quinta-feira, 29 de novembro de 2018

29 de novembro - Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. Lc 21,27


O chamado "discurso escatológico", isto é, referente às realidades posteriores à vida terrestre, é muito longo e quer ser uma resposta à pergunta sobre o tempo que se segue à vida terrena de Jesus: o que sucederá?

Jesus profetiza que o templo de Jerusalém, que se erguia majestosa diante de si e dos discípulos, soçobrará em ruínas, que haverá acontecimentos que causarão grandes sofrimentos aos humanos e que no fim - o Filho do homem virá na sua glória para cumprir o juízo último e definitivo.

Aqui lemos precisamente a parte final, o anúncio da vinda gloriosa do Messias, quando se verificará a destruição do templo e passará o tempo da história, na qual guerras, calamidades e perseguições se farão dolorosamente presentes na vida dos homens e mulheres.
Após a terrível prova que investirá sobre toda a humanidade, o povo de Israel e a Igreja do Senhor, haverá um levantamento de todo a ordem do universo criado.

Não nos deixemos aterrorizar pelas palavras de Jesus, mas sim ter temor, porque elas revelam a "verdade" deste mundo que Deus criou, quis e sustentou, mas que terá um termo, um fim: como há um fim pessoal, a morte, assim haverá o fim deste mundo.
Jesus quer falar destes acontecimentos para revelar uma realidade de contornos indescritíveis. A criação sofrerá um processo de "des-criação", poderemos dizer um retorno ao princípio, mas em vista de uma nova criação, de um mundo novo, com céus e terra novos.

Estas imagens não querem significar destruição, decomposição, desaparecimento da matéria, mas o fim das atuais estruturas da criação, presas do sofrimento, do mal e da morte, que darão lugar a uma re-criação, uma transfiguração que nem sequer conseguimos imaginar.

Eis, então, as imagens apocalípticas, inspiradas por fenômenos que o ser humano contempla, mas que são transitórias, e portanto não destruidores da vida: o sol que se eclipsa definitivamente, a lua que perde a sua luz, as estrelas que caem do céu... Imagens evocadoras da fragilidade da ordem do nosso universo, que não é eterno, que - como nos asseguram também as ciências - teve um início e terá um fim.
E todavia este universo, que aos olhos dos crentes no Senhor Jesus “geme e sofre as dores do parto”, é um universo querido por Deus e que Deus salvará, transformando-o em morada do seu Reino.

É precisamente nesta "crise" cósmica que se manifestará o Filho do homem, fará a sua parusia (termo que no Novo Testamento ganhou o significado da segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos) de modo glorioso, vindo dos céus, tendo como trono as nuvens, na luz definitiva que vencerá para sempre as trevas. Mesmo este acontecimento, quem poderá descrevê-lo?

Na realidade, não sabemos de que forma contemplaremos o Senhor que virá; podemos apenas dizer que então todos o reconheceremos, mesmo aqueles que durante a sua vida nunca o reconheceram no pobre, no doente, no estrangeiro, no preso, no despido.
Mesmo aqueles que feriram Jesus ou feriram o pobre, a vítima, então reconhecê-lo-ão, baterão no peito e compreenderão que as feridas infligidas ao outro, ao irmão ou à irmão, eram feridas que atingiam o Senhor, o qual agora se mostra juiz misericordioso mas temível.

Será essa também a hora da reunião de todos os eleitos, os justos, aqueles que viveram exercitando a confiança no outro, esperando junto aos outros, amando quem tinham perto de si e tornavam próximo. Os filhos de Deus dispersos serão finalmente uma comunhão, que não mais conhecerá nem a morte, nem o mal, nem o pecado.
Quando sucederá isto? Num dia que ninguém conhece, e todavia é um dia certo, é uma promessa de Deus que se realizará.

Os discípulos de Jesus não devem, por isso, perguntar quando? mas devem sobretudo perguntar-se se eles próprios estarão prontos a acolher esse acontecimento da parusia como salvação, se serão capazes de se alegrar diante da vinda do Filho do homem, se terão sabido esperar com perseverança aquela hora: uma hora que é um segredo, porque nem sequer o homem Jesus a conhecia, nem os anjos, mas só o Pai.

Será o fim? Sim, mas esse fim tem um nome: é o Senhor Jesus Cristo, Filho do homem e Filho de Deus, homem e Deus que veio ao mundo, de Deus que era para se fazer homem, e virá na glória para que o homem se torne Deus. Sim, toda a humanidade será em Deus, e cada um de nós será o Filho de Deus.

Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose, Itália

Hoje celebramos:


Nenhum comentário:

Postar um comentário