“Peço-vos, Senhor, a
graça de querer sofrer sempre qualquer tribulação, trabalho ou enfermidade,
incluso a morte, e derramar o sangue se for necessário para sustentar e
defender a honra de vosso Sagrado Evangelho. Confirmai-vos, este propósito, e
com vossa Virtude divina, fazei eficaz e perseverante esta minha promessa”.
Salvio Huix nasceu
no dia 22 de dezembro de 1877, em Santa Margarita de Vellors, Girona, Espanha.
Sua família, camponesa e católica tradicional, tinha razoavelmente boas
condições e se mantinha repetindo boas práticas como a Missa diária, o Rosário,
as visitas ao Santíssimo Sacramento e às práticas de devoção ao Sagrado Coração
de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria.
Havia sempre padres
visitando a casa, bem como alguns sacerdotes na família. Por isso, o jovem
Savio não surpreendeu ninguém ao anunciar sua intenção de oferecer-se como um
candidato ao sacerdócio, saindo de casa para o seminário menor local quando
tinha 10 anos de idade.
Salvio foi ordenado sacerdote em 19 de setembro de 1903 e enviado para trabalhar como pároco auxiliar. Ele atuou em duas paróquias rurais, mas descobriu que não havia trabalho suficiente para absorver as suas energias; além disso, seu desejo era estar perto de pessoas e ajudá-las a se tornarem santas. Foi esse desejo que o levou, aos 30 anos de idade, a entrar para a Congregação do Oratório de São Filipe Neri em Vich, em 1907. Esteve ali por 22 anos.
Professor no
seminário, a maioria de seus discípulos o escolheu como diretor espiritual,
assim como a maioria dos jovens e pais de família que circundavam esse
oratório.
Os padres acordavam
todas as manhãs às 4h30, exceto aos domingos e dias de festa, quando se
levantavam meia hora mais cedo. Após uma hora de oração mental, eles desciam
até a igreja para ouvir confissões e, a seguir, diziam suas santas Missas em um
dos Altares laterais da igreja.
A tarde era passada
no confessionário ou trabalhando com um dos grupos ou congregações anexas à
igreja: Irmãos do Oratório Menor, grupos de jovens etc. Havia os doentes a
serem visitados e crianças a serem catequizadas. Padre Salvio tomou ciência de
que não havia nada dirigido aos jovens homens casados, que pareciam não ter
parte na vida da Igreja. Acreditava que uma religião que atraía apenas mulheres
e crianças em grande número era seriamente deficiente e então, começou uma
confraria de homens casados sob o patrocínio de São José.
Tanto os homens
quanto os jovens ele encorajou ao apostolado. Estava ansioso para vê-los
trabalhando com os doentes, não apenas visitando-os, mas realmente olhando para
suas necessidades físicas e materiais. Ele próprio, quando não estava ocupado
no confessionário ou no seminário, era encontrado cuidando de um doente –
lavando-o, se fosse necessário, e trocando a roupa da cama.
O cotidiano de padre
Salvio o levava a dormir sempre depois da meia-noite, e por conta desses
doentes era continuamente acordado, tendo parcas noites de sono. Era fervoroso
pela salvação das almas e pelas obras de misericórdia.
Em 1927, no mesmo ano de sua consagração episcopal ocorrida em 28 de abril, Beato Salvio, então reitor da pequena comunidade, foi nomeado bispo de Ibiza. Mesmo o novo compromisso não permitiu que o Padre Huix deixasse sua congregação. Ele permaneceu como um filho de São Filipe, até mesmo na forma como ele governava sua diocese.
Em 1931, a Espanha
foi declarada república. Embora os bispos espanhóis inicialmente tenham
exortado os fiéis a cooperarem com o Governo, dentro de algumas semanas as
coisas começaram a mudar e uma nova ordem se fez sentir. Em Madrid e em outros
lugares, conventos foram pilhados e queimados; os jesuítas foram reprimidos; o
arcebispo de Toledo foi expulso; todas as escolas administradas por ordens
religiosas foram fechadas. Cemitérios foram secularizados e enterros católicos
foram proibidos.
Ordenou-se a remoção
de todos os crucifixos dos cemitérios. Em Ibiza, o próprio bispo carregou nas
costas um grande crucifixo, trazido do cemitério pelos homens até as portas da
catedral, e o levou para o santuário sob grande comoção dos fiéis que enchiam o
local. Beato Salvio não se impressionou com as leis e ideias antirreligiosas e
em sua carta pastoral quaresmal de 1932 disse ao seu povo que, “mesmo que os
cães ladrem e os porcos grunhem, o sol e a lua continuarão a brilhar”.
Ele permaneceu como
bispo de Ibiza por 8 anos, quando em 1935, por indicação de Monsenhor
Tedeschini, foi transferido para a Diocese de Lérida. Lá, esperava continuar
seu programa pastoral, mas isso não aconteceria, pois em um ano a guerra civil
eclodiu.
Monsenhor Huix sabia que as leis iníquas trariam consequências desastrosas às vidas dos católicos, e em 6 de junho de 1936 ordenou na catedral vários sacerdotes que, no prazo de um mês, seriam levados ao martírio, assim como ele mesmo.
Entre julho de 1936
e março de 1937, houve um ataque devastador de violência contra a Igreja. Em
poucos meses, milhares de pessoas morreram. Até o final da guerra, 6832
sacerdotes e religiosos, 12 bispos e 283 irmãs haviam sido mortos.
Pouco antes de 18 de julho de 1936, ele organizou algumas Jornadas Eucarísticas de oração e penitência, como se sentisse os dias trágicos que estariam por vir.
Em 18 de julho, houve uma revolta militar
contra o governo republicano e dois dias mais tarde, a cidade de Lérida estava
nas mãos de forças republicanas que queimaram a catedral e as igrejas da
cidade, matando, ao longo de vários meses, 80% dos sacerdotes da diocese. Um de
seus seminaristas, com cerca de 15 anos, teve um julgamento simulado. A
multidão gritou por sua morte e o “juiz”, assim chamado, fez um movimento de
lavar as mãos, antes de condená-lo à morte. O menino foi então espancado,
despido e pregado a uma viga, onde morreu.
Em uma resenha de
sua viagem a Roma, em visita "Ad Limina", Monsenhor
Salvio escrevia: “Sentimos como o coração nos palpita, com fé renovada e
confirmada, em firme propósito de fidelidade até a morte, e o martírio se fosse
mister, com a ajuda da divina Graça”.
Poucos dias antes de
eclodir a guerra, Monsenhor Irurita (anterior bispo de Lérida) o visitou e juntos
decidiram não abandonar os seus fiéis, o que quer que ocorresse, e ofereceram a
Deus suas vidas defendendo a fé católica, a fé de seu povo.
Após o martírio de
Monsenhor Huix, com muita dor, Mons. Irurita quis imitar o amigo e
apresentou-se às autoridades para ser sacrificado.
Na noite do dia 21 de julho de 1936, depois de queimarem a catedral, os republicanos voltaram sua atenção para a residência episcopal. Enquanto estavam arrombando as portas, procurando armas e foragidos, Huix administrou os Sacramentos ao secretário, o porteiro e sua filha, que saíram em seguida pela porta dos fundos.
Ele já sabia o que
iria lhe ocorrer e mantinha uma mala pronta com um traje simples embalado, caso
precisasse. Refugiou-se na casa do jardineiro, mas percebendo o perigo a que
estava expondo esse homem e sua família, entregou-se à polícia. “Eu sou o
Bispo de Lérida e me coloco aos vossos cuidados.”
A polícia prontamente o entregou aos republicanos, que o aprisionaram planejando matá-lo ali mesmo. Em contato com o comando geral, diziam que havia com eles “um peixe gordo” que poderia trazer-lhes algum benefício. Muitas pessoas importantes da cidade já estavam na prisão, e também homens do clero.
A polícia prontamente o entregou aos republicanos, que o aprisionaram planejando matá-lo ali mesmo. Em contato com o comando geral, diziam que havia com eles “um peixe gordo” que poderia trazer-lhes algum benefício. Muitas pessoas importantes da cidade já estavam na prisão, e também homens do clero.
Relato de seus dias na
prisão: “Um bispo humilde e sensível, não permitindo ser relevado por conta de
seu posto, nos serviços mais baixos, se coloca como mais um entre os presos.
Distribuía sempre comida que as almas piedosas lhe traziam, entre os reclusos
mais necessitados, contentando-se com um canto do cárcere. Valente e apostólico
animava a todos com sua palavra, exercendo devidamente os sagrados ministérios,
confessando, orientando o grupo de fiéis, distribuindo a sagrada Comunhão.”
Todos ficaram
impressionados com a alegria do Bispo e seu cuidado contínuo para com seu
rebanho. Na festa de São Tiago, conseguiu celebrar Missa, utilizando vasos
contrabandeados para a prisão. Ele administrou a Comunhão e ouviu confissões.
No dia 5 de agosto, festa de Nossa Senhora das Neves, de sua especial devoção, o bispo e outros 20 foram informados que seriam levados a julgamento em Barcelona. Uma vez fora da cidade, os caminhões pararam no cemitério e os prisioneiros tiveram que sair.
Quando perceberam
que estavam prestes a serem mortos, seus companheiros pediram a seu bispo a
bênção e os Sacramentos. Este atendeu aos pedidos, dizendo-lhes: “Sejam
corajosos, pois dentro de uma hora estaremos reunidos na Presença do Senhor”.
Aos que queriam confessar, disse sorrindo: “Não temais, a melhor confissão é
o martírio”. Eles então recitaram juntos o Credo e foram obrigados a cavar
suas sepulturas.
Um relato diz que
foi oferecido ao Monsenhor Huix continuar vivo, caso ele renunciasse sua fé.
Ele se recusou a fazê-lo, mas pediu um favor: que fosse o último a morrer.
Quando todos estavam mortos, ele os abençoou. Um dos homens da milícia,
desaprovando o gesto, atirou em sua mão direita. Ele continuou a abençoar com a
esquerda.
Em um depoimento
escrito após o martírio, o homem que havia administrado o golpe de misericórdia
aos moribundos disse como havia muito sangue e como os tendões dos braços do
Bispo estavam expostos, por terem sido baleados várias vezes. Dizia seu
Verdugo: “Parecia de madeira”, tal a quantidade de vezes que foi baleado até
ter entregue sua alma ao Senhor.
Morreu assim,
naquele 5 de agosto, na festa de sua mãe amada, Nossa Senhora das Neves. Pelo
martírio, seu sangue jorrou em terra como “semente dos novos Cristãos”.
Conforme dizia Tubau, seu biógrafo, “Ele foi como Santo Estevão, que vendo o
seu martírio conseguia ver o céu aberto”.
Em 27 de junho de
2011, o Papa Bento XVI assinou o decreto com o qual se reconhece o martírio
este Servo de Deus. Sua beatificação ocorreu em 13 de outubro de 2013, durante
o pontificado do Papa Francisco.
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