O Beato Duns Escoto
apresenta-se não só com a nitidez de seu intelecto e a extraordinária
capacidade de penetrar o mistério de Deus, mas também com a força persuasiva da
sua santidade de vida que o torna, para a Igreja e para toda a humanidade,
Mestre em pensamento e vida. Sua doutrina, a partir do qual, como afirmado
pelo meu venerado predecessor Paulo VI, "você pode obter armas lúcidas
para combater e remover a nuvem escura do ateísmo que ofusca a nossa
idade", edifica vigorosamente a Igreja, apoiando-a na sua urgente missão
de nova evangelização dos povos da terra. Em particular, para os teólogos,
padres, pastores de almas, religioso, e especialmente para os franciscanos,
Beato Duns Escoto é um exemplo de fidelidade à verdade revelada, de ação
sacerdotal frutífera, diálogo sério em busca unidade.
Papa
João Paulo II – 20 de março de 1993 – Homilia de Beatificação
O beato João Duns
Escoto viveu no final do século XIII. Uma antiga inscrição sobre o seu túmulo
resume as coordenadas geográficas da sua biografia: "a Inglaterra acolheu-o;
a França instruiu-o; Colônia, na Alemanha, conserva os seus despojos mortais;
na Escócia ele nasceu". Não podemos descuidar estas informações, também
porque temos muito poucas notícias sobre a vida de Duns Escoto.
Ele nasceu
provavelmente em 1266 numa aldeia que se chamava precisamente Duns, perto de
Edimburgo. Atraído pelo carisma de São Francisco de Assis, entrou na Família
dos Frades Menores, e em 1291 foi ordenado sacerdote. Dotado de uma
inteligência brilhante e propensa à especulação – aquela inteligência
pela qual a tradição lhe conferiu o título de Doctor subtilis,
"Doutor subtil" – Duns Escoto foi orientado para os estudos
de filosofia e de teologia nas célebres Universidades de Oxford e de Paris.
Concluída com bom
êxito a formação, empreendeu o ensino da teologia nas Universidades de Oxford e
de Cambridge, e depois de Paris.
Afastou-se de Paris
quando, tendo rebentado um grave conflito entre o rei Filipe IV o Belo e o Papa
Bonifácio VIII Duns Escoto preferiu o exílio voluntário, para não assinar um
documento hostil ao Sumo Pontífice, como o rei tinha imposto a todos os
religiosos. Assim – por amor à Sé de Pedro –juntamente com os
Frades franciscanos, abandonou o país.
Contudo, as
relações entre o rei da França e o sucessor de Bonifácio VIII depressa foram
restabelecidas, e em 1305 Duns Escoto pôde regressar a Paris para ali ensinar
teologia com o título de Magister regens, que hoje corresponderia a
professor ordinário. Sucessivamente, os Superiores convidaram-no para Colônia
como professor do Colégio teológico franciscano, mas ele faleceu a 8 de
Novembro de 1308, com apenas 43 anos de idade, contudo deixando um número
relevante de obras.
Devido à fama de
santidade da qual gozava, o seu culto difundiu-se depressa na Ordem franciscana
e o Venerável Papa João Paulo II quis proclamá-lo solenemente beato
a 20 de Março de 1993, definindo-o "cantor do Verbo encarnado e defensor
da Imaculada Conceição". Nesta expressão está sintetizada a grande
contribuição que Duns Escoto ofereceu à história da teologia.
Antes de tudo, ele
meditou sobre o Mistério da Encarnação e, ao contrário de muitos pensadores
cristãos da época, afirmou que o Filho de Deus se teria feito homem mesmo se a
humanidade não tivesse pecado. Ele afirma:
"Pensar que
Deus teria renunciado a esta obra se Adão não tivesse pecado seria totalmente
irracional! Portanto, digo que a queda não foi a causa da predestinação de
Cristo, e que – mesmo se ninguém tivesse pecado, nem o anjo nem o
homem – nesta hipótese Cristo teria sido ainda predestinado do mesmo
modo".
Este pensamento,
talvez um pouco surpreendente, surge porque para Duns Escoto a Encarnação do
Filho de Deus, projetada desde a eternidade por parte de Deus Pai no seu
desígnio de amor, é cumprimento da criação, e torna possível que cada criatura,
em Cristo e por meio dele, seja colmada de graça, e preste louvor e glória a
Deus na eternidade.
Duns Escoto, apesar
de estar consciente de que, na realidade, por causa do pecado original, Cristo
nos remiu com a sua Paixão, Morte e Ressurreição, reafirma que a Encarnação é a
obra maior e mais bela de toda a história da salvação, e que ela não está
condicionada por qualquer fato contingente, mas é a ideia original de Deus para
unir finalmente toda a criação consigo mesmo na pessoa e na carne do Filho.
Amados irmãos e
irmãs, o beato Duns Escoto ensina-nos que na nossa vida o essencial é crer que
Deus está próximo de nós e nos ama em Jesus Cristo, e portanto, cultivar um amor
profundo a Ele e à sua Igreja. Deste amor nós somos as testemunhas nesta terra.
Papa
Bento XVI – 07 de julho de 2010
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