Nºs 230 a 238
Além da habitual ação pastoral que realizam as
paróquias e os movimentos, segundo determinados esquemas, é muito importante
dar espaço a uma pastoral juvenil popular, que tem estilo, tempos, ritmo
e metodologia diferentes. É uma pastoral mais ampla e flexível que estimula,
nos distintos lugares onde se movem concretamente os jovens, as lideranças
naturais e os carismas que o Espírito Santo já semeou entre eles. Trata-se,
antes de mais nada, de não colocar tantos obstáculos, normas, controles e
enquadramentos obrigatórios aos jovens crentes que são líderes naturais nos
bairros e nos diferentes ambientes. Devemos limitar-nos a acompanhá-los e
estimulá-los, confiando um pouco mais na fantasia do Espírito Santo que age
como quer.
Falamos de líderes realmente populares,
não elitistas ou fechados em pequenos grupos de eleitos. Para ser capazes de
animar uma pastoral popular no mundo dos jovens, precisam de aprender a sondar
os sentimentos do povo, a fazer-se seus porta-vozes e a trabalhar pela sua
promoção. Quando falamos de povo, não se deve entender tanto as estruturas da
sociedade ou da Igreja, como sobretudo o conjunto de pessoas que não caminham
como indivíduos, mas como o tecido duma comunidade de todos e para todos, que
não pode permitir que os mais pobres e frágeis fiquem para trás: O povo
deseja que todos participem dos bens comuns e, por isso, aceita adaptar-se ao
passo dos últimos para chegarem todos juntos. Portanto os líderes
populares são aqueles que têm a capacidade de integrar a todos, incluindo na
marcha juvenil os mais pobres, frágeis, limitados e feridos. Não lhes fazem repugnância
nem metem medo os jovens chagados e crucificados.
Na mesma linha, especialmente com os jovens que
não cresceram em famílias ou instituições cristãs e estão num caminho de lenta
maturação, devemos estimular o bem possível. Cristo advertiu-nos para não
pretendermos que tudo seja apenas trigo. Às vezes, por pretender uma pastoral
juvenil asséptica, pura, caraterizada por ideias abstratas, afastada do mundo e
preservada de toda a mancha, reduzimos o Evangelho a uma proposta insípida,
incompreensível, distante, separada das culturas juvenis e adaptada só a uma elite
juvenil cristã que se sente diferente, mas na verdade flutua num isolamento sem
vida nem fecundidade. Assim, juntamente com as ervas daninhas que rejeitamos,
arrancamos ou sufocamos milhares de rebentos que procuram crescer no meio das
limitações.
Em vez de sufocá-los com um conjunto de regras
que dão uma imagem redutora e moralista do cristianismo, somos chamados a
investir na sua audácia, educando-os para assumir as suas responsabilidades,
certos de que também o erro, o falimento e a crise são experiências que podem
revigorar a sua humanidade.
Exortamos a construir uma pastoral juvenil
capaz de criar espaços inclusivos, onde haja lugar para todo o tipo de jovens e
onde se manifeste, realmente, que somos uma Igreja com as portas abertas. Não é
necessário sequer que uma pessoa aceite completamente todos os ensinamentos da
Igreja para poder participar em alguns dos nossos espaços dedicados aos jovens.
Basta uma atitude aberta para com todos os que tenham o desejo e a disposição
de se deixar encontrar pela verdade revelada por Deus. Algumas propostas
pastorais podem supor um caminho já percorrido na fé, mas precisamos duma
pastoral juvenil popular que abra as portas e dê espaço a todos e cada um com
as suas dúvidas, traumas, problemas e a sua busca de identidade, com os seus
erros, suas histórias, suas experiências do pecado e todas as suas
dificuldades.
Deve haver espaço também para todos aqueles que
têm outras visões da vida, professam outras crenças ou se declaram alheios ao
horizonte religioso. Todos os jovens, sem excluir nenhum, estão no coração de
Deus e, consequentemente, também no coração da Igreja. Francamente, porém,
temos de reconhecer que nem sempre esta afirmação que ressoa nos nossos lábios
encontra real expressão na nossa ação pastoral: muitas vezes ficamos fechados
nos nossos ambientes, onde a voz dos outros não chega, ou dedicamo-nos a
atividades menos exigentes e mais gratificantes, sufocando aquela sã
inquietação pastoral que nos faz sair das nossas supostas seguranças. E todavia
o Evangelho pede-nos para ousar e queremos fazê-lo sem presunção nem
proselitismo, testemunhando o amor do Senhor e estendendo a mão a todos os
jovens do mundo inteiro.
A pastoral juvenil, quando deixa de ser
elitista e aceita ser popular, é um processo lento, respeitoso, paciente,
confiante, incansável, compassivo. Propomos o exemplo dos discípulos de Emaús,
que pode ser também modelo do que acontece na pastoral juvenil.
Jesus caminha com os dois discípulos que,
incapazes de entender o sentido do que Lhe acontecera, se retiram de Jerusalém
e da comunidade. Para estar na sua companhia, percorre a estrada com eles.
Interroga-os e escuta pacientemente a sua versão dos factos, para os ajudar
a reconhecer o que estão a viver. Depois, com afeto e energia,
anuncia-lhes a Palavra, levando-os a interpretar à luz das Escrituras
os factos que viveram. Aceita o convite para ficar com eles ao cair da tarde:
entra na sua noite. Enquanto O escutam, abrasa-se o coração deles e ilumina-se
a mente; na fração do pão, abrem-se os seus olhos. E são eles mesmos a decidir pôr-se
de novo a caminho, sem demora, mas em sentido inverso, para regressar à
comunidade e compartilhar a experiência do encontro com Jesus ressuscitado.
As várias manifestações de piedade popular,
especialmente as peregrinações, atraem jovens que não se inserem facilmente nas
estruturas eclesiais e são uma expressão concreta da confiança em Deus. Estas
formas de busca de Deus, presentes particularmente nos jovens mais pobres, mas
também nos outros setores da sociedade, não devem ser desprezadas, mas
encorajadas e estimuladas. Porque a piedade popular é uma maneira legítima
de viver a fé e é expressão da atividade missionária espontânea do povo de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário