Por detrás das
leituras de hoje está o fantasma da hipocrisia, da formalidade de cumprir os mandamentos,
neste caso o jejum. Jesus volta ao tema da hipocrisia muitas vezes quando vê
que os doutores da lei pensam que são perfeitos: cumprem tudo o que está nos
mandamentos como se fosse uma formalidade.
O cristianismo não
é uma regra sem alma; um prontuário de observações formais para gente com o
coração vazio de caridade. O cristianismo é a própria carne de Cristo que se
inclina sem envergonhar-se sobre quem sofre.
Refiro-me ao fato
dos discípulos de Jesus não jejuarem e serem criticados pelos fariseus que, por
sua vez, jejuavam muito.
Receber do Senhor o
amor de um Pai, receber do Senhor a identidade de um povo e depois
transforma-la numa ética é recusar aquele dom de amor. Esta gente hipócrita são
pessoas boas, fazem tudo aquilo que se deve fazer. Parecem boas!
Porém, o Jejum que
quer o Senhor é o jejum que se preocupa da vida do irmão, que não se envergonha
da carne do irmão.
A nossa perfeição,
a nossa santidade vai para a frente com o nosso povo, no qual nós somos eleitos
e inseridos. O nosso maior ato de santidade está na carne do irmão e na carne
de Jesus Cristo. O ato de santidade hoje, nosso, aqui no altar, não é um jejum
hipócrita: é não envergonharmo-nos da carne de Cristo que vem hoje aqui! É o
mistério do Corpo e do Sangue de Cristo. É ir dividir o pão com o esfomeado,
tratar os doentes, os idosos, aqueles que não podem dar-nos nada em troca:
aquilo é não envergonhar-se da carne!
Quando eu dou a
esmola, deixo cair a moeda sem tocar a mão? E se por acaso a toco, faço assim,
de repente? Quando eu dou uma esmola olho nos olhos o meu irmão ou irmã? Quando
eu sei que uma pessoa está doente vou visitá-la? Cumprimento-a com ternura? Há
um sinal que talvez nos ajudará, é uma pergunta: sei acariciar os doentes, os
idosos, as crianças, ou perdi o sentido da carícia? Estes hipócritas não sabiam
acariciar! Tinham-se esquecido… Não envergonhar-se da carne do nosso irmão: é a
nossa carne!
Como nós fazemos
com este irmão e com esta irmã, seremos julgados.
Papa
Francisco – 07 de março de 2014
Hoje celebramos:
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