Jesus põe nos lábios dos seus discípulos uma prece breve, audaz, formada por sete pedidos — um número que na Bíblia não é casual, indica plenitude. Digo audaz, porque se Cristo não a tivesse sugerido, provavelmente nenhum de nós — aliás, nenhum dos teólogos mais famosos! — ousaria rezar a Deus desta maneira.
Com efeito, Jesus convida os seus discípulos a
aproximar-se de Deus e a fazer-lhe com confidência alguns pedidos: antes de
tudo em relação a Ele e depois em relação a nós. Não há prefácios no
“Pai-Nosso”. Jesus não ensina fórmulas para “adular” o Senhor, aliás, convida a
pedir-lhe abatendo as barreiras da reverência e do medo.
Não diz para se dirigir a Deus chamando-lhe
“Omnipotente”, “Altíssimo”, “Tu, que estás tão distante de nós, eu sou
miserável”: não, não diz assim, mas simplesmente “Pai”, com toda a
simplicidade, como as crianças se dirigem ao pai. E esta palavra “Pai",
expressa a confidência e a confiança filial.
A oração do “Pai-Nosso” afunda as suas raízes na realidade concreta do homem. Por exemplo, faz-nos pedir o pão de cada dia: pedido simples, mas essencial, o qual diz que a fé não é uma questão “decorativa”, separada da vida, que intervém quando todas as outras necessidades foram satisfeitas. No máximo, a oração começa com a própria vida. A prece — ensina-nos Jesus — não começa na existência humana quando o estômago está cheio: ao contrário, existe onde quer que haja um homem, um homem qualquer que tem fome, que chora, que luta, que sofre e se pergunta “porquê”.
A nossa
primeira prece, num certo sentido, foi o gemido que acompanhou o primeiro
respiro. Naquele choro de recém-nascido anunciava-se o destino de toda a nossa
vida: a nossa fome contínua, a nossa sede perene, a nossa busca de
felicidade.
Papa Francisco – 12 de
dezembro de 2018
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