No cenário de fundo do terceiro anúncio da
paixão, morte e ressurreição do Filho do Homem, sobressai, pelo seu clamoroso
contraste, a cena dos dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, que, ao lado de
Jesus, ainda correm atrás de sonhos de glória. Pediram-Lhe: Concede-nos que,
na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.
Contundente é a resposta de Jesus, e inesperada a sua pergunta: Não sabeis o
que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo?
A alusão é claríssima: o cálice é o da paixão,
que Jesus aceita para cumprir a vontade do Pai. O serviço a Deus e aos irmãos,
a doação de si mesmo: esta é a lógica que a fé autêntica imprime e gera na
nossa existência quotidiana, mas que está em contradição com o estilo mundano
do poder e da glória.
Com o seu pedido, Tiago e João mostram que não
compreendem a lógica de vida que Jesus testemunha, aquela lógica que deve –
segundo o Mestre –caracterizar o discípulo no seu espírito e nas suas ações. E
a lógica errada não reside só nos dois filhos de Zebedeu, mas, segundo o
evangelista, contagia também os outros dez apóstolos, que começaram a
indignar-se contra Tiago e João. Indignam-se, porque não é fácil entrar na
lógica do Evangelho, deixando a do poder e da glória. São João Crisóstomo
afirma que ainda eram imperfeitos os apóstolos todos: tanto os dois que
procuravam obter precedência sobre os outros dez, como os dez que tinham inveja
dos dois. E São Cirilo de Alexandria, acrescenta: Os discípulos caíram na
fraqueza humana e puseram-se a discutir uns com os outros qual deles seria o
chefe, ficando superior aos outros. (…) Isto aconteceu e foi-nos narrado para
nosso proveito. (…) O que sucedeu aos santos Apóstolos pode revelar-se, para
nós, um estímulo à humildade.
Este episódio deu ocasião a Jesus para Se
dirigir a todos os discípulos e chamá-los a Si, de certo modo para os estreitar
a Si, a fim de formarem como que um corpo único e indivisível com Ele, e indicar
qual é a estrada para se chegar à verdadeira glória, a de Deus: Sabeis como
aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua
autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser
assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo, e quem
quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos.
Papa Bento XVI – 18 de fevereiro
de 2012
Hoje celebramos:
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