“O que caracteriza o homem, o que ele tem de
mais íntimo no seu ser e na sua personalidade, é a capacidade de amar, de amar
profundamente, de se dedicar com aquele amor que é mais forte do que a morte e
que continua na eternidade.
O martírio dos cristãos é a expressão e o sinal
mais sublime deste amor, não só porque o mártir se conserva fiel ao seu amor,
chegando a derramar o próprio sangue, mas também porque este sacrifício é feito
pelo amor mais nobre e elevado que pode existir, ou seja, pelo amor d'Aquele
que nos criou e remiu, que nos ama como só Ele sabe amar, e que espera de nós
uma resposta de total e incondicionada doação, isto é, um amor digno do nosso
Deus.
Na sua longa e gloriosa história, a
Grã-Bretanha, Ilha de Santos, deu ao mundo muitos homens e mulheres, que amaram
a Deus com este amor franco e leal. Por isso, sentimo-Nos feliz por termos
podido incluir hoje, no número daqueles que a Igreja reconhece publicamente
como Santos, mais quarenta filhos desta nobre terra, propondo-os, assim, à veneração
dos seus fiéis, para que estes possam haurir, na sua existência, um vívido
exemplo.
Quem lê, comovido e admirado, as atas do seu
martírio, vê claramente e, podemos dizer, com evidência, que eles são os dignos
émulos dos maiores mártires dos tempos passados, pela grande humildade,
simplicidade e serenidade, e também pelo gáudio espiritual e pela caridade
admirável e radiosa com que aceitaram a sentença e a morte."
Papa Paulo VI – Homilia
de canonização
Margarida Ward nasceu em Congleton, Cheshire,
em torno de 1550, no seio de uma distinta família inglesa. Pouco se sabe de sua
vida, somente que nos últimos anos viveu na casa da nobre senhora Whitall, da
qual era dama de companhia.
Margarida era católica, e soube que haviam
prendido o sacerdote Guilherme Watson, que estava encarcerado e era submetido a
contínuas torturas. Estava em curso a perseguição da sanguinária rainha
Elizabeth I contra os católicos, e a tortura era uma prática usual. Margarida
decidiu visitá-lo repetidas vezes, para ajudá-lo e confortá-lo.
Watson, que escreveu a obra conhecida como
"Quodlibets", já tinha estado preso uma primeira vez, porém logo, em
um momento de debilidade pelas torturas sofridas, tinha consentido participar do
culto protestante, e por isso fora libertado. Porém amargamente arrependido
desta ação, se retratou publicamente e declarou ser católico, e foi novamente
preso e levado para a prisão de Bridewel.
Depois de várias visitas, que suavizaram a
vigilância do carcereiro, Margarida levou uma corda para ele poder escapar. Na
hora fixada, o barqueiro que se havia comprometido a transportar o sacerdote
rio abaixo, se negou a levar a cabo seu trabalho. Em sua angústia, Margarida
confiou seu problema ao jovem John Roche (ou Neele), que se comprometeu a ajudá-la.
Preparou um bote e trocou de roupa com Watson, que pode fugir. Porém a roupa
traiu John Roche e a corda convenceu o carcereiro que Margarida Ward havia sido
o instrumento da fuga do prisioneiro. Ambos foram detidos.
O Venerável Robert Southwell escreveu ao Padre
Acquaviva, S.J.:
"Foi açoitada e suspensa pelos
punhos, só tocava o solo com as pontas dos dedos de seus pés, durante tanto
tempo, que ficou inválida e paralisada, porém estes sofrimentos reforçaram em
grande medida a gloriosa mártir em sua luta final".
A dama não só confirmou plenamente tudo quanto
tinha feito, como negou revelar onde o fugitivo estava escondido; não quis
pedir perdão à rainha, nem aderir ao culto protestante, condições que lhe eram
impostas para obter a liberdade. Ela estava convencida de que não havia
ofendido a soberana, e considerava coisa absolutamente contrária à sua genuína
fé católica o assistir às funções de um culto herético.
Foi julgada e condenada à morte em Newgate por
alta traição. Imolou sua vida pela fé católica que não quis abjurar, e caminhou
para o patíbulo em Tyburn no dia 30 de agosto de 1588.
Ricardo Leigh, sacerdote, e os leigos Eduardo
Shelley, Ricardo Martin, ingleses, e John Roche, irlandês, e Ricardo Lloyd,
galês, foram seus companheiros de martírio. O primeiro por ser sacerdote e os
outros por terem dado hospitalidade a sacerdotes. Todos eles foram beatificados
em 1929 pelo Papa Pio XI, e Margarida foi canonizada em 25 de outubro de 1970
pelo papa Paulo VI entre os 40 mártires da Inglaterra e Gales.
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