São Carlos Luanga e companheiros |
Cerca de três mil pessoas viviam no conjunto do palácio real, incluindo 400 pajens encarregados dos ofícios mais diversos ligados ao monarca. Tais pajens eram escolhidos pelos chefes locais entre os mais inteligentes e bem apessoados meninos de 12 anos do reino, e quando atingiam os 20 anos de idade passavam para a guarda pessoal do rei.
A pregação começou por Uganda, onde conseguiu chegar a “Padres Brancos”, congregação fundada pelo cardeal Lavigérie. Posteriormente, somaram-se a eles os padres combonianos. A maior dificuldade era mostrar a diferença entre missionários e colonizadores.
Quando faleceu Mutesa I em 1884, subiu ao trono seu filho Muanga II, de 18 anos. Este não tinha o senso político do pai e era dado às práticas homossexuais, utilizando para suas ações os pajens da corte. Apesar disso, Muanga pediu que voltassem ao reino os missionários, aos quais tinha admirado em sua infância. Eles o fizeram somente dois anos depois, tendo a alegria de encontrar um núcleo de aproximadamente duzentos conversos entre rapazes e moças do palácio real, os “rezadores”, como eram chamados.
Durante a noite que se seguiu ao martírio, Carlos Luanga, que tinha ficado encarregado dos pajens cristãos desde a morte de José, viu que as coisas tomavam um rumo muito perigoso e resolveu batizar quatro pajens ainda catecúmenos – inclusive Kizito, de apenas 13 anos – e recomendar-lhes perseverança na fé.
No dia seguinte, Muanga se reuniu com seu conselho e foi decidido exterminar de vez aqueles “fanáticos”, que não obedeciam mais ao rei. Muanga chamou os 100 carrascos reais, convocou todos os pajens para comparecer à sua presença, e disse-lhes: “Os que rezam, vão para aquele lado. Os que não rezam, fiquem aqui junto a mim”.
Os condenados passaram perto da casa dos “Padres Brancos”. O Pe. Lourdel, que tinha batizado a vários deles, ficou pasmo diante da tranquilidade e alegria com que se dirigiam ao local do suplício, inclusive o menino Kizito. Quando o sacerdote ergueu sua mão para dar-lhes a absolvição, Tiago Buzabaliawo ergueu suas mãos imobilizadas apontando para o céu, como que a dizer que lá esperava o sacerdote.
Chegados ao local da imolação, os prisioneiros foram atados fortemente, divididos em grupos e trancados em cabanas, amarrados a postes. Os mais velhos de cada grupo encorajavam os mais novos a perseverarem. Assim permaneceram durante uma semana, até que uma gigantesca fogueira terminou de ser montada.
Um dos pajens, Mubaga Tuzinde, de 17 anos, filho do carrasco-mor, teve que enfrentar a pressão do pai, que insistia em que apostatasse. Como Mubaga se mantivesse firme na fé, o pai mandou dar-lhe violenta pancada na nuca para matá-lo antes de pô-lo na fogueira.
Sem prantos nem gritos, mas rezando em alta voz, os mártires entregaram suas almas a Deus, dizendo aos seus carrascos: “Vocês podem matar nosso corpo, mas não nossa alma, que a Deus pertence”.
Entretanto, para Carlos Luanga fora preparada morte ainda mais terrível: ser assado vivo a fogo lento! Um dos pajens católicos, dos três que por motivos ignorados foram poupados, declarou que um dos carrascos separou Carlos Luanga dos outros, dizendo:“Ele será minha vítima”. Carlos foi deitado numa pira em que o fogo foi mantido bem baixo para o ir queimando lentamente. O fogo porém consumiu-lhe as pernas sem tocar no resto do corpo.
O último mártir foi um pajem de nome João Maria, decapitado no dia 27 de janeiro de 1887. No total foram 22 mártires que foram beatificados por Bento XV e canonizados por Paulo VI no dia 18 de outubro de 1964, na presença dos padres do Concílio Vaticano II, e o próprio Paulo VI consagrou em 1969 o altar do grandioso santuário que surgiu em Namugongo, onde os três pajens guiados por Carlos Lwanga quiseram rezar até a morte.
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