domingo, 4 de março de 2018

04 de março - São João Antônio Farina


Hoje a Igreja põe à nossa frente modelos como os novos Santos que, precisamente mediante as obras de uma generosa dedicação a Deus e aos irmãos, serviram, cada um no seu âmbito, o reino de Deus e dele se tornaram herdeiros. Cada um deles respondeu com extraordinária criatividade ao mandamento do amor de Deus e do próximo. Dedicaram-se incansavelmente ao serviço dos últimos, assistindo indigentes, doentes, idosos e peregrinos. A sua predileção pelos pequeninos e pelos pobres era o reflexo e a medida do amor incondicional a Deus. Com efeito, procuraram e descobriram a caridade na relação forte e pessoal com Deus, da qual se liberta o amor verdadeiro ao próximo. Por isso, no momento do juízo, ouviram este doce convite: «Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo» (Mt 25, 34).

Com o rito de canonização, confessamos mais uma vez o mistério do reino de Deus e honramos Cristo Rei, Pastor cheio de amor pelo seu rebanho. Que os novos Santos, com o seu exemplo e a sua intercessão, façam crescer em nós a alegria de caminhar pela vereda do Evangelho, a decisão de o assumir como a bússola da nossa vida. Sigamos os seus passos, imitando a sua fé e caridade, para que também a nossa esperança se revista de imortalidade. Não nos deixemos distrair por outros interesses terrenos e passageiros. E guie-nos no caminho rumo ao reino dos Céus a Mãe, Maria, Rainha de todos os Santos.

Papa Francisco – Homilia de Canonização – 23 de novembro de 2014

Sacerdote de extraordinária espiritualidade e de grande generosidade apostólica, João Antônio Farina pode ser considerado um dos mais insignes Bispos dos anos Oitocentos. Foi o Fundador das Irmãs Mestras de Santa Dorotéia Filhas dos Sagrados Corações, que trabalham atualmente em várias partes do mundo com atividades educacionais, assistenciais e pastorais.

Nascido em Gambellara (Provincia de Vicenza) em 11 de maio de 1803, filho de Pedro e de Francisca Bellame, João Antônio Farina recebeu a primeira formação das mãos de seu tio paterno, um santo sacerdote que foi para ele verdadeiro mestre de espírito e também seu preceptor, uma vez que, naquela época, não havia escolas públicas nas pequenas localidades. Aos quinze anos, entrou para o Seminário Diocesano de Vicenza, onde frequentou todos os cursos, distinguindo-se pela bondade de alma e por uma particular aptidão para os estudos. Aos 21 anos, enquanto ainda frequentava a Teologia, foi designado professor no Seminário, revelando excepcionais dotes de educador.

Em 14 de janeiro de 1827, foi ordenado sacerdote e, logo em seguida, conseguiu o diploma de habilitação para o ensino nas escolas elementares. Nos primeiros anos, de ministério, exerceu várias funções: o magistério no Seminário por dezoito anos, a capelania de São Pedro em Vicenza por dez anos e a participação em várias instituições culturais, espirituais e caritativas da cidade, entre as quais a direção da escola pública elementar e do liceu.

Em 1831, deu início, em Vicenza, a primeira escola popular feminina e, em 1836, fundou as Irmãs Mestras de Santa Dorotéia Filhas dos Sagrados Corações, um instituto do «mestras de comprovada vocação, consagradas ao Senhor e dedicadas inteiramente a educação das meninas pobres». Logo ele quis que as suas religiosas se dedicassem também às meninas de famílias abastadas, às surdas-mudas e às cegas. Enviou-as em seguida para a assistência aos doentes e aos idosos nos hospitais, asilos e nos domicílios. Em 1° de março de 1839, conseguiu do Papa Gregório XVI o Decreto de Louvor. As Regras que elaborou permaneceram em vigor até 1905, quando o Instituto foi aprovado pelo Papa Pio X, que fora ordenado Sacerdote pelo próprio Bispo Dom Farina.

Em 1850, foi eleito Bispo de Treviso, tendo recebido a consagração episcopal em 19 de janeiro de 1851. Nesta Diocese, desenvolveu uma multiforme atividade apostólica: iniciou imediatamente a visita pastoral e organizou em todas as paróquias, associações para a ajuda material e espiritual aos indigentes, o que lhe mereceu ser chamado de «o Bispo dos pobres». Incrementou a prática dos exercícios espirituais e a assistência aos sacerdotes pobres e enfermos. Cuidou da formação doutrinal e cultural do clero e dos fiéis, da instrução e da catequese da juventude. Todo o decênio de seu episcopado em Treviso foi perturbado por questões jurídicas com o Cabido da Catedral, questões que lhe causaram profundo sofrimento e interferiram na concretização do seu programa pastoral, ficando muitas iniciativas, a ponto de impedir a celebração do Sínodo diocesano.

Em 18 de junho de 1860, foi transferido para a sede episcopal de Vicenza, onde pôs em marcha um vasto programa de renovação e desenvolveu uma impressionante obra pastoral, orientada para a formação cultural e espiritual do clero e dos fiéis, para a catequese das crianças, para a reforma dos estudos e da disciplina no Seminário. 

Convocou o Sínodo diocesano, que não se celebrava desde 1689. Na visita pastoral, percorreu algumas vezes vários, quilômetros a pé ou em lombo de mula, para alcançar até mesmo lugarejos de montanha que jamais tinham visto um Bispo. Instituiu numerosas irmandades para a assistência aos pobres e aos sacerdotes idosos e para a pregação de exercícios espirituais ao povo. Incrementou uma profunda devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a Nossa Senhora e à Eucaristia. Entre dezembro de 1869 e junho de 1870, participou do Concilio Vaticano I, onde esteve entre os que apoiavam a definição dogmática da Infalibilidade Pontifícia.

Os últimos anos de sua vida foram assinalados por abertos reconhecimentos de sua atividade apostólica e de sua caridade, mas também por agudos sofrimentos e por injustas acusações diante das quais reagiu com o silêncio, com a tranquilidade interior e o perdão, com a fidelidade à própria consciência e à regra suprema da «salvação das almas». Depois de uma primeira grave enfermidade em 1886, suas forças físicas se debilitaram gradativamente, até ao ataque de apoplexia que o levou à morte, em 4 de março de 1888.
 
A sua mensagem de santidade
João António Farina foi um pastor zeloso, que não soube o que fosse mediocridade e que caminhou constantemente rumo aos píncaros da santidade. Era sustentado por extraordinário zelo sacerdotal na educação da juventude, na animação da vida cristã e no empenho pela formação de sacerdotes misericordiosos e perseverantes na oração, conforme ele mesmo testemunhava com a própria vida.

A virtude que mais chama a atenção nele é a caridade heroica, tanto que foi definido como «o homem da caridade». Os pobres, os infelizes, os abandonados, os sofredores de toda espécie foram o objeto de sua ternura e de seus cuidados. Já Bispo, ofereceu-se como voluntário para prestar assistência espiritual e corporal aos doentes do hospital, motivando com o seu exemplo os seus sacerdotes a fazerem o mesmo. Sua caridade era uma caridade inteligente, clarividente. Como verdadeiro educador, compreendeu o papel da escola na reforma da sociedade, a necessidade de cooperação entre escola e família, e a importância da preparação do pessoal docente. Concebeu a educação como algo orientado para a formação integral da pessoa humana, para a vivência religiosa, e para a caridade fraterna. Seu lema era este: «A verdadeira ciência consiste na educação do coração, isto é, no prático temor de Deus».

Após a morte, sua fama de santidade começou a difundir-se nos ambientes eclesiásticos e civis. E desde 1897, começou-se a recorrer à sua intercessão em busca de graças e favores celestes. Em 1978, uma freira equatoriana, Irmã lnês Torres Cordova, afetada por grave tumor com metástase difusa, curou-se milagrosamente, após ter invocado o Pai Fundador juntamente com suas coirmãs.
Este Bispo da caridade, que viveu em uma situação histórica difícil para a Igreja italiana do século XIX, tem um autêntico valor de atualidade e possui ainda hoje, a fecundidade espiritual das pessoas de proa na Igreja e para a Igreja do terceiro milênio.

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