Realmente Maria é a mulher da escuta: vemo-lo
no encontro com o Anjo e vemo-lo de novo em todas as cenas da sua vida, desde
as bodas de Caná, até à cruz e até ao dia do Pentecostes, quando está entre os
apóstolos precisamente para acolher o Espírito. É o símbolo da abertura, da
Igreja que espera a vinda do Espírito Santo.
Já no momento do anúncio podemos captar a
atitude da escuta uma escuta verdadeira, uma escuta que se deve interiorizar,
que não diz simplesmente sim, mas assimila a Palavra, toma a Palavra e depois
fazer seguir a verdadeira obediência, como se fosse uma Palavra interiorizada,
isto é, que se tornou Palavra em mim e para mim, quase forma da minha vida.
Isto parece-me muito bonito: ver esta escuta ativa, isto é, uma escuta que
atrai a Palavra de modo que entre e se torne em mim Palavra, refletindo-a e
aceitando-a até ao íntimo do coração. Assim a Palavra torna-se encarnação.
Vemos o mesmo no Magnificat. Sabemos
que é um tecido feito de palavras do Antigo Testamento. Vemos que Maria é
realmente uma mulher da escuta, que conhecia no coração a Escritura. Não conhecia
só alguns textos, mas identificava-se a tal ponto com a Palavra que as palavras
do Antigo Testamento se tornaram, sintetizadas, um cântico no seu coração e nos
seus lábios. Vemos que a sua vida estava realmente imbuída da Palavra; tinha
entrado na Palavra, tinha-a assimilado e tinha-se tornado vida nela,
transformando-se depois de novo em Palavra de louvor e de anúncio da grandeza
de Deus.
Parece-me que São Lucas, referindo-se a Maria,
diz pelo menos três vezes, talvez quatro, que assimilou e conservou no seu
coração as Palavras. Era, para os Padres, o modelo da Igreja, o modelo do
crente que conserva a Palavra, traz em si a Palavra; não só a lê, a interpreta
com o intelecto para saber o que ela foi naquele tempo, quais são problemas
filológicos. Tudo isto é interessante, importante, mas é mais importante ouvir
a Palavra que deve ser conservada e que se torna Palavra em mim, vida em mim e
presença do Senhor. Por isso, parece-me importante o nexo entre mariologia e
teologia da Palavra, do qual falaram os Padres sinodais e do qual falaremos no
documento pós-sinodal.
É óbvio: Nossa Senhora é palavra de escuta,
palavra silenciosa, mas também palavra do louvor, do anúncio, porque a Palavra
na escuta se torna de novo carne e assim torna-se presença da grandeza de Deus.
Papa Bento XVI – 26 de fevereiro de 2009
Hoje celebramos:
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