Para conseguir uma
renovada inculturação do Evangelho na Amazônia, a Igreja precisa de escutar a
sua sabedoria ancestral, voltar a dar voz aos idosos, reconhecer os valores
presentes no estilo de vida das comunidades nativas, recuperar a tempo as
preciosas narrações dos povos. Na Amazônia, já recebemos riquezas que provêm
das culturas pré-colombianas, tais como a abertura à ação de Deus, o sentido da
gratidão pelos frutos da terra, o caráter sagrado da vida humana e a
valorização da família, o sentido de solidariedade e a corresponsabilidade no
trabalho comum, a importância do cultual, a crença em uma vida para além da
terrena e tantos outros valores.
Neste contexto, os
povos indígenas da Amazônia expressam a autêntica qualidade de vida como um bem
viver, que implica uma harmonia pessoal, familiar, comunitária e cósmica e
manifesta-se no seu modo comunitário de conceber a existência, na capacidade de
encontrar alegria e plenitude numa vida austera e simples, bem como no cuidado
responsável da natureza que preserva os recursos para as gerações futuras. Os
povos aborígenes podem ajudar-nos a descobrir o que é uma sobriedade feliz e,
nesta linha, têm muito para nos ensinar. Sabem ser felizes com pouco, gozam dos
pequenos dons de Deus sem acumular tantas coisas, não destroem sem necessidade,
preservam os ecossistemas e reconhecem que a terra, ao mesmo tempo que se
oferece para sustentar a sua vida, como uma fonte generosa, tem um sentido
materno que suscita respeitosa ternura. Tudo isto deve ser valorizado e
recebido na evangelização.
Enquanto lutamos por
eles e com eles, somos chamados a ser seus amigos, a escutá-los, a
compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar
através deles. Os habitantes das cidades precisam de apreciar esta sabedoria e
deixar-se reeducar quanto ao consumismo ansioso e ao isolamento urbano. A
própria Igreja pode ser um veículo capaz de ajudar esta recuperação cultural
numa válida síntese com o anúncio do Evangelho. Além disso, torna-se
instrumento de caridade, na medida em que as comunidades urbanas forem não
apenas missionárias no seu ambiente, mas também acolhedoras dos pobres que
chegam do interior acossados pela miséria. É-o, igualmente, na medida em que as
comunidades estiverem próximas dos jovens migrantes para os ajudarem a
integrar-se na cidade sem cair nas suas redes de degradação. Tais ações eclesiais,
que brotam do amor, são caminhos valiosos dentro dum processo de inculturação.
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