quarta-feira, 12 de junho de 2019

Christus vivit: A Pastoral dos jovens – Grandes linhas de ação – nºs 209 a 215


Nºs 209 a 215

Queria apenas assinalar, brevemente, que a pastoral juvenil supõe duas grandes linhas de ação:
Uma é a busca, a convocação, o chamado que atraia novos jovens para a experiência do Senhor.
A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram essa experiência.

Relativamente à primeira, a busca, confio na capacidade dos próprios jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. Sabem organizar festivais, competições desportivas, e sabem também evangelizar nas redes sociais com mensagens, canções, vídeos e outras intervenções. Devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se entusiasmem com a missão nos ambientes juvenis. O primeiro anúncio pode despertar uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de conversão, numa conversa no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos insondáveis caminhos de Deus. O mais importante, porém, é que cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem.

Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios. É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática do amor, não com o proselitismo. A linguagem que os jovens entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que estão ali por eles e para eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, se esforça por viver coerentemente a sua fé. Ao mesmo tempo, devemos procurar, ainda com maior sensibilidade, como encarnar o querigma na linguagem dos jovens de hoje.

Quanto ao crescimento, quero fazer uma advertência importante. Acontece em alguns lugares que, depois de ter provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que tocou o seu coração, propõe-lhes encontros de formação onde se abordam apenas questões doutrinais e morais: sobre os males do mundo atual, sobre a Igreja, a doutrina social, sobre a castidade, o matrimônio, o controle da natalidade e sobre outros temas. Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos. Acalmemos a ânsia de transmitir uma grande quantidade de conteúdos doutrinais e procuremos, antes de mais nada, suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a vida cristã. Como dizia Romano Guardini, na experiência dum grande amor, tudo o que acontece se transforma num episódio interno àquela.


Qualquer projeto formativo, qualquer percurso de crescimento para os jovens deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e moral. De igual modo é importante que aqueles estejam centrados em dois eixos principais: um é o aprofundamento do querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado; o outro é o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço.

Sobre isto, insisti muito na Exortação Evangelii gaudium e acho que seria oportuno lembrá-lo. Por um lado, seria um erro grave pensar que, na pastoral juvenil, o querigma é deixado de lado em favor duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio.
Toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne. Por isso, a pastoral juvenil deveria incluir sempre momentos que ajudem a renovar e aprofundar a experiência pessoal do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo. Fazer, valendo-se de vários recursos: testemunhos, cânticos, momentos de adoração, espaços de reflexão espiritual com a Sagrada Escritura e, inclusivamente, com vários estímulos através das redes sociais. Mas nunca se deve substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie de “doutrinação”.

Além disso, qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliar-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximar-se dos pobres. Se o amor fraterno é o novo mandamento, o pleno cumprimento da lei e o que melhor demonstra o nosso amor a Deus, então deve ocupar um lugar relevante em todo o plano de formação e crescimento dos jovens.

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