O Evangelho de hoje
recorda-nos que toda a Lei divina se resume no amor a Deus e ao próximo. Um
doutor da lei, dirige-lhe a seguinte pergunta: “Mestre, qual é o maior
mandamento da lei?” Jesus responde: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu
coração, toda a tua alma e todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro
mandamento”. E teria podido parar aqui. Ao contrário, Jesus acrescenta algo que
não tinha sido questionado pelo doutor da lei. Com efeito, diz: “E o segundo,
semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Também Jesus não
inventa este segundo mandamento, mas tira-o do Livro do Levítico. A sua
novidade consiste precisamente em unir estes dois mandamentos — o amor a Deus e
o amor ao próximo — revelando que eles são inseparáveis e complementares,
constituem os dois lados de uma mesma medalha. Não se pode amar a Deus sem amar
o próximo, e não se pode amar o próximo sem amar a Deus.
Com
efeito, o sinal visível que o cristão pode manifestar para testemunhar o amor
de Deus ao mundo, aos outros e à sua família é o amor pelos irmãos. O
mandamento do amor a Deus e ao próximo é o primeiro, mas não porque está no
início do elenco dos mandamentos. Jesus não o coloca no vértice, mas no centro,
porque é o coração do qual tudo deve começar, para o qual tudo deve voltar e ao
qual tudo deve fazer referência.
À
luz desta palavra de Jesus, o amor já é a medida da fé, e a fé constitui a alma
do amor. Não podemos mais separar a vida religiosa, a existência de piedade do
serviço aos irmãos, àqueles irmãos concretos com os quais nos encontramos. Já
não podemos dividir a oração, o encontro com Deus nos Sacramentos, da escuta do
outro e da proximidade à sua vida, de forma especial às suas feridas.
Recordai-vos disto: o amor é a medida da fé! E tu, quanto amas? Cada um
responda pessoalmente. Como é a tua fé? A minha fé é como eu amo. E a fé é a
alma do amor.
No
meio da densa selva de preceitos e prescrições — dos legalismos de ontem e de
hoje — Jesus faz uma abertura que permite vislumbrar dois semblantes: o rosto
do Pai e a face do irmão. Não nos confia duas fórmulas ou preceitos: não se
trata de preceitos e fórmulas; Ele confia-nos dois semblantes, aliás, um único
rosto, o rosto de Deus que se reflete em numerosos outros rostos, porque na
face de cada irmão, especialmente do mais pequenino, frágil, indefeso e
necessitado está presente a imagem do próprio Deus. E deveríamos
interrogar-nos, quando encontramos um destes irmãos, se somos capazes de
reconhecer nele o rosto de Deus: somos capazes disto?
Deste
modo, Jesus oferece a cada homem o critério fundamental sobre o qual devemos
delinear a nossa própria vida. Mas, sobretudo, Ele concedeu-nos o Espírito
Santo, que nos permite amar a Deus e o próximo como Ele, com o coração livre e
generoso. Por intercessão de Maria, nossa Mãe, abramo-nos ao acolhimento desta
dádiva do amor, para caminhar sempre nesta lei dos dois semblantes, que
constituem um só: a lei do amor.
Papa Francisco - 26 de outubro de 2014
Hoje celebramos:
Nenhum comentário:
Postar um comentário