Pedro To Rot, primeiro beato da Papua Nova
Guiné, foi um marido e um pai exemplar, bem como um catequista excecional.
Em 1945, foi morto pelas mãos dos soldados
japoneses em virtude da sua corajosa defesa do matrimônio cristão.
A Papua Nova Guiné está cercada por numerosos
arquipélagos habitados por milhares de etnias que falam cerca de oitocentos
dialetos diferentes. Os missionários levaram o Evangelho para essa região em
1870, e, em 1882, o primeiro grupo de Missionários do Sagrado Coração de Jesus
chegou a Matupit.
Para surpresa de todos, o chefe da aldeia de
Rakunai, Ângelo To Puia, anunciou que se queria tornar católico, como a maior
parte dos habitantes da aldeia. Maria Ia Tumul, mulher de Ângelo, deu à luz o
seu filho Pedro em 1912; foi o terceiro dos seus seis filhos.
Ângelo To Puia fez com que todos eles fossem
batizados, e ele próprio ensinou-lhes as verdades fundamentais do catecismo,
enquanto Maria os ensinava a rezar. Desde criança, durante a escola
missionária, Pedro revelou-se um estudante excecional e trabalhador, nutrindo
particular interesse pela religião. O rapaz tinha uma veia especialmente viva,
mas era solícito e disponível.
Em 1930, o pároco disse ao pai de Pedro que os
seus jovens filhos talvez tivessem vocação para o sacerdócio. To Puia, porém,
respondeu sabiamente: “Creio que o tempo não está maduro para que um ou outro
dos meus filhos ou qualquer outro homem desta aldeia se torne sacerdote. No
entanto, se quiseres mandar algum para a escola de catequistas de Taliligap,
estou de acordo.”
O trabalho missionário a desenvolver na Oceania
era imenso, mas os missionários eram poucos e, por isso, os jovens do lugar
eram instruídos para virem a ser catequistas e trabalhar com eles. Pedro
dedicou-se com alegria à sua nova vida no St. Paul’s College: exercícios
espirituais, aulas e trabalho manual.
Em 1934, Pedro To Rot recebeu do bispo a sua
cruz de catequista e foi enviado de volta para a sua aldeia natal a fim de
ajudar o pároco, o padre Laufer. Ensinava o catecismo às crianças de Rakunai,
instruía os adultos na fé e conduzia encontros de oração. Incentivava a
população a participar na Missa dominical, tendo sido um conselheiro fidedigno
dos pecadores, ajudando-os a preparar-se para a confissão.
Além disso, empenhou-se em combater com zelo a
bruxaria, praticada por muita gente, inclusive por alguns que se denominavam
cristãos. Em 1936, casou-se com Paula Ia Varpit, uma jovem mulher de uma aldeia
vizinha. Formavam um casal cristão exemplar. Manifestava grande respeito pela
sua mulher e rezava com ela todas as manhãs e todas as noites; além disso, era
muito dedicado aos seus filhos, passando muito tempo com eles.
Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, os
japoneses invadiram a Papua Nova Guiné e transferiram de imediato todos os
sacerdotes e religiosos para os campos de concentração. Como era leigo, Pedro
pôde ficar em Rakunai. Depois dessa ocorrência, teve de assumir muitas
responsabilidades novas, conduzindo a oração dominical e exortando os fiéis a
perseverar, dando testemunho durante os casamentos, batizando os recém-nascidos
e presidindo aos funerais. Conseguiu ainda levar os habitantes da aldeia para a
floresta, onde um missionário se tinha refugiado depois de ter conseguido
escapar aos japoneses, a fim de que todos pudessem receber os sacramentos em
segredo.
Embora inicialmente os japoneses não tivessem proibido
por completo o culto católico, rapidamente começaram a saquear e a destruir as
igrejas. To Rot teve de construir uma capela de madeira no meio do mato e criou
esconderijos subterrâneos para os vasos sagrados; continuou o seu trabalho
apostólico com prudência, visitando os cristãos durante a noite por causa dos
numerosos espiões que dominavam a região.
Aproveitando-se das divisões internas entre a
população da Papua Nova Guiné, os japoneses reintroduziram a poligamia para
conseguirem o apoio dos chefes locais. Implementaram um plano para contrariar a
influência “ocidental” sobre a população nativa. Por luxúria ou por medo de
represálias, muitos homens tomaram então uma segunda mulher.
O catequista Pedro To Rot viu-se forçado a
falar: “Nunca falarei o suficiente aos cristãos sobre a dignidade e a grande
importância do sacramento do matrimônio.” Chegou mesmo a tomar posição
contra o seu irmão Joseph, que defendia publicamente o regresso à prática da
poligamia. Além disso, outro dos seus irmãos, Tatamai, voltou a casar-se e
denunciou Pedro às autoridades japonesas. A sua mulher, Paula, temia que a
determinação do marido prejudicasse a sua família, mas ele respondeu às suas
súplicas: “Se tiver de morrer, está tudo bem, porque morrerei pelo Reino de
Deus no meio do nosso povo.”
Certo dia de 1945, enquanto Pedro To Rot estava
a plantar feijão num campo requisitado pelos japoneses, foi preso pelos
polícias que tinham acabado de saquear a sua casa, encontrando vários objetos
religiosos. Durante o interrogatório subsequente, ele admitiu que tinha
conduzido um encontro de oração na véspera, e o chefe da polícia, Meshida,
bateu-lhe. Quando se declarou contrário à bigamia, foi preso.
Foi metido numa pequena cela sem janelas de
onde o tiravam de vez em quando apenas para tratar dos porcos. A sua mãe e a
sua mulher levavam-lhe comida. Certo dia, Paula levou consigo os seus dois
filhos (estava grávida do terceiro) e implorou ao marido que dissesse aos japoneses
que deixaria de trabalhar como catequista se o libertassem. Pedro, fazendo o
sinal da cruz, disse: “Devo glorificar o Nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo e, assim, ajudar o meu povo.” Pediu, portanto, à sua mulher que lhe
levasse a sua cruz de catequista, que manteve consigo até ao fim. Nesse mesmo
dia confessou à sua mãe que a polícia tinha chamado um médico japonês que viera
medicá-lo, acrescentando: “Eu não estou doente! Volta depressa para casa e
reza por mim.”
No dia seguinte, um polícia chegou a Rakunai e
anunciou: O vosso catequista morreu. O tio de Rot, Tarua, dirigiu-se ao local
acompanhado por Meshida para identificar o corpo. Tinham enrolado um cachecol
vermelho ao pescoço do mártir, que estava inchado e ferido. Notava-se
claramente a marca de uma injeção no seu braço direito. A julgar pelo cheiro, o
“médico” tinha injetado nele um composto de cianeto. O veneno tinha atuado
lentamente, e os soldados tinham estrangulado e trespassado as costas da vítima
com uma espada.
Nos cinquenta anos subsequentes à morte de To
Rot, a aldeia de Rakunai viu nascer pelo menos uma dúzia de sacerdotes e
religiosos para a Igreja Católica. Durante a sua visita pastoral à Oceania, em
1995, o Papa João Paulo II o beatificou.
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