Nºs 209 a 215
Queria
apenas assinalar, brevemente, que a pastoral juvenil supõe duas grandes linhas
de ação:
Uma
é a busca,
a convocação, o chamado que atraia novos jovens para a experiência do Senhor.
A outra é
o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos
já fizeram essa experiência.
Relativamente
à primeira, a busca,
confio na capacidade dos próprios
jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. Sabem
organizar festivais, competições desportivas, e sabem também evangelizar nas
redes sociais com mensagens, canções, vídeos e outras intervenções. Devemos
apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se
entusiasmem com a missão nos ambientes juvenis. O primeiro anúncio pode despertar
uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de conversão, numa conversa
no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos insondáveis caminhos de
Deus. O mais importante, porém, é que
cada jovem ouse semear o primeiro anúncio na terra fértil que é o coração
doutro jovem.
Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da
proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que
toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios. É necessário aproximar-se dos jovens com a
gramática do amor, não com o proselitismo. A linguagem que os jovens
entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que estão ali por eles e para
eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, se esforça por viver
coerentemente a sua fé. Ao mesmo tempo, devemos procurar, ainda com maior
sensibilidade, como encarnar o querigma na linguagem dos jovens de hoje.
Quanto
ao crescimento, quero
fazer uma advertência importante. Acontece em alguns lugares que, depois de ter
provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que
tocou o seu coração, propõe-lhes encontros
de formação onde se abordam apenas questões doutrinais e morais: sobre os
males do mundo atual, sobre a Igreja, a doutrina social, sobre a castidade, o
matrimônio, o controle da natalidade e sobre outros temas. Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo
do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho
e outros ficam tristes e negativos. Acalmemos a ânsia de transmitir uma grande
quantidade de conteúdos doutrinais e procuremos,
antes de mais nada, suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a
vida cristã. Como dizia Romano Guardini, na experiência dum grande amor,
tudo o que acontece se transforma num episódio interno àquela.
Qualquer projeto formativo, qualquer percurso de
crescimento para os jovens deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e
moral. De igual modo é importante que aqueles estejam centrados em dois eixos
principais: um é o aprofundamento do
querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e
ressuscitado; o outro é o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no
serviço.
Sobre isto,
insisti muito na Exortação Evangelii
gaudium e acho que seria oportuno lembrá-lo. Por um lado, seria um
erro grave pensar que, na pastoral juvenil, o querigma é deixado de lado em favor duma formação supostamente mais
“sólida”. Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais
consistente e mais sábio que esse anúncio.
Toda a formação cristã é, primariamente, o
aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne. Por isso, a pastoral juvenil deveria
incluir sempre momentos que ajudem a renovar e aprofundar a experiência pessoal
do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo. Fazer, valendo-se de vários
recursos: testemunhos, cânticos, momentos de adoração, espaços de reflexão
espiritual com a Sagrada Escritura e, inclusivamente, com vários estímulos
através das redes sociais. Mas nunca se
deve substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie
de “doutrinação”.
Além disso,
qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos
variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos,
auxiliar-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximar-se dos
pobres. Se o amor fraterno é o novo
mandamento, o pleno cumprimento da
lei e o que melhor demonstra o nosso amor a Deus, então deve ocupar um
lugar relevante em todo o plano de formação e crescimento dos jovens.
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