Nºs 283 a
286
Uma expressão do discernimento é o esforço por
reconhecer a própria vocação. É uma
tarefa que requer espaços de solidão e silêncio, porque se trata de uma decisão
muito pessoal que mais ninguém pode tomar no nosso lugar. Embora o Senhor
nos fale de muitos e variados modos durante o nosso trabalho, através dos
outros e a todo o momento, não é possível prescindir do silêncio da oração
prolongada para perceber melhor aquela linguagem, para interpretar o significado
real das inspirações que julgamos ter recebido, para acalmar ansiedades e
recompor o conjunto da própria vida à luz de Deus.
Este
silêncio não é uma forma de isolamento, pois devemos lembrar-nos que o
discernimento orante exige partir da predisposição para escutar: o Senhor, os
outros, a própria realidade que não cessa de nos interpelar de novas maneiras. Somente quem está
disposto a escutar é que tem a liberdade de renunciar ao seu ponto de vista
parcial e insuficiente. Desta forma, está realmente disponível para acolher um
chamado que quebra as suas seguranças, mas leva-o a uma vida melhor, porque não
é suficiente que tudo corra bem, que tudo esteja tranquilo. Pode acontecer que
Deus nos esteja a oferecer algo mais e, na nossa cômoda distração, não o reconheçamos.
Quando se trata de discernir a própria vocação,
há várias perguntas que precisamos colocar. Não se deve começar por questionar onde se poderia ganhar mais
dinheiro, onde se poderia obter mais fama e prestígio social, mas também não se
deveria começar perguntando quais tarefas nos dariam mais prazer.
Para não se enganar, é preciso mudar de perspectiva,
perguntando: Conheço-me a mim mesmo,
para além das aparências ou das minhas sensações? Sei o que alegra ou
entristece o meu coração? Quais são os meus pontos fortes e as minhas
fragilidades?
E, logo a seguir, vêm outras perguntas: Como posso servir melhor e ser mais útil ao
mundo e à Igreja? Qual é o meu lugar nesta terra? Que poderia eu oferecer à
sociedade?
E surgem imediatamente outras muito realistas: Tenho as capacidades necessárias para
prestar este serviço? Em caso negativo, poderei adquiri-las e desenvolvê-las?
Estas questões devem-se colocar não tanto em
relação a si mesmo e às próprias inclinações, mas em relação aos outros, em
ordem a eles, para que o discernimento enquadre a própria vida referida aos
outros. Por isso, quero lembrar qual é a grande questão: Muitas vezes, na vida,
perdemos tempo a questionar-nos: “Quem sou
eu?”
E podes passar a vida inteira a questionar-te,
procurando saber quem és. Mas a pergunta que te deves colocar é esta: “Para quem sou eu?”
És para
Deus, sem dúvida alguma; mas Ele quis que fosses também para os outros, e
colocou em ti muitas qualidades, inclinações, dons e carismas que não são para
ti, mas para os outros.
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