O Evangelho hoje narra o episódio da cura
milagrosa de um surdo-mudo, realizada por Jesus. Trouxeram-lhe um surdo-mudo,
rogando-lhe que lhe impusesse as mãos. Contudo, Jesus faz vários gestos sobre
ele: antes de tudo, levou-o para um lugar apartado, distante da multidão. Jesus
age sempre com discrição. Não quer impressionar o povo, não está à procura do
sucesso, mas só deseja fazer o bem às pessoas. Com esta atitude, Ele
ensina-nos que o bem deve ser praticado sem clamores, sem ostentação, sem
“tocar a trombeta”. Deve ser praticado em silêncio.
Depois de se ter afastado, Jesus pôs os dedos
nos ouvidos do surdo-mudo e tocou a sua língua com a saliva. Este gesto remete
para a Encarnação. O Filho de Deus é um homem inserido na realidade humana:
fez-se homem, portanto, pode compreender a condição dolorosa de outro homem e
intervém com um gesto no qual está envolvida a própria humanidade. Ao mesmo
tempo, Jesus quer fazer entender que o milagre se realiza por causa da sua
união com o Pai: por isso, elevou os olhos ao céu. Depois, emitiu um suspiro e
pronunciou a palavra decisiva: Efatá, que significa “Abre-te!”. E imediatamente
o homem ficou curado: os ouvidos abriram-lhe, a língua libertou-se. A cura foi
para ele uma abertura aos outros e ao mundo.
Precisamos de uma dúplice cura. Antes
de tudo, a cura da doença e do sofrimento físico, para restituir a saúde do
corpo; embora esta finalidade não seja completamente alcançável no horizonte
terreno. Contudo, há uma segunda cura, talvez mais difícil, e trata-se da cura
do medo. A cura do medo que nos impele a marginalizar o enfermo, o sofredor, o
deficiente. Demasiadas vezes o enfermo e o sofredor tornam-se um problema,
enquanto deveriam ser ocasião para manifestar a solicitude e a solidariedade de
uma sociedade em relação aos membros mais frágeis.
Jesus revelou-nos o segredo de um milagre que
também nós podemos repetir, tornando-nos protagonistas do Efatá, daquela
palavra “Abre-te!”. Trata-se de nos abrirmos às necessidades dos nossos irmãos
sofredores e necessitados de ajuda, evitando o egoísmo e o fechamento do
coração. É precisamente o coração, ou seja, o núcleo profundo da pessoa, que
Jesus vem abrir, libertar, para nos tornar capazes de viver plenamente a
relação com Deus e com o próximo. Ele fez-se homem porque o homem, que o pecado
tornou interiormente surdo e mudo, possa ouvir a voz de Deus, a voz do Amor que
fala ao seu coração e assim, por sua vez, aprenda a falar a linguagem do amor,
traduzindo-a em gestos de generosidade e de doação de si mesmo.
Papa Francisco – 09 de
setembro de 2018
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