A traição de Judas como
tal, aconteceu em dois momentos: antes de tudo no planeamento, quando Judas se
põe de acordo com os inimigos de Jesus por trinta moedas de prata, e depois na
execução com o beijo dado ao Mestre no Getsêmani. Contudo, os evangelistas
insistem sobre a qualidade de apóstolo, que competia a Judas para todos os
efeitos: ele é repetidamente chamado "um dos Doze".
Trata-se, portanto,
de uma figura pertencente ao grupo dos que Jesus tinha escolhido como
companheiros e colaboradores íntimos. Isto suscita para nós duas perguntas:
Por que Jesus escolheu este homem e confiou nele?
Torna-se ainda mais denso o mistério acerca do seu destino eterno, sabendo que
Judas se arrependeu e restituiu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e
aos idosos, dizendo: "Pequei, entregando sangue inocente". Mesmo se
em seguida ele se afastou para se ir enforcar, não compete a nós julgar o seu
gesto, substituindo-nos a Deus infinitamente misericordioso e justo.
Por que Judas traiu Jesus?
A questão é objeto de várias hipóteses. Alguns recorrem ao fator da sua avidez
de dinheiro; outros dão uma explicação de ordem messiânica: Judas teria ficado
desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu programa a libertação
político-militar do seu próprio País. Na realidade o texto evangélico insiste
sobre outro aspecto: João diz expressamente que "tendo já o diabo metido
no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que O entregasse”.
Desta forma, vai-se
além das motivações históricas e explica-se a vicissitude com base na
responsabilidade pessoal de Judas, o qual cedeu miseravelmente a uma tentação
do maligno. A traição de Judas permanece, contudo, um mistério. Jesus tratou-o
como um amigo, mas, nos seus convites a segui-lo pelo caminho das
bem-aventuranças, não forçava as vontades nem as preservava das tentações de
satanás, respeitando a liberdade humana.
Pedro, depois da sua
queda, arrependeu-se e encontrou perdão e graça. Também Judas se arrependeu,
mas o seu arrependimento degenerou em desespero e assim tornou-se
autodestruição. Para nós isto é um convite a ter sempre presente quanto diz São
Bento: "Nunca desesperar da
misericórdia divina".
Na realidade Deus
"é maior que o nosso coração", como diz São João. Por conseguinte,
tenhamos presente duas coisas.
A primeira: Jesus
respeita a nossa liberdade.
A segunda: Jesus
espera a nossa disponibilidade para o arrependimento e para a conversão; é rico
de misericórdia e de perdão. Afinal, quando pensamos no papel negativo
desempenhado por Judas devemos inseri-lo na condução superior dos
acontecimentos por parte de Deus. A sua traição levou à morte de Jesus, o qual
transformou este tremendo suplício em espaço de amor salvífico e em entrega de
si ao Pai.
Papa
Bento XVI – 18 de outubro de 2006
Hoje celebramos:
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