações de bruxaria são muitas vezes movidas por ciúmes, medo e suspeitas contra aqueles que parecem estar mais empenhados e ter êxito nos seus empreendimentos. Benedict deu-se conta da necessidade de libertar os indivíduos desses efeitos paralisantes, a fim de lhes permitir assumir a responsabilidade pessoal das próprias vidas e tornarem-se adultos maduros. Assim, o seu papel na ajuda que dava às pessoas para alcançarem a verdadeira liberdade interior foi importante não só para a Igreja, mas para toda a sociedade.

Tanto na comunidade local, como conselheiro e consultor do chefe da aldeia, como na comunidade eclesial, enquanto catequista e responsável pela oração, Benedict demonstrou um espírito de genuíno amor cristão, respeito, generosidade, honestidade e liberdade. Nunca se envergonhou de admitir a sua grande fé em Deus: era Deus que lhe dava força.

Havia outros que, tal como Benedict, consideravam o mundo da bruxaria fruto do mal, do medo, da desconfiança, da inimizade, da injustiça e da violência, que, em seu entender, as pessoas deveriam abandonar, tornando-se livres. Esses, porém, entre os quais os ministros religiosos, calavam-se por medo de represálias. Benedict era diferente. Falava aberta e fortemente em público, opondo-se às pessoas que recorriam à bruxaria.
Benedict Daswa nunca fez pactos desonestos. Sempre aderiu à sua fé cristã. Defendia as pessoas que se recusavam a pagar para consultar o sangoma (o xamã), pois não queria que as pessoas pagassem por uma coisa que não existia. Acima de tudo, Benedict não queria que nenhum inocente fosse morto ou banido da aldeia como suposto bruxo.

Normalmente, devido aos boatos, mexericos e intrigas, apontava-se alguém a dedo, muitas vezes alguma mulher idosa ou qualquer outra pessoa vulnerável. As pessoas não procuravam provas de culpa, mas dirigiam-se a um sangoma que habitualmente confirmava as suas suspeitas. O imputado não tinha qualquer possibilidade de se defender.

Entre novembro de 1989 e janeiro de 1990, abateu-se um temporal sobre a aldeia onde Benedict morava com a sua família. A 25 de janeiro de 1990, durante uma tempestade, os telhados de algumas cabanas foram atingidos pelos raios e incendiaram-se. Era opinião comum entre os habitantes locais que se um raio atingia uma casa, isso fora provocado por alguém que, no entender do povo, praticava bruxaria. Segundo a cultura tradicional, os bruxos deviam ser capturados e mortos, bem como aqueles que os tivessem protegido, visto representarem uma ameaça para a sociedade. Era esta a cultura tradicional.
Benedict estava consciente da crescente pressão contra ele. Assim, no domingo seguinte, o chefe da aldeia convocou uma reunião do conselho para abordar essa questão. Benedict ainda não tinha chegado quando foi decidido que alguns membros da comunidade deveriam dirigir-se a um sangoma para descobrir o bruxo que tinha enviado os raios. Antes disso, porém, teriam de juntar o dinheiro necessário para lhe pagar. Quando Benedict chegou, tentou imediatamente fazê-los mudar de ideias, sublinhando que a sua decisão provocaria a morte de vários inocentes. O encontro terminou com o reforço da decisão do conselho e a recusa de Benedict em colaborar.

Os seus inimigos reuniram um grupo de jovens e adultos para o matar. Aquela sexta-feira, 2 de fevereiro de 1990, Festa da Apresentação do Senhor no Templo, tornou-se no dia de festa da entrada de Benedict Daswa no paraíso.

O aspeto mais significativo do testemunho de Benedict tem que ver com a sua capacidade de abraçar criticamente aquilo que havia de bom na sua cultura, embora desafiando com coragem aqueles elementos culturais que impediam a realização da vida na sua plenitude.

Benedict acreditava firmemente que o matrimônio era uma relação entre pares, para toda a vida, uma fiel associação de vida e de amor. Numa comunidade rural, patriarcal e tradicional africana, na África do Sul do apartheid, Benedict deu testemunho profético de uma atitude respeitadora da igualdade das mulheres. Acreditava no matrimônio fiel e monogâmico que encontra no sacramento cristão o seu pleno sentido. Como foi testemunhado pelos seus filhos, nunca se envergonhou de ajudar Eveline, sua mulher, na lide doméstica, geralmente reservada às mulheres. Rezava todos os dias com a sua família e animava todos os pais a rezar com os seus filhos. Organizava reuniões de família regulares e servia de mediador e consultor aos casais em dificuldades. Por fim, Benedict foi um fervoroso professor e educador, chegando a diretor da Escola Primária de Nweli, onde ensinou durante muitos anos. E talvez, acima de tudo, como foi sublinhado por aqueles que o conheciam, era um homem profundamente humilde, que recorria sempre à força do diálogo, que lhe vinha da sua fé e amizade com Jesus.

Nunca renegou a sua cultura africana, mas abraçou os seus melhores aspetos, purificados e amadurecidos pela fé. A sua história reflete o empenho sincero nos valores da ética ubuntu, um empenho em prol do bem comum e do serviço à vida. O exemplo que oferece com a sua atitude quotidiana – como leigo, pai de família, catequista diligente e professor dedicado – é aquilo que muitos sul-africanos podem considerar hoje a herança mais significativa da sua vida: não contra a sua cultura, mas para bem de si mesmos e para bem da sua própria cultura e nação.

A igreja celebra sua memória no dia 02 de fevereiro.

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