O
chamado "discurso escatológico", isto é, referente às realidades
posteriores à vida terrestre, é muito longo e quer ser uma resposta à pergunta
sobre o tempo que se segue à vida terrena de Jesus: o que sucederá?
Jesus
profetiza que o templo de Jerusalém, que se erguia majestosa diante de si e dos
discípulos, soçobrará em ruínas, que haverá acontecimentos que causarão grandes
sofrimentos aos humanos e que no fim - o Filho do homem virá na sua glória para
cumprir o juízo último e definitivo.
Aqui
lemos precisamente a parte final, o anúncio da vinda gloriosa do Messias,
quando se verificará a destruição do templo e passará o tempo da história, na
qual guerras, calamidades e perseguições se farão dolorosamente presentes na
vida dos homens e mulheres.
Após
a terrível prova que investirá sobre toda a humanidade, o povo de Israel e a
Igreja do Senhor, haverá um levantamento de todo a ordem do universo criado.
Não
nos deixemos aterrorizar pelas palavras de Jesus, mas sim ter temor, porque
elas revelam a "verdade" deste mundo que Deus criou, quis e
sustentou, mas que terá um termo, um fim: como há um fim pessoal, a morte,
assim haverá o fim deste mundo.
Jesus
quer falar destes acontecimentos para revelar uma realidade de contornos
indescritíveis. A criação sofrerá um processo de "des-criação",
poderemos dizer um retorno ao princípio, mas em vista de uma nova criação, de
um mundo novo, com céus e terra novos.
Estas
imagens não querem significar destruição, decomposição, desaparecimento da
matéria, mas o fim das atuais estruturas da criação, presas do sofrimento, do
mal e da morte, que darão lugar a uma re-criação, uma transfiguração que nem
sequer conseguimos imaginar.
Eis,
então, as imagens apocalípticas, inspiradas por fenômenos que o ser humano
contempla, mas que são transitórias, e portanto não destruidores da vida: o sol
que se eclipsa definitivamente, a lua que perde a sua luz, as estrelas que caem
do céu... Imagens evocadoras da fragilidade da ordem do nosso universo, que não
é eterno, que - como nos asseguram também as ciências - teve um início e terá
um fim.
E
todavia este universo, que aos olhos dos crentes no Senhor Jesus “geme e sofre
as dores do parto”, é um universo querido por Deus e que Deus salvará,
transformando-o em morada do seu Reino.
É
precisamente nesta "crise" cósmica que se manifestará o Filho do
homem, fará a sua parusia (termo que no Novo Testamento ganhou o significado da
segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos) de modo glorioso, vindo dos céus,
tendo como trono as nuvens, na luz definitiva que vencerá para sempre as
trevas. Mesmo este acontecimento, quem poderá descrevê-lo?
Na
realidade, não sabemos de que forma contemplaremos o Senhor que virá; podemos
apenas dizer que então todos o reconheceremos, mesmo aqueles que durante a sua
vida nunca o reconheceram no pobre, no doente, no estrangeiro, no preso, no
despido.
Mesmo
aqueles que feriram Jesus ou feriram o pobre, a vítima, então reconhecê-lo-ão,
baterão no peito e compreenderão que as feridas infligidas ao outro, ao irmão
ou à irmão, eram feridas que atingiam o Senhor, o qual agora se mostra juiz misericordioso
mas temível.
Será
essa também a hora da reunião de todos os eleitos, os justos, aqueles que
viveram exercitando a confiança no outro, esperando junto aos outros, amando
quem tinham perto de si e tornavam próximo. Os filhos de Deus dispersos serão
finalmente uma comunhão, que não mais conhecerá nem a morte, nem o mal, nem o
pecado.
Quando
sucederá isto? Num dia que ninguém conhece, e todavia é um dia certo, é uma
promessa de Deus que se realizará.
Os
discípulos de Jesus não devem, por isso, perguntar quando? mas devem sobretudo
perguntar-se se eles próprios estarão prontos a acolher esse acontecimento da
parusia como salvação, se serão capazes de se alegrar diante da vinda do Filho
do homem, se terão sabido esperar com perseverança aquela hora: uma hora que é
um segredo, porque nem sequer o homem Jesus a conhecia, nem os anjos, mas só o
Pai.
Será
o fim? Sim, mas esse fim tem um nome: é o Senhor Jesus Cristo, Filho do homem e
Filho de Deus, homem e Deus que veio ao mundo, de Deus que era para se fazer
homem, e virá na glória para que o homem se torne Deus. Sim, toda a humanidade
será em Deus, e cada um de nós será o Filho de Deus.
Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose, Itália
Prior do Mosteiro de Bose, Itália
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