“Para entender uma mulher antes é necessário sonhá-la”: eis
por que a mulher é o grande dom de Deus, capaz de trazer harmonia à criação. A
ponto que, gosto de pensar que Deus criou a mulher para que todos nós
tivéssemos uma mãe.
É a mulher, que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e
que faz do mundo uma coisa bela. E se explorar as pessoas é um crime de lesa
humanidade, explorar uma mulher é mais do que um delito e de um crime:
significa destruir a harmonia que Deus quis dar ao mundo, é voltar para trás.
A liturgia continua a narração da criação do mundo, pois com
a criação do homem parece que tudo terminou, a ponto que Deus repousa. Contudo,
falta algo: o homem estava sozinho e daquela solidão o próprio Deus se deu
conta: “Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar
semelhante a ele” lê-se no livro de Gênesis.
Então, o Senhor artesanalmente — mas esta é uma forma
literária para o explicar — formou da terra todos os animais dos campos e todas
as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele
os chamaria. E Deus disse ao homem: esta será a tua companhia, dá-lhe um nome.
Para Deus, prosseguiu Francisco, esta é uma ordem do demônio. Na prática diz ao
homem: “Tu serás o dono destes, aquele que põe o nome, aquele que manda”. Mas o
homem não encontrou uma auxiliar adequada lê-se no livro de Gênesis. Assim o
homem estava sozinho, com todos estes animais: Mas, ouve lá, porque não
arranjas um cão, fiel, que te acompanhe na vida, e também dois gatos para os
acariciar: o cão fiel é bom, os gatos são engraçados, para alguns, para outros
não, para os ratos não! Todavia, o homem não encontrava nestes animais uma
companhia e, em síntese, estava sozinho.
Vamos repropor ponto por ponto o trecho do Gênesis: Então o Senhor
— continua a narração — adormeceu profundamente o homem: fez com que dormisse.
Um homem sozinho, a solidão, agora o homem está adormecido, o sonho do homem:
adormeceu. E artesanalmente — está escrito à letra — enquanto ele dormia,
tirou-lhe uma das costelas e fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. O
homem, quando a viu, disse: “Eis agora aqui, o osso de meus ossos e a carne de
minha carne; ela se chamará mulher — atribuiu-lhe um nome — porque foi tirada
do homem”. Em síntese, para o homem é algo diferente de tudo o que ele tinha,
era o que lhe faltava para não estar sozinho: a mulher, descobriu-a, viu-a. Mas
antes de a ver, sonhou com ela. Com efeito, para entender uma mulher antes é
necessário sonhá-la; não é possível compreendê-la como todos os outros seres
vivos: é algo diferente, é algo diverso. Precisamente assim Deus a fez: para
ser sonhada, antes.
Muitas vezes quando falamos das mulheres, falamos de maneira
funcional: a mulher serve para fazer isto, para fazer, não! Primeiro, é para
outra coisa: a mulher traz algo sem o qual o mundo não seria assim. A mulher é
algo diferente, é algo que traz uma riqueza que o homem, toda a criação e todos
os animais não têm. Também Adão, antes de a ver, sonhou com ela: há algo de
poesia, nesta narração. E depois o terceiro trecho, quando Adão diz “Eis agora
aqui o osso de meus ossos e a carne de minha carne”: o destino de ambos. Com
efeito, lê-se no Gênesis: Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se
unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne. Sim, uma só carne.
Adão não podia ser uma só carne com as aves, com o cão, com
o gato, com todos os animais, com toda a criação: não, não! Só com a mulher, e
isto é o destino, isto é o futuro, isto era o que faltava. E a mulher vem assim
coroar a criação, mais ainda: traz harmonia à criação. Por conseguinte, quando
não há a mulher, falta a harmonia. Também nós dizemos, falando: esta é uma
sociedade com uma forte atitude masculina. Falta a mulher. E talvez afirmemos
inclusive que a mulher serve para lavar os pratos, para fazer.... Ao contrário,
não: a mulher serve para trazer harmonia; sem a mulher não há harmonia. O homem
e a mulher não são iguais, um não é superior ao outro, não. É simplesmente que
o homem não traz harmonia: é ela que traz aquela harmonia que nos ensina a
acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bonita.
Portanto, três trechos.
Em primeiro lugar: o homem sozinho, a solidão do homem sem a
mulher;
Segundo, o sonho: nunca se pode entender uma mulher sem a
sonhar antes;
Terceiro, o destino: uma só carne.
Aconteceu-me há alguns meses numa das audiências, ao saudar
as pessoas que se encontravam atrás das barreiras, ter encontrado um casal que
celebrava o sexagésimo aniversário de matrimônio: não eram muito idosos porque
se tinham casado ainda jovens, deveriam ter cerca de oitenta anos, mas estavam
bem, sorridentes. Ao vê-los perguntei-lhes qual dos dois teve mais paciência ao
longo dos sessenta anos de casamento. E eles que olhavam para mim, trocaram os
olhares — nunca esquecerei aqueles olhos — depois voltaram a olhar para mim e
disseram-me, os dois juntos: “Estamos apaixonados”. Eis, depois de sessenta
anos, isto significa uma só carne e é isto que traz a mulher: a capacidade de
se apaixonar. A harmonia ao mundo.
Muitas vezes ouvimos dizer: “É necessário que nesta
sociedade, nesta instituição, haja uma mulher para que faça isto, faça estas
coisas”. Mas a funcionalidade não é a finalidade da mulher: é verdade que a
mulher deve fazer coisas e faz — como todos nós fazemos — coisas. Porém, a
finalidade da mulher é criar harmonia e sem a mulher não há harmonia no mundo.
Sim, explorar as pessoas é um crime de lesa humanidade, é verdade, mas explorar
uma mulher é mais do que isso: significa destruir a harmonia que Deus quis
proporcionar ao mundo. Significa realmente destruir, não é apenas um delito, um
crime: é uma destruição, significa voltar para trás, destruir a harmonia.
É este o grande dom de Deus: deu-nos a mulher. E no trecho
do Evangelho de Marcos, proposto hoje na liturgia, ouvimos do que é capaz uma
mulher (referindo-se à mulher cuja filha estava possuída por um espírito impuro
– Mc 7,24-30). Uma mulher corajosa que foi em frente sem recear, mas é mais do
que isso, é mais: a mulher é harmonia, é poesia, é beleza. A ponto que sem ela
o mundo não seria tão bonito, não seria harmônico.
Papa Francisco – 9 de fevereiro de 2017
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