Hoje a Igreja põe à
nossa frente modelos como os novos Santos que, precisamente mediante as obras
de uma generosa dedicação a Deus e aos irmãos, serviram, cada um no seu âmbito,
o reino de Deus e dele se tornaram herdeiros. Cada um deles respondeu com
extraordinária criatividade ao mandamento do amor de Deus e do próximo.
Dedicaram-se incansavelmente ao serviço dos últimos, assistindo indigentes,
doentes, idosos e peregrinos. A sua predileção pelos pequeninos e pelos pobres
era o reflexo e a medida do amor incondicional a Deus. Com efeito, procuraram e
descobriram a caridade na relação forte e pessoal com Deus, da qual se liberta
o amor verdadeiro ao próximo. Por isso, no momento do juízo, ouviram este doce
convite: «Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo» (Mt 25, 34).
Com o rito de canonização, confessamos mais
uma vez o mistério do reino de Deus e honramos Cristo Rei, Pastor cheio de amor
pelo seu rebanho. Que os novos Santos, com o seu exemplo e a sua intercessão,
façam crescer em nós a alegria de caminhar pela vereda do Evangelho, a decisão
de o assumir como a bússola da nossa vida. Sigamos os seus passos, imitando a
sua fé e caridade, para que também a nossa esperança se revista de
imortalidade. Não nos deixemos distrair por outros interesses terrenos e
passageiros. E guie-nos no caminho rumo ao reino dos Céus a Mãe, Maria, Rainha
de todos os Santos.
Papa Francisco – Homilia de Canonização – 23 de novembro de 2014
Sacerdote
de extraordinária espiritualidade e de grande generosidade apostólica, João
Antônio Farina pode ser considerado um dos mais insignes Bispos dos anos
Oitocentos. Foi o Fundador das Irmãs
Mestras de Santa Dorotéia Filhas dos Sagrados Corações, que trabalham atualmente
em várias partes do mundo com atividades educacionais, assistenciais e
pastorais.
Nascido
em Gambellara (Provincia de Vicenza) em 11 de maio de 1803, filho de Pedro e de
Francisca Bellame, João Antônio Farina recebeu a primeira formação das mãos de
seu tio paterno, um santo sacerdote que foi para ele verdadeiro mestre de
espírito e também seu preceptor, uma vez que, naquela época, não havia escolas
públicas nas pequenas localidades. Aos quinze anos, entrou para o Seminário
Diocesano de Vicenza, onde frequentou todos os cursos, distinguindo-se pela
bondade de alma e por uma particular aptidão para os estudos. Aos 21 anos,
enquanto ainda frequentava a Teologia, foi designado professor no Seminário,
revelando excepcionais dotes de educador.
Em
14 de janeiro de 1827, foi ordenado sacerdote e, logo em seguida, conseguiu o
diploma de habilitação para o ensino nas escolas elementares. Nos primeiros
anos, de ministério, exerceu várias funções: o magistério no Seminário por
dezoito anos, a capelania de São Pedro em Vicenza por dez anos e a participação
em várias instituições culturais, espirituais e caritativas da cidade, entre as
quais a direção da escola pública elementar e do liceu.
Em
1831, deu início, em Vicenza, a primeira escola popular feminina e, em 1836,
fundou as Irmãs Mestras de Santa Dorotéia Filhas dos Sagrados Corações, um instituto
do «mestras de comprovada vocação, consagradas ao Senhor e dedicadas
inteiramente a educação das meninas pobres». Logo ele quis que as suas
religiosas se dedicassem também às meninas de famílias abastadas, às
surdas-mudas e às cegas. Enviou-as em seguida para a assistência aos doentes e
aos idosos nos hospitais, asilos e nos domicílios. Em 1° de março de 1839,
conseguiu do Papa Gregório XVI o Decreto de Louvor. As Regras que elaborou
permaneceram em vigor até 1905, quando o Instituto foi aprovado pelo Papa Pio
X, que fora ordenado Sacerdote pelo próprio Bispo Dom Farina.
Em
1850, foi eleito Bispo de Treviso, tendo recebido a consagração episcopal em 19
de janeiro de 1851. Nesta Diocese, desenvolveu uma multiforme atividade
apostólica: iniciou imediatamente a visita pastoral e organizou em todas as
paróquias, associações para a ajuda material e espiritual aos indigentes, o que
lhe mereceu ser chamado de «o Bispo dos
pobres». Incrementou a prática dos exercícios espirituais e a assistência
aos sacerdotes pobres e enfermos. Cuidou da formação doutrinal e cultural do
clero e dos fiéis, da instrução e da catequese da juventude. Todo o decênio de
seu episcopado em Treviso foi perturbado por questões jurídicas com o Cabido da
Catedral, questões que lhe causaram profundo sofrimento e interferiram na
concretização do seu programa pastoral, ficando muitas iniciativas, a ponto de
impedir a celebração do Sínodo diocesano.
Em
18 de junho de 1860, foi transferido para a sede episcopal de Vicenza, onde pôs
em marcha um vasto programa de renovação e desenvolveu uma impressionante obra
pastoral, orientada para a formação cultural e espiritual do clero e dos fiéis,
para a catequese das crianças, para a reforma dos estudos e da disciplina
no Seminário.
Convocou o Sínodo diocesano, que não se celebrava desde 1689. Na
visita pastoral, percorreu algumas vezes vários, quilômetros a pé ou em lombo
de mula, para alcançar até mesmo lugarejos de montanha que jamais tinham visto
um Bispo. Instituiu numerosas irmandades para a assistência aos pobres e aos
sacerdotes idosos e para a pregação de exercícios espirituais ao povo.
Incrementou uma profunda devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a Nossa Senhora e
à Eucaristia. Entre dezembro de 1869 e junho de 1870, participou do Concilio
Vaticano I, onde esteve entre os que apoiavam a definição dogmática da
Infalibilidade Pontifícia.
Os últimos
anos de sua vida foram assinalados por abertos reconhecimentos de sua atividade
apostólica e de sua caridade, mas também por agudos sofrimentos e por injustas
acusações diante das quais reagiu com o silêncio, com a tranquilidade interior
e o perdão, com a fidelidade à própria consciência e à regra suprema da «salvação
das almas». Depois de uma primeira grave enfermidade em 1886, suas forças
físicas se debilitaram gradativamente, até ao ataque de apoplexia que o levou à
morte, em 4 de março de 1888.
A
sua mensagem de santidade
João
António Farina foi um pastor zeloso, que não soube o que fosse mediocridade e
que caminhou constantemente rumo aos píncaros da santidade. Era sustentado por
extraordinário zelo sacerdotal na educação da juventude, na animação da vida
cristã e no empenho pela formação de sacerdotes misericordiosos e perseverantes
na oração, conforme ele mesmo testemunhava com a própria vida.
A
virtude que mais chama a atenção nele é a caridade heroica, tanto que foi
definido como «o homem da caridade». Os pobres, os infelizes, os abandonados,
os sofredores de toda espécie foram o objeto de sua ternura e de seus cuidados.
Já Bispo, ofereceu-se como voluntário para prestar assistência espiritual e
corporal aos doentes do hospital, motivando com o seu exemplo os seus
sacerdotes a fazerem o mesmo. Sua caridade era uma caridade inteligente,
clarividente. Como verdadeiro educador, compreendeu o papel da escola na
reforma da sociedade, a necessidade de cooperação entre escola e família, e a
importância da preparação do pessoal docente. Concebeu a educação como algo orientado
para a formação integral da pessoa humana, para a vivência religiosa, e para a
caridade fraterna. Seu lema era este: «A
verdadeira ciência consiste na educação do coração, isto é, no prático temor de
Deus».
Após
a morte, sua fama de santidade começou a difundir-se nos ambientes
eclesiásticos e civis. E desde 1897, começou-se a recorrer à sua intercessão em
busca de graças e favores celestes. Em 1978, uma freira equatoriana, Irmã lnês
Torres Cordova, afetada por grave tumor com metástase difusa, curou-se
milagrosamente, após ter invocado o Pai Fundador juntamente com suas coirmãs.
Este
Bispo da caridade, que viveu em uma situação histórica difícil para a Igreja
italiana do século XIX, tem um autêntico valor de atualidade e possui ainda
hoje, a fecundidade espiritual das pessoas de proa na Igreja e para a Igreja do
terceiro milênio.
São João Antônio Farina, rogai por nós!
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