Perante tantas
necessidades e angústias que clamam do coração da Amazônia, é possível
responder a partir de organizações sociais, recursos técnicos, espaços de
debate, programas políticos… e tudo isso pode fazer parte da solução. Mas,
como cristãos, não renunciamos à proposta de fé que recebemos do Evangelho.
Embora queiramos empenhar-nos lado a lado com todos, não nos envergonhamos de
Jesus Cristo. Para quantos O encontraram, vivem na sua amizade e se identificam
com a sua mensagem, é inevitável falar d’Ele e levar aos outros a sua proposta
de vida nova: “Ai de mim, se eu não evangelizar!” (ICor 9,
16)
A autêntica opção
pelos mais pobres e abandonados, ao mesmo tempo que nos impele a libertá-los da
miséria material e defender os seus direitos, implica propor-lhes a amizade com
o Senhor que os promove e dignifica. Seria triste se recebessem de nós um
código de doutrinas ou um imperativo moral, mas não o grande anúncio salvífico,
aquele grito missionário que visa o coração e dá sentido a todo o resto. Nem
podemos contentar-nos com uma mensagem social. Se dermos a vida por eles,
pela justiça e a dignidade que merecem, não podemos ocultar-lhes que o fazemos
porque reconhecemos Cristo neles e porque descobrimos a imensa dignidade a eles
concedida por Deus Pai que os ama infinitamente.
Eles têm direito
ao anúncio do Evangelho, sobretudo àquele primeiro anúncio que se chama
querigma e é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de
diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar de uma
forma ou de outra. É o anúncio de um Deus que ama infinitamente cada ser
humano, que manifestou plenamente este amor em Cristo crucificado por nós e
ressuscitado na nossa vida. Proponho voltar a ler um breve resumo deste
conteúdo no capítulo IV da Exortação Christus vivit. Este
anúncio deve ressoar constantemente na Amazônia, expresso em muitas modalidades
distintas. Sem este anúncio apaixonado, cada estrutura eclesial se transformará
mais uma ONG e, assim, não responderemos ao pedido de Jesus Cristo: “Ide
pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,
15).
Qualquer proposta de
amadurecimento na vida cristã precisa de ter este anúncio como eixo permanente,
porque toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma
que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne. A reação fundamental a este
anúncio, quando o mesmo consegue provocar um encontro pessoal com o Senhor, é a
caridade fraterna, aquele mandamento novo que é o primeiro, o maior, o que
melhor nos identifica como discípulos. Deste modo, o querigma e o amor fraterno
constituem a grande síntese de todo o conteúdo do Evangelho, que não se pode
deixar de propor na Amazônia. É o que viveram grandes evangelizadores da
América Latina como São Toríbio de Mogrovejo ou São José de Anchieta.
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